Hit Me Like A Man ::: Meet Athena escrita por Nunah


Capítulo 1
We are brothers, not lovers.




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Hit Me Like A Man # Meet Athena

Essa oneshot pertence ao universo de “Meet Athena” e foi inspirada pelo epílogo da mesma, assim como pela música da banda The Pretty Reckless. O que é contado aqui, entretanto, passa-se no passado de duas personagens, portanto, não pode ser encaixada na história atual.

-

As férias de verão daquele ano estavam sendo passadas na Grécia. A família sempre gostara daquele tipo de coisa, prova disso foram os nomes que deram aos filhos: Héstia, Deméter e Zeus.

- Não aguento mais isso... – Héstia resmungava sentada à beira da piscina. – Está um calor de matar e papai ainda insiste nessa loucura!

- Você sabe como ele é, maninha. Ele ama isso daqui. O calor, o sol, as ruínas que ele visita o dia todo... é tudo parte da viagem pra ele. – Deméter saiu da água e se enrolou em uma toalha.

- Isso é verdade, Héstia. – as duas se sobressaltaram quando Zeus apareceu. – Tente ver o lado bom disso tudo.

Héstia revirou os olhos, antes de responder:

- Lado bom? E pode existir um lado bom nisso tudo?!

- É claro. Ou você gostaria que ele nos arrastasse para aqueles desertos longe da civilização e de tudo o que conhecemos? Eu hein.

Sua irmã mais velha se levantou de supetão.

- Isso é o seu lado bom, Zeus?! Sério mesmo? – ela pegou suas coisas desajeitadamente. – Eu quero ir pra casa, ok? Se o pai pelo menos se importasse conosco, nos levaria embora.

- Eu gosto daqui... – Deméter murmurou.

Héstia já estava se afastando, mas conseguiu ouvi-la e se virou para responder, sem nunca parar de avançar para o hotel.

- Traidora!

- Isso é falta de sexo, Héstia! – Zeus gritou. Toda a área da piscina parecia ter ouvido.

- Vá se danar!

Os dois ficaram em um silêncio constrangedor por um bom tempo.

- Ela está realmente mal... Coitada, Zeus, não precisava dizer aquilo.

O irmão deu de ombros, como se não fosse nada de mais. Nunca era nada de mais. Zeus não conseguia dobrar a língua nem mesmo na presença dos pais.

Ele sorriu travesso, abraçando-a.

-

Tudo começara num verão como aquele, há algum tempo. Deméter tinha acabado de sair do banho e estava enrolada na toalha quando Zeus adentrou seu quarto sem permissão. Era normal aquilo, eles eram inseparáveis e ninguém via problema naquela amizade, mas aquele dia foi realmente diferente.

- O que vai fazer hoje? – perguntou o irmão, olhando-a trocar de roupa. Aquilo também era normal, eles faziam qualquer coisa na frente do outro e ficava tudo bem. Era uma relação estranha, é verdade.

- Nada de mais, acho que vou encontrar uns amigos no shopping...

- ...e não sabe qual roupa colocar? - ele a encontrou dentro do closet.

- Zeus, se eu realmente não te conhecesse, acharia que você é gay.

Ele revirou os olhos, sorrindo.

- Por que não fica em casa hoje à noite?

Deméter continuou procurando ‘a roupa’ lá dentro.

- Por favor, hoje é sábado. Todo mundo vai sair...

Finalmente, conseguiu encontrar um vestido que lhe parecia bem.

- Mas você disse que não era nada de mais, então por que vai gastar seu tempo?

Zeus estava encostado no batente da porta, de braços cruzados e testa franzida. Deméter sabia que ele não estava fazendo piada. Ele se aproximou.

- Maninha, sério, às vezes eu acho que você dá muita atenção ao que os outros pensam. Você vai sair só por que todos foram? E daí? O que você quer não importa?

Ela suspirou. Sabia que era verdade.

- E você tem proposta melhor?

