Human Nightmare escrita por Leonardo Franco


Capítulo 17
Forever and Always




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LIA

Não posso afirmar, mas tenho quase certeza de que Matt retribuiu o beijo. Alguns segundos depois ele deu um passo pra trás e me olhou nos olhos.

— Achei que você fosse casada – foi tudo o que ele disse. Depois ele pulou para um galho mais baixo, foi para o chão e saiu caminhando como se nada tivesse acontecido.

É isso. Eu me entrego toda para o cara, mando um beijo desses no topo de uma árvore, com esse luar incrível e tudo que ele faz é me lembrar que eu sou casada e depois vai embora. Típico.

Meus pensamentos foram interrompidos por um barulho perto do chão. Olhei para baixo e vi uma sombra se distanciando, lentamente. Gritei por ajuda, e quando o fiz, a sombra parou. Senti que estava olhando pra mim, e dei graças a Deus por estar sobre as árvores.

Mais passos surgiram, mas dessa vez atrás de mim. Era Matt, e mais atrás Johnny. Os dois tinham aquele rosto preocupado, o que me deixou feliz, não sei por quê. Olhei de volta para a sombra. Vi um brilho rápido em seus olhos, e depois virou e saiu correndo.

— O que foi? – gritou Johnny, lá em baixo.

— Tem alguém ali – apontei para onde a sombra estava há segundos atrás. Os dois correram para lá, apontando as lanternas para todos os lados. Mas já era tarde. A sombra já havia ido embora.

— Não tem ninguém aqui, Lia – disse Johnny, parecendo irritado.

— Mas tinha – disse Matt, apontando para alguma coisa no chão – Veja, quem quer que fosse, deixou cair algo. E as pegadas continuam por ali.

Ele seguiu o rastro. Johnny bufou e voltou para o acampamento. Ninguém se importou em pegar o objeto deixado no chão. Comecei a descer da árvore, na intenção de pegá-lo. Quando cheguei ao chão, comecei a procurar. Estava muito escuro, e a visão lá em cima era muito melhor do que daqui, cheio de mato e bichos.

E então eu vi um brilho, igual ao do olhar da pessoa sobre mim antes de fugir. Era um objeto pequeno, redondo. Um anel. Peguei-o na minha mão e senti meu coração gelar.

Olhei as inscrições dentro dele, o que dava para perceber claramente que era uma aliança. Estava escrito, em pequenas letras “Forever and Always”, e as letras M&L em cima, maiores.

A aliança de Martin.

—-

Alguns minutos antes…

MARTIN

Giovanna já estava melhor, junto com seu pai. Estávamos sentados em um tronco, olhando para o acampamento destruído. Enquanto Seb cuidava de Giovanna, cavei algumas covas e enterrei todos os corpos que estavam por ali. A maior parte deles eu não conhecia, mas achei que eles não podiam ser simplesmente esquecidos ali.

Giovanna estava dentro da barraca roxa quando o ataque aconteceu, por isso estava tão queimada e não sabia de muita coisa.

— Precisamos descobrir quem fez isso – comentei – Eles pegaram Camille.

— Quem é Camille? – Gio perguntou. Desde que havíamos encontrado Camille na casa, era a primeira vez que encontrávamos Giovanna.

— Uma mulher que encontramos mais cedo. Esse aí acabou gostando bastante dela – disse Seb, apontando com a cabeça para mim. Senti meu rosto queimando com o sangue que subiu, e virei o rosto para o outro lado.

— Vocês ouviram isso? – falou Gio de repente.

— O que? – perguntei.

— Vozes – ela disse. Levantamos lentamente e seguimos o barulho, tentando não fazer mais nenhum.

Acompanhando as vozes vieram algumas risadas. Um grupo de adolescentes, presumi. Tinha que ser. Adultos responsáveis não ficariam por aí fazendo tanto estardalhaço.

— Mandy devolve minha bolsa de maquiagem, por favor – gritou uma menina.

— Eu não peguei – gritou outra, provavelmente Mandy.

— Eu peguei – gritou outra voz, um pouco mais fina.

— Quem lhe deu permissão, hein, Carly? – falou a primeira, rindo.

Cheguei a um ponto em que consegui ver as pessoas que gritavam. Eram as três garotas que conversavam sobre maquiagem, mais perto de onde estávamos; um garoto sentado um pouco mais adiante; dois garotos e uma mulher conversando, bem longe de nós, de costas.

— Você acha que devemos ir lá conversar com eles? – perguntou Giovanna.

— Não, é melhor ficarmos por nós mesmos – falei. Era verdade. Se meter com mais pessoas signifcava ter que tomar responsabilidade por eles, ainda mais sendo que era apenas um bando de crianças.

— Concordo – falou Sebastian – Vamos sair daqui.

— Eu não acho que consigo andar muito tempo – falou Gio.

— Tudo bem, eu te carrego – disse Seb, indo ao seu encontro e a pegando no colo. Ela fez menção de gritar, mas logo lembrou dos adolescentes e mordeu a mão.

— Minhas pernas estão muito queimadas, não dá, não dá…

— Tudo bem, shh… vamos ficar aqui então.

— Temos que ir pelo menos um pouco mais longe deles.

— Certo, vamos.

Giovanna foi se apoiando em Seb, e chegamos a uma clareira afundada, pequena, que daria pra dormir.

