Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 31
Incompleto


Notas iniciais do capítulo

Comecei a perceber que meus títulos possuem inúmeros sentidos em um capítulo.
Por favor, me perdoem pelo cap abaixo.
Amo vocês,
- Mandinha que está indo para a aula odiosa de Ed. Física.



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A sala era pequena. Tinha paredes amareladas cobertas por papéis e algumas estantes com pergaminhos. Uma mesa de madeira maciça era o que dividia Quíron de Percy e Annabeth. Uma lareira crepitava baixinho, e os gritos e conversas dos outros semideuses estavam abafados. Um clima de tensão enchia o ar, e Percy tentava disfarçar sua desconfiança.

– É bom que estejam aqui – começou Quíron, um tanto abatido. – Demoraram a chegar, mas estão aqui, e isto deve bastar. Como todos aqui sabem, estamos sem um Oráculo. Era Delfos quem previa o surgimento do Senhor do Tempo. Infelizmente, sem ele, estamos a mercê de qualquer ataque surpresa. E já passa da hora.

Annabeth pigarreou, e aparentava sentir-se desconfortável.

– Hm, Rachel Dare...

– Sim?

– Ela tem visões. Crê que ela poderia...

– É precipitado – interrompeu Quíron, balançando uma das mãos. – A Srta. Dare ainda é uma mortal, mesmo que possua tais dons. Lembro-me de presenciá-los no castelo, mas... – o centauro olhou para Percy rapidamente – mas não podemos confiar nela. É muito mais que isso. Voltemos ao assunto.

Percy deu um sorriso cansado. Querer que ele evitasse pensar no Reino é como pedir-lhe que se jogasse contra um penhasco.

Quíron desenrolou com cuidado um dos pergaminhos que havia sobre a mesa. De dentro deste, saiu outro um pouco menor, com uma aparência desgastada e frágil. Percy e Annabeth inclinaram-se para frente, curiosos sobre o conteúdo tão precioso que ali estava.

O centauro apoiou sobre a mesa o pergaminho já desenrolado, permitindo que fosse visto mais claramente. Percy notou que as palavras, de uma caligrafia floreada e confusa, seguiam-se ao longo de todo o papel em um texto uniforme e sem desenhos, mas que desaparecia aos poucos conforme alcançava a metade ainda enrolada do pergaminho.

– Eis aqui a profecia dos Antigos Escritos – declarou solenemente Quíron, com os olhos castanhos quase que marejados. – Este é o destino de vocês, meus jovens.

Annabeth lançou um olhar inseguro a Percy, que tentou dar-lhe confiança de volta.

– Contarei o que está escrito aqui para vocês. Estas palavras já foram inúmeras vezes reescritas, atravessando séculos e eras. A que tenho em mãos possui apenas cerca de oitenta anos, mas a profecia tem mais anos do que podem sequer imaginar.

Quíron limpou a garganta, respirou fundo e iniciou a leitura:

– “O que redijo aqui não são meras palavras. Bem sabem os céus, a terra, o mar e até mesmo o mundo inferior de que não estou mentindo. Bem sabemos nós, filhos de deuses divinos, a veracidade de tais fatos.

Era um dia belo, cheio de sol e céu azul. Estávamos todos a sorrir pelas campinas, felizes com nossas vidas e contentes com nossos filhos, quando, subitamente, o céu escureceu. Tornou-se tão negro que sua escuridão era opressora. O vento soprou gélido e cortante, como se pudesse penetrar a carne e alcançar a alma.

Então, a terra tremeu. Tão violenta e impiedosa quanto um mar bravio. Sob nossos pés nasceu uma fenda, que logo cresceu e transformou-se em um enorme abismo. Cresceu, cresceu e cresceu até que, de dentro do buraco infindável, ouviram-se urros guturais e aterrorizadores. Prontamente, todas as famílias puseram-se a correr, gritando de desespero e cobrindo os ouvidos de pavor, agoniados diante de tal assombração. Os urros persistiam cada vez mais altos e perturbadores; em pouco tempo, encobrindo a voz das pessoas.

Todos sabiam que, de dentro da fenda na terra, emergia uma criatura malévola. Mas, isto era impossível! A lenda havia adormecido tanto tempo sob os pés de Zeus que tornara-se uma grande mentira. A guerra já havia acontecido, entretanto... ela parecia renascer.

