Sayonara Memories escrita por Shiroyuki


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Yoo, minna-san!
Fiz essa fic como um presente especial para a minha senpai, Teffy-chan!!! Espero realmente que você goste, senpai *u*
Omedetoou gozaimasu!! *estoura confetes*
Agora, vai ler logo, vai! o/



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Sakura ga saku yo

As cerejeiras estão florescendo

Mirareta itsumo no sakamichi ni

Eu cresci olhando para este caminho

Aa, wakare wo…

Ah, despedida é tão...








O Sol brilhava alegremente naquela tarde de primavera, saudando os estudantes que iniciavam os seus anos letivos. Os passarinhos cantavam a estação, saudando o florescimento das sakuras, e as borboletas revoavam por todos os lados, parando em cada flor que encontrassem pelo caminho. Os parques estavam sempre cheios de pessoas aproveitando seus dias ao ar livre, seja com a família, com os amigos, ou com alguém em especial.

E no meio de uma dessas tardes perfeitas, daquelas que são tão brilhantes e monótonas que não causam nenhuma expectativa, três jovens aprontavam os últimos preparativos antes de finalmente voltarem para casa, na estrutura de metal e vidro, que refletia a luz do Sol para todos os lados, conhecida pelos estudantes da Seiyo Elementary como Royal Garden.

A menor deles era a ocupante do trono de Ás, Yuiki Yaya, que nesse momento se concentrava em tentar equilibrar uma caneta acima do lábio superior, completamente alheia ao esforço do loiro que explicava paciente alguma coisa a ela. Ele, assim como outros guardiões, haviam se formado no início da primavera daquele mesmo ano, e já estavam frequentando a nova escola há algum tempo, mas como sempre, Yaya pedia ajuda com as suas obrigações de guardiã, fazendo um escândalo e uma boa chantagem emocional, e acabava por conseguir tudo o que queria. O seu colega guardião, Sanjou Kairi, havia saído há alguns momentos, depois do chamado furioso da irmã mais velha, que era agora uma jovem senhora recém-casada, mas ainda precisava da ajuda dele para tudo.

E agora só restava para ajudar Yaya, Hotori Tadase, o antigo rei, e Fujisaki Nagihiko, o antigo valete. Só que, diferente do que se poderia pensar, a pessoa ao lado de Tadase não parecia em nada com um garoto. A “jovem dama”, vestida com um elegante vestido lilás de gola alta e mangas compridas, e com um rabo de cavalo prendendo perfeitamente seus longos cabelos púrpura, sentava-se ereta na cadeira, tentando em vão fazer Yaya prestar atenção às explicações para que eles não precisassem retornar à escola a cada semana para orientá-la.

A razão para Fujisaki Nadeshiko estar ali, no lugar da sua versão masculina, era de fato bem simples. Depois de ter enfim confessado seu maior segredo para Hinamori Amu, Nagihiko não tinha mais motivos para fugir das suas obrigações com a família. A amiga não tinha enfrentado a situação com muita naturalidade, mas aos poucos eles estavam conseguindo se entender, e ela já voltara a falar com ele normalmente, depois de quase duas semanas digerindo a informação. E agora, com a chegada de uma importantíssima competição de dança logo no final da primavera, Fujisaki Nadeshiko teria que “retornar da sua viagem á Europa” por alguns dias, até que Nagihiko conseguisse equilibrar seu lado feminino, para dançar com a delicadeza e destreza que lhe eram características. Os amigos estavam enfrentando a situação com bastante compreensão, diferente do que Nagi achou que era possível no início, fato esse que o deixava extremamente satisfeito.

— Agora, Yuiki-san, você tem que reunir todos os documentos referentes aos clubes de esportes, e dividir o horário do uso do ginásio e da quadra externa, de uma maneira que os horários não se choquem, e todos possam treinar direito – ouviu Tadase dizer, com muita calma, pela terceira vez.

— Mas a Yaya não conseeeegue! E depois vêm aqueles garotos do time de basquete e de baseball e começam a reclamar com a Yaya! A Yaya não gosta disso!!! A Yaya quer tomar chá, e comer os bolinhos da Naaaaddy! – ela bradou, e num gesto impulsivo, jogou-se nos braços da ex-rainha, começando a chorar – Aaah, Naaaddy, o Iinchou não deixa a Yaya tomar chá até que ela tenha terminado de assinar tooooodos os documentos!!! E o Nagi não trás neeenhum bolinho pra Yaya!! Ele é mau!! A Yaya prefere a Naddy! Você não pode ser Naddy pra sempre, heeiin?

— Sinto muito, Yaya-chan – Nadeshiko respondeu, afagando a cabeça da ás enquanto sorria com carinho – Mas eu ainda sou o Nagi, e não vou trazer nenhum doce pra você até que tenha completado os seus deveres de guardiã direitinho! E eu conversei com o Sanjou-kun semana passada, ele contou que você anda comendo doces escondida. Comer muita besteira faz mal, estou preocupada com a sua saúde, Yaya-chan!

— Aaaaah, Naddy, você é má! Eu gostava mais quando o Nagi e o Naddy eram dois! Assim eu podia conseguir alguma coisa com um ou outro, mas agora, é só um, e não dá certo! Moo~ isso não é justo!

— Pare de reclamar, Yuiki-san, e vamos terminar com esses documentos – Tadase disse, ponderado, e Yaya soltou Naddy para voltar a atenção para os papéis.

— Olha só, o dia está tão lindo, é melhor a gente ir logo pra casa, pra aproveitar a luz do Sol! Daqui a pouco escurece, e a Yaya é uma garota indefesa, não pode andar por aí à noite! – Yaya disse, apontando para o teto, e Nadeshiko suspirou. Aquela era uma desculpa óbvia demais para fugir dos documentos.

