Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 25
Uma Coroação Sem Rei


Notas iniciais do capítulo

Achei o título do cap bem escolhido, dessa vez.
Antes de tudo, GENTE!
Um belo dia chego aqui e vejo que ganhei duas recomendações! E esse belo dia era meu aniversário, hahaha
Sério, sem palavras pra agradecer a Lira Lee e a mariamp!!!!!!
VOCÊS SÃO LINDAS, SEM MAIS
*_______________________*
Obrigada gente, não só a elas, mas a todos vocês que me desejaram feliz aniversário e tudo o mais.
Obrigada por ainda estarem aqui, hahahahaa
Enfim, aproveitem o cap! Foi muito difícil de escrever, então, perdoem pela demora :/
(e perdoem os erros, tô com preguiça de revisar).



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So why, why would you talk to me at all?

Such words were dishonorable and in vain

Their promise as solid as a fog

And where was your watchman, then?

~ Guardian

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– Então, mandem fazer as malas – disse Percy, tentando disfarçar a tristeza que sentia. – Depois de amanhã, antes do desjejum, vocês partem para Sol Poente.

Sally e Paul entreolharam-se ansiosos. Estavam ambos sob os cobertores da grande cama real, enquanto o filho permanecia em pé em posição austera. Sally torceu os dedos das mãos, procurando as palavras.

– Obrigada, querido – disse por fim. – Sei como é difícil para você, mas...

– Ainda creio que seria melhor partirem para Ilha Bela – Percy franziu o cenho, referindo-se à ilha de Catherine Wilkinson, a velha enrugada e viúva de um antigo nobre influente. – É mais distante de Londres, assim ficariam mais seguros.

– Sol Poente já é o suficiente – disse Paul. – E não se esqueça de que, quanto mais distante, mais longa a viagem. E não posso arriscar – a frase foi finalizada com algumas tossidas.

– Arnold Britneyz está sendo muito gentil cedendo-nos um lugar para ficar – completou Sally. – E Catherine... hã, é um pouco difícil.

Percy analisou os pais. Preocupava-se com eles como se fossem filhos, crianças em constante perigo. Em seu interior, debatia a questão de estar tornando-se demasiado tenso sob os últimos ataques ao castelo. Mas era sua família. Não permitiria que sofressem mais – não por enquanto. Percy seria rei, faria uma mudança completa e profunda no reino que talvez até terminasse com alguma guerra civil, mas era necessária. E, durante este impasse, Percy queria que seus pais estivessem a salvo.

Suspirou.

– Está certo. De um jeito ou de outro, os quero longe daqui por seis meses – decretou.

Sally entristeceu-se. Seu corte na testa era profundo e estava sem uma bandagem, e ver o rosto belo da mãe com aquele ferimento horrível fazia Percy sentir-se culpado até os ossos.

Ela o chamou para seu lado. Percy deu a volta na cama até alcançá-la, e Sally mexeu carinhosamente nos cabelos negros do filho.

– Prometa-me que ficará bem – sussurrou.

Percy engoliu em seco.

– Prometo.

Sally sorriu, mas ele sabia que a mãe ainda não estava convencida.

– Não faça nenhuma besteira – aconselhou Paul.

– Não farei – retrucou Percy.

– Quero acreditar em você – falou Sally.

O rapaz rolou os olhos e fitou os pais.

– E vocês devem acreditar em mim. Prometo que, quando retornarem, o reino estará bem, feliz e justo. Farei o que precisar para que isso aconteça.

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A garganta doía mais a cada segundo que se passava. Os olhos de Annabeth mal podiam piscar, mantendo-se fixos nos dele. A respiração perdia a força, e os sons pareciam distantes.

– Descobriu, não foi? – Dern perguntou. Mas ele não era mais “Dern”.

Annabeth esforçou-se em sacudir as pernas, mas não resultava efeito algum. Ele era forte o suficiente para segurá-la sem problemas.

Luke assistia a cena atordoado. Ele abria a boca para falar alguma coisa, qualquer coisa, mas então caiu para frente. Ninguém o havia derrubado. Ele simplesmente... adormeceu.

– Você estava indo muito bem, muito bem mesmo – Hermes sorriu, até sua expressão mudar para algo parecido com decepção. – Deveria ter sido mais discreta. Há coisas que nem todos podem saber.

