Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 22
Maldito Conselho


Notas iniciais do capítulo

Devo confessar: subestimei vocês. Bem, na verdade, nem foi que eu tenha subestimado, afinal, vocês são fods, mas foi apenas um teste.
Um teste muito simples, devo salientar.
Daqui pra frente, quero ver vocês acertarem quem é deus e quem é humano nessa história.
E quem fica no meio-termo.
Boa sorte, semideuses e semideusas!
Ah, e lembrem-se sobre os trechos de músicas no início de caps. Normalmente, são caps muito, muito importantes.



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All I wanted to say, all I wanted to do

Has fallen apart now

All I wanted to feel, I wanted to love

It's all my fault now

A tragedy, I fear

~ Mercy

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Fazia quatro dias que Sally havia desaparecido. Percy tentava suportar o momento com todas as forças que possuía – além de ter que dividi-las com o pai. O pobre Paul teve sua doença ainda mais agravada, e Percy já não sabia se cuidava das buscas por sua mãe ou permanecia ao lado do pai para confortá-lo.

Em seu interior, ele temia. Temia incontrolavelmente a hipótese de um golpe. Não conseguia confiar em seus conselheiros, nem mesmo em Annabeth. Não confiava em si mesmo, e odiava-se por isso. Ele era, ou seria, em poucos dias, rei. Não era o momento ideal para parecer fraco. Quem quer que seja que tenha levado sua amada mãe, não teria o prazer e a satisfação de assistir o mundo de Percy desabar.

Por isso, ele chorava só. Sofria só. E ninguém poderia ajudá-lo naquele momento.

Percy mantinha uma imagem, que ele não percebeu inicialmente, fria demais. Todos à sua volta fingiam tolerar sua grosseria repentina ou a dureza de suas palavras de vez em quando. Mas, ele tentava fazer seu melhor. Será que viam isso? Viam seu esforço em manter-se em pé?

Quando ele achava que já era odiado por todos devido à sua má educação dos últimos dias, qual não foi sua surpresa quando recebeu o mais dócil convite para um passeio. E ele vinha de Annabeth.

Ah, diabos, ele sentia-se péssimo. Quantas vezes a ignorara durante a semana? Quantas vezes interrompeu o que ela ia dizer? E agora? Devia desculpar-se. Ele vinha sendo um tolo. E um tolo com a moça que tanto lhe ajudara. Ela não tinha culpa do sumiço da rainha, de sua mãe. Por que descontou seus sentimentos justo nela?

Ele acariciou o papel que ela havia lhe enviado. A folha fora dobrada delicadamente, e a letra florida de Annabeth o enfeitava. Era urgente, segundo o que havia ali escrito, e por isso Percy não se demorou em encontrá-la perto do rio, nos extremos dos muros do castelo, às quatro horas.

Percy tentou ao máximo melhorar sua cara de cansaço e de raiva que o acompanhara nestes quatro dias, e sorriu para o espelho. Ensaiou incansavelmente um pedido de desculpas convincente e respirou fundo.

Saiu de seu quarto quinze minutos antes do combinado, e atravessava o castelo em direção à saída pelos fundos com um sorriso frágil no rosto. O castelo estava vazio; hora ou outra uma criada surgia limpando o chão ou tirando o pó das cortinas. Murmurava-se em todas as salas, e um momento Percy viu um soldado atravessar o corredor apressado.

Sally fazia tanta falta para o reino como para ele.

Percy alcançou o rio. Annabeth o viu e sorriu calorosamente, embora estivesse um pouco mais pálida do que o normal. O menino preocupou-se pelo “urgente” presente no bilhete.

Ele chegou perto dela. Ela o reverenciou formalmente e preparava-se para falar, quando Dern Castellan surgiu. Ele trocou um olhar tenso com Annabeth, e a menina pareceu frustrada.

— Senhor – ele tinha a voz esbaforida, como se houvesse corrido muito para entregar a notícia ao príncipe em primeira mão – encontramos Sally.

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A notícia caiu como um balde de água fria na cabeça de Percy. Não, não podia ser. Não.

Dern Castellan o acompanhou a cavalo por um longo período entre a densa floresta que era a continuação do bosque real. Por enquanto, apenas os homens de Dern sabiam da descoberta, e Percy preferiu assim. A verdade já era demasiadamente difícil de engolir, e seria ainda mais se ele fosse o último a saber, com todos os outros conselheiros reclamando e apontando a sua falha.

Annabeth vinha logo atrás, e os três, depois de muito cavalgar, com o coração de Percy aos pulos, chegaram a uma casa de madeira precária e abandonada. Alguns homens a cercavam, e Sally jazia deitada em uma cama branca temporária.

