Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 36
A Rebelião II - Peões Sem Tempo


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente boa noite.
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A gente conversa lá embaixo. :)
[titulo idiota, céééus]



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You give what you give 'cause they make you

Trapped inside a place that won't take you

They want you to be what they make you

It's already over and done

~ When You’re Young

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A imagem de uma casa velha e repugnante não abandonava a mente de Rachel.

– Você sabe exatamente o quê estamos procurando? – a menina de olhos pequenos perguntou mais uma vez.

– Drew, por favor, apenas me siga – retrucou Rachel, encostando-se contra uma parede fria de pedra e com um dos dedos sobre os lábios, indicando silêncio.

Ambas estavam invisíveis, devido ao efeito da capa mágica de Annabeth. Viam, acima delas, guardas caminharem de um lado para outro nos muros do castelo. Não sabiam o que acontecia lá fora, mas havia uma gritaria e uma atmosfera de desespero angustiante.

– É o fim da Inglaterra – observou Drew. – Nunca vi as coisas assim.

Dessa vez, Rachel não a repreendeu. Não podia deixar de concordar que o reino todo estava extremamente próximo do fim.

Mas, acabando ou não, ela sabia que não descansaria se suas visões não fossem cumpridas.

– Vamos – disse, mudando o foco da atenção de Drew. – Isso não impede o que vamos fazer.

Começaram a andar em um passo veloz, alternando a direção conforme as visões na cabeça de Rachel tornavam-se mais claras. Ela não poderia perder o caminho, ou então a visão se desmanchava. Drew ocupava-se em manter em seu campo de visão todas as duplas de guardas que cercavam os muros – que, com as recentes mudanças no reino, tinham tido suas forças duplicadas. Foi quando a semideusa deu uma parada brusca.

– Está ouvindo isso?

Rachel parou e escutou. De onde estavam, podiam enxergar as vidraças do Salão Real. Eram de lá os gritos que ela conseguia ouvir, em um volume baixíssimo devido à distância. Em um acordo silencioso com Drew, as jovens se aproximaram curiosas. Não eram gritos de dor, muito menos de alguém estranho ou indefeso. Eram gritos de raiva, decepção e indignação.

E eram, sem dúvida alguma, de Luke.

– Mas ele deveria estar em uma... – Rachel sussurrava incrédula, quando o barulho de uma taça se partindo interrompeu momentaneamente os gritos - ...caçada.

– Parece que ele voltou mais cedo – concluiu Drew. - E quem estaria discutindo com ele assim?

Rachel franziu o cenho, tentando imaginar algo plausível com o que ouvira.

– Acho que... Dern – respondeu.

– Hermes, você quis dizer¹ – corrigiu Drew. – E, se quer saber, raras vezes ouvi discussões assim, e em todas as vezes tratavam-se de reclamações divinas.

– O quê? – retrucou Rachel.

– Ah, quando... deuses, olhe! – apontou a semideusa para algum lugar atrás da ruiva. Ambas viram Luke correndo para fora dos portões reais, sem que ninguém o parasse.

A ruiva não pensou duas vezes.

– É atrás dele que nós vamos.

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Eles não eram exatamente o que Percy esperava encontrar.

– O que disse a você? É só um garotinho estúpido e mimado, e acabaria destruindo tudo!

– Ei, não culpe o jovem. Foi Hermes quem...

Assim que viram Percy entrar na sala, calaram-se abruptadamente.

Cada um estava sentado em uma cadeira da mesa de Conselho, com expressões firmes e arrogantes. Ao vê-lo chegar, não fizeram sequer uma tentativa de curvar-se diante dele. É claro: Percy era o menor entre eles, e não o maior, como costumava ser.

No mais, aparentavam pessoas normais.

Percy visualizou uma cadeira vazia. Não era a que ele estava habituado a sentar-se. Essa cadeira estava no meio de todas as outras; a cadeira de um conselheiro. Sua cadeira de realeza também não estava ocupada. Sob a pressão que sentia devido aos olhares posicionados sobre ele, Percy decidiu não fazer uma tentativa de ocupar o lugar. Voltou-se para a cadeira que era tão baixa quanto as outras. No caminho até ela, de supetão, recordou-se de quem costumava ocupá-la.

