Metal Rosicler escrita por AHB


Capítulo 1
Metal Rosicler




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Ela sempre o convencia a entrar naquele universo iluminado a que ela pertencia. Certo que ele a procurava. Esperava ela passear, sozinha, pelas cercanias do parque e então se aproximava, em um rompante de coragem que não teria em Hogwarts. Porém, ao mesmo tempo em que ele agia feito uma criatura arisca, ela tentava a todo custo aproximar-se dele. Sim, e isso fazia o peito de Severus Snape agitar-se e uma sensação de orgulho tomava conta de seu ser: Lily Evans desejava a companhia do garoto.

A trilha era longa, por entre o mato bastante seco devido ao auge do verão. Severus sentia o suor escorrendo pelo pescoço e o odor da grama alta era sufocante. Apesar de Lily ter prendido os longos cabelos ruivos em um coque, alguns fios soltos grudavam-se à nuca da garota e Snape podia ouvi-la ofegar.

– Lily, tem certeza que foi uma boa idéia...? - Snape ofegou, repentinamente percebendo a garganta muito seca.

– Estamos perto já, não lembra?

Oras, Severus jamais esqueceria da gloriosa tarde que passaram patinando sobre a superfície congelada do lago. E ele lembrava bem da trilha que tinha feito no ano anterior, durante o inverno. Mas o caminho parecia dobrar sob o sol a pino.

Lily pôs-se ao lado do amigo. Ela sorria, iluminada pelo sol. Lily Evans era uma criatura absolutamente solar e isso era um bocado irresistível para alguém tão obscuro feito Severus. Ele tinha vontade de sorrir de volta a cada vez que ela lhe sorria, e o fazia, encantado pelos olhos cristalinos dela.

– Você se machucou! - Ele despertou do pequeno transe quando percebeu uma expressão de dor passar pelo rosto dela e viu gotículas de sangue surgindo sobre as costas das mãos delicadas e brancas da menina.

– Frescura, é só um arranhão.

Por um pouco, ele pegou-se observando de modo pouco apropriado Lily tocar o pequeno corte com os lábios, sorvendo a gota de sangue. O gesto lento de sucção que ela fazia com os lábios vermelhos e carnudos...! E então a garota encarou-o com um sorriso franco e inocente. Fazia bastante calor naquele dia de verão em que decidiram caminhar até o lago próximo as cercanias da cidade.
         – Agora falta só uma descida, não? - ele perguntou, tirando dos olhos os fios de cabelo úmidos de suor. Podia ver o brilho da água cristalina, podia sentir uma leve brisa e ver a copa das árvores espalhadas em torno do lago. Sentia presença de Lily ao seu lado e pode adivinhar o movimento dela, precipitando-se em correr a distância final. Não se importou em correr junto a ela até o lago, afinal era apenas um rapaz muito jovem. E precisava obrigar-se a tal libertação, queria divertir-se naquele momento. Eram poucos os lugares que o agradavam, e sentia-se bem no mundo de Lily, às voltas de uma paisagem bucólica sob o sol de verão.

Arrancaram os sapatos bem rápido e a sensação de renovação era maravilhosa ao chapinhar os pés descalços na água fria. Severus abaixou-se um pouco pra lavar o rosto enquanto observava Lily jogar água para cima, lavar os braços e ensaiar um movimento de quem vai jogar-se de costas. Ele riu.

– Sev, vem cá! - O vestido de algodão branco dela estava bastante molhado, transparente nos vários pontos atingidos pela água. Snape gostava de observar como ela ficava mais bonita assim do que vestindo os pesados uniformes de Hogwarts. E as formas dela pareciam tão mais femininas desde a última vez que a observara tão desnuda. Desejava ir até ela e nadar com ela, os corpos muito juntos sendo banhados pela ondulação lacustre.

– Você precisa ver só isso! - Lily apontava para o fundo do lago. Agora ela havia desistido de segurar a saia longe da água e o tecido branco flutuava, meio fantasmagórico, em torno da menina. Sem saber bem o que fazer com as próprias roupas e um tanto constrangido a cerca da possibilidade de mostrar o próprio corpo, Severus foi até ela sem tirar a camisa, apenas dobrando as calças curtas acima dos joelhos.

No leito do lago havia uma quantidade enorme de pedras lisas e negras. A maioria das pessoas ignorariam tais rochas, mas Severus e Lily conheciam o metal negrilho, que se encharcado e depois partido, se desfazeria em barro corado e, se novamente lavado, apareceriam pedrinhas de todas as cores e múltiplas propriedades. Obviamente que da vez anterior em que visitaram o lago, congelado como estava, não teriam visto o inesperado metal, possivelmente deixado lá por algum bruxo.

– Podemos pegar algumas. – ela disse e mergulhou.

Bolhas. Lily azul-esverdeada sorrido pra ele. Não conseguia entender o que ela falava, ambos submersos. Ela moveu-se em direção a ele feito uma sereia e o beijou em cheio nos lábios. Na superfície, as bocas se uniram como se uma fosse continuidade da outra. Severus ofegou, ao mesmo tempo que ela se afastou, nadando e rindo, o chamando para o desconhecido.

[...]

Uma pequena pilha de pedras negras, partidas com o auxilio de uma rocha comum, descansava sobre a relva baixa às margens do lago. Severus deixou que Lily desenhasse sobre seu peito nu um coração vermelho-sangue, feito da lama do rosicler partido. Ela deitara-se no chão agora, deixando que o sol secasse seu corpo, emoldurado pelo vestido molhado e grudado na pele o suficiente para que ele visse as formas pontudas e rosadas dos seios jovens dela. Ela fechou os olhos e respirou como quem iria dormir, despreocupada e livre.

– Deite ao meu lado, Sev... – ela murmurou, quase dormindo.

O garoto recolheu as pedrinhas coloridas que surgiram da terra lavada. Elas faiscavam muito devido a luz do Sol. Severus as pôs sobre os braços estendidos de Lily, sobre a testa, como um diadema real, em torno dos pequenos seios projetados e da curva do ventre. Dos joelhos e pés muito pequenos e brancos. Beijaria uma a uma das pedrinhas e diria que amava Lily a cada beijo... Se fosse capaz de tais atos e tais palavras.

Porque ela era perfeita. Intocável. Não importava quantas vezes ela o beijasse ou o tanto que a desejasse. Desde o principio percebia algo de errado na doçura e na cobiça que prefaziam esse amor.

Então Lily abriu os olhos e sorriu todo brilho do metal rosicler para ele. Linda Lily que povoava os sonhos de Severus, tão próxima em sua distância. Ela, que por ele fora apresentada a seu verdadeiro mundo, era ainda de outro, inalcançável mundo solar de Lily Evans. Ainda sim, com o coração desenhado por ela sobre o peito, Severus deitou-se ao lado da amada e deram-se as mãos.


Fim



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Notas finais do capítulo

Notas Finais: Metal Rosicler é o nome de um livro de poesias de Cecilia Meireles. E é também um tipo de pedra citada por André João Antonil, em "Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas" publicado em 1711. Como um tipo de pedra brasileira foi parar em um lago inglês? Bom... Bruxarias. :P Não que as pedras realmente tenham poderes, mas essa é a vantagem de se escrever sobre um universo mágico.
[...] - Digamos que nadar com a Lily, livrar-se parte de suas roupas, trocar possiveis beijos... Foi uma forma de manifestar muita sexualidade e, porque não, fazer amor para Severus. E isso é meio estranho se tratando do morcegão. Então preferi deixar em aberto.
Beijos a todos!