Ele sorriu. Aquele sorriso que ela conhecia tão bem.

-

I am strong, but love is evil...

There’s a version of perversion that is only for the lucky people…

Take your time… and do with me what you will.

I won’t mind… You know I’m ill… You know I’m ill…

-

Já tinha anoitecido lá fora. Eles caíram cansados na cama do quarto de Deméter, arfando.

- Por que eu acho que isso se tornou rotina?

Ele a olhou, sorrindo.

- Você sabe que isso não é rotina nenhuma. Imagine quantos irmãos fazem sexo selvagem e agem normalmente depois.

Ela apoiou o queixo em seu peito nu.

- Como isso foi acontecer?

Zeus deu de ombros.

- Não sei, mas foi bom, não foi?

Deméter sorriu maliciosamente.

- O que? A nossa primeira vez?

-

Ele continuava próximo. Em outra ocasião ela acharia isso normal, afinal eles tinham afinidade o bastante para isso, mas naquele momento isso lhe pareceu estranhamente diferente.

Por um segundo, ela se esqueceu de quem ele era. Por um segundo, ela pensou como mulher, não como irmã.

O que aconteceria se aqueles lábios tão atraentes encontrassem os seus? Ou se aqueles braços fortes a apertassem contra a parede do próprio closet?

Closet! Eles estavam num closet!

- Zeus... – ela começou, afastando-se.

- Está pensando o mesmo que eu, não é? – ele se aproximou novamente, encurralando-a. – Deméter, eu conheço você...

Ah, sim, ele a conhecia. Sabia decifrar suas expressões e sua linguagem corporal, assim como ela o conhecia.

Deméter tocou os lábios do irmão quase sem perceber. Zeus sorriu e aproximou seu rosto do dela. A casa estava vazia. Ninguém poderia atrapalhar aquele momento tão mágico.

Sua respiração estava acelerada, como se lhes faltasse oxigênio. Ela sussurrou o nome do irmão, e ele encarou isso como um convite, selando seus lábios.

Automaticamente, ele a agarrou pela cintura e a levantou. As pernas de Deméter já estavam entrelaçadas em suas costas quando ele a levou para a cama, como a primeira vez de muitas.

Ela não pensava em mais nada. Uma parte de sua mente parecia gritar “Para com isso, sua maluca! Isso é errado, VOCÊ SABE!”, mas a outra só o queria mais e mais perto, queria prolongar aquele momento o máximo possível, aumentar o calor do corpo de Zeus ainda mais.

Eles sempre souberam. Que tinham uma conexão muito forte, que por mais que fossem irmãos de sangue e melhores amigos, íntimos, nunca seria o suficiente. Talvez agora eles se completassem. Talvez agora se sentissem inteiramente felizes.

Ele retirou lentamente o vestido que ela tinha acabado de colocar. Deméter sorriu e isso o fez morder o lábio de ansiedade. Por mais que estivesse confiante, Zeus estava morrendo de medo que ela o parasse, e o negasse e dissesse que o que estavam fazendo era loucura, mas ela sorriu.

Ela o olhou e sorriu. E seus olhos brilhavam. Zeus não saberia dizer se era felicidade, euforia, ou até mesmo malícia.

-

So hit me like a man and love me like a woman.

Bury the side, look me in the eyes, I want it.

One will give you hell, one will give you heaven.

Hit me like a man and love me like a woman…

Love me like a woman…

-

Ele beijou seu pescoço novamente. Quando tinham chance, os dois aproveitavam até o dia amanhecer, para depois não sentirem nenhum tipo de arrependimento pelo tempo desperdiçado.

- Você acha que daria certo? – Deméter perguntou, afagando os cabelos de Zeus.

Ele desgrudou os olhos de seus seios fartos por um minuto para olhá-la confusamente.

- Quer dizer... nós? – Zeus franziu o cenho. – Se nós podíamos dar certo?

Ela mordeu o lábio e assentiu.

- Eu sei que é loucura, mas...

