Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 18
Uma Jovem Muito Sábia


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
ALEGREM-SE, ESSE CAP É PERCABETH O/
Vocês estavam merecendo.
Ah, e pra lembrar: caps que iniciam com músicas OU são muito importantes OU eu gosto muito deles.



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If only I don't suffocate

I'll meet you in the morning when you wake

~ Bend And Break

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Percy abriu os olhos lentamente. Sua cabeça estava pesada como se houvesse levado uma pancada na nuca. O castelo estava silencioso. O quarto estava com as cortinas fechadas e um pouco escuro, o que lhe provocava muito sono, mas ele sabia que era de dia. Quando moveu a cabeça no travesseiro, o sacerdote Bernard parou de tomar seu chá para sorrir-lhe.

— Bom dia, majestade – sua expressão denunciava que estivera acordado toda noite. – Ou, se me permite, boa tarde.

Percy permitia, ele sempre permitiu as brincadeiras do sacerdote. Era seu favorito; foi isso o que dissera quando tinha seis anos, arrancando risos e gargalhadas de todos os presentes no jantar do dia de seu nome, enquanto Fritz apenas o encarava com algo muito semelhante ao ódio.

Quando Bernard lhe contou que cuidava de Annabeth nas dependências da Igreja, o coração de Percy tranquilizou-se, pois sabia que estava em boas mãos. Espere, Annabeth!

— Senhor, perdeu coisas importantes estes dois dias – dizia Bernard em sua costumeira voz sábia.

— O que houve, exatamente? – pediu Percy, confuso. – Não consigo me lembrar com clareza.

O sacerdote levantou-se de sua cadeira sem pressa, levando uma xícara de seu chá para o príncipe.

— Uma semideusa o encontrou – disse Bernard, e havia certo pesar em suas palavras – tentou matá-lo, porém nosso bravo jovem Castellan... hã, evitou. Pelo que sei, ela queria vingar a irmã que...

— Sim, sei disso, recordo-me – reclamou Percy. Lembrar-se do olhar de tristeza mista com desespero da menina o assombrou durante seu sono. – Digo, depois. Ela foi assassinada. Apenas lembro-me de tudo parecer turvo. Não conseguia raciocinar.

— O senhor entrou em um profundo choque – Bernard contava, e ele parecia perturbado. – A atmosfera de terror o assustou, e o senhor ordenou que todos os semideuses fossem capturados e mortos.

Percy perdeu o fôlego. Reprimiu um grito de exasperação. Ele nunca tomaria tal decisão em consciência perfeita; repudiava as mortes desnecessárias. Mas, ele esteve na linha da morte. Ainda recordava-se da terra preenchendo seu interior e o impedindo de respirar. A pior sensação que sentira na vida. Não a desejava para ninguém, nem ao velho Fritz.

Percy nunca pensou que semideuses pudessem ser tão cruéis. Mas, não queria matá-los. Adoraria pedir ajuda a seus pais, mas imaginou o pai doente e a mãe assustada pelo ataque ao seu filho. Sentiu-se profundamente só. Ele era o próximo rei, o “breve-rei” como Rachel gostava de chamá-lo, mas em sua primeira séria decisão, sentia-se perdido. Confuso. E só.

Bernard andou em direção às cortinas e as abriu. Ele estava certo; o sol das quatro horas da tarde brilhava nos últimos raios mais fortes antes de começar a se esconder. Eles iluminaram o quarto e o rosto cansado de Bernard. O sacerdote tinha um olhar pesaroso em direção às colinas. Percy o estudou. Não era velho. Era um homem de meia-idade e cabelos ralos, que, até onde Percy sabia, havia perdido os pais muito novo, e isso o magoara tanto que decidiu tornar-se sacerdote. E parecia feliz com isso, até hoje.

— Sacerdote – chamou Percy. O senhor virou-se para ele – O que pensa de minha ordem? O que pensa da lei? Afinal, é um homem santo. Essa lei foi ordem da Igreja.