Annabeth.

– Espero que a viagem não lhe tenha cansado, príncipe – alguém comentou, carregado de ironia. – Descanse um pouco seu traseiro real.

Ninguém riu, exceto pelo piadista. Sob uma cabeleira bagunçada e escura, Percy reconheceu um par de olhos que tinham um tom de arroxeado como o do vinho.

O menino não retrucou. Ficou apenas encarando o deus, fuzilando-o até penetrar seu interior e compreender suas reais intenções; o que o fazia querer viver, o que lhe era motivo suficiente para destruir o curso de um reino. Descobrir se um deus tinha sentimentos.

– Será que podemos continuar? – um deles questionou duramente.

Percy não havia percebido o quão amargo estava, até responder-lhe:

– Continuar com a mentira é bem mais fácil do que encerrá-la, era o que minha mãe dizia. Vão em frente, monstros. Terminem de destruir tudo o que tenho.

O velho Ryan, que agora Percy reconhecia como Ares, bateu com o punho na mesa.

– Repita isto, garoto, e virará pó sob estes dedos!

O garoto sequer moveu-se na cadeira.

– Não tenha medo, não vou me opor. Transformar-me em pó parece a única coisa que pode fazer por alguém, deus da guerra – desdenhou.

– CALADOS! – um homem alto, de meia-idade e cabelos escuros com fios grisalhos colocou-se em pé. Ares não o desobedeceu, recolhendo-se ao seu lugar. Percy ergueu os olhos para cima e encontrou os do deus: eram azuis, profundamente azuis. Não era um azul comum, mas um azul brilhante e poderoso, que emanava ao mesmo tempo um caráter frio e impetuoso.

– O garoto parece não temer mais a morte, hã? – comentou outra vez Sr D.

– Talvez já tenha notado que é mais importante vivo – observou uma mulher de olhos cinza e expressão vazia. Algo nela era incrivelmente familiar para o príncipe. – A morte seria como uma escapatória.

Percy franziu o cenho diante da informação.

– O quê?

– Basta – repetiu o homem de olhos azuis – temos muito a fazer e pouco tempo para estas questões inúteis. Lembrem-se de que o jovem é apenas um semideus. Apenas isso. Não lhe deem a força que ele não possui.

– Temos duas opiniões contrárias na mesa, papai – repetiu a mulher, corajosamente.

– É o suficiente, Atena – cortou o deus, e Percy o reconheceu de imediato. Agora ele sabia quem era o verdadeiro senhor de Monte dos Raios. – Se deseja continuar do lado contrário, deixe a sala agora mesmo, assim como seus acompanhantes fizeram.

– De modo algum – ela retrucou. – Também lutei em inúmeras Batalhas. Tenho o direito de estar aqui, tanto quanto os outros, e não permitirei que...

Zeus bateu com a mão na mesa, mas não com a mesma força que Ryan. Repentinamente, uma chuva de raios e trovões ecoou no céu limpo. Percy sentiu os pelos da nuca se eriçarem, mas já havia decidido que não seria mais tão fraco como fora outrora.

– Onde está Hermes? Já deveria ter chegado – o deus dos céus parecia incomodado.

Alguém bufou impacientemente.

– Por favor, comecemos sem ele! – uma senhora enrugada e de belos olhos brilhantes reclamou. Percy não a reconheceu instantaneamente, mas sabia que deveria. – Nossos filhos estão morrendo lá fora, esqueceram-se?

Quando a velha senhora terminou de falar, ela balançou a mão em volta dos cabelos como se o fosse arrumar. Em vez disso, uma luz fortemente cor-de-rosa surgiu e a cobriu por inteiro. Ninguém na mesa pareceu se importar com o fato, exceto por Percy: a velha senhora rabugenta era Catherine Wilkinson, a condessa de Ilha Bela.

A velha tinha poderes. Ela era uma deusa. Estava explicado porque Percy sempre a achou orgulhosa e exigente.