— Tudo bem, Yuiki-san – Tadase aquiesceu – Mas dá próxima vez você vai ter que cuidar sozinha desses papéis.

— Certo, certo. Tchauzinho! – ela berrou, já correndo de encontro à porta do Royal Garden, com a pasta em mãos. Estava com a certeza de que na próxima vez, só teria que chorar um pouquinho e Tadase acabaria cedendo novamente.

— É melhor irmos também, Hotori-kun – Nadeshiko observou, empilhando os documentos organizadamente – Yaya-chan tinha certa razão, já está ficando tarde mesmo.

— Hai – Tadase disse apenas, concentrado na tarefa de arrumar a bagunça que a ás estrategicamente deixou para trás.

— Esse lugar... – Nadeshiko murmurou, com sua voz calma, acordando Tadase do seu estado de distração – Mesmo depois sairmos daqui, continuamos presentes. Eu pensei que nunca mais teria oportunidade de vir aqui, de tomar chá, de arrumar os papéis junto com você...

— Se depender da Yuiki-san, nós continuaremos frequentando o Royal Garden por muito tempo ainda... – Tadase comentou, sorrindo para ela, que riu contidamente – Mas você tem razão, nós fizemos muitas lembranças boas aqui – completou, suspirando. Nadeshiko concordou, com a mente viajando entre essas lembranças, que pareciam muito nítidas agora, para ela.




Reinen yori hayai kaikayasou

Os anos floresceram e acabou muito rápido

Kimi ha ureshigatteta

Você estava totalmente feliz sobre isso

Watashi ha waratte

Eu simplesmente sorri

“Soudane” tte itta

E disse “Concordo”

Ato sukoshi shitara mou

Não foi nem mesmo há muito tempo e ainda

Koko ni ha modorenai no ni…

Não podemos mais voltar a ele…




Depois de deixarem o lugar exatamente da maneira que estava quando chegaram, Nadeshiko e Tadase se apressaram para a entrada, sentindo o ar quente e úmido varrer seus rostos, assim como os raios do sol que tocavam seus rostos.

— Você está com fome, Hotori-kun? Eu estou quase desmaiando... vamos passar em algum lugar antes de ir para casa? – Nadeshiko sugeriu, enquanto andavam pelo caminho para fora da escola.

— Sinto muito, Fujisaki-san, eu não trouxe dinheiro comigo... – ele lamentou, com pesar.

— Eu pago pra você – ela insistiu.

— M-mas... não é c-certo fazer uma garota pagar... q-quando não há... bem... isso é errado... – ele se atrapalhou, com o rosto escarlate denunciando seu constrangimento.

— Só que eu não sou uma garota, lembra? – Nadeshiko, com sua voz doce riu da própria piada, começando a andar com ele pelo caminho que seguia desde o Royal Garden até a entrada. Tadase não tinha resposta para esse argumento.




Watashi ha odokete

Eu também, brincando,

“Machigaeta” tte itta

Disse “Ops, foi mal”

Kimi ga warau sono kao ga

Eu apenas tive que me entregar

Mabushikute me wo sorashita

Em seu rosto sorridente e seus olhos cintilantes





Depois de atravessar o portão, eles andaram pela calçada, com Nadeshiko assobiando uma música qualquer alegremente, enquanto Tadase piscava atônito, completamente sem graça. Pensamentos indistintos vagueavam pela mente dele, e isso acontecia frequentemente desde que Nadeshiko tinha retornado. Isso tinha de fato, uma explicação muito simples... mas só de pensar nisso, Tadase sentia que podia desmaiar.

Nadeshiko indicou o café aonde ela sempre ia, e os dois entraram, ficando com a mesa logo ao lado da porta, sentando cada um em um dos lados do sofá vermelho, com a mesa de madeira os separando, e uma ampla vista da rua. Tadase não sabia onde colocar as mãos, e por isso ficava as retorcendo nervosamente no colo.

— O que vão querer? – a garçonete indagou, sorridente.

— Eu quero um bolo de chocolate e... cappuccino. E você Hotori-kun?

— Q-qualquer coisa está bom.. – ele respondeu, num fio de voz.

— Torta de frutas – Nadeshiko respondeu confiantemente, e a garçonete, assentindo, se afastou – É o seu favorito, não é, Hotori-kun? – ela acrescentou, sorrindo para ele.

— É... você... você ainda lembra dessas coisas... – ele balbuciou, incrédulo. Seu coração quase deu um salto mortal duplo-carpado dentro do peito, vendo o semblante tranquilo da ex-rainha sorrir para ele. E, novamente, a explicação para isso era muito óbvia.

— Claro que lembro. É meu dever como Valete... e como Rainha, também... saber dos gostos do meu Rei, estou certa?

— Mas nós não somos mais guardiões...

— Então... é meu dever como sua amiga saber das coisas que você gosta! – ela respondeu simplesmente, encerrando a questão – Vamos lá, Hotori-kun, não se prenda a detalhes. Eu apenas sei tudo sobre você, conviva com isso – ela fingiu superioridade, cruzando os dedos por cima da mesa.

— Não sabe de tudo... – Tadase murmurou, franzindo o rosto. Realmente, ela não sabia de tudo. Havia algo que Tadase guardava dentro de si desde que descobrira, recentemente, e em hipótese alguma Nadeshiko ou qualquer outra pessoa teria como saber. Era o seu maior segredo.

