Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 5
A Coruja Segue a Caravana


Notas iniciais do capítulo

Se preparem, eu acho que esse capítulo é um daqueles que me empolgo escrevendo, então sejam rápidas pra imaginarem as cenas xD



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Annabeth guardava o último livro dentro da mala. Encaixou-o entre os vestidos dobrados e fechou a bagagem. Inspirou fundo e olhou em volta, para seu chalé. Todos ainda dormiam, ignorantes à aflição e ansiedade que a consumiam em silêncio.

Todo seu nervosismo a impediu de dormir profundamente como havia desejado, e acabou por acordar duas horas antes do combinado. Tentou ler, tentou estudar, tentou planejar uma fuga em caso de ser descoberta, mas sua mente não se concentrava. Bufou, pegou suas coisas e deixou o chalé, em direção à Base.

Para sua surpresa, Ártemis estava acordada. Assim que viu Annabeth, sorriu para ela.

— Bom dia. Já de pé?

Annabeth deixou sua mala perto da cadeira onde se sentou com Ártemis.

— Não consegui dormir.

— Preparada?

— Espero que sim.

A deusa esperou, mas Annabeth parecia não querer dizer mais nada. Seus olhos cinzentos estavam presos nas árvores na fronteira do Acampamento.

— Vai dar tudo certo, não se sobrecarregue com pensamentos desnecessários — Ártemis aconselhou.

— Estou bem — ela sussurrou de maneira pouco convincente.

O Acampamento continuava em um silêncio dominador. Annabeth nada mais desejava do que todos estarem acordados, ela poder partir de uma vez, encontrar o herói e voltar com sua missão cumprida, assim, sem rodeios. Queria que tudo fosse de uma vez, talvez fosse mais fácil. Esperar era torturante.

 

 

Era meio-dia. Finalmente.

Todas as caçadoras reuniam-se no topo da colina do Acampamento, despedindo-se dos outros meio-sangues e conversando animadamente. Era a hora da partida, a hora que pareceu demorar milênios para chegar. Annabeth só não sabia se estava mais nervosa agora, ou antes, pela manhã.

O Sr. D abençoou as semideusas com pouca boa vontade e voltou a se sentar em sua cadeira de balanço. Ao ouvir um pigarreio, olhou para cima e viu uma menina loira o encarando com sobrancelhas franzidas.

O deus suspirou preguiçosamente.

— Ah, sim — ele começou —, tem você também. Boa viagem, Annabeth. Encontre o herói, convença-o de sua posição blábláblá e blábláblá. Aquilo que sempre é dito quando mandamos um coitado para encontrar esses heroizinhos.

Annabeth não esperou outra coisa. Já conhecia a história e sabia o que fazer. Despediu-se educadamente e seguiu colina acima. Ela partiria durante alguns quilômetros com as caçadoras, e depois disso, seria apenas sua mãe e ela.

Lá de cima, deu uma última olhada para o Acampamento. Estava belo, com suas construções esbranquiçadas e todos os seus moradores acenando esperançosamente. Uma pressão caía sobre seus ombros, mas Annabeth a ignorou e partiu.

 

 

O tempo que passou com Ártemis e as outras meninas foi mais curto do que imaginara. Antes de o dia terminar, perto do crepúsculo, Annabeth foi surpreendida por uma coruja que sobrevoou sua cabeça e sumiu em meio às árvores. Na primeira vez, Annabeth apenas sorriu para a ave. Quando a coruja voltou e pousou sobre seu ombro, Ártemis e todas as caçadoras prenderam a respiração, surpresas. Annabeth percebeu no mesmo instante do que se tratava.

A deusa aproximou-se, porém a ave não deixou o ombro de Annabeth.

— Acho que nós duas sabemos o que isso significa — Ártemis disse.

Annabeth assentiu.

— Então era assim — ela falou baixinho. — Esse é o sinal de minha mãe.

Todas as meninas brincavam com a coruja, passando a mão sobre sua cabeça. A ave permanecia serena, com seu habitual olhar sábio.