— Está dopada, senhor – contou Dern. – Parece que nossos criminosos não tiveram coragem de mostrarem suas caras.

Percy sabia o porquê. Olhou indignado para os sequestradores, que estavam de joelhos, com mãos atadas e sacos pretos em suas cabeças, ao lado da casa.

Dern puxou teatralmente os sacos pretos de suas cabeças, e Annabeth reprimiu um grito agudo. Percy, dolorosamente, reconheceu os rostos.

Os semideuses a quem havia salvado, por quem enfrentara o Conselho e lhes dera um trabalho digno. Eles eram os culpados.

Todos tinham suas bocas seladas com mordaças, e balançavam a cabeça incessantemente para que Percy soubesse que eram inocentes. Mas não existiam provas. Dern Castellan explicou tudo muito bem, e mesmo que Percy não quisesse acreditar, era um fato.

Eram dois rapazes e duas garotas. As meninas choravam, e a voz saía aguda de suas gargantas. Os meninos enfiavam a cabeça na terra, envergonhados e desesperados. Um deles olhou com desprezo e ódio para Dern, e recebeu uma pancada na cabeça.

Percy desceu do cavalo e verificou como a mãe estava. Parecia serena, dormindo, e tinha um corte que descia de sua testa até o queixo. As mãos estavam com hematomas. Talvez existissem outros em diversas partes do corpo.

— Percy – sussurrou Annabeth de cima de sua égua. Percy lhe ergueu olhos frios e vazios de expressão. Agora havia encontrado a mãe, deveria estar exultante. Mas, a culpa lhe pesava nos ombros. Ele havia livrado os semideuses da punição. E, por conta disso, quase perdera sua mãe, o ser que mais amava no mundo.

Annabeth tinha uma das mãos na boca, e controlava as lágrimas que, mesmo assim, rolavam sem permissão pelas bochechas. Os semideuses a encaravam em um pedido urgente de socorro, mas ela parecia não ter coragem de olhá-los de volta. Fitava apenas Percy, e seus olhos cinza pediam misericórdia.

Misericórdia. Isso não se fazia presente no coração de Percy, naquele instante.

O menino engoliu em seco. Doía, ah, e como doía. Mas tinha de ser feito. Por sua mãe.

E, acima de tudo, ele era rei. Era hora de governar.

Ser justo como sempre quis.

— Castellan – Percy chamou. – Leve-os à masmorra. Ainda hoje serão punidos. Segundo a lei.

Dern Castellan sorriu satisfatoriamente e se afastou, levando os prisioneiros acorrentados.

— Percy! – Annabeth gritou, e teve como resposta um olhar maléfico. A menina fechou os olhos, comprimindo-os com força. Percy adoraria fazer o mesmo. Chorar pelos jovens. Mas já não podia.

Ele sentia muito pelo encontro cancelado.

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A gritaria na mesa de Conselho estava insuportável.

— O que foi que lhes disse desde o começo? – gabou-se Dern. – Semideuses são uma praga!

— Castellan – chamou Ryan. – A ideia foi de Perseus, não nossa.

— Não! – retrucou Dern, e apontou acusadoramente um dedo para Annabeth. – A ideia foi da menina! Por sua culpa, a rainha quase foi morta por estes seres demoníacos!

Annabeth tremia em seu lugar. Tremia de medo e tremia de raiva. Estava perdida.

Basta!— gritou Percy. Ele tinha as sobrancelhas franzidas em uma expressão séria e desolada. – Estamos aqui para discutirmos o que fazer com os prisioneiros, e não discutir de quem foi a culpa.

Fritz fitou Percy maldosamente.

— Esquece-se, portanto, que a lei não deve ser levada em pauta ao Conselho. Deve ser seguida e ponto. Dern está certo. A menina foi a culpada. E apenas ocupa um lugar nesta mesa devido a esse estúpido conselho. Deveria ser expulsa daqui – grasnou.

— É mais que a lei – interferiu Swart. – Também é sequestro da rainha. Torna a pena indiscutível.

Annabeth olhou para Percy. O menino recusava-se em devolver o olhar.

— A culpa foi minha – disse gravemente. – Embora haja um Conselho que discute comigo as ordens, eu assumo a culpa. E por isso, sacerdote Fritz – o nome pareceu amargo – a lei será cumprida.

Edward Marxton balançava a cabeça tristemente. Annabeth sabia porque Atena estava triste. Uma das meninas era sua filha; irmã de Annabeth.