– É um desafio? – Nadeshiko encarou-o com furor, e Tadase tremeu diante daquele olhar, que seria ameaçador, se não tivesse acompanhado de um brilho alegre e espontâneo – Vejamos... Eu sei que você dormia de luz acesa até alguns anos atrás... e que você não gosta de comidas apimentadas – ela iniciou, e Tadase se surpreendeu com aquelas afirmações, imaginando como Fujisaki tivera acesso a elas. – Sei que não gosta de tempestades e nem camisetas cavadas. Que adora música clássica, torta de frutas, livros de mistério e que chora vendo filmes tristes. Que prefere chocolate branco, não consegue andar de bicicleta e segurar um guarda-chuva ao mesmo tempo, e que ama cachorros – ela enumerou, fazendo o loiro arquejar de surpresa. Ele não esperava por tantas informações e não eram coisas das quais ele falava facilmente para as pessoas. Nadeshiko encarou por baixo da franja, estudando as reações de Tadase, e então apoiou o rosto na mão direita, inclinando-se sobre a mesa para ficar mais perto dele – Sei que já recebeu centenas de declarações de amor... mas nunca teve uma namorada. E sei que não deu seu primeiro beijo ainda... – ela concluiu, baixando a voz estrategicamente nos últimos itens, e vendo o rosto de Tadase queimar em brasas com apenas essas palavras.

— C-c-certo, j-já chega... – ele agitou os braços, inquieto. Não queria que a conversa com Nadeshiko chegasse ao âmbito de “romance”. Isso só complicaria as coisas.

— Ah, eu ainda não terminei! – Naddy riu triunfante – Veja só... eu ainda tenho aquela coleção de fotos suas que usava antigamente para fazer chantagens, sabia?

— Coleção de fotos? – ele repetiu, intrigado.

— Eu não te contei? – ela pareceu um pouco frustrada, e pasma, por revelar sua maior arma por descuido. Tarde demais, tentou se consertar. – Bom, tanto faz... é só uma pequena coleção pessoal, nada com que deva se preocupar...

Tadase preparou-se para interrogá-la e saber direito sobre essa história, mas para a sorte dela, a garçonete retornou com os pedidos naquele exato instante, dando a chance perfeita para Nadeshiko desviar o assunto.

— Ah, Hotori-kun, eu quase esqueci! – ela exclamou, logo depois de começar a comer o bolo. Remexeu no bolso do vestido, tirando de lá um pequeno papel retangular, e estendeu na direção do loiro – Esse é um ingresso para a minha próxima apresentação. Foi só eu dizer para minha mãe que estava pronta para dançar, que ela já se empolgou, e me inscreveu em uma competição, você sabe. E eu gostaria muito se você, e todos os outros, pudessem ir assistir... – ela entregou o ingresso, e lendo rapidamente, Tadase sorriu de volta.

— É claro que eu vou, Fujisaki-san, eu não perderia isso por nada! – ele disse alegremente, enquanto guardava o pequeno pedaço de papel como se fosse um tesouro, no bolso da calça.

— Que bom... Eu logo vou dar ingressos para todos os outros também, mas... queria que você fosse o primeiro a saber, Hotori-kun... – ela disse suavemente, vendo o rosto de Tadase colorir-se – Você sempre me apoiou tanto, eu queria que houvesse alguma maneira de realmente retribuir tudo o que já fez por mim.

— Eu não preciso de nada, Fujisaki-san... Eu me alegro só de poder ficar ao seu lado – ele disse, sinceramente, e Nadeshiko disfarçou o embaraço tomando um pouco do seu cappuccino. Estava quente, e ela queimou a língua. Virou o rosto para a janela, vendo o movimento das pessoas e o céu começando a mudar de cor lentamente – Á noite, eu vou fazer a primeira prova do kimono que usarei nessa competição. Minha mãe está completamente em êxtase por eu voltar a competir. Eu também estou feliz com isso... agora ninguém poderá dizer que falta feminilidade na minha dança, eu sinto que ela está finalizada. Eu nunca serei uma mulher de verdade, é claro... mas sinto que seu eu apenas for Fujisaki Nagihiko, também já seria o suficiente.

— Sempre foi o suficiente para mim – Tadase disse com simplicidade, deixando Nadeshiko um pouco sem reação. Ele podia ver agora a força e o brilho que ele tanto valorizava nas pessoas, por não conseguir encontrar isso em si mesmo, e que Nadeshiko tinha de sobra. Ele nunca se cansaria de olhar para ela, vendo seus olhos brilhando daquela forma tão sonhadora. – Você está se esforçando bastante, não é Fujisaki-san? – ele disse sem pensar, e sorriu, admirado.

— Eu gosto disso... – Nadeshiko murmurou para si mesma, de repente, baixando os olhos dourados.

— De se esforçar? – ele repetiu, sem entender.

— Não – ela riu – Da maneira como você me chama. Você sempre soube a verdade sobre mim, então pensei que não iria fazer diferença ser Nagihiko ou Nadeshiko, mas... você sempre difere. É Fujisaki-kun, Fujisaki-san... e eu não me lembro de nenhuma única vez que tenha se equivocado. Mesmo quando eu não estou completamente transformado... basta mudar de voz, e você também muda a forma de me chamar. Eu realmente gosto disso... – ela levantou os olhos, sorrindo para Tadase, e o viu corar furiosamente, encarando-a sem saber o que dizer.

— B-b-bem isso é... e-eu... Eu apenas presto atenção, quero dizer... Agora não há mais motivos para isso, não é? Já que todos já sabem... mas eu não sei se conseguirei deixar esse hábito para trás…

— Está tudo bem, Hotori-kun. Apenas continue fazendo como sempre. Como eu disse antes, eu gosto disso, não há problema. – Nadeshiko remexeu o garfo no bolo, beliscando uma ponta – No entanto... tem algo que eu sempre quis saber... Por favor, não se sinta pressionado, é apenas uma curiosidade boba, mas... qual dos dois você prefere? Você gosta mais do Nagihiko... ou da Nadeshiko?

