Play Ball!

Aquela semana seria uma das mais importantes na vida de Gil Grissom. Seria o início da temporada da Major League(ML), e o primeiro jogo dos Las Vegas Devils(LVD) seria naquele sábado. Seus adversários da Liga Nacional seriam os Los Angeles Lions (como acredito que não posso utilizar os nomes verdadeiros troquei só por precaução). Portanto, aquela semana Gil e seus colegas de time colocaram toda sua concentração em estudar o adversário e treinar. No baseball, as estatísticas dos jogadores são muito importantes e dão uma ideia de como o time adversário pode se comportar.

O técnico acreditava que, apesar de ser o primeiro jogo deles na ML, como estavam jogando em casa o jogo seria mais favorável a eles. Não teriam o desgaste de uma viagem e teriam a sua torcida mais perto. Mas Gil sabia que a torcida do Lions era famosa por seguir seu time aonde quer que eles fossem.

Com a dura semana de treino Gil não teve oportunidade de ver Sara. Sua esperança de que ela pudesse ver o jogo caiu por terra quando ela disse que não teria como ir, pois aquele dia seria o aniversário de sua avó. Sara prometeu que tentaria assistir ao jogo de casa, embora os dois sabiam que não seria o mesmo. Quando contou isso a Cath, ela quase o comeu vivo:

-E você não pensa no trabalhão que dá para conseguir essas coisas!

-Perai... você conseguiu um ingresso extra?- Gil perguntou surpreso.

-Não, mas mesmo assim Gil! Que indelicadeza! Eu trabalhei muito essa semana e....

Catherine continuou resmungando ao telefone e Gil somente disse que a ligação estava ruim e desligou na cara dela. Depois pediria desculpas a levando para assistir um filme ou algo do tipo.

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Sábado, no estádio dos Devil

As arquibancadas não estavam lotadas. Apesar disso, havia um bom número de torcedores para apreciar o jogo. Como já era imaginado, uma boa parte da torcida do Lions compareceu, sendo levada pela boa fase do time no ano passado. Do lado dos Devils também havia um bom número de pessoas. Com certeza não eram todas torcedoras do time da casa, estando ali para apreciar aquela rara oportunidade de receber um jogo da ML.

Nos vestiários, o treinador trocava umas últimas palavras com sua equipe.

-Eu quero ver nesse gramado a força que levou nossa equipe até aqui! Senhores, quero que voltem suas memórias para este mesma época, um ano antes. Onde estávamos? Sonhando com essa vaga nesta mesma liga. E o que fizemos? Implementamos estratégias, ralamos muito jogo após jogo, para chegarmos até aqui! E conseguimos realizar nosso sonho?!

-Não, senhor!

-Pois nosso sonho é maior, e só vai ser concretizado no momento em que colocarmos nosso nome no troféu da World Serie. Então senhores, quero que todos vistam a camisa do clube e o nosso espírito guerreiro, o mesmo espírito guerreiro que nos trouxe até aqui! Entendido!

Aos gritos de yeah da turma o treinador respondeu

-Então vão lá e arranquem a juba daqueles leões!!!

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Sábado, na casa dos Sanders

A festa de Nana já estava pegando fogo quando deu o horário do início do jogo. Bem, tanto quanto uma festa de uma senhora em seus 70 podia pegar fogo. Isto significava que as 15 amigas de Nana estavam se divertindo num karaokê que Greg tinha comprado para ela. Os dois jovens estavam na cozinha bebendo cerveja e conversando com os pais de Greg, que vieram para Las Vegas para comemorar junto com a família o aniversário da matriarca.

-Uma pena que meu irmão não conseguiu a licença do trabalho. E o Sean, Sara, não vem também?

-Sabe como é Andy.. ele acabou de entrar no emprego novo, nem tão cedo eles vão liberá-lo.

-Uma pena... bom, ao menos sobra mais bolo pra gente não é?- Andrew brincou, saudando Sara com sua garrafa de cerveja.

-É, pelo menos...

Geralmente Sara gostava de ficar conversando com seu tio postiço, mas naquele dia oque a garota mais queria era assistir ao jogo naquela pequena tv que ficava na cozinha. Anita percebeu a inquietação de Sara e perguntou o que havia. Quando Sara respondeu com um “nada não” a mulher percebeu que devia se tratar de homens. Anita então reparou que os olhos da jovem se voltavam de tempos em tempos para a tv.

-Querida, estamos atrapalhando a sua programação hoje?

-Não, Ani , que isso! É só que um amigo meu vai jogar hoje pelos Devils, o time de baseball da casa, e eu disse que tentaria assistir.

-Baseball?- isso chamou a atenção de Andrew, que curtia muito o esporte- Eu não sabia que você era fã de baseball, Sara.

-Na verdade, não sou mesmo. É um jogo com muita estatística. É que eu prometi que ia assistir. Mas não sei nem mesmo as regras.- Sara falou, abaixando a cabeça.

