Human Nightmare escrita por Leonardo Franco


Capítulo 20
Temos que sair daqui




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LIA

Matt e eu discutimos um pouco, mas não tanto quanto eu esperava. A discussão foi breve, e por várias vezes ele tentou me persuadir a ir encontrar Martin. Neguei todas as vezes. Disse a ele que estava cada vez mais apaixonada, mas não por Martin.

— Como assim? Por quem você está apaixonada? – ele me perguntou. Eu olhei para ele e vi aquele ar de inocência, o que fez com que minha decisão fosse finalmente tomada.

— Por você, Matt – falei, enfim – Estou me apaixonando por você.

Naquela hora, eu me sentia extremamente vulnerável. Qualquer ação dele eu consideraria exagerada demais ou fraca demais. Mas ele me surpreendeu.

Ele me beijou.

— Vamos – ele disse – Precisamos sair daqui antes que ele decida vir. Temos que fugir.

— Matt, você tá louco? – disse, rindo. Estava me sentindo jovem de novo – Não podemos deixar seus amigos...

— Eles vão ficar bem sozinhos. Tenho certeza.

Balancei a cabeça negativamente, mas já estava convencida. Iríamos fugir.

E então Matt foi até Seb e lhe entregou o resto das coisas que ele precisava. Antes de se despedirem, ele se virou e veio até mim.

E então nós fugimos.

CAMILLE

O homem entra no quarto e diz alguma coisa, que eu não consigo ouvir. Poucos segundos depois, vejo um rapaz apoiado em duas garotas saindo de lá, e de repente estamos todos nos arrumando para sair. Uma das garotas, a loira, solta o rapaz e vai até o sofá.

— André... – Ela começa. O menino acorda alarmado.

— O que foi? O que está acontecendo? – Seus olhos ainda estão se adaptando à luz, mas quando ele vê a pessoa que está na sua frente, ele desperta completamente – LISA! – Ele grita – Krista, ela tá viva! Eu falei pra você!

— Sim, André, eu sei – diz a outra garota que está segurando o rapaz. Ela ri um pouco, mas logo ela para.

— André, que bom que você está bem – Lisa diz, e o abraça – Mas nós precisamos ir embora, agora, tudo bem?

Ele concorda com a cabeça e se levanta. Olive já pegou todas as coisas que ela conseguia e queria levar, então nos direcionamos para a saída.

— Clarke, espere – ela diz. O homem, Clarke, se vira e olha para ela – Não podemos deixar esse lugar aberto. É a minha casa.

Clarke concorda, e depois começa a fechar as janelas e trancá-las com cadeados. Olive fecha as portas dos cômodos e posiciona alguns móveis pesados em frente de cada um deles. Depois, quando saímos, ela tranca a porta com mais cadeados e empurra um banco de madeira comprido para frente dela.

— Espero que isso os segure – ela diz.

— Olive, precisamos ir – diz Clarke, olhando para algum ponto atrás de mim. Olho para trás e vejo o que está o assustando tanto. No meio da floresta, não muito distante, vemos dezenas de zumbis. Centenas até.

Começamos a correr, com Clarke na frente, nos guiando.

MARTIN

Gio já está acordada agora, e ela não reclama mais de eu estar correndo com ela em meu colo, enquanto pressiono seus machucados; apesar disso, ela ainda geme de dor. Paro de correr quando vejo algumas meninas sentadas perto de uma árvore. Elas olham para mim assustadas.

— Cadê o Sebastian? – pergunto. Elas provavelmente sabem quem ele é.

— Ele está ali – uma delas responde, apontando para um canto. Olho para trás e o vejo, de costas para mim, carregando alguma coisa.

— SEB – grito. Ele se vira para trás, e vejo que ele carrega uma caixa. Ele a derruba no chão e corre até mim.

— O que foi? Por que vocês vieram aqui? – ele pergunta, alarmado.

— Eles nos atacaram, e eram muitos...

— Meu Deus! Vocês estão bem? Precisamos sair daqui! – ele diz, e volta para buscar a caixa.

Vou até as garotas, que agora estão de pé, e digo para elas:

— Nós precisamos ir.

Elas confirmam com cabeça e correm para onde Seb estava. Elas se encontram com mais dois garotos, e eles entram em uma discussão calorosa. Eles gesticulam bastante, e depois um deles corre até mim.

— Não podemos sair agora – ele diz.

— Por que não?

— Matt não está aqui. Nós achamos que ele deve ter ido buscar comida ou sei lá... Mas não podemos ir enquanto ele não voltar.

— Garoto, você não está entendendo o perigo que estamos correndo ficando aqui.

— Eu sei – ele diz, com a voz elevada – Mas nós não vamos sair, enquanto ele não vier.

Sua voz é firme, e decido não discutir. Coloco Gio no chão, e vou até onde Sebastian está, olhando para o meio do mato, sem se atrever a entrar nele.

— Eles não vão sair agora – começo.

— Eu ouvi... Mas estamos em perigo, Martin...