— Ahn? – Tadase espantou-se, deixando cair o pêssego que estava espetado em seu garfo – E-eu nunca havia pensado nisso, quero dizer... não é como se fizesse diferença para mim... eu acho que gosto de ambos – ele baixou o rosto terrivelmente corado ao falar aquelas palavras, que poderiam muito bem ter um sentido além daquele que Fujisaki reconhecia.

— A Rima-chan diz que prefere Nadeshiko. A Amu-chan nunca me disse nada, mas sei que ela também prefere. A Yaya-chan gosta de qualquer um dos dois, desde que a deixem comer quantos brownies quiser... Já o Souma-kun nunca reclamou de ter um parceiro para jogar basquete... – ela deu risada, com sua melodiosa voz feminina, e Tadase se pegou analisando aquela risada, tentando notar algum timbre fora do comum – Mas por algum motivo... quem me despertava mais interesse, era você Hotori-kun. Apenas diga... você gosta mais de mim como Rainha... ou como Valete?

— Fujisaki-san... Eu gosto de você – ele disse novamente, encarando Nadeshiko nos olhos, mas ela não pareceu notar nada de errado naquela frase. Ela não havia entendido a sua real conotação – Não importa de que maneira esteja vestida, ou como soe sua voz... Fujisaki é Fujisaki, apenas isso... S-se você estiver ao meu lado... eu não me importo com mais nada... – ele encerrou, sentindo suas orelhas queimando. Fechou os olhos, tentando acalmar as batidas frenéticas do seu coração. Havia falado mais do que jamais deveria ter se permitido.

— É exatamente a resposta que eu imaginei que você me daria... – a voz de Nadeshiko ressoou, e quando abriu os olhos, Tadase viu a ex-rainha fitando-o afetuosamente, com o rosto apoiado em ambas as mãos – Acho que é por isso que eu gosto tanto de você, Hotori-kun... – ela deixou escapar, sorrindo levemente ao ver o rosto de Tadase passar do vermelho leve a um escarlate berrante que cobria sua face por inteiro.

— E-eu já terminei de comer – ele mostrou o prato vazio, ao ver Nadeshiko esvaziar sua xícara também – N-nós podemos ir?

— Claro. – ela respondeu, chamando a atendente, que veio direto até eles, com a conta.

— Hoje nós temos uma promoção especial de Primavera, então o casal ganha 50% de desconto em seu encontro! – ela anunciou, com um sorriso enorme no rosto – E ainda podem tirar uma foto de recordação! – ela mostrou um painel todo decorado com corações e rosas, no canto posterior da parede.

— D-desculpe, m-mas nós não s-somos…

— Ah, que incrível! – Nadeshiko juntou as mãos sonhadoramente, com seus olhos brilhando resplandecentes. Tadase viu a nota de exagero na atuação demasiadamente empolgada da ex-rainha – Vamos lá, Tada-kyun! – ela deixou sua voz ainda mais aguda e exagerada, dando uma especial ênfase ao nome de Tadase – Vamos tirar uma foto!! – ela exclamou, enquanto seus olhos diziam “Desconto!! 50%!! Não me decepcione, Hotori-kun!”.

Ela levantou primeiro, arrastando Tadase pela mão, até o canto reservado para as fotos. A garçonete suspirou alegremente com aquele sopro de juventude, indo se posicionar para fotografá-los.

Nadeshiko, um pouco mais entusiasmada do que deveria, agarrou Tadase com ambos os braços, juntando seus rostos até que ele quase não pudesse respirar. Sorriu brilhantemente, e Tadase não conseguiu fazer nada além de corar, enquanto tentava formar algo que lembrava remotamente um sorriso.

O flash os cegou temporariamente, e logo a garçonete entregou a cada um uma cópia da foto, desejando felicidades, e elogiando-os por formarem um bonito casal.




Kotoba ja umaku ienai omoi wo

Os sentimentos que eu não podia sequer expressar em palavras

Mune ni daite kono michi wo aruita

A simples caminhada que tivemos, eu guardei em meu coração

Oboeteru?

Você lembra também?

Ano toki kimi ha

Naquele tempo

Watashi no namae wo yondekureta

Você chamou meu nome

Futari yuugure no kaerimichi de

Duas pessoas andando para casa juntos sob o céu que escurecia

Wasurenai yo

Eu nunca vou esquecer





Admirando a foto, Nadeshiko saiu da loja andando na frente, enquanto Tadase procurava por um local onde pudesse enfiar a sua cara e não aparecer nunca mais.

— Eu não me lembro de... Fujisaki-san ser tão espontânea antes... – ele comentou, incerto e curioso. Nadeshiko riu.

— Você deve estar assustado, não é Hotori-kun? Eu realmente queria aquele desconto… mas também acho que não foi uma atuação muito convincente. Isso é bem simples de entender, na verdade. Eu não preciso mais ser uma dama perfeita o tempo todo. Apesar de estar como Fujisaki Nadeshiko agora, Nagihiko ainda está em mim, e eu não vou mais suprimi-lo. Estou apenas sendo eu mesma, eu diria... isso é surpreendentemente relaxante. – ela dizia, enquanto saltitava para frente, girando em um dos pés e então se balançando para a direção de Tadase, surpreendendo-o com a proximidade inesperada.

— Isso é bom – Tadase mostrou-se compreensivo, sentindo a leveza de Nadeshiko espalhar-se pelo ar, o que o deixava também mais tranquilo.

Andaram mais alguns metros, reparando que estavam entrando na alameda das cerejeiras, que, nessa época do ano, estavam em pleno florescimento. Todos os lados estavam repletos de um cor-de-rosa suave, e as pétalas delicadas flutuavam pelo vento, acumulando-se nos vincos da calçada de pedra, como se fosse neve, formada por flocos macios e rosados.