Ele ainda encarava o brilho rosa em completo silêncio, quando a maior surpresa chegou. A luz se extinguiu como uma fumaça soprada pelo vento, e sob ela apareceu a mais bela mulher que Percy alguma vez vira. Sem dar-se conta, seu queixo caía conforme a observava.

A deusa sorriu para ele longamente, com os belos olhos a mudarem de cor mais rápido do que ele podia definir. Os cabelos, ondulados e da cor do cobre, caíam sobre o ombro direito em cascatas. Um perfume inebriante encheu o ar à sua volta, fazendo o príncipe esquecer-se brevemente de quem era.

Nunca pensou que a velha de Ilha Bela poderia ser tão bonita.

Oh, espere. Ela estava disfarçada no reino. Espere.

Uma luz clareou na mente de Percy, e o arrancou do encantamento, antes que ele mergulhasse na beleza da deusa. Como quem acorda de um sonho, Percy balançou a cabeça e piscou os olhos, retornando ao mundo real em meio à outra discussão divina.

– Hermes não está aqui assim como Poseidon, Héstia, Ártemis, Hades e...

– Não temos culpa se estes bastardos não se importam com os filhos – retrucou uma deusa que enrolava uma espiga de trigo entre os dedos.

Percy arregalou os olhos.

– O que foi que você disse?

Os deuses se viraram para ele, irritadiços.

– Cale-se, menino estúpido – Ares interrompeu-o.

– Mas vocês falaram em proteção! – Percy relembrou. – Isso é um absurdo! Seus filhos estão lá, no Pátio Real, esperando para serem mortos! Porque simplesmente não os salvam e...

Percy parou por um segundo. O silêncio que se formou na mesa era tão profundo que estava perto de ser palpável. Os deuses o encaravam como se fossem feitos de madeira – tinham os olhos vagos, distantes, como se Percy falasse um idioma o qual não conheciam.

Eram diferentes de Dern. Eram diferentes de Hermes. Por quê? Não viam que os filhos seriam mortos? Não percebiam como tinham sido enganados?

E pior: por que seu pai não estava entre eles? Onde estava Luke, ou Hermes? Por que os deuses agiam dessa maneira, se eram tão poderosos?

– Garoto tolo – reclamou o Sr D, enquanto a bela deusa continuava a sorrir-lhe. O coração de Percy se apertou. Queria que Annabeth estivesse ali. Ela saberia o que fazer, talvez.

– Muito bem – continuou Zeus – vamos fazer o que deve ser feito. Hermes não está aqui, mas podemos dar continuação a isso sozinhos. Temos o garoto.

– Como assim “temos o garoto”? – Hera interferiu. – O garoto é propriedade de Zeus. Ele decidirá o que fazer.

Antes que qualquer um dos deuses pudesse argumentar, Atena falou.

– Perseus não é propriedade de ninguém – relembrou a tempo. – Ele é o Herói da Batalha e deve ser tratado como tal.

Ares riu até que lhe faltasse o ar².

– Batalha? Que Batalha? – desdenhou o deus da guerra, fato que Percy julgou como extremamente irônico. – A dita Batalha dos Cento e Vinte Anos? Lutar contra os pedaços de Cronos? – ele revirou os olhos, entediado. – Só porque você trouxe sua filhinha aqui e tentou convencer-nos de que ela era a Mão não significa que a Batalha está próxima...

Atena pareceu chocada com o que acabara de ouvir, exatamente como Percy estava.

CONVECER VOCÊS? – repetiu ela, incrédula. – Annabeth foi escolhida sim, posso quase ouvir as palavras do Oráculo!

– E onde está o espírito, então? – retrucou Dioniso. – Apolo?

O deus do sol estava humilhado.

– Se fosse realmente importante pra vocês, já teríamos encontrado-o – protestou, sem o brilho que sempre tinha no olhar. – Mas não, o que vocês dizem é que Poseidon mente.

Percy não suportou mais a pressão. Levantou-se de uma vez, sentindo a raiva chacoalhar-lhe violentamente em seu interior, mas manteve-se firme.

– Chega, é o suficiente – declarou friamente. – Posso não conhecer meu... Poseidon – corrigiu-se ante o olhar de desaprovação de Atena -, mas de longe sei que ele fala a verdade, apesar de tudo. Olhem para vocês! São deuses olimpianos e estão discutindo por algo que já existe há séculos? Como podem questionar a própria história? Quando foi que passaram a desacreditar tanto assim em si mesmos?

