Batter Up escrita por Carol Bandeira


Capítulo 57
Boa novas?


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu povo!

Vocês também acharam que os dias tem se passado muito rápido? Eu juro que até ontem ainda era quarta-feira! kkkkkkk
Falando sério, desculpem a falta de postagem no domingo passado, mas como eu disse acima, me perdi no tempo e quando vi já era dia de postar e só tinha uma parte do capítulo pronta. Enfim, não quis correr e entregar um capítulo mal escrito, então resolvi deixar passar.

Com isso espero que vocês possam curtir o novo capítulo. Boa leitura!



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Durante as partidas em que Gil e Dean estavam afastados, os Devils viajaram para São Francisco tendo jogado e vencido duas delas. Os próximos duelos seriam em Minnesota e o time viajaria no dia seguinte. Antes disso, porém, William havia programado um último treino naquela tarde de segunda-feira.

Assim sendo, Gil e DB chegaram juntos ao CT. Eles haviam almoçado com suas namoradas e o clima não podia estar mais agradável. As meninas haviam organizado aquele encontro pois diziam fazer muito tempo desde o último, o que era verdade. Os casais se davam muito bem e com a notícia de que um deles iriam juntar escovas não faltou assunto à mesa. Antes da sobremesa, Gil e Sara conseguiram mais dicas sobre coabitação do que sabiam o que fazer com tudo aquilo.

Ao chegarem ao vestiário, eles encontraram metade do time já reunido. Os rapazes cumprimentaram os recém-chegados e começaram a comentar sobre o próximo time que iriam enfrentar. Gil conversava normalmente até o momento em que Dean apareceu. O outro jogador cumprimentou o grupo e foi logo incluído na conversa.

Gil prontamente se calou. Dean não o havia chamado e Gil pretendia que eles continuassem a não trocar assunto, no que foi ajudado pela chegada do treinador e sua comissão. O homem mais velho parecia bem feliz e agitado, o que aguçou a curiosidade do filho. E Gil não foi o único a perceber, pois um dos jogadores comentou:

—Diz aí, professor, qual é a desse sorrisão aí?

—Vocês logo saberão... é só se dirigirem ao diamante.

A fala gerou a debandada dos jogadores, todos curiosos para ver a tal surpresa de que Will falara. Gil foi mais atrás, sabendo que não tardaria a saber a notícia. Então, Gil ouviu seus companheiros mais à frente gritarem de surpresa e alegria. O grupo foi se amontoando ao redor de alguém que Gil não podia ver. Mas a voz irreconhecível de Ian soou, cumprimentando os amigos.

Gil e DB trocaram olhares, os dois surpresos e muito contentes. Mas o sorriso foi esmaecendo à medida que os outros jogadores foram se afastando e os amigos puderam ver seu capitão pela primeira vez.

Ian estava vestido com uma camisa social e jeans. Seu corpo já não mais mostrava as marcas do acidente, mas o amigo estava seguro por um par de muletas. A perna direita parecia ligeiramente maior que a esquerda e Gil supôs que houvesse ali algum tipo de braçadeira. Ele não estava para voltar como jogador, e isso era extremamente decepcionante.

DB foi o primeiro a se recuperar do susto e foi logo dar um abraço no amigo. Gil foi logo em seguida e os dois trocaram aquele abraço rápido entre dois bons amigos.

—Cara, é muito bom te ver!

—Digo o mesmo, Gil! Digo o mesmo!

—Mas e aí...- Gil não sabia como perguntar o que gostaria, por medo de ofender ou tocar em um ponto sensível com o amigo. Já Ian, mais versado na arte de lidar com pessoas, percebeu o desconforto do amigo.

— Pode perguntar, Gil... não sinta como se não pudesse falar comigo normalmente por conta disso- levantou os braços indicando as muletas.

Novamente a chegada de Will foi um alívio para Gil. O homem se dirigiu até onde eles estavam e levou um braço nos ombros de Ian.

—Vejo que os senhores gostaram de nossa visita ilustre. E nosso amigo aqui tem uma boa notícia para nos dar. Vamos, garoto, conte para eles...