— Lembra quando nós voltávamos da escola por esse caminho? Bom, não faz realmente tanto tempo assim, afinal... mas ainda... parece tão distante agora... – Nadeshiko suspirou, juntando as mãos atrás das costas enquanto andava pelo caminho coberto pelos galhos fartos, que se uniam de uma ponta a outra. Ela correu na frente, em um meio passo de dança, girando livremente.

— Eu lembro… – foi tudo o que Tadase foi capaz de dizer, enquanto observava atentamente os movimentos graciosos e perfeitos da ex-rainha. Não conseguiria, mesmo que tentasse, tirar os olhos dela agora. Ela estava mais alta do que ele se lembrava, e também sua fisionomia era menos infantil... mas ainda era a mesma Nadeshiko bela e elegante de que ele se lembrava. As flores de sakura que caiam ao redor dela, emoldurando a sua forma, só faziam destacá-la. Ela combinava com aquela atmosfera como ninguém.




Deaeta koto kanshashiteru

Estou muito grata por ter conhecido você

Hajimete mita mankai no sakura

Aquela foi a primeira vez que vi as cerejeiras florescerem

Arekara dorekurai

Quanto tempo faz desde que...

Kawaretandarou?

Tudo isso mudou?





Depois de admirar as flores por alguns instantes, Nadeshiko retornou ao lado de Tadase, trazendo consigo algumas das flores que caíram ao redor da árvore, e mais outras que achou pelo parque.

— Aqui, Hotori-kun – ela mostrou uma das flores, que não era uma sakura, mas sim um vistoso lírio branco, puro e brilhante – Para você – ela estendeu, sorrindo. Tadase sentiu novamente aquela inquietação em seu peito, como se algo extremamente importante estivesse para acontecer. Esticou a mão hesitantemente, para pegar a flor, e seus dedos roçaram-se levemente, antes de Nadeshiko recolhê-la.

— Uma flor… para mim? Por quê? – ele se viu perguntando, enquanto observava a flor com atenção.

— Me lembrei de você quando a vi… Você sabe qual o significado do lírio, Hotori-kun? – Nadeshiko indagou, enquanto andavam em um ritmo lento, pelo corredor de cerejeiras.

— Não…

— Inocência, gentileza, nobreza… majestade… - Nadeshiko recitou, fechando os olhos – Esse é o significado. Combina com você, não acha? Aqui, fique com essa também – ela entregou uma tulipa vermelha, sem encará-lo.

— E qual o significado desta? – Tadase indagou, curioso.

— Você gosta da nova escola, Hotori-kun? – Nadeshiko cortou-o rapidamente, antes mesmo de Tadase terminar sua pergunta.

— Gosto sim – Tadase foi sucinto ao responder, sem entender onde Nadeshiko queria chegar.

— Eu também gosto. – Nadeshiko respondeu, baixando os olhos, com um sorriso quase melancólico no rosto - Todos estão lá, e eu fico feliz por poder estar com meus amigos, sem nenhum segredo entre nós... Quero dizer, e você, Hotori-kun? Eu sei que não é da minha conta, mas eu tenho reparado que você já não sorri mais como antes, e isso me preocupa. Tem algo que está o deixando triste?

Tadase ofegou, imaginando quando exatamente Nadeshiko notara isso. Bem... ela era uma atriz, era natural que percebesse o seu comportamento estranho, mas ele pensava que estava indo muito bem até agora.

— E-eu... estou bem...

— Se não quiser falar, está tudo bem. Mas quero que saiba que eu sempre estarei aqui para escutá-lo, Hotori-kun – ela disse, erguendo o braço até tocar com a ponta dos dedos a mão de Tadase, e então recuando novamente. Tadase surpreendeu-se com aquele toque, mas havia sido tão suave que ele pensou que fosse somente sua imaginação.

— Eu sei disso, Fujisaki-san... Na verdade... etto... eu não sei explicar – ele baixou a voz, apertando com força as flores em suas mãos – É que... eu vejo todos se dando tão bem... O Kukai está saindo com a Utau-nee-chan... a Yuiki-san agora tem o Sanjou-kun para ajudá-la como guardiã. O Ikuto-nii-chan está na Europa, mas eu sei que ele fala todos os dias com a Amu-chan... – ele foi baixando a voz, até tornar-se um sussurro, encoberto apenas pelo som dos pássaros alegres que revoavam nas árvores – E você... você está tão próximo da Mashiro-san... então, eu pensei que... pensei que... acabaria... ficando... sozinho... – ele enfim disse aquilo que pesava em seu coração há um bom tempo.

— Você acha mesmo que eu o deixaria sozinho, Hotori-kun? – Nadeshiko indagou, sem olhar na direção dele, enquanto tentava manter sua voz sem inflexões.

— M-mas é que...

— Eu realmente me tornei amiga da Mashiro-san. Assim como também sou amiga da Amu-chan e da Yaya-chan. Não entendo por que você deveria ficar preocupado com isso... Eu estou aqui, não estou, Hotori-kun? – ela indagou retoricamente, percebendo que Tadase ficava sem reação – E... você não disse, no casamento da Sanjou-san e do Sensei, que não desistiria facilmente da Amu-chan? – ela enfim pronunciou, fechando os olhos, arrependendo-se por ter trazido à tona aquele assunto.

— Eu disse... mas agora vejo que não faz mais tanto sentido assim... – Tadase disse, baixinho, e Nadeshiko encarou-o, perplexa. Esperava que ele começasse a gaguejar e corar, com a simples menção do nome de Amu – Percebi que não existe nenhum esforço que se possa fazer para fazer alguém gostar mais de você. Não é algo que se possa controlar... Simplesmente acontece... Ou talvez, leve muito tempo, mas nós só percebemos repentinamente, e quando nos damos conta, é tarde demais.