– O garoto ainda não entendeu – Deméter observou.

Percy olhou para ela.

– É, não entendi – admitiu. – Quero saber o que vocês têm a me dizer.

– Não deixamos de desacreditar, menino – Zeus disse sério. – É mais do que isso...

– O que poderia ser mais sério do que a destruição do mundo? – Percy exasperou-se. – O que levaria você a duvidar de meu pai?

Zeus demorou a responder.

– Seu pai...? – murmurou.

Percy havia se esquecido de manter a boca calada.

– Poseidon é seu pai? – o deus dos céus repetiu em voz alta.

– E seu pai disse a verdade, Percy – Atena interveio rapidamente, tentando salvar a situação. – Isso significa que...

– Cale-se, Atena! – interrompeu gravemente Zeus. – Não vê? Poseidon fez do príncipe seu filho, e ainda diz que somos nós quem disputamos o poder sobre os mortais? NÃO VÊ? Poseidon sabia exatamente o que fazia quando engravidou a rainha.

O príncipe sentiu-se atingido diretamente no coração.

– O QUE VOCÊ...

O deus dos céus olhou no fundo dos olhos do menino, de forma tão penetrante que o enfraqueceu.

– Seu pai usou você, Perseus – disse. – Não culpe a nós se fizermos o mesmo com você.

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As fitas estavam bem apertadas em volta de seus pulsos. Suas pernas já pareciam não fazer parte do corpo. A realidade era disforme e alternava as cores. A garganta parecia queimar. Respirar era cansativo.

Annabeth estava fora de si.

– Está sendo exatamente como disse, não? – grasnou irritantemente Fritz, em algum lugar próximo ao seu ouvido direito. – Você está vendo o mundo pelos meus olhos. Agonizante, não acha?

A semideusa se contorcia na cama de palha e segurava os panos que a cobriam com as unhas, como se sofresse uma constante convulsão. Buscava o sacerdote com os olhos, mas ele se escondia apenas para observar seu esforço inútil.

– Certo, talvez eu esteja exagerando – continuou. – Minha realidade é angustiante e por muitas vezes me sinto perdido e engasgado, mas estou acostumado a ela. Gostaria de se acostumar, também, garota?

Annabeth piscou os olhos com força e balançou a cabeça. Fritz revirou os olhos, impassível, e decidiu desamarrá-la.

A primeira coisa que ela fez, ao encontrar-se solta, foi abraçar o punho esquerdo e chorar. Os lugares onde as fitas a mantiveram presa estavam agora roxos e doloridos. Nos pés, aos trapos de couro cru davam a impressão de ter queimado seus tornozelos.

Não sabia mais quanto tempo se passou, ou quantas vezes ingeriu obrigatoriamente as drogas do sacerdote. Quando alguma das poções tinha seu efeito quase encerrado, ela ingeria outra, e outra, e outra. Deveria ter vomitado ou desmaiado em algum momento, mas não fazia diferença – ela não se lembrava.

Na sua mente viajavam nomes de lugares e rostos de pessoas, mas Annabeth não conseguia formar um padrão de ideias. Os rostos se fundiam e os nomes eram substituídos pelas palavras de Fritz, toda vez que ele falava com ela.

Quando Annabeth apoiou-se na cama e conseguiu se sentar, ela finalmente encontrou o velho. Ele sorria, sarcástico, esperando sua reação. Ela olhou para si mesma, e viu que não usava as roupas de antes – haveria trocado? Quando? Como? – e que os cabelos loiros e cacheados estavam curtos, cortados até as orelhas.

Ao olhar para Fritz, o rosto do sacerdote pareceu transformar-se no de Percy. O menino tinha uma expressão transtornada e estava com a intenção de chamá-la, até desvanecer-se e Fritz retornar. Tomada por um profundo ódio repentino, Annabeth saltou da cama para cima do sacerdote.

