A situação estava começando a complicar. O braço ainda doía e nada de conseguir liberar chakra. Se tivesse só um pouco, poderia arrombar aquelas portas. Duas caixas, apenas uma opção. Vinte segundos haviam se passado desde que desligaram o alto-falante. Estava contando. O gás subia devagar, mas as narinas já começavam a coçar. Por fim fez a primeira escolha que veio à mente. Abriu a caixa azul e encontrou lá dentro uma chave simples, como qualquer outra. Da mesa surgiram correntes que isolaram a outra caixa. Olhou para as duas portas e tentou a da esquerda. Nada. Forçou e ainda assim a chave não entrou. Foi para a da direita e... Nada?!? Continuou, empurrou, voltou para a da esquerda, fez de novo e não funcionava. Será que a voz teria mentido?
E agora? Que merda! Sua vida tinha apenas começado. Não ia morrer nas mãos de um maluco assim, como uma espécime de laboratório. Ele ainda seria o Hokage. Seria respeitado por todos e invejado por alguns. Por que não? O alto-falante foi religado.
- Vejam só, meus amigos. - falou a voz para um público imaginário - A raposinha não conseguiu sair e ficou assustada. Que coisa...
E continuou a falar, mas Naruto não prestava atenção. Havia fixado os olhos na outra caixa. Voltou para a que tinha aberto e procurou por algo dentro. Descobriu que havia um fundo falso. Dentro dele havia um botão vermelho. Olhou para a chave em mãos e buscou por alguma fechadura nas correntes da caixa vermelha. Começou a tossir, pois o gás já chegava aos seus joelhos e agora ficava difícil respirar. Sentiu os músculos esticando e voltando ao normal por todo o corpo. Encontrou. Encaixou a chave e... Pronto. Serviu. Abriu a caixa  vermelha e arrancou o fundo falso de lá também. Certo. Agora tinha novamente duas opções e pouco tempo. Vermelho ou azul? Resolveu apertar o vermelho e a porta da direita foi liberada.
- O ratinho conseguiu achar o buraco do queijo... - falou a voz com um tom muito menos alegre do que antes - Vá então, garoto, e veja o que há por trás da porta número 2. - e desligou.
Naruto caminhou meio manco até a porta. O veneno estava fazendo seu braço formigar e a perda de sangue estava começando a iritar. Atravessou o buraco e entrou em uma sala escura. Assim que entrou, a porta fechou atrás de si e ficou no breu completo. Nada, nem mesmo som chegava até ele. De repente um holofote acendeu sobre um canto da sala e ele viu alguém amarrado a uma cadeira. Se aproximou. Quando estava a apenas meio metro da pessoa levou um susto. Estava morta. Era um corpo em putrefação já. Reconheceu a bandana. Era do país da névoa. Devia ter morrido há dias já. Quase vomitou. O alto-falante, escondido na escuridão, foi ligado.
- Estômago fraco, meu querido? - riu, havia voltado ao humor maquiavélico - Eu lhe disse que você poderia conseguir companhia. Só não disse se era viva ou morta. - gargalhou, causando um efeito de náusea em Naruto que não aguentou mais e despejou o almoço nos pés do cadáver - Hum... Isso não pode continuar assim. Não mesmo. Senão, não poderemos continuar o nosso joguinho. - as luzes acenderam e Naruto pode visualizar a sala.
Novamente havia um alto-falante no teto, mas agora a sala era realmente mobiliada. Em um canto havia um quadro que mostrava uma menina morta na forca. A menos de um metro do corpo estava uma mesa com objetos cirúrgicos em cima: Um bisturi, um separador e um borrifador de água meio cheio. Havia mais uma porta no outro extremo da sala e um ventilador blindado em um dos cantos do teto. Pensou nele como um meio de fuga, mas descartou em seguida. Poderia ser mais uma armadilha. Que droga! Se o Shikamaru estivesse ali, eles teriam fugido em... Espera aí... Será que o Shikamaru... Será que algum dos meus amigos foi realmente capturado? Não tinha engolido essa hipótese ainda, mas agora se assustava. O ninja estrategista havia acabado de passar por uma situação terrível. Não precisaria de mais algo assim para deixar sua mente em frangalhos. Bosta... Estava em uma grande encrenca. Foi então que reparou em um cano que saia da parede exatamente oposta ao ventilador. Ele era pequeno e estava fazendo um barulho curioso como de... De repente começou a jorrar água. O alto-falante soltou um chiado, como se alguém estivesse tampando o microfone para que não escutassem algum barulho, como a risada do interlocutor.