Annabeth olhou pelo canto do olho para Luke, que dormia tranquilamente, isento de tudo. Agora, ela já não conseguia falar. O ar era respirado superficialmente, e Annabeth sentia como se sua cabeça fosse ser arrancada a qualquer momento.

Ainda havia perguntas que ela queria fazer, fatos a serem entendidos, mas não existiam mais forças. Suas mãos que se seguravam desesperadas no braço do deus caíram, e seu corpo parecia ser feito de pano. Hermes não deixou seu olhar por todos os segundos que ela levou para que tudo escurecesse.

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Rachel deu as últimas pinceladas de azul para que o mar ficasse perfeitamente vivo. Diante da pintura recém-finalizada, a moça sorriu satisfeita. Não que a imagem do quadro a deixasse alegre. Era sua beleza que a encantava, mas a mensagem parecia catastrófica.

Um mar revolto que se erguia em altas ondas, parecia disputar com um céu igualmente raivoso, preenchido por raios. Era escuro, talvez noite, mas não havia estrelas. Em terra firme, uma batalha parecia acontecer em seu auge, mas a cidade em volta estava intacta. Era como se ninguém além dos soldados se importasse de fato com a guerra que acontecia.

Mas, pelo menos, o quadro ficou bastante parecido com seu sonho da noite anterior.

Rachel?

A voz conhecida cortou os pensamentos da moça. Rachel virou-se para a porta do quarto com um sorriso estampado no rosto. Lá, um homem de meia-idade e cabelos grisalhos lhe sorria de volta.

– Pai?!

Ela correu e o abraçou. Fazia quatro meses que não se viam, desde que o pai partira em missões diplomáticas para além da Europa conhecida, em direção à Ásia oriental. Esse era seu trabalho, e Rachel detestava o fato de viver longe dele. Sua maior vontade era viajar a seu lado e conhecer outros lugares, outras pessoas e culturas, distante daquele castelo de loucos, mas o pai não permitia. E havia um motivo, ah, um triste motivo. A última companheira de seu pai fora sua própria mãe, que morreu em uma guerrilha quando estavam na Índia.

Rachel era o bem mais precioso de seu pai, e ele não a perderia por nada.

– Como vai a minha pequena?

Ele bagunçava os cabelos arruivados da menina contra seu peito.

– Ora, pai – ela disse, sentindo o velho perfume de hortelã das roupas quentes dele. – Não há muita coisa para mudar aqui dentro – Rachel desvencilhou-se do abraço e olhou nos olhos do pai. – Quero saber do senhor! Como foi a viagem?

– Ah, foi boa. Mas quero lhe contar... o que é isso? – pediu, aproximando-se da tela onde Rachel trabalhava.

A jovem corou.

– Nada demais – respondeu encabulada.

– Você está brincando? – seu pai parecia fascinado pela obra. – Ficou incrível! Você tem melhorado cada vez mais. Estou tão orgulhoso – seu sorriso pareceu frágil por um instante.

Rachel arqueou a sobrancelha direita.

– Pai, o que houve?

O homem desfez a expressão alegre e se sentou na beirada da cama da filha. Alguns segundos mais tarde ele lhe ergueu um olhar cansado.

– Querida... disseram-me...

– Sim? – ela instigou, preocupada.

– Você... bem, tem tido... previsões?

Foi como receber um soco.

– Q-quem... lhe disse isso?

Seu pai esfregou a testa com a mão.

– Isso não importa. Todos no reino sabem que foi você quem acordou o príncipe na noite do sequestro da rainha. Estou preocupado com você – ele parecia não saber ao certo o que dizer.

– Por quê? – rebateu Rachel.

– Temo que alguém possa te machucar.

Rachel balançou a cabeça descrente e sentou-se ao lado do pai.

– Machucar-me, você diz? Dizerem que tenho um dom sobrenatural e me queimarem numa fogueira?

A expressão dele escureceu.

– Não estamos vivendo tempos fáceis, filha – pousou uma mão em seu ombro amorosamente. – Não é apenas aqui que existem conflitos com... com semideuses. Quero que tome cuidado com essas previsões, estes sonhos... – ao procurar algo para se expressar, apontou para o quadro – ou pinturas. Guarde para si. Viva apenas a sua vida.

