Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 9
Adentrando ao Castelo pela Porta dos Fundos


Notas iniciais do capítulo

LEIAM AS NOTAS FINAIS, LALALALA



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Annabeth tomou a fatia de melão nas mãos. Era pesada e suculenta, e um cheiro doce subiu ao seu nariz quando ela a aproximou do rosto. O aroma a fez lembrar-se do Acampamento. Ela se perguntou o que estariam fazendo, se sabiam onde ela estava ou se todos estavam bem. Tentou imaginar o Sr D, rabugento e sempre cansado, gritando com os campistas. Tentou – e quase conseguiu – visualizar diante de si o anfiteatro, os campos de frutos e suas barracas brancas nas montanhas.

Sorriu tristemente, quando se deu conta do peso que carregava nas costas. Então a saudade a fisgou, e ela mordeu rapidamente o melão, esperando um gosto diferente do que era acostumada, para que as lembranças a deixassem em paz. Assim que a fruta tocou sua língua, Annabeth recuou rapidamente a cabeça. Não havia diferença.

Aquilo era teoricamente impossível. Todas as comidas do Acampamento – em especial as frutas – eram tratadas pelos filhos de Deméter e, outrora, o filho de Dionísio. Isso tornava as frutas incrivelmente doces e satisfaziam com facilidade, mas outras plantas que não recebessem o mesmo tratamento não teriam esses poderes. Subitamente, Annabeth ergueu os olhos para o sacerdote Bernard.

Ele estava concentrado na leitura de um de seus milhares de manuscritos antiguíssimos, e não percebeu a olhadela da menina. É um bom homem, Annabeth concluiu. Tratara-a tão bem desde o dia em que chegara, e nunca fizera perguntas que a colocassem em uma situação desvantajosa. Mantivera-a protegida dos insultos do sacerdote Fritz, e ela sentia-se culpada por todas as vezes que esquentara a água e alguns panos para continuar fingindo sua terrível febre.

Chegou a hora de parar com isso. Chegara a hora de buscar o herói, sendo ele... o príncipe? Annabeth ainda não entendia como ele ainda estava vivo, e ainda duvidava do rapaz, mas lembrava-se de que não vira mais a coruja. E quando pensava em sua doce e ingênua expressão, seu coração desistia de procurar motivos para não encontrá-lo novamente.

Annabeth pigarreou delicadamente. O sacerdote ergueu seus olhos castanhos para ela, atento.

– Senhor – ela começou, buscando as palavras mais educadas que conseguia encontrar – eu... eu agradeço tudo o que tem feito por mim, mas...

– Sim, sim pequena, compreendo – ele respondeu, enrolando o manuscrito nas mãos. – Está certa. Já passa da hora de você adentrar na nossa sociedade. Por favor, arrume-se e irei te levar a um lugar... especial.



Annabeth olhou-se no espelho. Tinha colocado o único vestido em bom estado que lhe restara. Quando fora aprisionada, suas coisas foram jogadas dentro de uma sala junto à todas as outras. Os prisioneiros que passaram pelo julgamento, ao buscarem suas coisas, aproveitaram para roubar o que lá estava, inclusive as melhores roupas de Annabeth. Ela, então, ficara sem nada. O que tinha agora eram restos de seus trajes mais velhos e outros provenientes de doações.

Ela arrumou todos os fios cacheados de seu cabelo loiro em um coque simples e tímido, e despediu-se do quarto onde ficara por quase três semanas. Sabia, no seu interior, que não tomara uma boa decisão esperando tanto tempo, mas seu medo e sua incerteza não lhe permitiram nada além disso.

O sacerdote Bernard e Annabeth seguiram em uma carruagem desgastada por alguns eternos minutos, até pararem diante de uma casa branca. Com uma varanda delicada e aparentemente muito velha. A casa parecia destoante da paisagem, que era limpa e verde, com muitas pessoas andando de um lado para outro, carruagens como a de Annabeth chegando e partindo. Perto havia um pé de maçã, florido.

Bernard a guiou até a entrada da casa, onde bateu na porta e esperou pacientemente. De repente, uma senhora de uns quarenta anos, aproximadamente, de cabelos grisalhos e pele muito branca os atendeu. Ela parecia cansada, mas feliz. Apresentou-se como Sra. May Castellan, a responsável por encaminhar prisioneiros de guerra para a sociedade.

– Espere – pediu Annabeth, refletindo, sentada nas cadeiras que ela lhe oferecera – A Sra. é esposa do duque Castellan?

– Sim, querida – ela respondeu, e suas olheiras profundas desapareceram quando ela sorriu – Mas é aqui que gosto de trabalhar, longe da corte.

– E... posso perguntar... hã... por quê?

A senhora apertou as mãos em volta da taça que segurava.

– Porque me sinto bem onde estou – ela respondeu docemente. – A corte, os nobres e aquelas cortinas azuis espalhadas pelas janelas... não combinam comigo. Nasci plebeia e vivo assim, pelos outros - ela concluiu, como se fosse o necessário para se saber.

Annabeth decidiu não insistir.

– Minha cara May – falou solenemente o sacerdote – Annabeth Chase é uma ótima moça. Inteligente e bela. Gostaria de... lhe pedir um favor especial.

A Sra. C atentou os ouvidos.

– O que precisar, meu velho amigo.

– Por favor, filha, não permita que lhe deem um trabalho pesado. A Srta. Chase obviamente não nasceu para morrer presa à labuta – o sacerdote Bernard diminuiu o tom da voz para um sussurro – Por favor, arrume-lhe um emprego digno. É tudo que peço.