A loira não entendia como nem Ares nem Apolo sofriam. Talvez, não soubessem que um ou dois de seus filhos formavam o bando supostamente sequestrador.

— Algum problema, Marxton? – desdenhou Dern ao seu lado. – Está quieto hoje.

Atena olhou tristemente para Annabeth, e depois para todos os outros.

— Peço seu perdão real, senhor – dirigiu-se solenemente a Percy. – Mas, não posso.

Castellan riu cruelmente. Fritz deu de ombros. Arnold, ou Apolo, assustou-se. Ares fingiu não se importar.

— O que disse, Marxton? – Percy pediu.

— Recuso-me – a voz agora soou mais firme. – Não posso participar disso. Sei que os matarão. Eu... – seu olhar prendeu-se ao de Annabeth - ...sinto muito.

Apolo e Ares não interferiram, nem o mestre da moeda, Swart, que, ao que Annabeth conferira, era mortal.

Dern transpirava orgulho e alegria, mas tentou não demonstrar.

— Senhor – falou sério ao príncipe. – Não podemos permitir um... traidor no Conselho – praticamente degustou as palavras.

Antes de Percy reagir, Atena, ou Edward, levantou-se da cadeira em que estava.

— Não precisa da formalidade, Castellan – sua voz engasgou-se. – Eu mesmo abdico de meu lugar ao Conselho. Espero ter servido bem ao meu senhor, e sei que será um bom e próspero rei.

Percy entristeceu-se. Annabeth sabia que Marxton era seu favorito no grupo.

— Não vá – ele pediu. – Fique. A lei será cumprida de qualquer forma.

— Não ficarei em um Conselho que pensa alimentar traidores – olhou de soslaio para Dern. – Se recusar-me a concordar com uma ordem real é traição, não quero morrer com esta culpa em minhas costas. Os deuses o guardem, senhor Perseus.

O silêncio que se formou era aterrador. Atena lançou um olhar a Annabeth que significou muitas coisas. Entre elas, a resposta à pergunta que Annabeth fizera no dia anterior, e que Atena não respondera. Agora, bem sabia Annabeth, aquela era sua forma de dizer “veja, confie em mim. Não quero assassinar semideuses. Estou do lado certo, filha”.

Aquele olhar pareceu despejar um fardo ainda maior aos ombros da menina. Agora, Annabeth estava sozinha no Conselho, sem ninguém para defendê-la de Fritz, de Dern, nem dos deuses que estavam ali e que Annabeth não sabia se eram confiáveis ou não.

Depois de sua mãe, a velha Edward Marxton, abandonar a sala de Conselho, Percy falou com certa dificuldade.

— Alguém ainda se recusa a seguir... a seguir a lei? – ele estava claramente abalado.

Apolo, ou o Arnold Britneyz, hesitou. Ryan lhe olhou com raiva. Annabeth sabia que o olhar de Ares era aterrorizante, por isso não se surpreendeu quando Apolo assentiu, contrariado.

— Que a lei seja cumprida – decretou, e Annabeth soube que ele fez aquilo com dificuldade, mas assim como ela, precisava permanecer no Conselho.

Ele era mais forte que Atena ao permitir que um de seus filhos fosse morto.

Todos os outros assentiram.

— Annabeth Chase? – perguntou Percy olhando para frente, sem de fato olhá-la nos olhos.

Ela não tentou chamar sua atenção e fazê-lo lembrar-se de seu conselho, como tentou na casa abandonada. Sabia o que ele diria. “Não tenho escolha”, era tudo o que Percy ia falar. E, verdadeiramente, ele tinha razão. Annabeth pensou nos jovens. Os conhecia desde muito pequena. Sabia o que cada um pensava, e sabia que aquilo só poderia ser uma armação.

Ou não.

Depois de Natalie, Annabeth não sabia mais como acreditar que os semideuses não se vingariam.

Evitando lembrar dos olhares doloridos dos quatro semideuses e de suas lembranças com eles no Acampamento, ela forçou sua própria cabeça a mover-se.

— Sim – assentiu, dura, e Dern sorriu de forma completamente indiscreta. – Que a lei seja cumprida.

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A execução fora a coisa mais triste que Percy viu desde a morte de Natalie.

Sim, ele já tinha assistido a muitas execuções, mas nunca de quatro pessoas de uma vez. Os semideuses tinham o corpo amarrado a um tronco enorme de pinheiro, com lenha para a fogueira grande e luminosa que se formaria.

