Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 4
História Mal Contada


Notas iniciais do capítulo

Hello everyone, hello hello
~
Espero que todo mundo "saque" as indiretas de PJO nesse capítulo xD



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They all say that I don't know what I am doing

I say they don't hardly understand

When You're Young

 

 

— Mais uma vez. Tente com mais entonação, mais emoção na voz — aconselhou Paul.

Percy rolou os olhos. Já estava sofrendo com aquela tortura havia cinco horas, fora os dias anteriores. Primeiro, como se portar diante dos nobres, depois a história e cultura dos reis, e agora, como anunciar algo ao povo.

Não que nunca houvesse aprendido tais coisas. Na verdade, desde pequeno sempre gostara das aulas, afinal, qual criança nunca sonhou em ser um rei? Mas agora, as aulas haviam se tornado mais intensas e rigorosas, e Percy era incapaz de ver algo feliz ali.

Seu pai desfalecia diante de si, e nada podia fazer para ajudá-lo. O rei Paul tentava inutilmente disfarçar, mas a doença o destruía por dentro. Em pouco tempo, nada mais restaria a não ser Percy sentado sozinho em cima de um trono.

Esses pensamentos o perturbavam continuamente.

— Por que não me disse nada? — pediu ele, equilibrando um livro sobre a cabeça e olhando por cima da sacada real, treinando seus discursos.

O rei demorou a responder.

— Nada o quê? Sobre o medo que essa sacada pode provocar?

— Não — irritou-se Percy. — Sobre sua doença. Nunca me disse que estava doente.

— Disse sim, meu filho.

— Disse-me que estava com um resfriado.

— Um terrível resfriado — o rei tossiu para tornar a história crível.

Percy tirou o livro da cabeça e virou-se sério para o pai.

— O que o senhor esconde de mim?

Paul parou de fingir a tosse. Aproximou-se devagar do filho e apoiou a mão direita sobre o ombro do garoto. Sua expressão era dolorosa. Quando ele tomou ar e abriu a boca para dizer alguma coisa, uma serva atrás deles surgiu timidamente.

— Sua Majestade? — ela chamou, após se curvar.

A expressão de Paul restaurou-se rapidamente. Soltou a mão do ombro do filho com um quase imperceptível suspiro de alívio. Percy colocou o livro sobre o peitoral da sacada, decepcionado.

— Sim?

— O ministro de defesa já se apresentou, senhor. Deseja uma audição.

— Ah, claro! — O rei bateu palmas de leve e, com um sinal de mão, chamou Percy para perto. — Vamos, Percy. Essa audição será importantíssima para o seu desenvolvimento como rei.

— Conversaremos depois? — indagou Percy, antes de irem.

O rei Paul hesitou.

— Claro, meu filho. Conversaremos... depois.

 

 

Na mesa do Conselho, onde normalmente sentavam-se todos os homens de confiança do rei Paul, naquele dia estava ocupada por apenas quatro pessoas — Percy, o pai, o senhor Dern Castellan e seu filho, o jovem Luke.

Assim como Percy, Luke estava aprendendo a supervisionar o trabalho do pai que um dia seria seu. Luke era mais velho, uns seis ou sete anos, talvez. Um rapaz inteligente, divertido e muito educado, assim como Dern. A tarde que passaram juntos poderia ter sido pior, pensou Percy.

Uma imagem sua caindo da sacada real com um livro na cabeça atravessou sua mente. Percy sacudiu a cabeça, procurando concentrar-se ao assunto.

— Ontem tive três ocorrências sobre visões de poderes sobrenaturais — falava o senhor Castellan gravemente. — Uma vinda de uma senhora da região leste, e outras duas de meus soldados. Dizem todos a mesma coisa: raios azuis cortando o céu na madrugada. Logo após os raios, as estrelas parecem brincar no céu.

O rei apoiava o queixo com uma das mãos, analisando o assunto.

— Isso não me parece motivo suficiente, Sr. Castellan.

O nobre pareceu agitado, mas Luke não se alterava.

— Motivo para quê? — pediu Percy.

— Ora, para atacarmos semideuses, é claro — respondeu Luke, sem dar muita importância ao fato.

Um arrepio percorreu a espinha de Percy. A última execução fora recente, e cada uma delas parecia deixar marcas mais profundas na mente do príncipe.

— Ah, então é isso — Percy concluiu, triste, ante a normalidade que usavam para tratar o assunto.

