James Potter.

Faltam poucos dias pra terminar o ano letivo em Hogwarts.

Mas devo admitir que meu sétimo e último ano de estudante me trouxe muitas surpresas.

Coisas que nem em um milhão de anos acreditaria que realmente tivessem acontecido se eu não estivesse presenciando cada uma delas.

Os corredores de Hogwarts me trazem tantas lembranças que valem a pena serem guardadas, contadas e relembradas para todo o sempre...

Como na primeira viagem de trem, quando conheci Sirius Black e Remus Lupin, meus melhores amigos.

Ou quando descobrimos que Remus era um lobisomem e nos tornamos animagos, essa sem dúvida foi uma das melhores.

Mas uma das que mais me marcou foi quando vi Lily Evans pela primeira vez, oque é meio irônico já que estudávamos na mesma classe e éramos da mesma casa há aproximadamente um mês.

Eu me lembro como se fosse ontem.

Remus, Sirius e eu estávamos na beira do lago brincando com os bonecos que eram lançamentos da Zonko's enquanto Dorcas Meadowes e Marlene McKinnon tentavam desesperadamente fazer com que uma menina ruiva e pequena parasse de ler. Diziam – ao melhor, berravam – que ela já passava a semana toda enfiada dentro da biblioteca e que no sábado era o dia que ela tinha que dar atenção pras amigas. A menina ruiva – que reclamava da chantagem emocional – fechou o livro e começou a conversar com as outras.

Perguntei ao Sirius e ao Remus se sabiam seu nome. Sirius disse que não e que ela era só mais uma nerd sem graça, Remus disse que ela era a companheira dele na biblioteca e que seu nome era Lily Evans.

Lily Evans... Quem diria que aquele nome ficaria na minha mente por tantos anos, até eu finalmente tomar coragem e convidá-la para sair?!

Oque foi um completo fiasco, uma vez que ela negou categoricamente.

Sinceramente? Eu ainda não sabia oque era uma recusa. E olha que eu já havia saído com metade da escola em pleno quinto ano.

Foi uma sensação completamente nova, um misto de desgosto, fracasso e quero mais.

Pois é, quero mais. Sabe quando você quer muito alguma coisa e está disposto a fazer tudo para consegui-la?

Resumidamente foi por isso que – segundo as palavras dela - infernizei Lily todo o sexto ano para que ela aceitasse sair comigo.

Oque foi negado de diferentes formas e jeitos.

Sirius também já havia levado foras em diferentes níveis de Lene. – Eu realmente não vou obedecer á ordem dela de chama-la apenas de McKinnon, ou ainda melhor, nem lembrar que ela existe. –

E Remus, o mais sortudo entre nós ainda não tinha levado um fora de Dorcas. Parte por que ele nunca tinha a convidado para sair, parte por que era mais que evidente que ela também gostava dele.

Mas no começo do sétimo ano, minha sorte virou de uma forma surpreendente.

Lily Evans e Amos Diggory haviam rompido o namoro. Essa era ‘a notícia’ na viagem de trem rumo a Hogwarts.

E devo admitir, essa novidade soou como música aos meus ouvidos.

Procurei Sirius e Remus em todos os compartimentos, mas só fui encontra-los em um dos últimos.

E adivinha com quem eles estavam?

Dou um doce pra quem falou Lily Evans.

Quero dizer, ela estava ali fisicamente, pois a expressão leviana e alheia dela mostrava que estava mergulhada em um mundo de pensamentos completamente particular. Particular e muito triste por sinal.

As lágrimas que marcaram aquele rosto perfeito eram como adagas pro meu coração.

Oque é irônico já que eu sempre achei que sentia apenas uma atração física por ela, mas não, naquele dia eu percebi que oque eu sentia por Lily ia muito além de uma simples atração.

Eu estava abrindo a boca pra dizer alguma coisa quando Lene fez um não silencioso com a cabeça como se disesse: Agora não, Potter.

Sirius estava sentado ao lado de Lene, oque a irritava profundamente como ela não cansava de dizer. E de demonstrar.

Remus ao lado de Dorcas que estava tão vermelha como o cabelo da amiga. Mas como Remus é completamente nerd estava se escondendo atrás de um livro no lugar de puxar assunto com a garota ao seu lado. Eu precisava ter uma conversa de cervo para lobisomem com Remus, urgentemente.