—Pessoal... como podem ver, no momento eu não tenho como voltar a jogar com vocês. Por conta do impacto do acidente ainda preciso fazer mais uns 6 meses de fisioterapia... e infelizmente não sei se conseguirei voltar a competir em alto nível, mas ainda assim o basebal é minha vida e ainda quero ajudar os Devils a fazerem história... por isso, o técnico me convidou par ser auxiliar técnico, por enquanto... não façam essa cara, pessoal... eu poderia estar bem pior, agradeço por poder me movimentar e ainda trabalhar na área que eu gosto. Vocês ainda vão me ver muito por aqui!

Neste momento William se intrometeu e disse aos rapazes que eles podiam fazer mais perguntas depois, pois agora eles precisavam treinar. Por isso no fim do dia Ian, Gil e DB foram até um restaurante próximo ao CT para porem a conversa em dia.

—Cara, eu não sei se estaria nessa calma toda se isso acontecesse comigo- DB comentou com os amigos.

—Não se subestime- respondeu Ian- eu acredito que tudo depende de como você encara a situação. No meu caso, por exemplo, eu e meu irmão poderíamos estar mortos agora, ou presos a uma cadeira de rodas... é claro, eu não estive calmo assim todo o tempo. Quando eu recebi o diagnóstico...bem, vamos dizer que foi o pior dia da minha vida- Ian deu uma pausa e encarou Gil- Seu pai foi de grande ajuda, sabe... ele esteve lá nos primeiros dias depois disso e.… digamos que ele ajudou a pôr as coisas em perspectiva para mim.

Fosse outro tempo Gil teria se ressentido com a fala. Afinal ele detestaria a ideia de que seu pai pudesse representar algo de bom na vida de alguém, quando ele não o fez pela própria família. Mas com o tempo aquela raiva foi se dissipando e hoje ele conseguia entender a situação. William estivera em situação parecida com a de Ian e por isso seria uma das melhores pessoas a dar conselhos sobre o que fazer ou não fazer. Afinal, a experiência tinha o ensinado da pior maneira o possível...

—É.… a experiência dele não foi das melhores e creio que ele não quer ver isso se repetir...

—Seu pai é um grande homem, Gil... ele se arrepende muito de tudo o que fez você e sua mãe passar... ele me fez perceber que isso...- ele apontou para a perna machucada- não é nada em comparado as pessoas que eu amo... e o esporte que eu amo também não precisa ficar de lado, caso eu não possa mais jogar...

—Então, como você vai fazer daqui para frente? - DB perguntou, sentindo que Gil precisava de um tempo para se recompor da fala de Ian.

—Bem, os Devils me deram de licença médica. Vou fazer a fisioterapia e cruzar os dedos para dar certo... mas será difícil que eu volte a jogar em alto nível... tenho pinos na perna agora, não serei mais tão ágil... eu poderia jogar em outra posição, no campo externo, é claro... mas se não puder ser um rebatedor... não quero ir a campo... por isso William ofereceu uma vaga na comissão técnica. Eu não posso começar agora por conta da fisioterapia, mas estarei com vocês em todos os jogos em casa...

—Bem... sei que não sou o único feliz a ter você conosco, Ian. O time sentiu sua falta, não é Gil?

—Com certeza...

—Então, que tal um brinde? A um feliz retorno do nosso capitão.

—E a novos desafios- Ian lembrou, já que não seria mais capitão de ninguém.

Os amigos elevaram os copos e brindaram a volta de Ian. Não era como eles gostariam, mas ainda assim era uma boa notícia.

****************************BATTERUP*******************************

Os embates de maio começaram com duas vitórias e uma derrota fora de casa para o time de Minnesota. Os próximos jogos seriam contra o time de Seattle, todos em Las Vegas, o que coincidiu com a visita que Betty planejava fazer para Gil. Ela viria participar de um encontro promovido pela Fundação Gilbert para Surdos e planejava passar algum tempo com seu amado filho entre os diversos eventos programados.

Mãe e filho estavam ansiosos para o encontro, cada um com uma novidade para contar. Gil tinha certeza de que sua mãe aprovaria sua vontade de ir morar com Sara. Enquanto a senhora não tinha certeza da reação de seu filho para a notícia que ela traria.