Rachel olhou para o pai completamente perdida. Não sabia como dizer que aquelas visões não a afetariam, ou que o caso do sequestro foi apenas uma exceção. Mas ali estava ele, com suas bochechas rosadas e cabelos ruivos lhe pedindo gentilmente que se protegesse. Seria tola se o negasse.

– Tudo bem, pai – disse, por fim, e o abraçou mais uma vez.

Ambos ficaram assim por alguns minutos, unidos, como se o mundo real e maldoso lá fora não existisse mais.

– Boa noite, querida – ele disse, dando um beijo em sua testa e saindo do quarto em direção aos seus aposentos.

Rachel permaneceu sentada, encarando a obra de arte. Então algo lhe ocorreu.

– Pai! – chamou, e o homem parou ao pé da porta.

– Sim?

– Quem lhe contou sobre o caso da rainha? – falou um pouco mais baixo, em segredo.

– O sacerdote Fritz, meu bem. Agora vá dormir, e não se esqueça do que disse. Bons sonhos.

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Percy acordou sem que ninguém o chamasse. Levantou da cama e olhou pela grande janela de seu quarto. Ainda estava escuro, mas ele sabia que não conseguiria voltar a dormir.

Era o grande dia de sua coroação.

O dia que sempre esperou quando era menino – e não conhecia seu lado ruim – finalmente nascia. Seria o dia em que a coroa dourada de vários anos pousaria sobre sua cabeça, e ele teria a força que sempre quis para fazer a diferença.

Por mais que ainda estivesse levemente magoado com Annabeth, sabia que a menina tinha razão. Ele era rei, e seria rei.

A hora da cerimônia seria às catorze horas, e até lá estaria muito ocupado. No Pico Inglês os detalhes estariam sendo ajustados e a comida estaria sendo preparada. O Conselho se dividiria para supervisionar, e restaria a Percy se arrumar e ensaiar o juramento real. Eram poucas coisas, mas tomariam toda a paciência do menino.

Conselho. Por um momento, recordou-se de Annabeth. A lembrança o fez fechar lentamente a cortina que havia aberto, e seu semblante tornou-se intrigado. Ela ainda estava lá, e Percy não sabia por quanto tempo ainda pretendia esconder-se ali. Aquele irritante frio na barriga retornou quando pensou na história do Herói.

Percy afastou-se da janela. Procurou concentrar-se no que faria no dia, e talvez esquecesse aquele dilema por alguns segundos. Sendo rei, ele salvaria a vida de Annabeth e de todos os outros semideuses. Faria justiça com eles. Não foram todos os semideuses que sequestraram sua mãe ou tentaram matá-lo com terra. Alguns realmente poderiam ilustrar as palavras de Annabeth, sendo criaturas confiáveis.

E talvez ela o perdoasse.

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Annabeth acordou em sua cama, um pouco tonta. Ao abrir os olhos, percebeu que Rachel ainda dormia. Colocou a mão direita sobre a garganta, que doía. Algo lhe incomodava atrás da cabeça. Então se lembrou da cena entre Hermes e ela, e o modo como desmaiou pela falta de ar. Perguntou-se quem a trouxera ali.

Quíron.

A menina empurrou os cobertores para o lado, vestiu um casaco longo e saiu na ponta dos pés. Correu pelos corredores até alcançar o quarto de Quíron, onde o centauro já estava acordado.

– Bom dia, Annabeth – saudou feliz, enquanto arrumava algumas peças de roupas.

– Quíron, o que aconteceu ontem?

Quíron dobrou algumas meias, e sua expressão mudou.

– Parece que encontramos mais um deus nos arredores.

Annabeth encostou a porta e tirou as meias das mãos do centauro.

– Quíron – ela disse, olhando em seus olhos. – Era Hermes. E Luke. E Luke... desmaiou! E ele... ele matava semideuses! Como pode?

Quíron fez Annabeth sentar-se e se acalmar.

– Sim, compreendo – esfregou os olhos, cansado. – Tudo isso é suspeito demais. Hermes brigou por seus filhos estarem sendo mortos, mas aqui ele atuava como o ministro mais sangrento.

Annabeth lhe ergueu seus olhos cinzentos e assustados.

– Foi o senhor quem me ajudou ontem?

Quíron assentiu.