-Bom, então hoje é seu dia de sorte! Eu sei tudo sobre o esporte, deixa eu te ensinar.

A esta altura, Greg já estava fumegando de raiva. Agora aquele tal de Grissom conseguia tirar até a atenção de seus pais dele! E isso mesmo não estando no recinto! Ah, hoje ele seria torcedor dos Lions desde criancinha!

- Um jogo consiste de nove Entradas ( Innings). Em cada entrada há um turno de defesa e de ataque para cada time. O time de ataque tem nove jogadores à disposição para rebater a bola. O time que defende tem como objetivo forçar o time de ataque a errar,o que eles chamam de strike. Para isso ele usa o Arremessador (Pitcher). Os outros jogadores de defesa ficam espalhados pelas quatro bases de dentro do campo e também na área que eles chamam de infield. O objetivo destes jogadores é levar a bola que foi rebatida pelo time adversário até as bases, antes do jogador que a rebateu encoste-se a essas bases. Se o jogador de ataque chegar na base antes da bola ele está eliminado e o time não pontua.

-Bom tio, entendi, mas espero que você assista ao jogo comigo para o caso de surgirem outras dúvidas, ok?

-Claro! Mas me diga, quem é esse jovem que está fazendo você aprender sobre baseball?

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Depois do discurso motivador de Vinny a equipe se dirigiu para o campo, mas antes que Gil pudesse fazer o mesmo o treinador o puxou para o braço junto com um outro jogador que fora contratado junto com ele, Shawn Pratt. Os dois eram os mais novos do grupo e fazia sentido Vinny querer falar com eles em separado.

-Garotos, esperem um pouco.

-Sim, chefe- responde Shawn, parando ao lado de Grissom.

-Eu sei que esse não é o primeiro jogo de vocês na vida, mas eu me lembro como pode ser alucinante estar entrando em um jogo da Major League pela primeira vez.

-Relaxa, professor. Nós vamos nos sair bem!- Shawn, novamente.

-Sim, não tenho dúvidas disso. Só peço que não deixem nada subir a cabeça de vocês. E qualquer coisa, eu estou aqui para ouvi-los. Agora vamos!

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Greg fechou a cara e Sara ficou vermelha, fazendo com que Andrew e Anita se entreolhassem.

-Err... eu vou ao banheiro, já volto!- Greg saiu correndo, procurando um lugar para ficar sozinho e controlar suas emoções. A última coisa que precisava era que seus pais soubessem de sua paixão por Sara.

-Então, querida- pergunta Anita, docemente- Quem é o jovem jogador que arrebatou seu coração.

-Gil... e não é nada assim. Só estamos saindo.

Mas a conversa foi interrompida pelo início da partida. Andrew aumentou o som da tv para que eles escutassem os comentários. O interlocutor estava no processo de listar os nomes dos jogadores, começando pela equipe da casa. Sara prestou atenção na imagem transmitida. Havia um bom número de torcedores da equipe adversária, ela só esperava que isso não complicasse as coisas para Gil.

“David Mathews, Eric Nolan, Shawn Pratt e uma grande promessa que veio direto da Liga Universitária, Gil Grissom.”

-Esse é o seu amigo, Sara? Gil Grissom?

Sara estranhou a empolgação de seu tio o respondeu.

-Sim, é ele. Por quê?

-Esse garoto já vem com estrela, então. É o filho de um grande jogador , William “Metralha” Grissom. A velocidade da bola dele era uma coisa de louco. Ele não te contou?

-Não. A gente ainda tá se conhecendo.

Andrew sorriu e voltou a atenção para o jogo, no momento em que Greg voltou. Sara pensou que foi sorte seu primo não ter ouvido o pai falando de Gil. Achou que ele não aguentaria pensar que o pai pudesse admirar o jogador, sendo que Greg nunca fora bom com os esportes.

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Gil estava sentado no banco, ao lado de seu treinador. O primeiro jogador de ataque de seu time estava se posicionando na área do batedor. Era Ian Mc, o cara que levou a torcida ao delírio e o time a ML no ano passado. Era sem dúvida o melhor rebatedor da equipe e ,por isso, o primeiro a jogar. Além de bom rebatedor o cara corria como se fosse tirar o pai da forca em todos os jogos. Seu único problema era na hora dos arremessos, se não, seria um jogador completo.

O arremessador dos Lions se posicionou e Gil respirou fundo. Aquele cara, Patric Mezo, jogava uma bola curva como ninguém. Além disso, sua cara fechada e o corpanzil eram intimidadores. Gil sabia que além da parte técnica e física, a parte psicológica e comportamental dos arremessadores era muito importante. Se um arremessador passasse uma pose que pudesse desconcentrar os adversários isso favoreceria o time da defesa. E intimidar era o que Patric parecia fazer de melhor.