O Olimpo pareceu perceber os acontecimentos, pois raios iluminaram o céu em uma tentativa de indicar um caminho ao povo perdido. Alcançamos uma alta rocha, de onde visualizamos a face horrenda e enegrecida do ser sobrenatural. O mar rugiu, alto e bravo a algumas milhas, erguendo ondas majestosas e devastadoras. Riscos prateados cortavam os céus, juntamente com os raios. Autoridade encheu a atmosfera. Os deuses entravam em batalha.

Tal peleja parecia durar uma eternidade. Estava empatada; nenhum dos lados declarava rendição ou vitória. Os homens permanecerem protegidos na alta rocha, quando uma carruagem de ouro sobrevoou a todos. Ouviu-se, então, a bela voz do deus Apolo.

– O Senhor do Tempo retornou à vida! – gritou ele, apavorando-nos. – Eis que tal acontecimento é tamanha afronta contra o Olimpo! Será destruído novamente, conforme ordenou Zeus, mas isto depende muito mais do que apenas aos deuses. Se o Tempo está vivo, não é graças a seu próprio conhecimento. Recebeu ajuda mortal.

O burburinho que se ergueu em protesto foi imediato, e estávamos todos desamparados. A ira de Zeus cairia sobre nós tal qual o céu tentava sucumbir Atlas. Éramos fracos, e seríamos dizimados. Entretanto, Apolo ergueu uma das mãos:

– Proponho uma forma de justiça – anunciou. – Terão de aceitá-la, se quiserem viver. Ouçam-me: vós mortais começaram tal disputa, então a finalizarão. O Espírito do Oráculo escolherá um de vós para finalizar a guerra. Sangue derramado para o sangue culpado.

O terror encheu o coração dos homens, e as mães chamaram pelos filhos. Porém, do meio do grupo, um rapaz alto e forte saiu caminhando de forma destemida. Já o havia visto vez ou outra no mercado; era um órfão conhecido por sua coragem e inteligência. Quando Apolo pousou seus olhos sobre o garoto, que era amarelo como a luz, seu rosto anuviou a expressão.

– Parece-me, por bem, que o Oráculo tocou o coração deste jovem. És tu mesmo, que sabes ser filho de um deus divino, que lutará contra o nosso inimigo. Seja bem-vindo à guerra, semideus.

Olhos curiosos analisaram o garoto atentamente. Quem diria?! Era o órfão um filho do Olimpo. Por Zeus, que grande maldição!

O menino recebeu uma espada, mas assim que vestia a armadura trazida por Apolo, outro jovem se pôs na direção deste. Dizia, em alto e bom tom, que não o deixaria sozinho. E então, ambos armados, partiram para a batalha.”

– Acabou? – Percy perguntou, um tanto decepcionado.

Quíron parecia perturbado.

– Sim e não – respondeu vagamente. – A história possui uma continuação, mas o tempo apagou as últimas palavras. O que tenho redigido aqui é tudo o que sabemos.

Annabeth franziu o cenho, intrigada.

– É como o livro de Percy – relembrou. – Não conta o fim da história.

– Qual livro? – Quíron interessou-se imediatamente.

– E-eu...

– Percy encontrou um livro na biblioteca do castelo que conta a história da Batalha – contou Annabeth. – Mas as últimas páginas estão rasgadas.

Quíron alternou olhares entre Percy e Annabeth, como se não soubesse o que fazer diante de tal informação. Então, esfregou a testa com a mão e suspirou cansado.

– Adoraria saber o motivo de...

– Espere – interrompeu Percy, com uma lógica súbita. – Você é Quíron, o treinador de heróis.

– Não me diga – ironizou Annabeth.

– O que quero dizer – continuou Percy – é que o senhor já... hm, existe há bastante tempo.

O centauro piscou algumas vezes.

– Tomarei isto como um elogio, Perseus.

– O senhor não sabe o que aconteceu na época?

Annabeth pareceu compreender o ponto de Percy.

– Faz sentido – ela observou. – E também... pode se lembrar de quem foi o primeiro herói, e por que alguém decidiu ajudá-lo. Isso não me parece muito simples de se entender.

Quíron pareceu desnorteado no começo, até encolher os ombros.

– Sim, lembro-me da guerra – confessou, de olhos perdidos na linha da janela. – Mas não a combati. Ou não me lembro disto. Peço que acreditem em mim – sua voz era frágil. – Sei que nos dias de hoje muitos estão enganando a vocês, mas eu lhes digo a verdade: não me lembro. É como se houvesse sido apagado de minha memória. Lembro-me de antigas, antiguíssimas batalhas, mas a primeira é como um borrão em minha mente. Perdoem-me.