– Encontrei-a desmaiada no corredor. Algumas criadas me avisaram. Ninguém mais soube, fiz questão disto. Mas não vi sinal nenhum de Luke nem de Hermes desde ontem. Provavelmente estão seguindo seus disfarces.

– Tenho que ir fazer o mesmo – murmurou Annabeth pouco feliz.

– Ainda não. Sabe que dia é hoje, e sabe que é nossa única chance – ergueu o vidro que lhe mostrara antes. Estava meio cheio agora.

– O senhor... ?

– Mandei colocar na comida de Percy. Ninguém desconfiaria de um sacerdote médico, ainda mais sendo o favorito do príncipe.

Annabeth deu um risinho baixinho.

– E quando ele estará pronto?

– Assim que encerrar o desjejum. Então, sabe o que fazer.

Foi a vez dela de assentir.

– Não queria que fosse assim.

– Nem eu, pequena – sussurrou Quíron, igualmente triste. – Mas estamos sem escolhas.

Ele se afastou para continuar arrumando suas roupas, quando Annabeth ouviu um barulho. Foi como um chacoalhar de plantas, mas logo sumiu. Annabeth deu de ombros. Deveria ser alguma empregada, ou, com tantos deuses em um castelo, barulhos estranhos deveriam ser comuns. Mas principalmente por estar tão ansiosa por finalmente partir do castelo com Percy e isso encher sua cabeça de pensamentos terríveis.

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Rachel acordou. Olhou em volta e viu que Annabeth não estava mais na cama. É óbvio, pensou. Já deve estar empenhada na coroação.

Olhou pela janela. Não era tarde, mas o sol já entrava em filetes através dos vitrais coloridos. Vestiu-se rapidamente e saiu para tomar o café da manhã. Antes de sair do quarto, porém, fitou mais uma vez o quadro que pintara na noite anterior. Refletiu sobre as palavras de seu pai. Teria ela um dom? Ora, isso é um absurdo.

Mas olhando para aquele mar agitado, temeu que fosse verdade.

Quando se aproximava da sala de jantar, que estava arrumada – provavelmente para Percy – viu Fritz rondando a mesa como um gato arisco. Rachel aguardou durante alguns segundos do lado de fora, até que uma criada surgiu em suas costas.

– Deseja servir o café da manhã, senhorita Dare? – pediu, sob os sinais da moça para que falasse mais baixo.

– Sim, sim, por favor – respondeu rapidamente. A criada afastou-se confusa, com uma reverência.

Fritz saiu da sala por alguns minutos e retornou, mas aparentemente não mexia em nada. Quando a segunda criada apareceu para colocar o prato de Rachel, o sacerdote pareceu interessado. A criada saiu, e apenas alguns segundos depois, ele também deixou a sala.

Finalmente Rachel entrou, e com uma sobrancelha erguida em suspeita, inverteu as taças de leite de cabra. O que quer que fosse que aquele velho houvesse feito, não interferiria na coroação de seu primo.

Percy chegou com um sorriso ansioso. Rachel sorriu de volta, esperando ter ajudado o breve-rei.

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Annabeth abriu a porta da carruagem com um supetão.

– Onde está PERCY?

O centauro lhe olhou de forma confusa.

– Mas... a esta hora já deveria ter adormecido.

– Ele não está no quarto! – ela gritou de volta. – Sumiu!

Quíron franziu o cenho.

– Mas a bebida já teria surtido efeito. Ele não poderia...

Trombetas soaram. Eram duas horas e meia da tarde. A coroação tinha início.

Annabeth empalideceu.

– Ele não bebeu.

– Como? Isto é impossível.

– Mas a coroação não começaria sem ele!

Os cavalos relincharam nervosos. Quíron soltou as rédeas da carruagem que estava escondida no meio da pequena floresta que havia perto do Pico Inglês. Era dali que partiriam em direção ao Acampamento – Percy querendo ou não.

– O que faremos? – Annabeth pediu.

– AHÁ, EU SABIA! – uma voz esganiçada e irritantemente conhecida soou dentre as árvores.

Detrás de um salgueiro uma menina gorda e ruiva apareceu, sob uma capa preta e segurando o vidro que anteriormente estava nas mãos de Quíron. Ela tinha uma expressão maluca no rosto, enquanto balançava o vidro apontando para os dois.

– Nancy – Annabeth grunhiu. – Então era você.

A menina gorda deu gargalhadas.