Ao jogar-se, sentiu como se caísse em um buraco sem fim. Só encontrou o chão quando se viu de joelhos nele. Ao olhar para cima, notou que Fritz estava no mesmo lugar, mas ainda muito longe dela. As distâncias a enganavam, e seu equilíbrio se desfez.

– Ora, vamos – incitou Fritz. – Não estou tão longe. Venha, me alcance – e sorriu.

Annabeth colocou-se em pé e caminhou em sua direção, com passos desengonçados e obrigando-se a se apoiar nas estantes e nos móveis. Derrubou potes de vidro e líquidos malcheirosos ao chão. Tropeçava na longa camisola que usava, e Fritz continuava aguardando-a, com seu sorriso macabro nos lábios.

– O... que... o que... – Annabeth se esforçava ao máximo para soletrar as palavras, e cada letra assemelhava-se a uma agulha em sua garganta. – O que... você... me... me deu?

Ela respirava ofegantemente, caindo mais uma vez. Fritz pensou um pouco.

– Bem, não vai fazer diferença se eu disser – retrucou.

A sala girava ao seu redor, e tudo que Annabeth queria era morrer. Mas não conseguia – seu corpo buscava alcançar seu carrasco a qualquer custo.

Provavelmente pisara em algum caco de vidro, mas não sentira a dor. Só parou a humilhante caminhada quando, por fim, apoiou-se no ombro de Fritz. Aproximou o rosto o máximo quanto pôde do velho e fitou o fundo de seus olhos. Para sua surpresa, eles eram assustadoramente vazios.

– Sa... sa-satisfeito...? – gaguejou, enquanto observava a digital vermelha que sua mão havia deixado na vestimenta do sacerdote.

Fritz pareceu encantado.

– Profundamente – declarou. – Você é bem mais forte do que calculei.

Annabeth sentia os efeitos da poção diminuírem lentamente, e as dores tomarem seu lugar. Revoltada, cravou as unhas na gola do velho e o puxou para si, até colar seu nariz ao dele.

– O que... você... quer? – perguntou.

Ele ergueu as sobrancelhas, resignado.

– Ora, preciso testar meus experimentos em algo – respondeu, corrigindo-se em seguida – ou alguém.

A menina deu uma sacudida no velho, assustando-o por um segundo.

– Diga-me... a verdade! – gritou repentinamente. – O que... desde o começo...? O que quer... do reino... dos deuses... de seus irmãos? Tu és um semideus, então por que se compraza em exterminar a própria raça?

O sorriso do sacerdote se desfez. Ele engoliu em seco, deixando um silêncio sepulcral no ar.

Annabeth não suportou. Gritou mais uma vez, com as forças que lhe restavam, e sentiu as lágrimas descerem como cascatas.

O QUE VOCÊ QUER?

Apesar de a casa ter tremido ao som do grito, Fritz, dessa vez, permaneceu inabalável. Passou a língua pelos lábios e respirou lentamente antes de responder.

– Normalmente quero o que todos os outros não querem – disse.

Annabeth manteve-se quieta, aguardando uma resposta. Fritz segurou os pulsos da moça com delicadeza, afastando-a dele, mas ela não recuou.

– Eu quero morrer – proferiu. Sem mágoa, sem dor, sem alegria, sem ressentimento. Duro e frio como sempre fora. – Morrer.

O choque tomou Annabeth por inteiro, impedindo-a de soltar Fritz. Só despertou quando ouviu seu nome vir da boca de quem menos esperava: Luke Castellan.

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– Era preciso – Poseidon justificou.

Hermes se virou para ele, com a expressão desfigurada pelo desespero.

– Você não imagina o que custou tê-lo de volta...

– Ah, eu sei – o outro retrucou. – Mas olhe para você. Tu tiveste a chance de ver Luke nascer outra vez, e viver ao seu lado durante todos esses anos. Eu não – o deus sorriu tristemente, e olhou pela janela. – Tive de ver Percy crescer de longe, sem nunca mais ter contato com Sally e graças a você, Hermes – apontou o dedo – pareci ausente quando ela mais precisou de mim.

– E agora? – questionou Hermes. – Não importa o que pense, não conseguiu chegar a tempo. Nesse exato segundo Percy está trancado com todos os deuses em uma sala de Conselho sendo pressionado até não sobrar mais nada dele.