Paul uniu as mãos e as apoiou sobre a mesa, e então encarou o filho.

— Diga-me, futuro rei, qual sua opinião sobre isso?

Percy pareceu confuso por um momento.

— Sobre... os raios e... e as estrelas e...

— Não, não — o rei respondeu. — Sobre a Lei. Diga-me, se estivesses em meu lugar, qual decisão tomaria?

"Aboliria essa lei estúpida", pensou Percy.

— Investigaria — sua língua respondeu, protegendo-o de ser dado como traidor. — Porque... se for mesmo verdade, a pena é uma só e... e devemos cumpri-la.

Um silêncio desconfortável de três segundos gelou Percy, até o rei sorrir de forma aprovadora.

— Muito bem! Sem dúvida será um rei tão bom e justo quanto todos os outros, estou certo?

Os Castellans logo confirmaram com a cabeça. Apesar dos sorrisos que lhe eram voltados, Percy ainda sentia como se estivesse sonhando, como se as coisas não fossem plenamente reais. Sentiu-se mal, sentiu-se como um traidor aos olhos de seu próprio coração. Então, sem que pudesse controlar-se, perguntou:

— Por que uma perseguição tão dura contra os semideuses? Que crimes eles praticaram, ou que mal essas luzes podem provocar?

Apesar de sua inocência na pergunta, os três sorrisos transformaram-se em linhas retas de desaprovação.

— Ora, meu filho, são leis — respondeu seu pai em voz alta e grosseira, porém sem muita certeza nas palavras.

Mas o que realmente assustou Percy foram os olhos do Sr. Dern, que pareceram-lhe dois lobos que podiam saltar das órbitas e atacá-lo.

— Você é novo, rapaz. Luke também. Essa geração não compreende, pois não estava lá para ver. Foi terrível, foi cruel o estrago feito por essa raça. Esses deuses de quem descendem são impiedosos, meu bom príncipe, e distorcem a realidade e a justiça para mentes tão inocentes como a sua. Semideuses são uma ofensa para Deus e para os homens. A ordem é destruí-los antes que nos destruam. — Sua voz era fria e precisa enquanto falava, sem deixar espaços para mais perguntas, mas mesmo assim Percy insistiu.

— O que aconteceu? — Seus olhos estreitaram-se. — Essas histórias... estão presentes em livros? Por que nunca ouvimos nada sobre elas?

A fúria instalou-se de vez no senhor Castellan, mas o filho Luke afagou seu braço e interveio com calma e distinção.

— Não, senhor. As histórias foram banidas por causa de todo o seu terror e paganismo. O sacerdote... ele pediu para não falarmos sobre isso. As perguntas... não são bem-vindas. Por favor, meu príncipe, não insista. Garanto-lhe, é pior do que tudo que já viu.

Os olhos de Percy buscaram o do pai, mas este desviava toda vez que via os olhos do filho postos em si.

Percy sentia-se cada vez pior. Sentia como se todos naquela mesa mentissem para ele, até mesmo o pai. Seu próprio pai... mas se bem que minutos atrás quase confessara outra mentira de grande tamanho também.

Agora que seria rei, tinha medo de não saber em quem confiar. Poderia continuar com a mesma mesa do Conselho do pai? Quem ele tinha certeza de sua fidelidade?

Naquele momento, sabia que a resposta para sua pergunta não estava em nenhum dos três. Com a mão fechada, deu um soco na mesa e pôs-se em pé de súbito.

— Chega, é o suficiente! — Seu rosto estava corado de fúria repentina. — Todos aqui mentem, escondem algo de mim. Saibam que isso não irá permanecer assim. Vou descobrir o que acontece, queiram vocês ou não, queira o Conselho ou não, queria o senhor meu pai ou não. Há algo muito errado nessa história, e não aceitarei que façam esse tipo de jogo mental comigo. Eu quero tudo em pratos limpos, ou nada.

Percy deu uma última olhada para seus interlocutores em busca de mais alguma coisa para dizer, mas as palavras não vinham. Sua mente girava e não lhe dava a segurança que queria. O mundo pareceu-lhe esmagar a cabeça.

Culpou-se por isso, e saiu tempestuosamente da pequena sala do Conselho, deixando três rostos boquiabertos e pálidos para trás.

 


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Notas finais do capítulo

Notaram algo?
xoxo