— Certo, podemos passar a noite aqui.

Gio sentou-se em um canto, pegou uma blusa de lã e a usou como travesseiro. Ela adormeceu rapidamente.

— Não acho que consigo dormir – falei.

— É, nem eu parceiro. – falou Seb.

— Bom, assim são dois guardas.

Ele riu, e eu virei as costas para ele. Sai andando pra dentro da floresta. Escureceu rapidamente, e eu nem percebi.

SEBASTIAN

Martin se virou rapidamente e saiu andando. Nem viu que deixou um pequeno objeto cair de seu bolso. Me levantei e o peguei. Era um anel, uma aliança, na verdade. Estava prestes a chamá-lo para entregá-lo, mas achei que ele iria querer ficar sozinho por um momento. Ele viu muitas coisas recentemente. Coisas perturbadoras. Assim como eu.

Coloquei o anel no meu bolso, e falei para mim mesmo que em alguns momentos iria atrás dele para devolvê-lo.

MARTIN

Você não sabe como é o sentimento de ter que enterrar tantas pessoas. Mesmo sendo desconhecidas, a sensação é horrível. Mas a pior parte é pensar que aquelas pessoas, provavelmente, tinham família. O que sempre me faz voltar os pensamentos para Krista e Lia, perdidas no mundo afora.

Estava tão perdido em meus próprios pensamentos que nem ouvi os passos amassando as folhas atrás de mim, até que senti uma mão em meu ombro. O susto me fez dar um salto para o lado e quase gritar, até que vi que era Sebastian. Ele soltou aquela risada de sempre.

— Calma amigo, sou só eu.

— Não ouvi você chegando – falei, começando a rir também.

— Aqui, você deixou cair – ele me entregou a minha aliança. Segurei-a na altura dos olhos e li as inscrições “Forever and Always” e as nossas iniciais formando a palavra “mel” em letras garrafais.

— Você e Gio tinham mais alguém? – perguntei, pensando em Lia. Não sei por que comecei esse assunto com Seb.

— Tínhamos a mãe dela.

— O que aconteceu?

— Nos separamos. Há três anos.

— Por que?

— Não houve uma razão especial. Sabe, simplesmente fomos nos distanciando. Acontece. Foi ideia de nós dois. Concordamos que não iria mais funcionar. Gio entendeu também. Foi tudo muito simples, e até pouco tempo atrás ela nos visitava bastante. Mas aí ela começou a namorar. Não me importei muito, o cara era gente boa. Mas aí ele teve que se mudar para longe, por causa de seu emprego, e ela foi junto. Gio a visitava todo final de semana, mas eu nunca fui. Não tenho notícias dela desde… você sabe, isso.

— Uma bela história.

— Depende muito de onde você a está vendo. Pra mim e pra Angela tudo ocorreu bem, o divórcio. Mas nem imagino o que Gio deve ter passado. Ela disse que entendeu, mas os filhos sempre sofrem vendo os pais se separando.

— Sim, eles sofrem. Eu fui um deles.

— Sinto muito…

— Meus pais brigavam muito. Quando eu estava perto eles diminuíam, mas as noites eram horríveis. Casa pequena de paredes finas, você pode imaginar.

— Na verdade, não…

— Só quem passa por situações como essa para entender.

Olhei para a aliança, me lembrando mais uma vez de Krista e Lia.

— Faz um favor pra mim? – falei, olhando para Seb.

— Claro.

— Guarda isso. Não quero olhar para esse anel e me lembrar da minha família toda hora.

— Tudo bem.

Ele pegou minha aliança e colocou no bolso da jaqueta.

SEBASTIAN

Esperei até que Martin tivesse ido para prestar mais atenção na aliança. Estava muito curioso para ver o que estava escrito dentro dela, para que ele se sentisse tão deprimido. “Forever and Always”. Tinha quase certeza que esse era o nome de uma música da Taylor Swift, mas não era 100%. Giovanna ouvia muitas coisas, era confuso pra lembrar de tudo.

Porém não consegui lembrar, pois ouvi vozes se aproximando. Felizmente estava escuro e eu poderia facilmente me misturar às sombras das árvores. Olhei para os lados, mas não vi ninguém. Então, tão rápido quanto as vozes, a luz do luar foi tapada de meu rosto, por algo nas árvores. Era uma mulher.

Ela conversava com alguém, que também estava lá em cima. Ela se aproximou da outra pessoas e seus lábios se tocaram. Aproveitei esse momento romântico para me distanciar, mas não podia ir muito rápido sem fazer barulho. Parei e olhei para cima. A mulher estava sozinha agora. Dei mais um passo, mas algo me entregou. Provavelmente a folha seca embaixo do meu pé. Comecei a andar mais rápido, até que ela gritou.

Ela olhou para mim. Era bonita, mas seu rosto mostrava pânico. De repente surgiram passos mais adiante, e eu olhei para ela mais uma vez e saí correndo.

Já estava suando quando cheguei até Martin.

— O que aconteceu?

— Tem alguém lá atrás.

— O que, são zumbis?

— Não sei, acho que sim. Mas precisamos sair daqui. Agora.

— Vem, me ajuda a pegar a Gio e levar ela pra...

E então surgiram passos atrás de mim.

— Acho que não vai ser preciso – falou Martin. Olhei para trás. Um garoto estava apontando uma arma pra nós.


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