— Você falando desse jeito, Hotori-kun... faz parecer que deixou de gostar da Amu-chan por causa de outra pessoa... – Nadeshiko riu contidamente, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, e então escondendo a mão dentro do bolso do vestido.

Tadase engoliu em seco, sentindo sua garganta arder, assim como um desconforto, como se milhares de borboletas lutassem por espaço em sua barriga. Aquela sensação trêmula, de ansiedade, como se algo fosse acontecer, se espalhou rapidamente. O ruído da respiração cadenciada de Nadeshiko, e do nervoso ofegar de Tadase, eram as únicas coisas que se podia ouvir, além do som ambiente do parque.

— Fujisaki-san... eu conversei com o meu tio há uma semana... Ele me contou uma coisa sobre você... – Tadase balbuciou, finalmente, resolvendo dizer logo aquilo que estava remoendo há tanto tempo só para si.

— E-ele contou? – Nadeshiko arquejou, surpresa.

— Ele disse que... que... q-que você pretende retornar para a Europa, assim que chegarem as férias de verão... Isso é verdade?

— É. – Nadeshiko disse apenas, em um fraco sopro, sentindo todas as suas forças se esvaírem. Ela não queria que ele soubesse. Não queria que ninguém soubesse. Ultimamente, ela andava sentindo-se em conflito com seus sentimentos, e queria ter a oportunidade de ficar sozinha, para colocá-los em ordem. Parecia haver algo incompleto em sua existência. Como um quebra-cabeça sem a última peça…

Não havia nada a ver com sua dupla-identidade, e sua vida escolar estava indo realmente muito bem. Ela tinha seus amigos, sua família, a sua dança… e ainda assim havia alguma coisa que a deixava inquieta. Isso, somando-se ao fato de que havia uma escola de dança em Londres interessada nela, tornou-se a escapatória perfeita.

— Eu não quero que você vá – Tadase disse, decididamente. Embora tenha soado mais como um pedido de uma criança egoísta, Nadeshiko paralisou, sentindo seu corpo todo reagir àquelas palavras.

— Hotori-kun, eu…

— Não! Não vá, Fujisaki-san! P-por favor… e-eu não sei o q-que eu faria se…

— Eu vou continuar falando com vocês todos os dias, prometo! – ela disse, embora seu coração também doesse ao dizer essas palavras – Vocês podem me visitar nas férias… eu também vou vir em todos os feriados e fins de semana que puder! Mando e-mails, fotos, vai ser como se eu ainda estivesse aqui!

— Não, não vai! – Tadase replicou, e Nadeshiko se surpreendeu com o tom de voz grave que ele usou. Seu rosto estava sombreado pela franja que caía sobre os olhos, e ela não podia ler sua expressão dessa forma – Não vai ser a mesma coisa… nunca mais… por que eu… e-eu… F-fujisaki-san… onegai… não vá… - ele sussurrou, e ela viu uma cintilante lágrima descer pela bochecha, chegando até o queixo e então caindo. Depois dessa, várias outras vieram, e Nadeshiko se apressou, querendo de alguma forma pará-las, e abraçou Tadase com força, deixando-o sem reação.

— Não faça isso comigo, Hotori-kun! Eu preciso… preciso descobrir… o que falta em mim. Não importa o quanto eu esteja feliz, o quando a minha dança esteja completa, ou os amigos que eu tenha… não parece ser o suficiente… falta… alguma coisa… e eu quero saber o que é. – ela disse baixinho, e sua voz suave acariciava o ouvido de Tadase.

— Você não pode descobrir o que é aqui mesmo? – ele soluçou, depois de hesitar, finalmente circundando também o corpo magro de Nadeshiko com os braços fracos. Tinha que ficar a ponta dos pés para alcançá-la.

— Não sei… - ela admitiu, soltando Tadase de seu abraço, e ele se afastou também, ainda que relutante. – Eu não sei nem o que é que está faltando, quanto mais onde começar a procurar… Eu só pensei que talvez… estivesse longe… e-eu não sei bem… ela baixou os olhos perdidos para o chão, vendo as pétalas de sakura que se juntavam perto dos seus pés.

— Me desculpe, Fujisaki-san… – Tadase murmurou, enxugando as lágrimas restantes e segurando aquelas que ainda queriam cair. Eu não tenho o direito de agir como uma criança mimada, fazendo pedidos egoístas dessa forma… mas, eu ainda não quero que você vá… não posso evitar… Eu quero que você esteja perto de mim, sempre… por que eu… eu…

— Você?

Tadase levantou os olhos, decidido, e ao encontrar os orbes cor-de-mel que eram de Nadeshiko, uma certeza fez seu coração bater mais forte. Era agora… Tinha de ser…




Hitome mitatoki ni omottanda

Olhando para trás, de repente eu me lembro

“Kono hito no koto suki ni narisou” tte

Dizendo “Esta é a pessoa com quem eu vou me apaixonar”

Nande kana?

Eu me pergunto por quê?

Wakannai yo

Eu realmente não tenho idéia

Sorekara no mainichi ha totemo tanoshikutte

Depois disso, cada dia que passava me deixava mais feliz

Dakedo onajikurai ni

Mas, ao mesmo tempo

Tsurakattanda

Foi também doloroso




— T-tem algo que eu preciso dizer, antes de você ir, Fujisaki-san – ele disse, aproximando-se mais um passo de Nadeshiko. Ela assentiu, esperando ansiosamente. Ele as conduziu até o banco próximo, que estava coberto pelas pétalas rosa que pareciam feitas de seda. Os dois sentaram, sentindo-se nervosos. Tadase fechou os olhos e respirou fundo, escolhendo bem as palavras, e quando os abriu novamente, disse – Quando eu olho para trás… e me lembro de quando nos conhecemos… A primeira coisa que pensei quando a vi, Fujisaki-san, era “Que garota linda…” e então, eu pensei… se algum dia eu me apaixonar, quero que seja por alguma garota como ela… uma garota cheia de brilho e de determinação… gentil, educada, forte… alguém como você, Fujisaki-san, sempre foi o meu ideal. Mesmo quando descobri a verdade sobre sua identidade, nunca deixei de pensar assim. Eu me pergunto porque… realmente, não tenho ideia.