Assim, foi com um sorriso e um forte abraço que Gil recepcionou sua mãe no aeroporto. Os dois não se viam desde o natal e a saudade da matriarca era tamanha.

—Meu filho, você andou emagrecendo, foi? Não existe comida nessa sua casa?

Gil riu da fala da mãe. Ela não aprovara do novo regime alimentar de Gil. Achava que ele exigia demais dele mesmo e falava disso em toda oportunidade que tinha.

—Mãe, estou mais saudável que nunca. Eu juro!

—Mesmo assim... eu sinto falta de suas bochechas para apertar!

Gil riu e se esquivou da mão da mãe, que vinha demonstrar sua fala.

—Mãe, por favor!- afinal ele era um homem feito, com uma reputação a zelar!

Os dois foram assim na brincadeira o caminho todo até o hotel de Betty. Dessa vez ela havia escolhido um mais próximo ao Instituto. Desse modo ela não precisaria depender de transporte para ir e vir das palestras.

Gil depositou a mala da mãe no armário do miúdo quarto. Como o hotel era mais simples, só havia um cômodo mais o banheiro. Um mini frigobar estava localizado perto da janela, que dava para a rua movimentada do lado de fora. O jogador não curtiu muito a acomodação, mas sabia que sua mãe não ficaria muito no quarto para ser incomodada com isso.

—Você não cansa de vir me visitar e ficar em hotéis? - ele perguntou para a senhora que agora testava a cama.

—Não, se é o preço que tenho que pagar para te ver.

Gil sorriu e foi se sentar ao lado da mãe. A cama era macia, e isso era bom.

—E se eu te disser que não precisa ser assim?

—Gilbert, não vou me juntar a você naquele seu apartamento. Parece que eu volto a um dormitório de faculdade toda vez que estou lá!

Gil riu da descrição da mãe. Era verdade que o apê dos rapazes era zoneado e barulhento.

—Não estou falando de lá... é que... eu e Sara estamos buscando um lugar para morarmos juntos...

Gil prestou bastante atenção no rosto de sua mãe ao dar a notícia. Como suspeitava, seu rosto se abriu em um grande sorriso e ele pode ver os olhos dela marejarem.

—Ah, meu filho! - suas mãos tremiam quando respondeu a ele- Isso é maravilhoso!

Betty deu um grande abraço em seu filho. O jovem sorriu e apertou mais a mãe em seus braços. Ele pode sentir que a senhora soltara algumas lágrimas.

—Mãe!- Ele soltou a senhora e entregou a ela um lenço que a senhora sempre levava na bolsa – Achei que fosse ficar feliz com isso?

—Mas eu estou, meu filho... muito feliz! É que... você foi sempre tão solitário...saber que você está levando tão a sério esse relacionamento me conforta!

Gil balançou a cabeça e deu um meio sorriso a mãe. Era verdade que ele era solitário. Mesmo em meio a um bando de gente Gil estava sempre sozinho.

—Saiba que eu e Sara... ela é ... muito importante para mim, mãe.

— Tão importante a ponto de você querer o anel de sua avó? - Betty quis saber.

—Ainda não, mamãe... nós não falamos em... casamento, nem filhos, nem nada, ok? Sem pressão! Nem pense em perguntar isso a ela! -Gil não pode deixar de se exaltar. Era a cara de sua mãe, ele pensou, querendo botar o carro na frente dos bois!

Ironicamente, na cabeça de Betty quem invertia os fatos era o filho. Afinal, onde já se viu ir morar junto antes de casar? Seria demais para uma mãe querer ver o filho casar na igreja e ter uns netinhos para bajular? 

—Ok, não está mais aqui quem perguntou!

—Mãe...desculpa ter sido ríspido.... mas é que...

—Eu sei, meu filho- Betty sorriu e acariciou o rosto do filho – Pode deixar que não vou falar sobre isso com Sara... afinal, minha graça é te perturbar, não a ela...

—Bom... ok, né? Mas voltando ao assunto. Sara e eu conversamos e estamos pensando em alugar um apartamento com dois quartos... assim poderemos receber você lá, sem que precise ficar indo de hotel em hotel quando vier nos visitar.