Fritz encontrava-se na frente da fogueira. Ajoelhou-se perante Percy, depois recitou uma bênção qualquer e ergueu a espada. Ela era prateada como a lua, e seu brilho assombrava Percy todas as noites. Já sonhara que aquela mesma maldita espada cortando sua cabeça.

Fritz aproximou-se do primeiro rapaz. O menino deveria ter uns treze anos, e estava suando frio. Fritz aproximou a espada de seu pescoço.

— És tu um semideus? – gritou para a noite. Sua voz era a única ouvida no silêncio sepulcral do lugar. – Os deuses saberão se estiver mentindo, todos eles. E o nosso Deus também.

O menino assentiu nervoso.

Fritz franziu o cenho.

— E quem seria teu pai ou mãe? Quem seria o espírito cruel que te formou?

— Apolo – a voz do menino falhou, e ele tremia, amarrado ao tronco no centro da fogueira ainda não acesa. – Deus do sol, m-música, médicos...

— É o suficiente – interrompeu Fritz. O velho fechou os olhos, alinhou a espada à sua frente, e com um único golpe, acertou em cheio o pescoço do menino.

A cabeça sem vida rolou pelo pátio, e os outros presos ao trono gritaram e choraram.

Percy olhou à sua esquerda. Sentada em um banco de veludo, Annabeth controlava as lágrimas, mas sem sucesso. Tinha um lenço em frente ao rosto, e forçava-se a assistir a cena sem pestanejar. Percy entendia. Sabia que qualquer fraqueza que ela demonstrasse, Dern a tomaria como cúmplice e ela poderia ser amarrada a fogueira ali mesmo.

Apenas toleravam seu choro incontrolável pois todas as mulheres choravam durante a execução. Por isso mulheres não fazem parte do Conselho. Mas Annabeth fazia, e queria passar uma imagem de força incontestável.

Percy admirava-se de sua coragem e persistência.

— Quem é teu pai ou tua mãe, criança? – Fritz agora dirigia-se à menina mais velha, de talvez uns quinze anos.

A garota parecia fria e anestesiada pela dor e pelo medo que sentia.

— Atena – respondeu, sem sentimento na voz.

Poucos segundos depois, sua cabeça rolou para uns três metros longe da fogueira. Seu rosto inexpressivo e sem vida ainda possuía os olhos inchados de tanto chorar.

O menino alto de dezessete anos disse que era filho de Ares. Não parecia assustado; aliás, encarava Fritz com ódio e, quando a espada partiu em direção ao seu pescoço, ele abaixou a cabeça. Era petulante, e outros guardas tiveram que manter sua cabeça no lugar para ser cortada fora.

Apesar de toda sua coragem, morreu como os outros.

A última, uma menina de onze anos, chorava e soluçava. Em meio ao seu tormento de lágrimas e desespero, disse que era filha de Apolo. Era uma menina tão linda, com cabelos dourados, olhos grandes e cor de mel, voz agradável.

Tudo isso se foi com um golpe de espada.

A fogueira foi acesa, e fogo consumiu em pouco tempo os quatro corpos sem cabeça presos ao tronco. As cabeças foram recolhidas por Fritz e jogadas ao seu lobo de estimação, que a Percy sempre parecera um monstro infernal.

A execução findou-se, e Annabeth tinha nos olhos um brilho assustadoramente vazio.

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Annabeth reuniu toda a sua coragem para enfrentar o que viria.

Percy lhe prometeu um segundo encontro. No primeiro, estava abalado e triste, e Annabeth sabia que teria de ser cuidadosa ao dizê-lo a verdade, mas foram interrompidos.

Agora, era sua segunda chance. Talvez a única, e sua situação era mil vezes pior. Percy, no dia anterior, aquiescera à execução... e ela foi terrível. Annabeth teve pesadelos a noite toda, e culpou-se profundamente pela morte de seus amigos. Mas, a missão era soberana. Antes os semideuses do que Percy, não importando o quanto cruel isso fosse.

Annabeth alisou o vestido, penteou os cabelos e, antes de sair do quarto, onde estava sozinha, olhou hesitantemente para seu travesseiro de plumas. Lá era onde escondia sua adaga e único instrumento de defesa que possuía. Em um ato impensado, retirou-a de lá e a escondeu dentro do corpo do vestido. Ajeitou-a para que não incomodasse, e saiu destinada a contar a verdade e levar Percy embora dali, independente de sua reação.

Ela chegou à sala do Conselho. Era lá o local do novo combinado, o qual o próprio príncipe insistira. Annabeth estava nervosa, mas sentou-se em sua cadeira para tentar esperar em paz. Então, a porta abriu-se, e, com uma bandeja com xícaras e um bule de chá, Taylor entrou descaradamente.

