Human Nightmare escrita por Leonardo Franco


Capítulo 12
Traição




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LIA

Sentei ao lado da fogueira improvisada e respirei fundo. Havíamos caminhado muito desde que saímos da casa, e já era noite. Arranjamos um lugar entre as árvores para dormir, e já tínhamos arrumado tudo. Eu estava com fome. Puxei minha bolsa pra perto e tirei uma das barras de cereais que Lettie havia me entregado mais cedo.

Johnny cuidava de Carly em um canto, removendo e trocando seus curativos, enquanto conversavam animadamente; Lettie montava barracas perto da fogueira, aparentando extrema dificuldade; Peter e Matt debatiam sobre a tal fazenda, ambos com entusiasmo, e Mandy me olhava curiosa, sentada a alguns metros.

– Por que você está me encarando? – perguntei. Ela se assustou, provavelmente não esperando que eu chamasse sua atenção.

– Eu só... Eu estava pensando sobre...

– Sobre o que?

– Por que vocês demoraram tanto para voltar, hoje, mais cedo? – ela disse de uma vez.

– Como?

– Você sabe. Quando Matt saiu com os outros, eles foram procurar comida, mas demoraram muito pra voltar para a casa.

– Você quer dizer quando eles me encontraram.

– Isso – ela mostrou interesse.

– Bem – comecei -, depois que eles me encontraram, nós entramos na floresta rumo à casa. Pouco antes de sairmos de lá, fomos atacados. Posso te assegurar que havia centenas deles, nos cercando. A única coisa que pudemos fazer foi virar as costas para eles e fugir.

– Vocês voltaram para a sua casa? – ela perguntou.

– Como você sabe que a minha casa fica depois da floresta?

– Ah... Lettie me disse – ela corou um pouco. – Continue, por favor.

– Tudo bem. Não, nós não voltamos para minha casa. Contornamos a floresta, até voltarmos pra estrada, mas os zumbis também estavam lá. Dessa vez não tinha como escaparmos, por que eles também vinham por onde nós passamos, nos cercando por todos os lados. Até que o Peter pulou um muro de uma casa e puxou todos nós para dentro.

Tomei um gole da água, deixando Mandy cada vez mais curiosa.

– Achávamos que estávamos seguros, até que um zumbi pulou da varanda do segundo andar e caiu sobre mim e...

– Tá, aí já é mentira – disse Matt, aparecendo atrás da árvore que Mandy estava. Ela assustou, o que o fez rir.

– O que você está fazendo aqui? – perguntei, tentando parecer irônica – Eu não podia ter o meu momento de glória?

– Na verdade, não. – respondeu Matt, e Mandy riu. Ele olhou pra ela e sorriu – Nós entramos na casa, mas logo saímos, sem encontrar nenhum zumbi. Depois, nós chegamos até a cidade e fomos direto pra casa.

– Nós também tivemos problemas, sabia? – Mandy resmungou.

– Sim, Johnny nos contou tudo.

– Bom mesmo – ela disse, se virando e acomodando-se para dormir.

– Eu e o Johnny vamos ficar de guarda agora, depois Peter e Lettie vão nos substituir. Sinta-se livre para dormir, se quiser. – disse Matt.

– Tudo bem, obrigada.

Não sei por que, mas eu sentia certa necessidade de ser educada com Matt. Talvez por que ele tenha me salvado do zumbi com o machado mais cedo, ou talvez por que ele era bonitinho.

Me levantei e segui para uma das barracas montadas por Lettie. Deitei e tentei relaxar. Mas não conseguia dormir. Não parava de me ocorrer que Martin podia já estar morto, ou em perigo. Quase me levantei, duas vezes, e voltei para casa, mas sabia que não podia abandonar essas crianças assim.

Como não consegui pegar no sono, saí da barraca. Preferia ajudar a proteger os outros a ficar deitada com todos os pensamentos ruins vindo à tona. Procurei Matt ou Johnny com o olhar, mas não os vi. Comecei a ficar preocupada, pois eles haviam dito que iriam ficar de guarda. Peguei um casaco dentro da barraca e comecei a andar.

Mandy estava tremendo, deitada nos ramos da árvore. Peguei o cobertor que eu usava e a cobri. Nesse instante, um sonoro ‘psiu’ cortou o ar. Olhei para cima, assustada, e vi Johnny em um dos galhos mais altos da árvore, rindo de mim.

– O que você está fazendo aí em cima? – perguntei.

– Te protegendo, madame – ele riu mais ainda.

– Silêncio Johnny, você quer acordar todo mundo? – Matt apareceu, em outra árvore, e parecia bravo.

– Desculpa cara – ele disse, e pulou para outro galho, mais alto.

– Precisa de ajuda? – perguntei, olhando para Matt.

– Se você quiser...

– Claro!

– Suba então.

Demorei alguns minutos para encontrar o galho certo para começar a subir, e mais alguns outros para conseguir. Quando cheguei lá em cima, Matt me olhava curioso.

– O que foi?

– Ah... Nada, eu só estava... Nada – ele repetiu.

Esse jeito meio abobado dele me fez lembrar Martin. Foi assim nosso primeiro encontro, eras atrás. Não em cima de uma árvore, lógico que não, mas com ele falando coisas sem sentido e eu me derretendo por ele. Foi na cafeteria da cidade, a mais simples que existia, porém com a melhor comida do mundo. Ele havia me convidado para ir ao baile de formatura com ele, e de cara eu aceitei, pois nenhum outro garoto jamais iria querer sair comigo.

– Noite linda né – Matt disse, me trazendo para a realidade. Porém, por mais estranho que consiga parecer, essa foi a primeira frase que Martin conseguiu dizer por completo no nosso encontro, me fazendo cair de volta nas memórias.

“Claro, estamos no meio do ano”, foi o que consegui dizer naquele dia, na cafeteria. Ele me olhava de um jeito engraçado, tremia sem parar. Eu também estava nervosa, mas conseguia esconder perfeitamente.

Naquela noite, no baile, demos nosso primeiro beijo. Foi aí que eu soube que queria passar o resto da minha vida com o homem daquele olhar penetrante... O mesmo olhar que Matt me lançava agora.

– Está tudo bem? – ele perguntou, inclinando a cabeça um pouco par ao lado.

Não pensei duas vezes em me adiantar, e dei os passos e pulos necessários para ficarmos no mesmo galho, centímetros um do outro.

– Não diz mais nada, só curte o momento, e vai de cabeça – eu disse, pois foi exatamente o que eu havia dito para Martin no baile. Fui chegando cada vez mais perto de Matt, até que nossos lábios se encontraram.


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