E ao lado de Dorcas estava uma Lily totalmente desligada e olhando para o nada que se encontrava na parte de fora da janela.

Tive que me controlar, pois a vontade que eu tinha era de ir lá e abraça-la como se com isso eu pudesse escondê-la do resto do mundo e ficar com ela só pra mim.

Oque obviamente era meio idiota, já que não conseguíamos conversar por 5 minutos sem que ela ameaçasse me azarar.

Ela sabia ser bem cruel quando queria.

Fiquei olhando fixamente pra ela.

Qual é, eu nunca mais tinha tido a oportunidade de olhar pra ela sem que a mesma me mandasse virar a cara porque se não ela não conseguiria dormir a noite.

Oque sem dúvidas é mentira.

Oque mais achei estranho foi que ela nem protestou quando me sentei em sua frente e cumprimentei a todos.

Ela até sorriu pra mim.

Um sorriso meio dolorido. Mas ainda sim um sorriso.

Tudo bem, para o mundo que eu quero descer! Lily Evans sorriu pra mim, sem sarcasmo, sem piadinhas idiotas, apenas um sorriso. É, ela estava mal mesmo.

Quando o carrinho chegou, todos saíram pra comprar os mais variados tipos de doces.

Eu estava prestes a sair quando notei que uma pessoa continuava lá, e senti meio que obrigação de lhe fazer companhia, mesmo que ela não houvesse pedido.

Ela me olhou com aqueles intensos olhos verdes, e por um minuto eles me fizeram perder a fala.

– Lily...

Comecei a falar, mas por acaso já citei que ela tem uma mania irritante de cortar as pessoas?!

– É Evans, Potter!

– Evans Potter só vai ser quando nos casarmos.

E aconteceu uma coisa totalmente inédita.

Lily Evans riu. Lily Evans riu de uma piada minha. Lily Evans riu de uma piada minha que se referia ao nosso futuro e imaginário casamento!

Não, ainda não me decidi se isso é o começo ou o fim do mundo.

– Nunca, Potter. Nunca.

– Nunca diga nunca.

Falei e pisquei algumas vezes pra ela, oque a fez rir mais um pouco.

Não sei como e nem o porquê, mas quando me dei por mim já estava sentado ao lado de Lily com um dos braços ao redor de seus ombros.

E ainda mais inacreditável é que ela não reclamou do abraço, simplesmente descansou a cabeça em meu peito e depois de algum tempo... Dormiu!

Isso mesmo, dormiu.

E minha mão – que estou começando a acreditar que tem vida própria – foi até seus cabelos e começou a fazer uma espécie de carinho.

Como se ela fosse um bebê indefeso. E eu tivesse a missão de protegê-la das pessoas.

Sirius, se você estiver lendo isso, eu não estou virando gay, ok?

Eu ainda estava fazendo carinho nos cabelos de Lily, quando a porta do compartimento foi aberta bruscamente e ela se levantou em um salto.

Meu coração quase quebrou nesse momento. Quase.

– Lily nós precisamos conversar.

Quem interrompeu esse momento tão inédito foi um Amos Diggory totalmente fora de si.

– Não temos nada pra conversar Diggory. Agora se não se importa, tenho coisas melhores pra fazer do que ficar olhando pra sua cara.

Aí, essa doeu em mim.

– Coisas melhores? Tipo oque?

Ele perguntou enquanto me olhava com aquele típico sorrisinho sínico dele.

Já falei que um dos meus sonhos é quebrar o meu punho na cara de Diggory?

Acho que Lily percebeu que eu estava quase voando naquele rosto bonitinho dele quando falou:

– Tipo isso.

E me beijou.

Se me permite dizer, foi uma das sensações mais maravilhosas que já experimentei.

Me interna que eu só posso estar louco.

Ou isso tudo foi um sonho?

Não, tudo indica que não foi um sonho, já que Diggory puxou Lily pelo braço de uma forma violenta e a jogou do outro lado do compartimento.

Ele estava andando em direção a ela com uma cara nada boa quando eu finalmente me dei conta da situação – quero dizer, ainda estava meio dopado pelo fato de LILY EVANS TER ME BEIJADO-.

E bem, eu fiz uma coisa completamente idiota, uma vez que Diggory tem aproximadamente o dobro do meu tamanho.

– Hey, Diggory.

Falei enquanto o cutucava no ombro.

Quando ele se virou, minha mão – por livre e espontânea vontade – socou seu rosto com tamanha força que nem eu sabia que tinha.