Annabeth sobressaltou-se na cadeira. Taylor lhe fuzilou com o olhar negro.

— Olá, minha querida – sua voz era falsa ao extremo. – Esperando o príncipe?

— Isso não importa a você – retrucou Annabeth, apalpando o espartilho e sentindo, perto das costelas, o desenho que a adaga formava sob o vestido. – Sirva seu chá e vá embora.

Taylor sibilou.

— Não deveria falar assim comigo, mocinha – balançou a cabeça. – E, sim, importa-me saber o que dirá ao nosso herói. Porque, talvez, eu deva impedi-la.

Antes que Annabeth pudesse formar um pensamento lógico, Taylor rosnou erguendo os braços, e seus dentes transformaram-se em presas e as mãos em asas de morcego. Annabeth jogou-se para trás em um susto, e caiu da cadeira. Taylor transformava-se em milissegundos, e Annabeth procurava com pressa a adaga em seu corpo. O terror que sentia apenas a atrapalhava.

Conseguiu tirar a adaga no último momento, quando Taylor sobrevoou a mesa e mirava em seu peito, para cravar-lhe as unhas e rasgar Annabeth ao meio. A menina não teve escolha a não ser jogar-se para o outro lado, já que não havia tempo para perfurar-lhe com sua arma. No ato, porém, a adaga sumiu de suas mãos para embaixo da mesa, do lado oposto onde Annabeth caíra.

Agora, a menina estava desarmada. Taylor, ao errar o alvo bateu contra a parede. Balançou a cabeça monstruosa, tentando recuperar os sentidos e investiu novamente. Dessa vez, suas unhas arranharam o rosto e parte do braço de Annabeth, que o erguera para defender a face.

A menina estava desesperada, e seu desespero apenas aumentou-se ou ouvir passos apressados em direção à sala do Conselho. Percy! Deuses, se ele as visse em plena luta! Abalado como estava, Annabeth mal podia imaginar sua reação. Não importava o que faria; o que realmente falharia eram as tentativas de Annabeth para convencer-lhe de que era inofensiva e que Percy deveria vir com ela. Perderia sua credibilidade, e ganharia o horror do menino contra ela.

Annabeth, arranhada e sangrando, arrastava-se em direção à adaga, por baixo da mesa. Taylor atrapalhou-se com livros e objetos de uma estante, mas agora retornava para cravar as presas nas costas de Annabeth, que até então estava totalmente desprotegida.

A menina estava ainda muito longe de sua arma, quando ouviu um grito aterrorizante. Virou-se para ver Taylor com uma flecha cravada no peito desfazer-se instantaneamente em fumaça. Annabeth levou alguns segundos para assimilar o que havia visto. Assustada, procurou por quem teria atirado a flecha na direção da Fúria e salvado sua vida.

Na porta da sala, contrariando todas as suas expectativas, estava o sacerdote Bernard. Ele segurava um arco, e já não tinha mais pernas humanas.

— Quíron?! – gritou Annabeth, feliz como nunca mais estivera nos últimos meses. O centauro sorriu, confirmando.

Annabeth correu em sua direção e abraçou-lhe. Havia perdido a mãe no Conselho, mas ganhara um novo protetor no castelo.

— Mas, mas... você andava! – Annabeth disse, abraçada contra o peito de Quíron. – Andava... como pessoas andam!

Quíron afagou-lhe gentilmente os cabelos.

— Contar-lhe-ei tudo, minha querida, quando tivermos tempo – afastou-a gentilmente do abraço para lhe olhar nos olhos com um ar de urgência e seriedade. – Infelizmente, a caminho daqui... bem, tenho uma péssima notícia.

Annabeth pareceu confusa inicialmente, até, com um suspiro preso na garganta, saber do que se tratava. Desvencilhou-se dos braços de Quíron e correu para a porta da sala.

— Não, não – ela sussurrava a si mesma. – Ele... ele ouviu...

Espichou o corpo e olhou ariscamente para os lados. Ao longe, virando o corredor, o par de olhos verdes de Percy lhe encaravam com nada mais além de mágoa e terror.

 


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Notas finais do capítulo

CHOQUE GERAL?
o/
Se preparem, as coisas vão piorar!
E aí? Os semideuses são culpados ou não pelo sequestro de Sally? Apolo está de que lado? O que Percy fará com Annie?
A gente se vê ^^
.
p.s.: se lerem alguns caps antigos, verão que coloquei músicas no começo. Então, prestem bem atenção nesses :)