— M-mas, Hotori-kun… eu… - Nadeshiko estava chocada, e não sabia como responder àquelas afirmações. Optou por ficar em silêncio e ouvir até o final.

— Você se lembra? Depois disso veio a Amu-chan… e por muito tempo, eu pensei que estava apaixonado por ela…

— E você não estava?

— Eu já não sei mais… Penso que talvez eu pudesse estar, mas agora… agora isso já não é mais verdade. Foi tarde demais, mas eu percebi alguém que estava ao meu lado o tempo todo. E-eu… Fujisaki-san, eu percebi que… b-bem… não foi fácil, mas eu… compreendi, finalmente. E depois disso, cada dia que passava era mais feliz, e ao mesmo tempo, era também doloroso. Eu fiquei confuso… achei que estava errado, mas… mas não havia como evitar…

— Hotori-kun, eu não entendo…




“Gomen ne”

“Me desculpe”

Nanka umaku ienai yo

De alguma forma, eu não consigo dizer isso muito bem

Dakara watashi kimi to

É por isso que eu e você…

Nanteiuka…

De alguma forma…




— Fujisaki, san, me desculpe. Eu não vou conseguir dizer isso direito… por favor… - Tadase sentiu seu rosto esquentar e formigar intensamente, e mordeu os lábios, tentando com isso controlar o timbre da sua voz, que estava trêmulo e nervoso – E-eu, e você… q-quero dizer, b-bem…

— Hotori-kun! – Nadeshiko teve um pequeno insight, e por um momento, imaginou o que seria aquilo de tão importante que Tadase tinha para falar. Agitou-se em cima do banco, com seu coração disparando. Tinha que impedi-lo de dizer aquilo! Seria muito… muito… muito o quê? Ela não encontrava em si mesma forças para pará-lo. Pelo contrário… queria que prosseguisse. Não disse mais nada, e baixou os olhos. Não conseguia nem mesmo encará-lo agora.





Ima no mama

Mas agora

~Sayonara shitakunai yo~

~Eu ainda não quero dizer adeus~

Tomodachi no manma já

Eu apenas não quero que sejamos apenas amigos

“Mou iya nano”

“De jeito nenhum”




— Fujisaki-san… n-não… Fujisaki Nagihiko-kun! – ele firmou, encarando a pessoa a sua frente com coragem – Eu não quero ter que dizer adeus ainda. Porém, se for o que você precisa para ser feliz... acho que posso conviver com isso. Só que, também… t-também não q-quero que sejamos mais apenas amigos, e-eu…

Iou to omotteta…

— E-eu ia dizer q-que…


Watashi…

— Eu…

Kimi no…

— Você…

Kimi no koto zutto…

— Você sempre…

Zutto…

— Sempre…

Maekara

— Desde o início…

“SUKIDESHITA”

— EU SEMPRE TE AMEI!


Assim que ele disse essas palavras, com seus olhos fechados e o rosto tingido de um escarlate berrante, sentiu algo quente fazendo pressão sobre seus lábios. Não teve tempo de pensar no que estava acontecendo, e nem sabia direito o que deveria fazer. Logo a mão macia, e também fria, de Nadeshiko… ou Nagihiko… tocou sua bochecha, conduzindo-o levemente para mais perto, enquanto aprofundava gradualmente o toque. Tadase perdeu o seu senso de localização, e por um breve momento, pensou que estava sonhando. Mas o toque cálido de Nagihiko era real, e, depois de espiar por com os olhos semicerrados, vendo o rosto de Nagihiko de muito mais perto do que sequer pudesse imaginar, fechou-os novamente, apreciando o instante, e querendo apenas que durasse para sempre.

Com a mão direita, ele discretamente avançou para a mão livre de Nagihiko, entrelaçando seus dedos nos dele, e impulsionou seu corpo mais para frente, aprofundando o toque dos lábios, ávidos por mais. Com a outra mão, acariciou levemente o rosto de Nagihiko, afastando-se minimamente, apenas alguns milésimos de centímetros, suficientes para respirar, e então selou com os dele novamente, sem saber direito como deveria proceder. Continuou a avançar com a mão, tocando os cabelos de Nagihiko, e desamarrando a fita que os prendia, soltou-o. Eles desceram suavemente, em uma cascata púrpura e macia, pelas costas do garoto, que ofegou, surpreso. Tadase, ainda de olhos fechados, encerrou o beijo. Não sabia o que queria dizer agora. Já havia dito tudo o que queria. E sentia-se incrivelmente mais leve depois disso.

— Hotori-kun, eu… eu sou um garoto… – foi tudo o que Nagihiko pode dizer, encarando incredulamente Tadase. Seus cabelos estavam soltos, meio bagunçados. Sua voz também estava mais grave, e rouca, ainda que estivesse usando o vestido de Nadeshiko.

— Eu sei disso – Tadase soprou, baixando o olhar – Não me importo.

— M-mas… mas…

— V-você… você me ama também, Fujisaki-kun? – Tadase ergueu seus grandes olhos escarlates para o alto, brilhando intensamente à luz alaranjada do final da tarde. Não podia evitar transbordar esperanças, nesse momento. Fora Nagihiko quem teve a iniciativa de beijá-lo, afinal.

— E-eu… - Nagihiko tremeu diante daquele olhar suplicante. Este prestes a dizer “isso está errado”, mas tudo o que seus lábios proferiram foi – Suki dakara mo…

Tadase sorriu, mais brilhante e amplamente do que jamais havia feito. Seu rosto ainda estava corado, mas seus olhos derramavam alegria.