- Loucura? – ele riu. – Depois de nós dois mantermos essa relação, nada mais é loucura.

Deméter sorriu, beijando-o.

- Nós somos irmãos... – ele deu de ombros. – É até estranho dizer isso, mas nós somos. E eu amo você. Como um homem, e como um irmão. Você é uma pessoa fantástica, Deméter, mas o que nós temos acaba sendo algo mais físico, porque nunca podemos esquecer que, afinal de contas, nós realmente somos irmãos.

- Eu sei... Eu sei. – ela suspirou. – É só que... às vezes eu penso se não fôssemos e... Mas você está certo, Zeus. O que temos é físico. Nós nos amamos, mas... Não sei, é confuso.

Ele gargalhou.

- É realmente muito confuso, maninha. Por isso, ao invés de ficarmos pensando sobre o futuro, por que não vivemos o presente?

- É uma boa proposta, admito.

Deméter o beijou novamente e os dois continuaram de onde tinham parado.

-

Ela trocou suas posições, ficando por cima.

Aos olhos do irmão, Deméter parecia outra pessoa. Ele esperava que, se aquilo virasse frequente, ela continuasse selvagem do jeito que estava.

Olhando-a de baixo para cima ela parecia simplesmente...

- Divina. – ele sussurrou, com os olhos brilhando.

Deméter tirou o cabelo do rosto enquanto começava a rebolar.

Zeus não entendia como ela podia ser tão entendida daquele assunto ou se era influência do momento. Na verdade, não queria nem pensar em outra coisa que não fosse os menores movimentos de sua irmã.

Ela se abaixou, beijando-o ardentemente, gemendo enquanto sentia as mãos de Zeus passearem por seu corpo.

- Você é quente, mana. Uma gatinha má. Como pôde esconder isso por trás dessa carinha doce? – ele sussurrou em seu ouvido.

A risada que ouviu foi de diversão, misturada à safadeza.

- Você não me conhece, querido. – ela disse, rouca. – Tudo o que pensava saber de mais certo sobre mim... Todas suas convicções...

Zeus deu um sorriso torto.

- Temo que eu tenha alguma culpa nisso tudo.

- Sem dúvida.

-

Love is strong, but I am evil…

You are wrong… about me.

Take your time…

I’ll play with me until…

You can hear the children scream,

Like they’re stuck inside a dream like you.

-

A claridade do novo dia chegou com tudo, passando pela fresta das cortinas do quarto de hotel de Deméter. Zeus acordou assustado, culpando a si mesmo pelo erro que cometera. Preocupava-se tanto com a discrição que por fim acabara por ter passado a noite ali. Como seria possível?

- Mas que droga! – ele pulou da cama, pegando a própria roupa do chão.

Deméter abriu os olhos repentinamente.

- O que é?...

- O que é?! Como assim o que é? Já está amanhecendo, Deméter!

Ele tentava se vestir com esforço, mas estava tão nervoso que os dedos faziam tudo errado.

- Ainda bem, né? Isso significa que estamos vivos por mais um dia...

Ela puxou o lençol até o pescoço e se virou, tentando dormir novamente.

Zeus arregalou os olhos. Que sua irmã não era uma santa ele já tinha descoberto, mas por que ela não estava preocupada como ele?! Se descobrissem o que tinha acontecido, todos esses anos...

- Deméter! – ele puxou seu lençol.

- Mas que inferno, Zeus! Mas será possível?! – ela se sentou na cama furiosamente. – Me deixa!

- O que é que você tem?!

- Nada! – Deméter se levantou, vendo que não poderia dormir por mais tempo. – Que saco. O que você quer que eu faça?!

- Eu queria que você pelo menos ficasse um pouco preocupada com a possibilidade de nos descobrirem. – disse Zeus, embolando e jogando o lençol em seu rosto.

