Human Nightmare escrita por Leonardo Franco


Capítulo 18
Antes do encontro




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/279494/chapter/18

KRISTA

Lisa deu um passo em falso e caiu pra frente, aos meus pés. O homem me puxou pra trás e apontou a arma para a cabeça dela. Antes mesmo que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele atirou. Lis se mexeu mais uma vez e depois ficou imóvel.

Lágrimas começaram a correr pelo meu rosto, mas eu nem percebi. Meus joelhos cederam e eu caí ao lado do corpo de Lis. Não conseguia pensar direito, e a minha visão estava embaçada por causa da água em meus olhos. Só havia um pensamento claro na minha cabeça: André. Onde ele está? Ele está bem? Se Lis agora está morta, ele está também? E aí eu o ouvi gritar.

— Socorro – e era definitivamente André. Olhei para o homem, e nós dois começamos a correr na direção do som. O vento secava minhas lágrimas, mas novas surgiam a todo momento. Galhos cortavam minha pele, mas não me importei.

— De onde veio o som? – parei, olhando para os lados. O homem continuou correndo. Segui-o, na esperança de ele estar no caminho certo.

— Lis, onde você está? – André perguntava, aos berros. Não sei se conseguiria dar a notícia para ele. O homem, que já estava bem na minha frente, passou por uma grande árvore, parou e olhou para o lado. Pegou a arma e começou a atirar.

Quando passei pela árvore, parei também. André estava enconstado em um tronco um pouco à frente, e vários zumbis estavam chegando muito perto dele. O homem já havia atirado em quatro deles quando André me viu e correu até mim.

— Kris, cadê a Lisa? – ele perguntou. Quando chegou mais perto, ele pulou e me abraçou. Eu quase caí para trás.

— André, eu sinto muito…

— Sente muito por que? – ele falou. Mais tiros.

— Eu encontrei Lis, e ela estava… ela estava… - não conseguia falar. - ela era um zumbi.

— Não era não – André deu um passo pra trás e me olhou como se eu estivesse louca. – Ela estava comigo há poucos minutos, e entrou naquela direção – ele apontou para onde eu tinha acabado de chegar. – Ela falou que ia ver onde você estava.

— Então André, foi lá que eu encontrei ela – não sei como eu estava conseguindo falar tão calmamente. De repente, os tiros cessaram.

O homem chegou até mim e colocou a mão no ombro de André.

— Nós precisamos ir agora. Como você mesma disse, os tiros vão atrair muitos deles.

— Certo. Podemos ir com seu grupo?

Ele hesitou.

— É… claro. Vamos.

— Eu não vou enquanto a Lis não voltar.

— André – eu me ajoelhei pra ficar na mesma altura dele – Se ela estiver viva, ela vai nos encontrar. Eu prometo.

— Podemos deixar pelo menos uma trilha pra ela?

— Claro. Vamos marcando as árvores com… aqui, essa flores.

— Tudo bem.

Peguei uma dúzia de flores que estavam caídas no chão, e André pegou mais um tanto. O homem ia na frente, enquanto nós dois íamos espalhando flores pelo caminho, onde Lis poderia ver. O que era inútil, pois ela estava morta.

Não sei como não estava chocada. Abalada. Destruída. Minha melhor amiga morreu. O que aconteceu comigo? Sou um monstro. Ou talvez a ficha ainda não caiu. Ou talvez alguma parte de mim acredite que ela está viva, que André estava falando a verdade. Ou talvez… Isso é besteira. Ela morreu, e eu não tenho coração.

De repente, o homem parou e olhou pra mim.

— Preciso te contar uma coisa.

— O quê? – não gostei de como aquilo soou.

— Não sei por que eu menti, na verdade. Mas como estamos indo até o grupo, preciso te contar. Eu não estou realmente com eles. Eu deveria estar, mas não quis me envolver com alguns deles. Então eu passei a segui-los. Não sei se eles sabem que eu estava atrás deles, mas acredito que não.

— Por que você estava seguindo eles?

— Bem, eu era amigo de alguns deles, e precisava saber se estavam em segurança. Então passei a estar sempre ali, caso precisassem.

— Mas… - diversas perguntas vieram à minha cabeça – Se você não está com eles… Onde está meu namorado? Você falou que você, junto com seu “grupo”, tinham pegado ele e levado para uma casa, onde ele estava sendo cuidado.

— Ele está sendo cuidado. Mas não por eles. Na verdade eles nem viram o carro em chamas. Os ouvi dizendo que estavam indo à casa de uma mulher, que ficava depois da floresta. E depois eles acamparam, bem longe daqui. Então decidi ir até a casa e checar, para ver se não tinha nenhum zumbi lá. Mas acabou que eu nem encontrei a casa. Antes disso vi o carro, e peguei o homem que estava em cima da colina…

— Eu o levei até lá.