Percy trocou um olhar angustiado com Annabeth. Formou-se um silêncio pesado na sala por vários minutos. Quíron sentia-se quase derrotado pela incapacidade de recordar-se.

– É estranho – sussurrou Annabeth, pensativa – como a Mão não foi detalhadamente descrita na história. Quase como se não devesse ser lembrada.

O centauro olhou para ela com olhos paternos.

– Creio que existiu um motivo mais nobre que este – sorriu. – Lembre-se que ninguém gostaria de acompanhar o Herói. A Mão é corajosa.

– Então, isto era tudo o que precisávamos saber? – indagou Percy. – Vamos lutar?

Quíron assentiu.

– Por hora, devem treinar incansavelmente e permanecerem atentos. Não sabemos quando a guerra começará, mas temos certeza que será em breve.

Um arrepio gelado desceu pelas costas de Percy, deixando-o desconfortável instantaneamente.

– Então vamos – ele chamou, olhando para Annabeth. – Ainda preciso conquistar a confiança de todos aqui.

Annabeth mordeu o lábio.

– Vá na frente – ela disse. – Prometi ajudar Quíron a organizar a... a... distribuição de alimentos do Acampamento.

Percy estreitou os olhos. Quíron apenas assentiu gravemente. Profundamente contrariado, Percy forçou-se a si mesmo a deixar a sala da Casa Grande, como se não soubesse de nada.

Estava acostumado a fazer isso no castelo. Era a única forma de descobrir as coisas sem perdê-las por completo.

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Annabeth deixou a sala vários minutos depois.

Ao descer os pequenos degraus em direção ao gramado do Acampamento, sentiu como se flutuasse. Os sons pareciam distantes e tinha a impressão de ser um fantasma. As cores tornaram-se opacas, e os chamamentos nunca se dirigiam a ela.

A boca estava seca e os olhos vagos. Um vazio tão gélido instalou-se dentro do seu ser que a impediu de falar por algum tempo. Apertou o passo até estar correndo, com planos de entrar em seu chalé e jogar-se em sua cama, bem apertada entre os edredons de penas. Agarrou-se às saias e engoliu em seco.

Tudo parecia tão surreal.

Teria cumprido seu plano, se uma imagem não houvesse cortado seu caminho. Percy.

Parecia tão distraído, observando o campo de morangos atentamente. Estava sozinho, e ninguém ousava aproximar-se. Annabeth soube no mesmo instante que ele ainda não convencera os meio-sangues de sua inocência.

Ela caminhou a passos vagarosos em sua direção, apalpando os ombros. Sim, ela estava lá - a capa que a mãe lhe dera. Annabeth a tirou do pescoço e a dobrou gentilmente, enquanto caminhava. Quando parou atrás de Percy, cutucou-lhe no ombro.

Percy virou-se para ela com os olhos verdes curiosos. Por um momento, Annabeth sorriu. Algo de encantador ou reconfortante emanava dele. Sentia como se estar distante dele faria com que ela voltasse a entristecer-se. Mas, bem lhe ensinara o príncipe: quando amamos sinceramente alguém, fazemos o possível para não feri-lo. Mesmo que doa em si mesmo.

– Está tudo bem, Annabeth? – ele perguntou, e ela teve a sensação de não ser a primeira vez.

– Sim – confirmou. E então as palavras sumiram.

– Tem certeza? – repetiu ele, preocupado.

– Ora, é claro – Annabeth recuperou-se de repente, evitando ser questionada outra vez. – Apenas... – sua voz embargou-se. – Apenas vim lhe entregar isto.

Ergueu a capa dobrada na direção do menino, que não entendeu.

– O quê?

– Isto, tome.

– Mas... é sua capa de invisibilidade – retrucou Percy.

– Agora quero que fique com você.

– Mas sua mãe lhe deu!

– E agora eu estou lhe dando – ela devolveu. Sob o olhar penetrante de Percy, Annabeth tentou reformular a frase, para que não soasse exatamente como era: - Quer dizer, estou lhe... hm, emprestando. Sim, isso. Quero que fique com ela. É o Herói. Ajudará mais a você do que a mim. Quando a Batalha acabar... então... você me devolve.

Percy não pareceu convencido.

– Por quê?