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O jogo já corria para a terceira Entrada e nada de Gil aparecer. Sara, que nunca havia ficado nervosa assistindo a um jogo na vida, agora mordia o interior da boca em inquietação. Nenhum dos times fazia uma apresentação brilhante, mas os Lions conseguiram mais pontos e menos posições do que os Devils.

Greg também mordia o interior da boca, mas isso era para disfarçar sua felicidade em ver que o time de Grissom estava se dando mal.

-Ele deve entrar agora. Já foram 6 strikes para os Devils- comentou Anita.

-O seu amigo deve estar sob uma tremenda pressão- Andrew começou, virando para Sara- Esse é um dos problemas de ser filho de uma estrela, ou ele se destaca e supera o pai ou vai ficar para sempre andando na sombra dele. Se bem que o Metralha nunca foi uma unanimidade no time. Mas o começo dele foi brilhante.

-Olha, ele está entrando!

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Gil pegou seu taco, virou seu boné com o Logo do time de lado e entrou no campo sob os urros de sua torcida. Gil sorriu, fez o sinal de cruz e correu até o local na ponta do campo onde ficavam os batedores. Suas mãos estavam frias e suadas, o seu estomago em nós. Sabia que a maioria das pessoas ali o comparavam a seu pai, ao jeito do velho Grissom jogar. Sabia também que o maldito havia acertado um home run em sua primeira partida na ML. Gostaria que sua mãe ou até mesmo Sara estivessem ali lhe dando força, mas o mundo parecia querer que ele enfrentasse essa sozinho. E era o que ele faria.

O arremessador ainda era Patric Mezo. O cara forçara um strike de dois de seus parceiros e jogava uma bola tão traiçoeira que atrapalhava muito os batedores. Gil balançou o taco uma duas vezes para se aquecer, e então encarou Patric. O jogador o olhou e soltou um sorriso amarelo, soltando umas palavras que serviriam para zoar, mas tão baixo que ele não escutou. Gil imaginava que era uma distração, mas ele entendeu tudo o que o cara disse- afinal sabia ler lábios como ninguém. E se desconcentrou, acabando por perder o tempo da bola, nem resvalando o taco nela.

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Sara, Anita e Andrew soltaram gritos de “não”, “que droga” e algumas variações ao verem Gil errar a primeira bola. Greg pulou da cadeira, assustando seus familiares, mas o garoto simplesmente continuou a andar e foi pegar um prato de salgadinhos que estava na sala, como se fosse essa sua intenção desde o inicio. Mas não havia como disfarçar sua expressão alegre, que contrastava com o humor do resto dos participantes.

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Gil saiu de campo com a cabeça baixa. Seus companheiros de equipe logo vieram falar com ele, dar uns tapinhas nas costas e dizer que estava tudo bem, que era normal. Mas a verdade era que Gil não costumava errar assim. Tudo bem que o cara jogou uma bola curva, mas ele sabia bater uma bola curva! Foi tudo culpa daquela primeira tacada. Ele se distraiu no início, o que fez ele perder sua concentração para o resto do jogo. Na segunda, ele mandou uma bola fora, e na terceira bola ele bateu tão fraco que foi eliminado logo no campo de dentro. Não deu nem tempo para correr.

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Após o jogo terminar não deu nem tempo de Sara ficar triste com a derrota dos Devils, por 8 a 3, pois Nana logo os chamou para cantar parabéns. Nana cortou o bolo e começou a distribuir, então Sara aproveitou o momento para ir para a varanda da casa com seu celular. Sentou-se numa cadeira e abriu o aparelho, pensando o que devia saber. Quando ouviu a porta da sala abrindo teve que conter um gemido. Ela queria ficar sozinha naquele dia. Mas Anita apareceu e se sentou ao seu lado.

-Está triste por seu amigo?

-É...- Sara pensou que era uma pergunta besta, mas sabia que era o jeito de Ani de iniciar uma conversa- Eu... não sei o que fazer agora... eu gostaria de ligar para ele e mostrar apoio mas tenho certeza de que ele não está em condições de falar com ninguém agora... eu sei que se fosse eu não gostaria.

-Bom, por que você não deixa uma mensagem. Desse jeito ele pode ler a mensagem depois e ver que você se preocupou com ele. Tenho certeza que ele vai gostar.

Sara sorriu, pensando que seria uma boa ideia.

-Vou fazer isso!

-Ok, eu vou entrar para te deixar mais a vontade.

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Mais tarde, quando já estava indo deitar Gil viu que tinha uma mensagem.

Gil, como prometido eu vi o jogo, e mesmo que não tenha sido o resultado que vc queria, tenho certeza que foi só por conta do nervosismo. A próxima vai ser sua! Rs. Bom, se vc quiser conversar , não hesite em me ligar. Bjo

Gil sorriu pela primeira vez no dia. Mesmo que as coisas não tenham sido como ele esperava, tinha sempre um outro dia para melhorar.