— E-então não há problema algum. – ele sussurrou, erguendo o rosto, e Nagihiko inclinou-se, sem conseguir resistir em tocar mais uma vez aqueles lábios doces. Seu coração batia descompassado, expandindo-se e se aquecendo, de uma forma completamente nova e inesperada. O vazio do coração dele estava sendo ocupado. Era o algo que faltava, a peça que nunca havia sido encontrada. Era Tadase, aquilo pelo qual Nagihiko tanto procurou, e sempre esteve ao seu lado, o tempo todo. Com esse pensamento, Nagihiko se deixou levar, invadindo os lábios inexperientes do menor com a sua língua, explorando e provando todos os espaços, apenas para apreciar melhor aquela sensação tão plena.

Tadase retribuiu ao toque, dessa vez já sabendo o que esperar, e Nagihiko não resistiu em abraçá-lo, acalentando o diminuto corpo do loiro em seus braços. Os dois continuaram assim por mais algum tempo, até que se esquecessem de como respirar, e afastaram-se ofegantes, ambos muito corados, e sem saber como se dirigir um ao outro. Era uma sorte que o parque estivesse vazio, do contrário, alguém presenciaria aquela cena constrangedora.

— Fujisaki-kun, se você for… se você for embora… - Tadase tomou fôlego, regularizando sua respiração e os seus batimentos, e tomou coragem para falar, embora agora mirasse diretamente as suas mãos que se retorciam nervosamente no colo – Se você for embora, eu vou esperar por você. Eu espero o tempo que for necessário, então…

— Isso não vai ser preciso, Hotori-kun – Nagihiko se apressou em dizer, sorrindo como um tolo. Aproximou-se mais uma vez de Tadase, sentindo-se de repente incapaz de ficar muito tempo longe, sem tocá-lo, e circundou seu braço nos ombros estreitos, tocando com a testa a cabeça dele, vendo de perto as suas orelhas corarem furiosamente – Acho que eu encontrei o que faltava. O tempo todo… estava do meu lado o tempo todo. Me sinto bobo agora. Mas um bobo absolutamente feliz. E quero ser ainda mais bobo ao seu lado… Eu posso?

— A-acho que sim… I-isso significa que…

— Que eu não vou a lugar algum. Não sem você. Ficarei do seu lado. Para sempre. – ele sussurrou no ouvido de Tadase, sentindo-o arrepiar-se e tremer em seus braços.

— Isso é bom… - Tadase sorriu fracamente, encolhendo-se – Me sinto melhor agora, por não ter mentido completamente para a moça do café, antes.

— Ah, então podemos voltar lá amanhã. Em um encontro. – Nagihiko disse seguramente, arrancando um ofegar surpreso do loiro.

Levantou-se, segurando Tadase pela mão, e juntos, eles continuaram a caminhar sob as cerejeiras, que choviam lentamente ao redor, em um ritmo suave e delicado… Nagihiko entrelaçou os dedos com os de Tadase, afagando-os suavemente.

— Ah, me esqueci de atar o cabelo – Nagihiko lembrou-se, sem disfarçar também a voz.

— Deixe assim. Está bonito… - Tadase disse repentinamente, corando ao perceber o que tinha dito, e escondendo o rosto com a mão livre logo depois, deixou escapar – E-eu g-gosto mais assim…

Nagihiko assentiu, corando ligeiramente, muito satisfeito com aquela resposta também.

— Ah, acabei de descobrir outra coisa sobre você para aquela lista… - ele disse repentinamente, sorrindo de canto.

— O que?

— Seu primeiro beijo aconteceu… e foi comigo – ele cantarolou, deixando Tadase tão vermelho como um semáforo de trânsito.

Enquanto ele tentava gaguejar alguma repreensão, Nagihiko saiu correndo na frente, fazendo o loiro correr ao seu encontro, quase tropeçando pelo embaraço anterior. Eles continuaram pelo caminho florido e nenhum dos dois conseguia segurar o sorriso por muito tempo.

Uma alegria imensurável espalhava-se por todo o seu corpo. Quase podiam ver a atmosfera cintilar ao seu redor. Aquelas sakuras… elas sempre foram tão lindas? O sol sempre brilhou daquele jeito? O caminho de pedra sempre foi tão cintilante? Ah, estava tudo tão perfeito… era difícil acreditar que não se tratava de um sonho.

E se fosse um sonho? Bem, nesse caso, nenhum dos dois iria querer acordar.



— Hotori-kun, você sabe qual o significado da tulipa vermelha?

— Não… qual?

Amor puro e eterno…



Aa yatto ieta…

Ah, eu finalmente disse isso…





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Notas finais do capítulo

Nyaaaha~ senpai, espero que tenha gostado da one-shot!!
Quase quebrei a cabeça tentando pensar em algo pra escrever~ eu já tinha terminado faz umas duas semanas, e você ainda postou a minha fic de presente antes~ eu tava planejando ser a primeira!!! kkkkkkkkkkkkkkkk
Eu ainda tive uma ideia antes, e comecei escrevendo uma coisa compleeeetamente diferente, mas quando vi aquela música, mudei de ideia na hora e escrevi tudo de novo XD
Booom~ feliz aniversáaario, senpai!!!!! Eu fico muito feliz por ter conhecido você, e espero que continuemos sendo amigas por muito tempo ainda, viu? Você vai ter que me aturar òwó Desejo muuuuuitos tadahikos, mangás, animes, shippers fofos, yaoi e limonaaadas pra você, sua fujoshi!!!
E é isso~ pessoas que estiverem lendo essa one, onegai, deixem review!! *u*
Owari da~ matta nee!! o/