Human Nightmare escrita por Leonardo Franco


Capítulo 15
Camille




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Senti o sangue escorrer pelo meu braço, mas não me atrevi a abrir os olhos. Ouvia a chuva cair, sentia os grossos pingos dela no meu rosto. Passados alguns minutos, um barulho alto ecoou em meus ouvidos, fazendo-me levantar de uma vez.

Não sabia onde eu estava. Procurei por algo que poderia ter feito o barulho, mas não vi nada além da escada em que eu me encontrava. Uma escada com degraus compridos, de cimento, que ia até um pouco adiante e acabava. Estava coberta por um tipo de musgo, e dois lados dela havia grama.

Olhei para trás, e me arrependi de ter feito. Um muro, tão alto quanto eu conseguia enxergar, estava ali, me impossibilitando a passagem. Tentei enxergar um modo de atravessá-lo, mas era impossível.

Virei de volta pra escada, e comecei a subir. A cada degrau meu coração acelerava, pois não sabia o que iria encontrar no topo. Quando cheguei ao último degrau, analisei tudo com atenção. Havia dois prédios, um de frente para o outro, ambos aparentando abandonados. Estavam cobertos por plantas e pareciam sujos. Não tinham janelas, mas a porta que ficava na frente estava escancarada.

Outro barulho. Dessa vez, vi um clarão branco na porta do prédio a minha esquerda, que se apagou na mesma velocidade que acendeu. Corri até a porta, e o cheiro de queimado me invadiu. Meus pulmões arderam com a fumaça, fazendo-me cair de joelhos. Olhei para cima, com os olhos semicerrados, mas ainda não via ninguém. Entrei no prédio.

Havia uma escada prateada em um canto, e três portas do outro. Me aproximei das portas, mas um segundo depois, o clarão veio novamente, e percebi que ele vinha de cima. Esperei até que apagasse novamente, e comecei a subir as escadas. Ela rangia de um modo diferente, anunciando minha presença. Me apoiei na grade, tentando diminuir o barulho.

Uma risada cortou o ar, seguida de aplausos e passos. Passos que, percebi um pouco tardiamente, vinham até mim. Um homem alto, de cabelos grisalhos, usando um terno preto e óculos escuros parou no topo da escada, me observando. Pegou algo em seu bolso, apertou alguns botões e disse:

— Ela está aqui. Vou leva-la para cima. – E desligou o aparelho – Venha comigo.

Não foi uma pergunta.

— E se eu me recusar? – desafiei-o, ameaçadoramente.

— Vou ter que leva-la a força.

— É bom que você tente – falei, e pulei a grade de segurança, caindo a um metro da primeira porta. Para meu azar, ela estava trancada. Passei para a segunda, e assim que minha mão tocou a maçaneta, ela abriu silenciosamente. Olhei para trás a tempo de ver o homem terminando de descer a escada, e entrei rapidamente.

Não tive tempo de analisar o local. Corri como se não houvesse amanhã, sem olhar para trás nenhuma vez. Uma música suave tocava na sala, mas não parei pra ouvir. Atravessei-a até outra porta, que estava trancada.

Inspirei profundamente, pensando o que iria fazer. De repente, o barulho da porta se fechando atrás de mim me fez virar.

— Agora não tem fuga, moça – ele disse.

— É o que nós vamos ver – corri para cima dele, e pouco antes de nos encontrarmos, pulei, girando e chutando sua cara. Os óculos caíram, quebrados, enquanto sua cara ia pra trás, jorrando sangue. A cena me alegrou por um instante, depois eu me lembrei do que estava acontecendo no momento, e corri de volta à porta da frente.

Minha alegria cessou quando abri a porta. Havia mais uns quatro ou cinco homens de preto parados ali. Um deles me agarrou pelos braços e me arrastou para a escada, enquanto os outros foram ver o homem que eu havia chutado.

Fui levada até uma sala branca, parcialmente vazia, com apenas uma cadeira no centro. O homem me colocou nela, e tirou uma corda fina de dentro do paletó, me amarrando à cadeira.

— Melhor não resistir, gracinha – ele disse.

— Então é melhor não me prender aqui, inútil.

— Modos, por favor. Em instantes estaremos na presença de um grande doutor, cujo...

— Não quero saber de seu doutor miserável e idiota – interrompi, e ele me deu um tapa na cara.

— Nunca o insulte. Pelo menos não na minha frente. Você vai aprender a ser educada, querendo ou não. – finalizou, metendo-me outro tapa.

De repente, a porta foi aberta brutalmente, e um homem entrou, furioso.

— Você matou o Julius – ele gritou, pulando sobre mim. Ele tentou me bater, mas outros homens que chegaram o seguraram. Ele não conseguiu me acertar com as mãos, mas conseguiu desferir um chute em minha coxa.

— Ele não está morto, seu babaca – disse o homem que o segurava – Ele só está inconsciente, graças a nossa querida convidada.

Todos olharam para mim. Não sei se foi proposital, mas eles estavam em um círculo perfeito ao meu redor. Não conseguia ver todos, mas sabia que havia sete deles ali.

— O que vocês querem de mim? – perguntei, sentindo o gosto do sangue em minha boca.

— Nós? – o que falou riu – Nós não precisamos de nada vindo de você. Mas o doutor precisa.

— Vocês falam tanto desse doutor! Mas afinal, quem é ele?

— Tudo em seu tempo. Primeiro, temos algumas perguntas pra você.

— Não respondo nada sem meu advogado – disse, tentando ganhar tempo. Todos riram.

— Olha, ela tem senso de humor.

— Quem, eu?

— Não, essa outra garotinha sentada atrás de você.

— Já chega, me cansei de vocês. Não responderei nenhuma pergunta, não adianta nem tentar. Quero ter um papo com esse seu doutor antes. Se me permitirem, é claro – finalizei com um sorriso debochado.

— Senhor – um deles disse ao aparelho preso no peito – ela quer falar com você.

— Traga-a até mim – disse uma voz, entre ruídos, saindo do aparelho.

— Vocês ouviram. Levem-me até ele – falei.

Estava enganada quando pensei que iriam me soltar e me fazer andar. Eles simplesmente levantaram a cadeira, cada um segurando um pé, enquanto os outros três iam à frente. Subimos mais três lances de escada, até sairmos para o telhado.

— Daqui você vai sozinha. Nem pense em mudar sua rota, pois temos ordens de atirar se o fizer.

Me colocaram no chão e soltaram as cordas. Cada um pegou uma arma diferente a as apontaram pra minhas costas.

— Ande em linha reta até aquela barraca. Lá você terá mais instruções, docinho.

Segurei minha raiva e comecei a andar, lentamente. Era um espaço aberto, enorme, em que se dava para ver o muro alto no fim da escada, lá embaixo, e também o telhado do outro prédio. Mais um clarão. Parei por um segundo, esperando minha visão voltar, e um guarda gritou para que eu continuasse meu caminho.

Cheguei à barraca, que parecia bem maior de perto. Não sabia se devia entrar ou não, mas mesmo assim entrei. Uma mão me puxou para a direita e me segurou fortemente.

Um aroma adocicado estava no ar, e o ambiente escuro estava iluminado com algumas velas laranjas. Uma mesa comprida de mogno estava bem a minha frente, e atrás dela havia uma cadeira preta reluzente. A cadeira girou, revelando um homem também alto, mas, diferente de todos os outros, ele usava um jaleco branco, comprido, e óculos de grau.

— Olá Camille. Eu sou o Doutor Alexander.


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