—… e o levei para mais longe do fogo. Uma mulher viu, disse que conhecia o rapaz e se ofereceu pra ajudar. O levamos para a casa dela e eu falei que precisava voltar pra ver se tinha mais alguém machucado. Ela disse que ele estaria em boas mãos, pois ela era médica. Eu disse pra ela que depois voltaria pra lá.

— Então, é pra lá que iremos.

— Mas eu preciso voltar ao grupo. Já está escuro, não sei se eles vão precisar de ajuda.

— Nós precisamos pegar meu namorado de volta, primeiro.

— Não, eu… ah, tudo bem. Mas depois você, ele e o baixinho aqui vão comigo.

— Claro. Onde essa mulher mora?

— Eu os levo até lá. Vamos.

O homem começou a andar na direção oposta à que estávamos seguindo.

CAMILLE

Mais uma vez, acordando desorientada, perdida. Não é uma sensação boa, isso eu posso te dizer. Eu estava em uma cama com um lençol branco, em um quarto escuro. Perto da cama havia uma mesa de canto, com uma jarra cheia d’água e um copo pequeno de vidro. Levantei e tentei alcançar o copo, mas minhas pernas cederam e eu fui para o chão.

Com o barulho, alguém entrou rapidamente e me ajudou a voltar pra cama.

— Quem é você? – perguntei.

— Tudo a seu tempo – a mulher falou, com um sorriso fraco. – Você quer água? – confirmei com a cabeça. Ela se virou, encheu o copo e me entregou.

— Onde eu estou?

— Como eu disse, tudo a seu tempo – e depois virou-se e saiu pela porta. Antes de fechá-la, ela se voltou para mim e disse: - Descanse mais um pouco. Quando você estiver melhor, e conseguir andar, venha aqui fora. E qualquer coisa pode gritar, eu estarei aqui.

Ela sorriu mais uma vez, dessa vez com mais compaixão, e depois fechou a porta.

MARTIN

O garoto rapidamente abaixou a arma.

— Eu… me desculpa, eu achei que fosse um zumbi. – Seb, que já estava com as mãos levantadas, as abaixou e olhou para mim.

— Tudo bem – falei – Também achei que você era um zumbi.

O garoto riu, e depois viu Giovanna. Ele andou até ela e a olhou de cima.

— O que aconteceu com ela? Ela não foi mordida, foi?

— Não – respondeu Seb – Ela sofreu algumas queimaduras num incêndio perto daqui, mas está passando bem. Agora ela só está descansando, embora não consiga andar direito.

— Olha – disse o garoto – Se vocês quiserem, estamos em um grupo. Não é muito grande, mas acho que é melhor ter pessoas a mais junto com você. Sabe, pessoas que possam cuidar de você caso algo aconteça.

— Olha, não é nada pessoal, mas acho que nós precisamos ficar por nós mesmos. Nós estávamos em um grupo, mas olha o que aconteceu – apontei para Gio – Todos os outros morreram. Ela sobreviveu, mas está toda queimada. Acho que muita gente atrai atenção. E não me refiro apenas aos zumbis.

— Entendo – ele disse – Mas nos deixe pelo menos ajudá-la. Temos um kit de primeiros socorros que acho que pode ajudar.

Olhei para Seb e vi algo nos seus olhos, um brilho de esperança, talvez. Não como se Gio fosse morrer ou algo assim, mas era triste vê-la sofrendo assim, sem poder andar e urrando de dor quando carregada.

— Acho que isso nós podemos aceitar – falei, sorrindo para o menino.

— Tudo bem então, sigam-me.

— Ah… acho melhor você ir, Martin – falou Seb – Vou ficar com a Gio. Acho melhor trazer o kit aqui do que carregá-la até lá.

— Ok, posso trazê-lo até aqui… - falou o garoto.

— Não, vai você Seb. Eu acho que torci meu pé, estou mal andando direito. E também, preciso descansar um pouco.

Sebastian hesitou.

— Tudo bem. Não sai do lado dela.

— Deixa comigo.

— E tome – o garoto me entregou a arma – Temos mais dessas, pode ficar com ela.

— Valeu – peguei a arma com cuidado. – Vão logo, antes que apareça um zumbi.

Os dois entraram na floresta e sumiram.

LIA

Guardei a aliança no bolso e aguardei no escuro. Johnny havia voltado para o acampamento e Matt seguira as pegadas. Eu estava sozinha, e não sabia exatamente para onde deveria voltar. Não lembrava onde estávamos antes, por onde viemos. A única coisa que me preocupava era se Martin tinha realmente visto o que acabara de acontecer.

Depois de aguardar vários minutos, comecei a ouvir passos na minha frente. Duas sombras caminhavam em minha direção. A primeira, Matt, eu conseguia ver. E a segunda provavelmente Martin.

Meu coração gelou, mais uma vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!