—Isso é ótimo, meu filho...

Betty ensaiou dizer algo sobre isso, mas neste momento Gil olhou seu relógio de pulso e se levantou.

—Mãe, tenho que ir agora... nós vamos fazer um evento com as crianças do time infantil dos Devils. Os jogadores passariam a tarde com os meninos, mostrando as instalações, a rotina de treinamento e até organizando uma pequena partida- se a senhora quiser ir comigo até o estádio tenho certeza de que será possível acompanhar o treino.

—Não precisa, meu filho. Fiz planos para encontrar umas colegas agora a tarde.

—Quem você conhece em Vegas?

—É com o grupo que irá participar do evento.

—Ah, show. Então, eu te vejo à noite?

—Sim, meu filho.

Gil foi embora sem perceber que sua mãe tinha o coração pesado por conta da pequena mentira que contara agora.

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— Se alguém me perguntar o porquê de eu não querer filhos, me lembrem desse dia, tá?

DB gemeu, esparramado em um dos bancos do vestiário dos Devils. Os jogadores riram mas a maioria concordava com ele.

—Você terá que dizer isso para a sua senhora- comentou Ian, que fizera as vezes do técnico no dia. William tivera de participar em uma reunião com o gerente dos Devils.

Gil somente terminou de amarrar seus sapatos e preferiu ouvir o time comentar do dia cansativo que tiveram. Apesar de ser um esporte, o basebal não era tão cansativo para os jogadores quanto o era uma partida de futebol ou de basquete e esta era a razão para o número de jogos em uma semana ser alto. Sendo assim, era só colocar umas crianças no campo para fazer com que aqueles marmanjos ficassem arfando de cansaço.

Mas não era o cansaço que fazia Gil ficar calado. Ele só preferia mudar de assunto. Ele não gostava da recorrência do tema “crianças” naquele dia. Quando sua mãe falou disso ele quase teve uma síncope. O jovem deu graças a deus por não ter contado a senhora sobre o treino especial de hoje. Ele tinha certeza que se ela soubesse iria ficar o alfinetando sobre coincidências da vida e bebês e sabe mais o que. Não, Gil não precisava pensar em filhos àquela altura de sua vida. Ele só tinha 23 anos, era muito cedo!

—Bom, enquanto vocês ficam choramingando por aí eu vou-me embora. Tenho coisas a fazer.

—Vai lá, Gil! Até amanhã- Ian respondeu e DB só levantou a mão e deu um aceno rápido.

Gil saiu sorrindo do vestiário. Tirando o celular de sua mochila enviou uma mensagem para a mãe e outra para Sara. Eles haviam combinado de se encontrarem e ir visitar o museu de cera da cidade. Sua mãe nunca tinha ido e embora estivessem a muito tempo na cidade nem mesmo o casal conhecia o local.

Ele estava quase chegando à garagem quando ouviu a voz de Heather o chamando.

—Gilbert!

—Olá, Heather- a moça o abraçou e deu um beijo na bochecha do jogador.

—O senhor não tem ido até a ala de massagens essas semanas... por quê?

—Ah... porque não preciso?- ele não fora em respeito a Sara. Eles estavam muito bem para que ele criasse confusão por nada.

—Você nunca foi um bom mentiroso, Gil.. isso é por conta da sua namorada? Ela não parecia muito feliz da primeira vez que a vi...

—Não, claro que não, Heather!

Sua resposta rápida era mais do que a confirmação de a morena precisava. Heather deu um meio sorriso e disse.

—Bem... se é assim, passe lá qualquer dia desses... você nem precisa se preocupar comigo, tem mais duas massoterapeutas lá... só para a gente conversar.

—É... claro que vou- ele não sabia como negar o pedido sem magoar a garota. Gil realmente tinha afeição por Heather e não gostaria de manchar sua amizade com ela por um ciúme bobo de Sara. Mas também não queria que a namorada ficasse braba com ele... mas que sinuca de bico ele se metera!

—Ah... eu tenho de ir agora. Tenha uma ótima noite!

E deu mais um beijo na bochecha do amigo antes de partir.