— Você sabe o que fazer, jovem.

Annabeth endureceu a expressão, suprimindo o nervosismo.

— Sei. Mas antes... muito obrigada, senhora Ártemis. Por... por tudo.

— Você voltará bem — sorriu a deusa. — Estarei esperando.

As caçadoras abraçaram Annabeth e lhe deram um último adeus, até que voltassem a se encontrar em um futuro bem próximo.

 

 

A coruja nunca voava muito alto ou muito longe de Annabeth. Por vezes, ela sumia, mas retornava em pouco tempo. Annabeth seguiu-a sem questionar, em silêncio, mas com a mente cheia de pensamentos, planos e estratégias traçadas. Nada poderia dar errado.

Annabeth atravessou a longa faixa de florestas até encontrar os muros da capital. A coruja deu um rasante próximo aos portões e desapareceu na noite escura que a cobria. A lua reinava sozinha, e o silêncio era quebrado por burburinhos e passos de pessoas. Quando Annabeth se aproximou do portão, buscando uma entrada sigilosa, trotes de centenas de cavalos cortaram seus pensamentos.

Assim que se virou, contemplou uma caravana de cavaleiros que traziam amarrados aos cavalos inúmeros prisioneiros, aparentemente oriundos de algum povoado capturado. No escuro da noite, era difícil reconhecer todos os rostos. Annabeth escondeu-se rapidamente atrás de uma árvore, e ficou observando os archotes brilharem, iluminando os rostos assustados e cansados dos presos. Entre eles, ela reconheceu o rosto de Cassie. Cassie Belind, a filha de Hefesto que estava sentada ao lado dela na hora da fogueira.

Annabeth soltou um suspiro desesperado e decidiu, naquele instante, que precisava salvar Cassie. 

Analisando a caravana, ela percebeu o que tinha de fazer. Era o único jeito. Rasgou pedaços da roupa, jogou terra no rosto e caiu sobre as pedras do pavimento da entrada do portão. Quando avistou o fim da caravana, aproximou-se correndo e segurou nas correntes. O senhor de idade que ia por último a olhou com uma expressão interrogativa. Annabeth viu que havia se machucado, e era isso que precisava.

O soldado que seguia mais ao fundo ergueu-a segurando pelo braço dela. Quando viu os pulsos livres e com arranhões, imaginou que ela se soltara. Prendeu-a de novo às correntes e, com um empurrão, ela entrou na fila de cativos. Cassie não a viu. Nenhum dos prisioneiros ou soldados deu importância ao ocorrido. Annabeth imaginou que coisas como aquela aconteceram o caminho todo.

Com um grito dos soldados da frente, a ponte foi descida e os portões abertos com um rangido que doeu nos ouvidos. Lá dentro, poucas luzes iluminavam as casas dentro da cidade. Annabeth tentava se comunicar com Cassie por palavras sussurradas, mas a menina não a ouvia. Os soldados mandavam grosseiramente que ela se calasse. Annabeth tinha medo de que sua decisão de salvar a semideusa atrapalhasse a busca pelo herói, mas tinha de fazê-lo.

Enquanto pensava em um modo de sair com Cassie da cidade, uma coruja piou bem no alto de suas cabeças. Apenas Annabeth olhou para cima. Não, ela pensou. Não pode ser a mesma coruja.

A coruja deu dois ou três rasantes sobre a cabeça dos prisioneiros e dos soldados. Dessa vez, eles perceberam a presença da ave. Alguns a amaldiçoaram, outros se abaixaram rapidamente quando ela sobrevoou a caravana. Em um de seus voos, Annabeth teve a chance de olhar a ave nos olhos. A ave seguiu em linha reta em direção ao castelo e não voltou mais.

Então Annabeth soube. Havia um semideus na cidade. Muito bem escondido, mas havia. E ele era o herói. E talvez nem fizesse ideia disso.

 


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Notas finais do capítulo

XOXO



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