Annabeth gaguejou.

– É... é apenas um pacto, tudo bem? – ela enfezou-se de repente. – E apenas pegue essa capa, pelo amor dos deuses. Estou tentando ajudar, é o meu trabalho. Não me questione, entendido?

O príncipe tomou a capa nas mãos com cuidado, ainda cheio de desconfiança.

– Bem... obrigado.

– Ótimo – encerrou Annabeth. – Agora, vá treinar. Vá conhecer os outros meio-sangues. Vá... apenas vá.

Como Percy não moveu um músculo, ela mesma se afastou rapidamente. Quando já estava longe, seu coração afundou dentro de si.

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Ela passou o dia todo o mais distante possível de Percy. Sabia que estava agindo de forma tola e egoísta, mas queria fazer o melhor por ele. Foi o que sempre fez nos últimos cinco meses, e faria até o fim. Talvez, inicialmente, isto o magoaria, mas Annabeth sabia que, mais tarde, ele a agradeceria.

Ou não.

Balançou a cabeça irritada, numa tentativa de expulsar os pensamentos da mente. Levantou-se da cama e fechou o livro grego. Saiu do chalé e viu que já era noite. Alguns semideuses ainda lutavam, outros preparavam o jantar. Annabeth inspirou profundamente, e decidiu dirigir-se ao refeitório para ajudá-los.

No caminho, passou por um grupo que arrancava ervas daninha do solo. Cumprimentou-os com um movimento de cabeça e continuou andando, sentindo o vento gelado do inverno no rosto.

Ao dar a volta por trás do grupo que tratava a terra, Annabeth pegou um caminho por algumas árvores. Caminhava mergulhada em reflexões, quando uma voz a fez parar.

É ridículo todos terem medo de você – a voz era feminina e alegre. Deu uma risada, e continuou: - Do jeito que fala, nem me lembro de que és um príncipe.

A risada tímida de Percy ecoou.

Isso é bom – disse.

Algumas frutas caíram ao chão.

Oh, desculpe-me! – a menina falou rapidamente. – Está machucado? Sei que algumas maçãs machucam às vezes...

Está tudo bem – ignorou Percy, que parecia um tanto vago.

Está mesmo? – o tom de voz alterou-se.

Sim.

– Não me referia às frutas.

Silêncio.

Eu estou bem.

– Sei que há algo errado. O que é?

Outro silêncio.

Hm... Annabeth é sempre distante assim?

Os olhos de Annabeth arregalaram-se, enquanto ouvia a conversa a alguns metros dali.

Sim – a menina respondeu, com certo desprezo. – Ela se sente muito superior. Desde que voltou com você, ela está muito arrogante. Não sei o que houve.

Hm.

Annabeth cerrou um dos punhos, tremelicando de raiva.

Não fique assim. Poderá deixar você nervoso para a Batalha. Ignore-a.

Mais um silêncio, que irritou Annabeth.

Estou preocupado com ela. Parecia estranha hoje.

Ah, por favor. Annabeth Chase é estranha todos os dias.

Respirando pesadamente, Annabeth saiu de onde estava escondida. Colocou um sorriso irônico no rosto e caminhou na direção da conversa, pronta para atrapalhar a estúpida reunião dos dois.

Ao chegar à macieira, seu coração gelou. E Annabeth odiou isto. Não deveria ter se importado. Não deveria ter sequer escutado a conversa. Deveria ter continuado com a meta de manter-se distante de Percy. Mas seu orgulho estava sendo ferido. E isso piorou todas as outras coisas.

Sentados ao pé de maçã, com sacos cheios da fruta, estavam Percy e Drew. E o menino pareceu corado ao receber um beijo da menina.



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Notas finais do capítulo

MEEEE PERDOEM PELA CENA FAIL DE FILME ADOLESCENTE AMERICANO MAS eu queria fazer parecer que a Annie não era tão fria assim - normalmente meus personagens são bastante frios - e saiu essa bosta aí acima.
SIM, eu enfiei a Drew na história. Sei lá, podem me bater, deu a louca.
Estou digitando isso rápido, mas vou deixar um aviso: o próximo cap será terrivelmente assustador (nem tanto) mas antes eu vou postar uma surpresa legal (nem tanto²).
Fiquem atent@s!
Polibky!
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P.s.: dps respondo os reviews que ainda não respondi, ok?
P.p.s: estou de olho em quem disser que a Annie morre U_U