- Ah, é? E vai mudar alguma coisa eu ficar putinha igual a você? Faça o que quiser, tá legal? Só não venha me atormentar com isso... Poxa, foi só um deslize, ninguém vai notar! E se notarem, eles nunca vão cogitar a ideia de...

- Deméter! – ele estava exasperado. O que tinha acontecido com ela? Num dia estava tudo bem e no outro ela nem liga. – Nossa, meu. Eu pensei que você se importasse. Mas se é assim, não tem problema, já to indo...

Zeus levantou as mãos como sinal de quem se rende e se encaminhou para a porta, com uma cara que beirava a tristeza e a surpresa ao mesmo tempo.

- Porra...

Enquanto ia embora, ele rezava para que ela estivesse na TPM, porque senão...

-

Quando Zeus acordou, depois de uma noite de loucura, com uma Deméter adolescente em seus braços, ele realmente achou que estava louco.

Ele sorriu enquanto a olhava dormir, mas depois de alguns minutos aqueles olhos brilhantes o encararam novamente, para confirmar toda a sua felicidade.

Era mesmo verdade. Tudo realmente acontecera.

- Você vai me bater? – ele perguntara. Deméter apenas riu, abraçando-o. – Porque se for... eu posso explicar.

Ela se aconchegou em seu pescoço.

- Hmm, não. Mas eu gostaria de ouvir sua explicação.

Zeus sorriu mais uma vez.

- Eu sempre achei que algo estava reservado para nós. Algo grande. E nós sempre fomos muito unidos, mas, não sei, eu ainda não me sentia totalmente bem. É claro que todo o tempo que eu passava com você era realmente ótimo, mas...

- Mas você ainda não se sentia completo. – ela sussurrara. – Eu sei como é, Zeus. Eu também sentia que alguma coisa estava faltando, mas... nunca pensaria que fosse isso.

Ele afagava sua cabeça carinhosamente, sorrindo, como se, pelo menos naquele momento, fosse a pessoa mais feliz do mundo.

- Você se arrepende? – Zeus lhe perguntou. – De ontem?

- Zeus...

- Seja sincera.

- Não, eu não me arrependo. Pelo contrário, pretendo fazer disso um hábito.

Seus dedos subiram pelo corpo do irmão, que a trouxe para cima de seu corpo.

- Então... como poderemos chamar nossa relação... fraternal? – Zeus lhe perguntou, abraçando sua cintura e beijando-lhe.

- Nós somos irmãos... E amigos... E amantes?

- “Amantes” é uma palavra muito feia. Nós temos uma conexão muito mais forte do que quaisquer amantes por aí...

- Zeus, nós não podemos namorar, você sabe, não sabe? – Deméter o olhou, preocupada.

- Ah... Seria como um namoro escondido...

- Mas você também sabe que namorar significa ser fiel, ou seja, você não poderia sair com outras meninas...

Ele sorriu.

- E por que eu faria isso se eu tenho você?

- Será que as pessoas dessa casa já chegaram? – uma sombra de sorriso passou pelos lábios de Deméter.

- Nossos pais devem ter tirado a noite para se divertirem, e Héstia deve estar na casa de uma amiga...

- Ótimo – ela se sentou em cima dele, agora sorrindo abertamente. -, assim teremos tempo para consumar esse dia.

- Você não existe.

Zeus piscou, agarrando-se às coxas da irmã.

-

So hit me like a man, and love me like a woman.

Bury me alive, I can see it in your eyes, you want it.

Some will give you pain, some will give you pleasure.

Hit me like a man, and love me like a woman.

Love me like a woman…

-

Já passara da hora do almoço. Zeus estava preocupado, pois desde manhã não vira Deméter. Ela não comparecera ao almoço em família e não estava em seu quarto. O pai levara a mãe para outro dia de passeios embaixo do sol quente e Héstia estava vendo um filme atrás do outro, esperando pela hora de ir embora.

O que ele faria? Gostaria muito de ir à piscina novamente, mas não parava de pensar na irmã. Não sossegaria enquanto não a encontrasse, muito menos enquanto não resolvesse a situação que se iniciara no quarto.