– Eu podia jurar que você e Percy estavam tendo um caso, mas... – ela olhou incrédula para o vidro – mas isso! Sequestro! Então, no dia do sequestro da rainha, vocês erraram o alvo – e riu.

– Devolva isto, garota – a voz de Quíron ordenou.

Nancy pareceu chocada.

– Ah, céus. Você é uma semideusa, e ele? Também é? De quem são filhos? O deus da estupidez?

Annabeth puxou a adaga que trazia junto de si, mas a manteve escondida atrás das costas.

– Nancy, não irei repetir – disse. – Devolva.

A menina bateu o pé no chão.

– Não.

– Você não sabe o que há em risco aqui.

– NÃO IMPORTA! Você destruiu meu casamento. Eu disse que teria volta.

– Eu não destruí nada...

– Agora destruirei sua vida – Nancy pareceu deliciar-se com as palavras.

Annabeth deu um passo cauteloso à frente.

– Há quanto tempo vem nos espionando?

– Não vem ao caso. O que importa aqui é ver sua cabeça sendo devorada pelo lobo de Fritz.

Quíron bateu as rédeas contra os cavalos, que empinaram. Nancy assustou-se e o vidro caiu de suas mãos. Quíron deu a volta e os cavalos cercaram a ruiva.

– Senhoras e senhores, lhes desejo uma bela e doce tarde. Hoje, o príncipe Perseus Blofis Jackson será coroado rei...

A voz que vinha da cerimônia servia de sonoplastia para a briga entre Nancy, Annabeth e Quíron. Annabeth pegou o vidro quando este caiu ao chão, e Nancy correu para o lado com medo de ser pisoteada pelos cavalos. De onde estava, atirou uma pedra nas costas de Annabeth.

– Sob a direção divina dos céus, a coroa será posta na cabeça do príncipe pelo sacerdote Fritz, o Agraciado...

Annabeth curvou-se com a dor que sentiu quando a pedra acertou em cheio suas costelas. Virou-se brandindo a adaga, e Nancy gritou.

– Perseus Jackson, faça o juramento solene diante de seus súditos e protegidos...

Quíron saltou de cima da carruagem a tirou a adaga das mãos de Annabeth. A menina lembrou-se que a arma não faria mal à mortal, mas ainda assim estava tomada pelo ódio.

– Juro, diante de Deus e dos homens, servir corretamente às leis que regem nosso Estado...

Nancy havia se colocado em pé quando Annabeth a atingiu em cheio com um tapa no rosto. A ruiva sardenta puxou os cabelos já bagunçados de Annabeth e as duas rolaram pelo gramado, trocando socos e pontapés.

– ... proteger cada homem, mulher e criança que estiverem sob minha guarda...

Quíron tentava apartar a briga.

– Annabeth, pare!

Annabeth afastou-se contrariada, até retomar a consciência. Viu que estava machucada e sua cabeça latejava. Nancy levantou-se tonta, e tentou acertá-la novamente, mas Quíron a interrompeu.

– Onde está o vidro? – Nancy gritou. Annabeth olhou para Quíron, mas parecia que o centauro também o havia perdido.

Iniciou-se uma busca desenfreada na grama pelo pequeno vidro. Quem o encontrasse primeiro desarmava o outro. Qual não foi o desespero de Annabeth ao ouvir o grito de vitória de Nancy.

– Achei! – mas, ao contrário do que Annabeth esperou, a menina não ergueu o vidro para cima. Sagaz, escondeu-o entre os apertados seios e correu em direção ao Pico.

– Annabeth... – Quíron começou.

– NÃO! - a menina correu tão rápido quando as pernas a puderam levar. Nancy tinha uma pequena e temporária vantagem sobre ela, mas mesmo assim Annabeth não pôde acompanhá-la. De repente, a voz que vinha do Pico tornou-se mais alta e pessoas surgiram ao seu redor ao invés de árvores.

Annabeth e Nancy haviam chegado ao Pico Inglês, no meio da coroação.

Nancy, ofegante, gritava apontando para Annabeth. Percy estava sentado em um trono, e Fritz segurava a coroa sobre sua cabeça. Ele olhou para a loira em busca de explicação, mas Annabeth estava tão cansada que mal podia respirar.

– Ela é uma traidora! – gritava Nancy, deixando os guardas confusos. – Pretendia sequestrar o príncipe!