Gil encontrou sua mãe em frente ao prédio principal do Instituto Gilbert, conversando com uma mulher mais jovem. As duas conversavam animadamente na Linguagem Americana de Sinais. Gil só pode ver os últimos sinais que a outra mulher fez antes de ela perceber sua aproximação.

—Tenho certeza de que você irá ser muito feliz aqui.

Betty se virou na direção do filho ao perceber que a outra mulher tinha sua atenção em outro ponto. Ao ver o filho seu rosto tomou a princípio assustado, mas a senhora logo se recuperou e abriu-se em um sorriso genuíno.

—Meu filho! Como foi a sua tarde? Venha aqui, conheça a Sra. Gilbert. Ela é a diretora do Instituto.

—Sua mãe me diz que temos o nome em comum, e que você aprendeu ASL quase tão fácil como aprendeu a falar.

—Ela exagera... – ele falou, mas com um olhar carinhoso a mãe.

—Não é essa a função das mães, se orgulhar dos filhos? - Sra. Gilbert respondeu e, após reparar melhor no jovem, comentou – Por acaso você já frequenta nosso campus? Eu tenho a impressão de já ter te visto antes...

—Não, essa é a primeira vez- Gil respondeu, já imaginando o motivo pelo qual ela o conhecia.

—Gil joga pelos Las Vegas Devils... você já deve tê-lo visto em campo.

—Ah, sim! Alguns dos jovens aqui gostam muito do esporte. Eles têm comentado que o time está em seu melhor momento.

—É, nós damos o melhor de nós- Gil ficou encabulado. Ele nunca gostava muito de ser o centro das atenções. O que piorou, pois naquele instante sua mãe olhou para ele, franziu o rosto e passou um dedo na bochecha do filho. Mostrando o dedo sujo de vermelho ela disse.

—Você estava com a Sara, filho?

—Não!- Gil passou a mão no rosto, tentando limpar a marca de batom que certamente Heather deixou nele. Ao olhar inquisidor da mãe ele respondeu- Não é nada disso que a senhora está pensando, mãe!

—Ah, mas você não faz ideia do que estou pensando!

Vendo que a situação se reverteu para algo incomodo, a diretora do Instituto resolveu se retirar.

—Bem Betty, já vi que você está em boas mãos. Eu te vejo amanhã?

—Claro. Até amanhã.

As senhoras se despediram com um beijo na bochecha e a Sra. Gilbert se pôs em seu caminho, dando a oportunidade de Betty interrogar seu filho livremente.

—Então, o que não é nada demais que te deixou com uma marca de batom, Gilbert? E se Sara visse isso?

— O que que tem?! Não é nada demais! Foi só uma antiga amiga que eu encontrei...

—Antiga é? E eu conheço essa amiga antiga?

—Sim... é a Heather...

—Heather, humm... aquela Heather?

—É mãe…

A cara de desgosto de Betty mostrou a Gil que a mãe ainda não havia mudado de opinião sobre a moça, mesmo com todo o tempo que já havia passado desde que ele e Heather se separaram.

—Espero que seja só amiga mesmo, Gilbert... afinal, como é que vocês se reencontram?

—Foi uma coincidência mãe, ela está trabalhando para os Devils.

—Coincidência gigante, não é mesmo? Vocês se encontrarem assim, na mesma cidade e local de trabalho depois de tanto tempo?

— O que está insinuando mamãe?

—Nada, meu filho... não quero brigar com você... mas me prometa que vai abrir o olho com essa moça... ela não é flor que se cheire. Agora vamos, antes que Sara pense que nos esquecemos dela...

Gil observou a mãe ir andando a sua frente, incrédulo com a atitude dele para com Heather. Desde que as duas se conheceram Betty parecia desaprovar da moça. Talvez fosse o fato de eles estarem quase um ano juntos antes dela saber do namoro, ou até mesmo a forma como ela descobriu. A verdade é que Gil não contara a mãe sobre Heather e a senhora acabou descobrindo quando fizera uma viagem surpresa até Los Angeles. Não importava, Gil pensou enquanto ia até sua mãe para leva-la na direção do carro. Ele e Heather não estavam mais juntos e não havia um motivo se quer para se preocupar com ela. Mesmo assim, quando chegou em seu carro Gil não deixou de se olhar no espelho retrovisor para se certificar se toda a marca de batom já havia saído.  