Ele a procurou em cada canto daquele hotel e dos arredores, mas quem disse que a encontrava? Zeus desistiu assim que viu que eram quase quatro horas da tarde e foi finalmente para sua tão amada piscina.

A culpa não era dele que Deméter estivesse sendo implicante, nem que outras meninas o olhassem sugestivamente. Nem que acabou tentando esquecê-la com outras, por um dia.

- Você se lembra do que eu lhe disse anos atrás sobre namoro? – aquela voz fez todo o seu corpo se arrepiar. A menina que estava com ele saiu correndo na mesma hora em que viu a expressão de Deméter. – Sobre o significado de ser fiel?

- Você foi quem ficou toda estranha e começou a me tratar como se eu fosse só mais um. – Zeus a encarou furiosamente. – Eu sei bem o que é ser fiel, Deméter! Mas também sei que essa regra não é muito respeitada no quesito “sou amante da minha irmã”.

Ela engoliu em seco. Lágrimas lhe vieram aos olhos, mas ela não choraria na frente daquele ser desprezível que tinha sido seu herói.

- Então você também deve se lembrar do que disse sobre isso, não é? “‘Amantes” é uma palavra muito feia. Nós temos uma conexão muito mais forte e blábláblá...” – ela imitou uma vozinha irritante enquanto falava.

Zeus a segurou pelo braço. O lugar em que estavam era escondido, mas não menos perigoso.

- Você sabe muito bem que o que nós tínhamos não tinha nada a ver com amor.

- Ah, nós tínhamos, você falou bem, Zeus.

Aquilo o pegou de surpresa.

- Do que você está falando?

- Não posso mais confiar em você. Está escrito nos seus olhos que você quer me enterrar viva. Está morrendo de raiva pelo que aconteceu de manhã, e o que você faz? Ao invés de esperar pra ver o que iria acontecer, não! Você vem e agarra a primeira que vê na frente, não é? Eu já devia saber que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde, você sempre foi assim!

Ela lhe deu as costas. Quando ele pensou em chamar seu nome, sua irmã já estava longe demais para ouvir.

O que ele fizera? Devia tê-la esperado no quarto, ela voltaria alguma hora.

- Parabéns, Zeus. Você conseguiu estragar tudo de vez agora. – ele sussurrou para o nada.

Ela estava possessa, ele sabia. O que faria? O certo era ir atrás, pedir uma explicação, jogá-la na cama, qualquer coisa... Não poderia se afastar dela agora, mas devia ser o que ela queria, não é? Deméter estava cada vez mais longe dele, fugindo, afastando-se... Talvez...

- Deuses, estou perdido.

-

Don’t you run away, run away from me...

I will run away, run away from you...

Don’t you run away, run away from me...

I will run away, run away from you...

-

Depois de terem consumado o dia ‘em que tudo começou’, tudo pareceu voltar ao normal. Seus pais vieram para casa, Héstia começou a reclamar das provas intermináveis da escola, Zeus e Deméter continuaram sendo melhores amigos e tudo o mais.

Mas sempre que tinham uma chance os dois acabavam se amassando pela casa, sem ninguém nunca desconfiar; pois, afinal, essa era a regra principal, ninguém nunca poderia saber de nada. E esse clima continuaria por tempos e tempos, sem ninguém nem desconfiar, realmente.

-

Zeus passara o resto do dia sentado na sacada de seu próprio quarto, vendo as horas passarem lentamente, assistindo o sol se arrastar pelo céu, como se de propósito. Aos poucos uma lua cheia tomou seu lugar, mas não havia estrelas, não havia nada. Como uma mensagem, a lua estava ali, enorme, imponente, mas ao mesmo tempo solitária demais sem suas estrelas.