Annabeth mal respirava, enquanto May Castellan lhe analisava, da cabeça aos pés, com olhos perscrutadores. Um longo tempo depois, o sorriso voltou a brotar no rosto da mulher.

– É claro – ela falou, animada – Sei exatamente onde colocá-la. Se prometer esforçar-se, garanto que poderá alcançar pontos ainda mais altos.



Ela fora levada ao castelo duas horas após aquela conversa. Trajando um uniforme cinza e branco, Annabeth foi apresentada às outras empregadas que trabalhavam no lar da família real. Em sua maioria, fora bem recebida, embora algumas poucas empregadas a ignoraram por completo.

Annabeth inspirou e expirou profundamente. Seu novo emprego – o primeiro, na verdade – era deprimente. Era posta para esfregar o chão até brilhar, mesmo que seus dedos finos e inexperientes gritassem de dor quando ela os raspava no chão sem querer. Suas costas a torturavam e seu estômago deu voltas e mais voltas quando ela fora obrigada a limpar os sanitários do castelo.

Era o começo da humilhação. Apenas o começo.

Annabeth tentava lembrar-se e acreditar em cada palavra que a Sra. Castellan lhe dissera. “É um bom trabalho, existem piores”, ou “Se você manter-se leal e prestativa, receberá reconhecimento”, ou a pior: “Vai viver entre as pessoas da realeza, aprendendo sobre as leis de nosso Estado! Muitos adorariam este lugar que estou lhe dando de presente”.

Leis. Sentenças de morte. Annabeth as conhecia bem, para ter a noção do perigo que corria ali dentro. Mas, teria outra opção? Sempre que a imagem do príncipe lhe cortava os pensamentos, ela entregava-se a conclusão de que não havia salvação para ele, exceto ela mesma. Pela primeira vez, dar sua vida em nome da missão tinha um significado amargo.

Seus ombros caíram, e ela continuou a esfregar a latrina dos traseiros nobres que ali se sentavam.

Quando retornou, exausta, à cozinha, fora surpreendida pela presença de um rapaz alto, de cabelos arenosos e olhos azuis. A vassoura desgastada caíra-lhe das mãos, e o cavalheiro tirou sua atenção da taça de vinho e a depositou em Annabeth.

Ela despertou.

– Oh, desculpe-me senhor – ela gaguejou. Já começara mal sua apresentação aos nobres. – Eu apenas... não esperava, eu... desculpe-me...

– Ah, está tudo bem – ele confortou-a, gentilmente. Não permitiu que ela recolhesse a vassoura. Ele mesmo a alcançou e entregou-lhe, mantendo Annabeth hipnotizada por alguns segundos. – Acho que ainda não a conheço. Me nome é Luke Castellan. Creio que seja uma nova criada, certo... ?

Annabeth piscou com força. Não se lembrava do duque Castellan ter um filho tão novo. Luke tinha quase sua idade, talvez uma diferença irritante de cinco ou seis anos. Ele emanava uma segurança e educação tão naturais de uma mente jovem que a deixou perturbada. Não sabia dizer se ter alguém tão jovem no reino era bom... ou ruim. Quem era mais difícil de enganar? Os mais velhos, ou o rapaz? E não era só isso. Ele era... gentil. Cavalheiro. Um inimigo assim era difícil de odiar.

– Ahn, Annabeth. Annabeth Chase. Sim... sou... hã, nova aqui.

O futuro duque refletiu por alguns segundos.

– Perdoe-me, mas... foi a senhorita que desmaiou no dia do julgamento?

Annabeth corou. Havia se esquecido do fato.

– Sim... sim. Eu... estava doente – diante da expressão incomodada do moço, Annabeth lembrou-se de como prisioneiros doentes eram tratados e corrigiu-se – Mas fui acompanhada pelo sacerdote Bernard. Já estou muito melhor.

Luke Castellan afirmou com a cabeça.

– Fico feliz em saber. Se chegou até aqui, presumo que seja bastante forte.

Seu modo de falar causou estranheza em Annabeth.

– Desculpe-me, mas... o que quis dizer?

O Sr Castellan deu um sorrisinho lateral e serviu-se com mais bebida.

– Dizem que as paredes deste castelo têm enlouquecido pessoas durante séculos. Somente os firmes mantêm-se sãos. A fraqueza aqui... é duramente repreendida.

Não era o suficiente.

– Enlouquecido, senhor?

– Sim – disse o rapaz, quando passou por ela e seguiu escada acima – o poder enlouquece, senhorita. Ou aqui dentro estamos todos em um juízo perfeito, ou estamos todos loucos. Apenas... tome cuidado. E seja bem-vinda.


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Notas finais do capítulo

HELLO
Sim, hoje vou escrever aqui *u*
Como vocês já sabiam, eu costumo postar nas sextas, mas como encontrei um wi-fi aqui sem senha (ainda tô sem internet DAORA A VIDA) fiquei feliz da vida e postei, já que tava com saudade :3
Mãããs, isso quer dizer que o próximo capítulo será só na outra sexta, não nessa (que por acaso é aniver de casório dos meus pais ♥). Espero que me entendam, afinal meu quarto está cheio de caixas para abrir e achar um lugar pra colocar todas essas tranqueiras!!!
xoxo
P.S.: por enquanto, só essa fic tá sendo atualizada, porque foi o único capítulo que consegui concluir :D