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Durante a semana em que Betty passou em Vegas, a senhora dividia seu tempo entre os afazeres da Conferência no Instituto Gilbert e os jogos de Gil com os Devils. Os dois andavam tão ocupados que era até difícil eles pararem para ter uma conversa calma. Com bastante planejamento, entretanto, Betty conseguiu convencer Gil a ir com ela no evento de gala que teria no Instituto.

Para Betty, além de ser um momento para ter a atenção exclusiva de seu filho, queria usar aquele momento para convencer seu filho de uma ideia que estava maturando há algum tempo. A drª Gilbert oferecera a ela um posto de trabalho no Instituto, como coordenadora do curso de artes. Na opinião da senhora, era uma oportunidade incrível, pois além de poder ser mais ativa na comunidade dos surdos, ela ainda poderia trabalhar na área da qual mais gostava. E claro, estaria novamente na mesma cidade de seu filho. O que mais uma mãe poderia querer?

Apesar de estar muito feliz com a proposta, ainda havia um obstáculo a ser superado. Ela precisava da aprovação de Gil. Para tanto, pedira a Dra Gilbert um tour do local. A reitora enviou um dos alunos que estavam ajudando na Conferência para mostrar aos dois o local. Além de contar a história da Instituição, o jovem também discorreu sobre o programa acadêmico e falou o quanto a escola estava contribuindo para sua integração na sociedade e no mercado de trabalho.

Ao fim da visita, Gil estava devidamente impressionado. Apesar de não ter escolhido a área acadêmica o jovem conseguia reconhecer um trabalho de excelência. E sabendo de todas as dificuldades que sua mãe passara por ter perdido a audição com 8 anos, ele entendia a relevância de tudo aquilo ali.

—O trabalho deles é realmente impressionante- Gil comentou ao puxar uma cadeira para sua mãe se sentar, e em seguida fez o mesmo por sua namorada.

—Sim, teria sido muito mais fácil para mim se tivesse esse apoio todo. Mas eu fico feliz de ver que esses jovens não precisem passar pelo que eu passei.

—Vamos brindar, então- Sara comentou enquanto pegava umas taças de champanhe de um garçom que passava pela mesa deles na hora – Ao trabalho maravilhoso que eles estão fazendo pela comunidade.

Os outros dois seguiram o exemplo dela e brindaram juntos.

O grupo engatou em uma conversa sobre os programas oferecidos pelo Instituto e então Betty resolveu que era hora de falar com Gil.

—Você não acha que seria um trabalho extremamente gratificante, filho? Quero dizer, poder ajudar todas essas pessoas aqui?

—Sim, com certeza. Mas seria uma grande mudança de carreira para mim, não é?

Betty sorriu com a brincadeira do filho, mas logo o corrigiu.

—Não, Gil... eu estou falando para mim...

—Mas... mas a senhora já tem um emprego! Tem uma galeria própria!

—Então seria uma grande mudança de carreira para mim, não é mesmo?

—Você não tá falando sério, está?

Sara ficou olhando de um para o outro a partir de então, perdida que ficou com o aumento de velocidade das mãos de mãe e filho. Os dois engataram em uma conversa rápida demais para Sara acompanhar. Então ela ficou quietinha esperando os dois terminarem.

—Muito sério, Gilbert. Você mesmo agora estava falando da importância desse trabalho para a nossa comunidade.

—Sim, é importante, eu sei. Mas é que você é... já é uma empreendedora, trabalha com artes. O que você vai fazer aqui?

—Vou trabalhar em um programa voltado para artes plásticas. Vou orientar os alunos e quem sabe achar bons artistas para o mercado de trabalho.

—Mas... e o nosso lar? E a galeria?

Betty então entendeu a objeção de Gil. Seria mesmo difícil se desfazer da casa a qual eles chamaram de lar por todos aqueles anos. Ela principalmente, pois Gil logo fora embora para a universidade. Mas fora lá que os dois forjaram aquele relacionamento forte que mantinham até hoje. Fora lá que Gil realmente precisara se tornar homem, para ajudar a mãe em um momento difícil. Embora não fosse a casa que ele vivera desde pequeno, por muitos motivos era o refúgio dos dois.