Poseidon não respondeu. Saiu a passos largos do Salão Real, indo em direção ao encontro do filho. Hermes o seguiu, dando continuidade às suas perguntas. Quando já estavam a poucos metros do Conselho, no meio do corredor, Hermes parou.

– Ouse entrar nesta sala – ameaçou -, e corre o risco de ser expulso do Olimpo para sempre.

– E você acha que isso é importante para mim agora? – devolveu Poseidon, pousando a mão sobre a porta.

– Acho que o importante para você é ser ouvido. Não se lembra, Poseidon? Sua palavra e nada foram a mesma coisa anos atrás.

– E você, apesar de tudo, manteve-se firme.

Hermes sorriu. Seus olhos brilharam por um segundo, fazendo Poseidon exalar raiva como nunca antes.

O brilho dourado perdurou na mente do deus do mar, provocando nele diferentes sensações.

Eu sempre soube... – sussurrou lentamente.

A tensão do momento foi quebrada de repente pelo som de cornetas vindas da Sacada do castelo. O brilho apagou-se e Hermes retornou ao que era. Poseidon arregalou os olhos.

– Oh, nossa – o deus mensageiro fingiu surpresa. – Zeus foi mais rápido do que pensei.

Poseidon caminhou para Hermes e quase o agarrou pelo pescoço.

– O que vão fazer? DIGA! – gritou, fazendo o chão tremer.

– Ora, Percy irá ler o decreto real de extermínio de meio-sangues que Dern Castellan tão gentilmente escreveu – o outro respondeu tranquilamente. – No instante em que não houver ninguém para lutar na Batalha, Percy deixará de ser rei e virará apenas um peão – provocou. – Se ainda tem algo a dizer, essa é sua última chance.

E, assim, ele se foi em uma nuvem sem aguardar resposta.

Atena irrompeu no lugar, desesperada. Logo atrás Apolo surgiu também, ambos falando ao mesmo tempo.

– Vão começar uma guerra! – Apolo dizia. – Vão disputar o menino, vão...

– Estão enfeitiçados – continuava Atena. – Não houve o que fazer. Percy foi obrigado a ler aquele maldito decreto e...

–... e quando ele terminar, a briga começa – Poseidon concluiu. – Foi o que Hermes previu.

– Não foi previsão – Atena corrigiu. – Foi planejamento. Era para acontecer.

– Tudo isso para controlar o mundo mortal? – Apolo repetia confuso. – Isso é um pensamento de homens, não de deuses.

– Mas foi impregnado na mente deles. Foram fracos quanto a perder os filhos, e um abismo chamou o outro. Agora pensam como homens – Poseidon explicava, andando de um lado para o outro, enquanto as cornetas continuavam a tocar lá fora.

– Também me importo com meus filhos, mas nunca chegaria ao ponto de... – Atena dizia, ao ser interrompida pelo deus do mar.

– Eu o vi – Poseidon disse, parando para encarar os dois olimpianos no corredor. – Está em Hermes, e é por isso que Zeus o ouve com tanta facilidade e não a mim.

Fez-se um longo silêncio. Quando o som das cornetas cessou, Apolo balançou a cabeça.

– Temos que fazer algo, urgentemente! – explodiu. – O que ainda fazemos aqui, parados?

– Não é tão simples – apontou Atena. – Assim que Poseidon surgir na Sacada, coisas perigosas podem acontecer. Zeus está a ponto de matá-lo, e agora Perseus...

– O que tem Percy? – Poseidon exaltou-se.

Atena mordeu o lábio, hesitante.

– Digamos que seu filho está com péssimas impressões sobre o pai.

– Apolo está certo, não podemos demorar – Poseidon continuou, tentando disfarçar a preocupação. – Percy lerá o maldito decreto. E então...

– Ainda temos uma chance – Apolo relembrou. – Semideuses não são mortos sem a presença de Fritz.

Annabeth – murmurou Atena, aflita.

– Mandei Luke encontrá-la há poucos minutos – Poseidon contou. – O menino parece mudado.