- Como vê, estamos novamente em um aperto, não é, Naruto-kun? - o nome foi pronunciado com uma diversão mórbida, imitando a maneira como Hinata-chan o chamava. Hinata?!? Será que... - O que foi? Está tão quieto... Pensando nos seus amigos? Imagino que sim... Alguns deles podem estar aqui, sabe? Mas essa não devia ser sua preocupação no momento. Está vendo aquele cano que jorra água? Pois é... Ele não vai parar até inundar a sala. Só existe um modo de pará-lo. Dentro do corpo desse seu amigo aí na frente há um controle. Está no seu estômago. Para pega-lo é só abrir o estômago dele e tirar. Os instrumentos estão aí. Até mais.
Naruto encarou o corpo que jazia na cadeira. Isso não seria nada agradável. Abrir o estômago de um morto não condizia com a situação do seu estômago depois que o encontrou ali. Tentou se mover e então caiu de joelhos. O veneno! Havia se esquecido.
- Voz! Me diga! Onde está o antidoto? - gritou para o alto-falante, esperando que houvesse maneira de alguém ouvi-lo.
O som do alto-falante ligando provou que sim.
- Ah sim... Havia me esquecido. - disse a voz de maneira pouco convincente - Você pode pegá-lo. Eu deixei dentro da boca do shinobi aí, que está costurada. Rasgue a costura e você encontrará o remédio.
Naruto arrastou-se até a cadeira e pegou sua kunai. Olhou para o rosto do morto e viu a costura mal feita que fechava a sua boca. Será que havia sido feito quando ele ainda estava vivo? Que sensação horrível deveria causar. Com um movimento o Kyuubi arrancou a costura toda fora e a boca se abriu. Caiu um vidrinho em suas mãos junto com os líquidos acumulados na boca. Vomitou uma vez mais, sem conseguir se conter. Isso estava ficando cada vez pior. Aliás, estava piorando ainda, porque a água começava a se acumular no chão. Se demorasse demais ficaria difícil de fazer o que tinha de ser feito. Abriu o vidrinho e bebeu o antídoto. Sentiu o corpo se recuperar automaticamente. O braço ainda doía, mas agora já podia se mover. Levantou cambaleante e foi até a mesa e pegou o bisturi. Ao se virar espantou-se porque o "morto" havia levantado a cabeça. Ele o encarava com olhos fora de foco. A carne parecia querer sumir dali.
- Por... Favor... Me... Mate... - suplicou com a voz rouca o quase sem vida shinobi.
O garoto não conseguiu mais segurar as lágrimas. Segurou a kunai na mão esquerda e o bisturi na direita. Ficou algum tempo encarando o corpo, que agora não mais dizia nada, apenas o olhava, ou talvez a parede atrás dele, não dava pra saber. Enfim decidiu-se. Correu gritando até a cadeira e com a kunai abriu o pescoço de quem estava ali. Não havia modo de recuperá-lo. Precisava pensar assim. Com outro movimento passou o bisturi sobre o tronco do ninja e, sem olhar, enfiou a mão esquerda, sem a kunai, ali. Com nojo e sentindo o vômito chegar uma vez mais, tateou até encontrar algo duro. Retirou e viu, sob sangue e algo que ele não queria identificar de jeito nenhum, uma pequena caixa de controle com dois botões. Apertou os dois e a água parou, já encostando na sua canela. Inevitavelmente encarou o morto, com o corpo aberto, e não conteve a nova leva de vômito. Seria a última, se prometeu. Olhou para a porta, aberta. Foi até ela. Não sabia o que esperar.