  -Filho... meu lar é sempre aonde meu coração está. E no momento ele está em Vegas. E quanto a galeria, bem... Bernard pode assumir a gerência... ele está mais do que pronto... e eu sempre serei a dona de lá.

Gil passou as mãos no rosto e comentou:

—Parece que a senhora já pensou em tudo.

—Isso é importante para mim, Gil... mas se você me disser que não quer que eu venha para sua cidade, vou respeitar sua vontade...

—A cidade não é minha, mamãe... e eu e Sara... bem, nós não sabemos se vamos ficar aqui para todo o sempre...

—Gil... o que está acontecendo?- Sara perguntou depois de ver seu nome na linguagem de sinais. Gil fez uma breve explicação a ela e a morena abriu um sorriso.

—Isso é ótimo, Betty!

—Obrigada, querida!

—Sim... é ótimo... eu, você e meu pai na mesma cidade... o que pode dar de errado, não é?

—Nada vai dar errado, meu filho... seu pai já aprendeu com os erros do passado, e nós também. Somos todos outras pessoas.

— Ei...- uma ideia horrível se passou na cabeça de Gil- Você e meu pai não estão... juntos né? Não é por isso que você quer vir morar aqui?

—Não, Gil... eu admito que tenho me correspondido com Will, mas somente como bons amigos que tem um filho junto- ao olhar de reprovação do filho ela brigou com ele- Não faça essa cara, Gilbert! Eu falo com William estritamente para ter notícias suas! Se você se dispusesse a me ligar mais de duas vezes por mês talvez eu nem precisasse!

Gil fechou a cara e virou seu corpo para o lado, irritado com sua mãe. Não é que ele ainda nutrisse ódio do pai. Todo aquele sentimento ruim já havia passado, mas ele acreditava que seu velho não era a pessoa ideal para sua mãe. Afinal, eles já haviam tentado um relacionamento que não deu certo. Não havia necessidade de um “recordar é viver” em sua opinião. E os dois mantendo contato sem que ele soubesse... ah, aquilo cheirava a problema!

—Amor...- Sara chamou a atenção do namorado, colocando a mão em sua coxa- olha, isso é importante para sua mãe... por que você não tenta entender a posição dela?

Gil olhou de esguelha para Betty e pode ver como a senhora estava triste. Seu coração de filho pesou ao ver sua mãe daquele jeito. O que ele menos queria era fazê-la sofrer. Ele tinha medo que Will fosse significar dor para sua mãe, mas também não podia predizer o futuro e faze-la infeliz só porque ele tinha medo de algo que talvez nem fosse acontecer. Engolindo seu orgulho, Gil foi se sentar ao lado da mãe e a puxou para um abraço.

—Olha, se isso for mesmo te fazer feliz... mas lembre-se, não há garantia nenhuma de que eu fique aqui por mais de um ano, mãe. Se você quiser se mudar, saiba que talvez nós venhamos a nos separar novamente.

—E no que isso será diferente de agora, Gil? Há alguma chance de você voltar para Marina del Rey agora?

—As mesmas chances de eu sair de Vegas- Gil foi sincero. Se fosse para sair de Las Vegas, seria para ir atrás de outro time, o que significava ao menos umas vinte cidades para Gil ir morar.

—Então, minha escolha é ficar no status quo ou então ter a chance de fazer algo significante para os outros e ao mesmo tempo estar mais próxima do meu filho, mesmo que somente por alguns meses? Não tenho muitas dúvidas do que eu quero, Gil.

O jogador revirou os olhos e puxou a mãe para um abraço forte.

—A senhora não tem jeito... sempre uma excelente negociadora.

Betty sorriu para o filho e deu uma piscadela de olho para a nora. Fazia um bom tempo desde que Betty sentira alegria plena, e geralmente era seu filho quem desencadeava aqueles sentimentos. E ela tinha um pressentimento de que não tardaria muito para seu filho dar a ela mais um motivo para ficar com o coração explodindo de alegria...

Ela só precisava buscar em seus pertences o anel de sua mãe para passar para ele. Sonhar não custava nada, afinal!


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