Um Ohhh! soou entre as milhares de pessoas presentes. Annabeth sentia sua pele avermelhar-se e esquentar gradativamente.

De novo não, pensou ela.

Fritz sorriu maliciosamente. Arnold – ou Apolo – pigarreou.

– Como pode provar isto, senhorita? Pelo que sei, sua família não foi convidada para a coroação devido à sua última... hã, aparição.

Nancy caminhou triunfantemente na direção dele.

– Isto! – e ergueu o vidro. Fritz franziu o cenho, confuso. Percy olhou o vidro e olhou de volta para Annabeth.

– O que é isto? – pediu Ryan.

– Um sonífero – gaguejou Fritz. – Alguém o subtraiu das dependências da Igreja.

Todos se voltaram para Annabeth.

– Espere... – ela começou, mas Nancy a interrompeu novamente.

– Não é apenas isso, senhoras e senhores! – seus olhos brilharam em vingança. – A menina que veem diante de vocês... a que faz parte do Conselho Real... é uma semideusa.

Hermes pôs-se em pé.

– Guardas, prendam-na! – apontou furiosamente para ela. Luke, ao lado do pai, parecia genuinamente surpreso.

Os guardas aproximaram-se com velocidade e seguraram os braços finos de Annabeth brutalmente.

– Parem! – Percy ficou em pé, ainda sem a coroa em sua cabeça.

Um silêncio se formou.

– Senhor – começou Hermes, o antigo Dern Castellan. – Não vá querer...

– Cale-se, Dern – cortou o menino. Ninguém mais ousou interrompê-lo.

Annabeth olhava desesperada, buscando uma saída e, ao mesmo tempo, preocupada com o que Percy faria.

– Soltem-na – ordenou.

Com relutância dos homens, Annabeth foi solta. Todos os presentes a encaravam como se ela fosse algum tipo de animal feroz.

– Senhor, ela traz uma arma – um dos guardas balançou sua adaga.

Percy franziu o cenho, como se Annabeth frustrasse todas as suas tentativas de ajudá-la.

Atrás do menino, o mar rugia. Ela estava livre. Percy também. A adaga balançava em sua frente. Só havia uma maneira de escapar dali.

Subitamente, ela puxou a adaga de volta das mãos do guarda e correu em direção a Percy. Os guardas a acompanharam, mas foram forçados a parar quando ela segurou o príncipe com uma gravata no pescoço dele, apontando a adaga para seu queixo.

– Um movimento! – ela gritou, mantendo Percy refém. – Um movimento, e ele morre – disse, e ao longe viu Sally derramando lágrimas de pavor.

O coração de Annabeth doía. Doía demais. Enganou tanta gente por tanto tempo. Mas seu tempo ali acabara.

Olhou para baixo. Percy remexia-se e ela tentava mantê-lo ali com dificuldade. O menino era forte, e sabia que em poucos segundos ele se livraria e, dali em diante, a odiaria para sempre. Que tipo de traição foi aquela? Annabeth não sabia dizer, mas pensava não haver perdão.

Ela recuava aos poucos. Os gritos pareciam abafados sob a pressão que sentia. Os guardas a cercavam, e em pouco tempo estaria perdida de vez. Recuou, recuou e recuou até sentir o Pico acabar. Atrás de si, o mar, e entre ambos, uma queda mortal.

Seu pé raspou onde a pedra do Pico encerrava-se. Annabeth viu que não tinha escolha. Olhou para cada um atentamente. Bloqueou os pensamentos de alerta sobre o perigo. Antes que alguém gritasse novamente, ela empurrou o corpo para trás, puxando Percy consigo.

O vento os tomou de bom grado, e a queda ao mar pareceu um belo modo de morrer.


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Notas finais do capítulo

E então? #tençu
Sinto informar que não faço a mínima ideia de como será o próximo cap, o que significa que ele vai demorar :(
Enfim, a cena da queda do Pico foi uma das primeiras que criei na cabeça, e confesso que adoro ela.
Bem gente, esse cap encerra o primeiro arco da história, que era a Annie no castelo. Daqui em diante, começamos o segundo (noo me digas), que será curto.
Preparem-se! Falta pouco pro fim agora!
Kisses!!! (aeeee mudei pra inglês, valeu Lívia, pela dica! -q).