Seu pensamento automaticamente se dirigiu a Deméter. Ele não era nada sem ela. Nenhuma mulher na Terra poderia deixá-lo do jeito que ela deixava. Até quando estava nervosa, brava, ela o fazia sentir-se único. Não seria a mesma coisa sem ela, nunca, nem se tentasse substituí-la, era impossível.

Deméter conseguia deixá-lo se sentindo no céu quando queria, conseguia dá-lo prazer de um jeito que nenhuma daria, mas quando queria... Ela poderia virar o diabo e fazer de sua vida um inferno, fazê-lo sentir uma dor crucial pelos erros cometidos... Exatamente como naquele momento.

Ele sabia bem que ela não gostava do caminho mais fácil. Deméter nunca arrancava o mal pela raiz, ela nunca fazia nada subitamente, ia sempre por partes. Ela o torturaria, o faria sofrer e sentir a pior das dores, mas terminar com aquilo rapidamente, não.

Ela lhe devolveria na mesma moeda.

Contrariado, mas decidido, Zeus se levantou de sua tão confortável cadeira e foi até o corredor deserto. Ele ficou alguns bons minutos encarando a maçaneta da porta antes de tentar abri-la, mas, ao contrário das outras noites, ela não estava aberta. Deméter não o queria ali. Era como levar uma bofetada na cara.

Zeus pensou em tentar arrombar, ou gritar para ela abrir, fazer um escândalo e tudo o que tinha direito, mas isso atrairia atenções e perguntas indesejadas e ele ainda respeitava a regra da discrição o suficiente para não querer isso.

Ele bateu duas vezes na porta, de leve, mas o suficiente para alguém do outro lado ouvir naquele silêncio mórbido em que se encontrava o corredor.

Zeus não ouviu nenhum barulho, nenhum xingamento, e ninguém veio abrir a porta. Ele tentou mais duas vezes, batendo mais forte, mas não havia resposta. Frustrado, ele se sentou ali mesmo, iria esperar até o dia seguinte se fosse preciso, mas falaria com Deméter de qualquer jeito.

Apenas quando estava quase pegando no sono, Zeus se sobressaltou com o barulho do elevador e de gente falando. Por um segundo, ele pensou já estar de manhã, mas então percebeu que não tinha passado muito tempo, ainda estava escuro, mas podia muito bem já ser madrugada, pois até o trânsito lá fora estava menor, pelo que ouvia.

Era um casal de adolescentes muito safados – quanta ironia! – que estava ali. Zeus se irritou, mas logo percebeu que conhecia aquela voz. Ainda pior, conhecia aqueles cabelos e aquelas curvas. Ele reconheceria aquele corpo mesmo se tivesse a quilômetros de distância.

Ele se levantou, sem saber o que fazia. Zeus era um misto de raiva, tristeza, e confusão.

- Deméter! – ele gritou. Agora não se importava em fazer barulho. Nada mais importava. Se seus pais acordassem e viessem correndo pelo menos veria o que sua tão amada filha fazia em seu tempo livre e Zeus agiria como o bom irmão protetor.

A garota automaticamente virou o rosto em direção àquela voz, com um sorriso congelado no rosto, que na mesma hora começou a se desfazer. O garoto que estava com ela franziu o cenho, não entendendo nada. Qual era o problema mesmo?

- Sua... vadia! – o rosto de Zeus estava contorcido numa expressão horrível de nojo, inconformado.

Zeus só percebeu o quanto tinha se aproximado quando seu rosto começou a arder. Deméter arfava, de raiva e alívio, por ter conseguido o que queria. Mas vadia? Como ele ousava?! Ela sabia muito bem que a relação que mantinha com ele não seria vista com bons olhos se viesse a público, mas VADIA? Realmente, agora ele tinha ido longe demais!

Aquilo fez com que Zeus ficasse ainda mais raivoso. Ela tinha lhe dado um tapa na cara! Ele não estava sonhando, aquilo tinha mesmo acontecido!

- Como você...?

- Eu? Eu?! Você só pode estar brincando! – ela levantou a voz. Seu dedo estava em riste. – Você é um aproveitador. Você é um canalha, um cafajeste idiota! Como você pôde?! Seu... AH.