— Eu sei, mas temos que esperar o tal do Matt e... – de repente, um barulho me interrompe. Galhos quebrando, pessoas arfando. Ou melhor, pessoas correndo.

O som vem de trás das árvores que estão bem na minha frente. Seb não se controla e sai correndo, mas eu permaneço no meu lugar.

E, subitamente, as pessoas saem de trás das árvores.

KRISTA

Clarke está correndo na nossa frente. Quando saímos da casa de Olive, entramos na floresta que ficava no jardim de trás, pois ela disse que era mais seguro ficar onde não conseguiríamos ser vistos. Ela estava certa, afinal de contas.

Corremos por um bom tempo, e só paramos quando Clarke para. Saímos em uma clareira não muito grande, e, no meio dela, está parado um homem.

Mas não é qualquer homem.

É o meu pai.

Corro até ele, sentindo as lágrimas se juntarem em meus olhos, e o abraço. Ele me segura por uns instantes, e depois me empurra um pouco para trás só para conseguir ver meu rosto. Ele limpa minhas lágrimas, e vejo que ele está chorando também.

— Graças a Deus você está viva – ele disse, e depois me abraçou de novo.

CAMILLE

Martin está no chão, abraçado àquela garota que eu não conheço, e sinto uma pontada de ciúme. Lentamente, dou alguns passos para trás, para não ser notada por ele. Não sei por que sinto que ele não deveria me ver.

Ele olha para o resto de nós, sem realmente me ver. Ele estica um braço, apontando para a garota loira, e ela se junta ao abraço deles. Sinto-me desconfortável, mas depois eles se levantam e a sensação passa. Até que ele me vê.

Ele gentilmente afasta as duas garotas, e corre até mim. Ele me abraça tão forte que me sinto segura, tão segura quanto posso me sentir agora.

— Camille, que bom que você está viva também... – ele começa. É estranha essa sensação que nós dois compartilhamos, por que, na verdade, nós não nos conhecíamos tão bem assim. A única coisa que eu sabia sobre ele era seu nome, e que o acampamento que ele e Seb estavam foi destruído. E aí eu fui raptada.

— É bom te ver, Martin... – começo, mas ouço a garota atrás dele tossir forçadamente. Ela está chamando nossa atenção.

— Ah, sim – Martin diz – Camille, essa é minha filha, Krista – ele aponta para a garota. Depois, ele se vira para a loira – E essa é Lisa, a melhor amiga dela, que eu considero como minha filha também.

Lisa cora e olha para baixo, e todos nós rimos. Aperto a mão das duas, e sinto certa alegria ao saber que nenhuma delas era um par romântico para ele.

Acho que sei o que isso significa.

Estou realmente gostando dele.

LIA

Matt anda na minha frente, em silêncio. Não olhamos para trás nenhuma vez em nossa caminhada, mas não sei e ele se arrepende de ter vindo comigo. Espero que não.

Andamos por mais um bom tempo, até que ele diz que precisamos achar abrigo e comida. Concordo, e decidimos andar em direção à cidade.

— Eu já estou ficando cansado, na verdade – ele diz, e olha para mim. Nós dois começamos a rir.

Andamos mais um pouco, e depois vemos um carro no meio da rua.

— O que você acha de descansarmos um pouco, ali dentro?

Ele me olha por cima do ombro, e sorri de um jeito engraçado. Acho que ele está tentando me seduzir. E, de alguma forma, funciona.

Nós entramos no carro e trancamos a porta.

O problema é que, na hora, eu não percebo que uma multidão de zumbis está andando em nossa direção.

MARTIN

Estamos todos sentados entre algumas árvores, que nos garantem um tipo de esconderijo. Ainda esperamos por Matt, mas não temos nenhum sinal dele.

— Acho que ele não volta – diz uma menina com mechas coloridas no cabelo.

— Acho que ele está traçando aquela senhora – diz um menino alto de óculos, e a garota de mechas dá um tapa em seu braço.

— Não seja tão mal-educado, Peter – ela diz.

— Não seja tão criança, Lettie – ele responde.

Os dois se encaram por um minuto com caras feias, e depois o outro menino se levanta.

— Acho que devemos ir mesmo – ele começa – Afinal, não foi só Matt que sumiu. Lia também se foi. Acho que eles fugiram juntos.

— Por que ela fugiria com ele? – outra menina pergunta, fazendo uma cara de repugnância, mas eu acho que sei a resposta.

— Espere – digo – Lia? Que Lia? – Ah, como eu espero que eu esteja errado...

— Uma mulher que mora numa casa por ali – Peter aponta para as árvores. E ele aponta em direção à minha casa.

— Uma alta? De cabelos curtos, castanhos? Essa Lia? – Krista pergunta.

— Sim – Lettie diz, com uma expressão de curiosidade.

— Vocês a conhecem? – pergunta o menino que está em pé.

— Galera – Krista começa – É melhor nós irmos mesmo, por que eles não vão voltar...

— Por que não? – alguém pergunta, mas não presto atenção em quem.

— Por que... – digo, olhando para o chão – Ela é minha mulher. E provavelmente ela acabou de fugir com outro.


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