Bem que Remus disse que pensar nunca foi o meu forte, já que eu sou um bruxo e poderia ter petrificado ele.

Diggory ficou olhando pra minha cara com uma expressão incrédula por uma fração de segundo e logo depois me deu um chute na barriga e me jogou no chão, começando assim as séries “Vamos bater no James” e “Vamos humilhar o Potter na frente da Lily”.

Ouvi Lily resmungando alguma coisa como “Varinha, cadê minha varinha?!” e bagunçando todo o seu malão atrás da bendita varinha.

Mas como estava óbvio que ela não ia achar tão cedo, comecei a rezar pra quem quer que esteja lá em cima. Merlin, Deus, qualquer um serve...

– Por favor, cara aí de cima, receba minha alma.

E como se ele realmente estivesse ouvindo minhas preces, Sirius e Remus apareceram bem na hora em que ele apontou a varinha em direção ao meu rosto.

– Mas que merda que está acontecen...

Mas Remus não concluiu a frase porque já estava no chão me ajudando a levantar enquanto Sirius segurava Diggory e Lene dava um pouquinho do próprio remédio a ele.

Eu sempre tive um pouco de medo dessa garota.

Dorcas estava tão horrorizada que ainda não tinha conseguido sair da porta.

Lily finalmente havia achado sua varinha e estava ajudando Remus a curar alguns dos meus hematomas.

Quando Sirius e Lene se cansaram de dar uma lição em Diggory o soltaram e ele saiu correndo sem perder o ar arrogante de sempre, e quando chegou onde Dorcas estava paralisada á empurrou pra longe para poder passar.

Acho que Diggory realmente tem uma queda por jogar meninas longe.

Remus foi correndo até a porta e se eu ouvi certo, estuporou ele.

Isso mesmo, Remus Lupin azarou alguém. E no meio do corredor.

Agora eu te pergunto: Oque o amor não é capaz de fazer?

Remus ajudou Dorcas a se levantar, perguntou se estava bem e essas coisas clichês de sempre. Eu até ficaria emocionado pelo meu garoto que está crescendo tão rápido, mas bem... Lily Evans tinha me beijado, e querendo ou não eu ainda estava meio anestesiado com isso.

– Potter...

– James, por favor. Me chame de James.

– James – não preciso citar a careta que ela fez ao falar meu primeiro nome, preciso? – eu achei tudo isso...

Agora ela deve estar me achando totalmente idiota e fracassado, uma vez que apanhei para o ex-namorado dela.

– Idiota? Olha Lily eu vou entender se você nunca mais quiser falar comi...

Mas ela me interrompeu de novo.

Mas dessa vez com um beijo. Quero dizer, com outro beijo.

– Porque você não cala a boca, James? – Lily disse sorrindo quando nos separamos.

– Ah é que eu pensei...

– Que foi a coisa mais linda que alguém já fez por mim?

Parecia que aqueles olhos iriam me engolir a qualquer momento, as palavras escaparam de minha boca e a única coisa que eu queria naquele momento era colar meus lábios aos de Lily novamente... E foi isso oque eu fiz.

E hoje, andando pelos corredores que me trazem tantas recordações não me arrependo de nada. Apanharia de novo e de novo só pra ter Lily ao meu lado como tenho hoje.

Cheguei na Sala Precisa e só Remus e Dorcas estavam lá, abraçados e conversando animadamente sobre a aula de DCAT.

Sirius e Lene chegaram logo depois, finalmente aqueles dois tinham se acertado. Tudo bem que a relação deles não é aquilo que podemos chamar de instável, está mais para imprevisível. Como eles.

Lily chegou logo depois, estava perfeita como sempre. A contemplei enquanto andava em minha direção pensando em quantos foras eu levei e em quantas vezes me senti completamente arrasado, mas sentindo o gosto do seu beijo e o conforto de seu corpo grudado ao meu em um abraço, posso dizer que tudo aquilo valeu a pena.

Eu estava encarando intensamente os olhos de Lily, me lembrando de todas as nossas brigas e de todas aquelas palavras ácidas que ela já me disse...

– James, você quer me dizer alguma coisa?

E só de pensar que estive a ponto de desistir...

- Quero.

Eu fico contente por ter lutado pelo amor de Lily...

– E oque é?

Afinal, se não lutarmos por nossos sonhos, quem lutará em nosso lugar?

– Nunca diga nunca.