Deméter fechou as mãos em punho e caminhou duramente para o seu quarto. O garoto com quem viera, totalmente perdido, achou melhor ir embora do que ficar ali para ver o circo pegar fogo.

- Deméter...! Você... Mas que... Argh! Volte aqui já! Deméter! – ele colocou o pé quando ela tentou bater a porta em sua cara. – Nós temos que ter uma boa conversa, você sabe disso!

Ela estreitou os olhos. Os dois estavam terrivelmente irritados, surpresos; trocando elogios a torto e a direita e ele queria conversar! Por que ela achava que aquilo não daria certo mesmo?

Dizem que a reconciliação depois de uma briga feia é quente, mas não era nisso em que os dois pensavam naquele momento, pela primeira vez.

Ela abriu a porta contrariada, sabendo que Zeus não sairia dali nunca.

- Acho que tudo está bem claro, não é? Sobre o que você quer conversar? – Deméter falou, irritada, começando a se despir para tomar banho. Aquilo, é claro, deixou Zeus ainda menos concentrado.

- Precisamos esclarecer as coisas. Deméter, o que é que você está pensando? O que você está fazendo?

Ele suspirou, sentando-se na cama.

- Eu não aguento mais! Você me trata mal, depois briga comigo quando me pega com outra... O que você quer de mim?

- Eu queria sua lealdade, Zeus. Você sabe que namoros têm altos e baixos, mas temos de nos manter fiéis um ao outro. Você por acaso gostou de me ver com outro?

Ele desviou os olhos para a cortina do outro lado do quarto, com a mandíbula travada. Era visivelmente um sinal de desaprovação.

- Agora imagine quando eu vi você com outra quando tínhamos acabado de dormir juntos, pelos deuses! – Deméter arremessou suas roupas na cara do irmão. – Você achou o quê? Que eu não me importava mais? Que eu não o queria mais? – ele assentiu, envergonhado. – Você é um estúpido, Zeus! – ela pegou as roupas novamente e bateu em suas costas. Seus olhos se enchiam de água. – Eu estava testando você!

Aquilo o atingiu como um baque. Quando o pegara com outro, ela dissera que sempre soubera que ele era assim – um safado, cafajeste, que sempre encontraria uma para substituir a outra. Isso significava o quê exatamente? Que ele tinha confirmado suas suspeitas? Que ela realmente tinha razão em testá-lo?

Ele apoiou o rosto entre as mãos.

- O que eu fiz, meu Deus? – sussurrou. – Como eu sou idiota... Como eu sou estúpido!

Deméter engoliu em seco. Ela realmente sempre soubera que seu irmão era um cafajeste estúpido, mas sabia também que ele tinha coração e se machucava, apesar de não aparentar.

Ele tinha sido impulsivo quando foi a hora, mas agora estava em pedaços.

- É uma combinação estranha. – ela completou seus pensamentos em um sussurro.

Apenas de calcinha e sutiã, ela se sentou ao lado do irmão, encarando a mesma cortina. Aquilo estava acabando com os dois. Todo aquele tempo se divertindo... Enganando a todos...

- O que nós fizemos, Zeus? – ela sussurrou. Sua voz estava um pouco embargada. – O que nós somos?

Ele levantou a cabeça.

- A pergunta certa é... – ele passou o braço pelos ombros da irmã e a trouxe para perto. – No que nós nos tornamos?

As lágrimas silenciosas começaram a cair.

- Oh Zeus. Nós somos irmãos, não amantes.

- Não, nós somos um pouco de ambos.

-

Hit me like a man, and love me like a woman...

Found the Devil deep inside, can’t you see I’m what I wanted?

Some will give you hell; some will give you heaven…

So hit me like a man, and love me like a woman…

Love me like a woman…

Love me like a woman…

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Notas finais do capítulo

Espero que tenham aprovado!



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