– Fritz vai matar Annabeth – o deus profeta disse. – E então virá aqui, cumprir suas ordens. Rachel não sabe que Luke pode ajudar. Sinto que isso atrapalhará seus planos, Poseidon.

– Tenho uma ideia – Atena falou de forma decidida. – Escutem-me com atenção.

Os deuses trocaram um olhar de urgência, e ouviram-na sem qualquer interrupção.

- Poseidon ficará aqui, de olho em Percy, já que o é o pai. Não interfira na leitura do decreto. A população já detesta o jovem o suficiente por ser um semideus. Isso é ruim, muito ruim.

– Certo.

– Apolo, vá atrás de Annabeth. Livre-se de Fritz, e assim os semideuses não serão mortos. Vamos libertá-los e assim nossa força aumentará.

– Não decepcionarei.

– Ótimo. Vou encontrar Héstia e os outros. Vemos-nos quando a discussão entre os deuses na Sacada começar. Isso é totalmente certo que acontecerá.

Vaias e insultos foram ouvidos, vindos o povo que via Percy novamente no reino. Isso fez Atena apressar-se.

– Não temos muito tempo. A esse momento Fritz já deve estar a caminho daqui.

Apolo concordou com a cabeça e desapareceu como um raio de sol. Atena desejou boa sorte para Poseidon e já preparava-se para partir, quando o deus a chamou.

– E se algo sair do controle?

Ela pensou por um instante.

– Salve Perseus. Não importa como.

– E o que você vai fazer? – ele perguntou.

Atena deu um sorriso lateral.

– Há muito tempo quero ter uma conversa com Hermes, bem de perto – e desapareceu.


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Notas finais do capítulo

¹ Drew fazendo cosplay do Google, gentem HAUHAUAHA - n resisti
² "Ares sem ar" hauahuahua (meu Deus como eu tô besta hoje)

OOOOOOOOOOOIIIIIIIIIIIIIIIII
Então, como foi todo esse tempo sem mim?
[ouço dentes rangendo e barulho de espadas, acho melhor não insistir]
.
Alguém me explica que BOSTA tá acontecendo com o editor do Nyah? Nunca me dei bem na hora de editar o cap aqui >:C
Bem gente, espero que me perdoem. Como disse no último cap, tá sendo realmente complicado escrever essa parte, porque algumas coisas ficaram confusas na ordem da história. Ah, e ainda vai vir a terceira parte da rebelião. Sim, eu dividi de novo. Ia ficar com umas sete mil palavras, sem brincadeira. Vocês não teriam saco pra isso, vai por mim.
Esse bimestre também foi bem difícil e teve simulado do ENEM na escola e tals, e apesar de eu ter ficado em primeiro (uhul) eu sou péssima em matemática e acho que vou com nota ruim, o que está me tirando o sono. Sabe, minha mãe não curte 6,5 no boletim :C
E eu também estou numa onda de começar histórias. Tem umas quatro aqui que só estão com três capítulos, e são originais e de PJO e SH. Também estou escrevendo meu primeiro roteiro oficial (pra quem não sabe, eu gosto muito de Cinema e tenho mais afinidade com roteiro do que com histórias) e devido à isso abandonei temporariamente o Nyah. Fiquei umas duas semanas sem logar, acho.
Por último, eu faço self study de inglês [nome chique que pobre dá pro estudo quando não tem dinheiro pra pagar curso :P] e isso me toma 24 horas do dia. Sem brincadeira. Peguei uns 8 ou 9 livros de inglês da biblioteca da minha escola pra passar as férias :) Amo inglês.
Por último, queria pedir desculpas pro pessoal com quem eu trocava MPs. Sei que não respondi mais, e prometo que farei até o fim do mês - assim como os reviews.
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Mais uma coisa: cap dedicado à diário de uma viajante, pela recomendação linda! OBRIGADA
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E OBRIGADA À TODAS POR SEREM TÃO PACIENTES, EU AMO VOCÊS.
DE VERDADE. (sintam-se honradas, não digo "eu te amo" pra qualquer um, sou chata).
.
Pra matar a saudade, vamos bater papo: o que vocês acharam das novidades sobre o filme? Tô ansiosa, tenho que admitir *------*