Bernard refletiu por vários segundos, com o cenho franzido.

— Acredito em Deus, não na Igreja – ele disse, por fim. – Acredito no amor de Deus, não na morte de pessoas. Acredito que todos os homens pecam, não somente semideuses. Se fosse assim, “matar quem é pecador aos olhos de Deus”, todos nós seríamos mortos. Agora, os filhos destes deuses menores já nasceram assim. Não possuem culpa. Precisam de amor, não de sentenças de morte.

Percy sentiu-se o pior homem da face da terra ao ouvir aquelas palavras. Mas, ao contrário de Fritz, Bernard não o culpava com seu olhar. Parecia ser verdadeiramente fiel ao seu princípio: amava-o.

O olhar transtornado e marejado de Annabeth Chase atravessou a mente de Percy.

— E a ordem? Seguiram-na? – pediu desesperado Percy.

Bernard sorriu.

— Há uma grande discussão em seu Conselho, majestade. Não sabem ao certo se é o que realmente deseja o senhor. Porém, Dern Castellan colocou seus homens nas ruas. Fui informado de quatro prisões de semideuses.

Percy rangeu os dentes. Dern não precisava de muito para seguir em frente com suas chacinas. Mas ele também sabia que o Conselho quer uma resposta pronta. E Percy deve tomar uma decisão rápida antes de retornar ao trono.

Se optar por assassinar os prisioneiros, levará esta culpa consigo. Talvez nunca mais consiga dormir. Mas, se negar a ordem, como ficará diante do povo? Será o “rei desobediente”? E Fritz? O amaldiçoará, como fez com o rei antes de Paul, Leonard?

Percy bufou e esfregou o rosto com as mãos. Manteve-se assim, apoiando o queixo em suas mãos, sentado em sua cama, odiando ser rei.

— Senhor, gostaria de chamar alguém? – perguntou Bernard, observando o rapaz. Percy lhe ergueu olhos brilhantes, como os de um menino que sabe que pode tomar uma péssima decisão, mas ainda assim quer.

— Sim – ele disse, com um sorriso lateral. – Chame Annabeth Chase.

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A porta soou três batidas.

— Majestade – a voz de um dos guardas, provavelmente Gary, anunciou: - Annabeth Chase, senhor.

Percy já estava decentemente vestido. Mantinha-se em pé, ansioso pela chegada da menina.

— Entre – ele falou com a voz solene.

Ela entrou. Annabeth tinha um olhar encantado, como o que sempre tivera desde que passou a conhecer outras áreas do castelo. Ela conhece o pequeno quarto de Rachel, pensou Percy. Não o meu.

Annabeth vinha trajada em um vestido cinzento, que combinava estranhamente com seus olhos brilhantes. Seus cabelos dourados vinham presos em um coque alto, e ela curvou-se discretamente para ele, em uma mistura de timidez e desconfiança.

— Boa tarde, majestade – ela cumprimentou; a voz doce. – Fico feliz em vê-lo bem.

— Boa tarde, senhorita Chase – ele sorriu, mas Annabeth parecia ainda assustada com ele.

Percy indicou uma cadeira estofada em azul para ela. Ela sentou-se, e aguardou ele fazer o mesmo, com uma cadeira à sua frente.

— Obrigado Gary – Percy disse, e finalmente o guarda os deixara em paz.

O menino olhou para Annabeth. Ela tinha uma das sobrancelhas erguidas, como se ainda duvidasse que a saúde mental de Percy houvesse mesmo retornado.

Ele suspirou e apoiou os cotovelos sobre as pernas. Como começar? Ele também se sentia péssimo por sua ordem estúpida, e passara o tempo todo culpando-se por afastar Annabeth de si ainda mais. Ela deveria pensar que Percy era um maluco assassino. Ela era tão encantadora, não queria perdê-la. Era prazeroso estar em sua companhia, mesmo que fosse àquela maneira: ambos calados em um silêncio constrangedor.

— Sinto muito por Natalie – ele começou, e logo se torturou mentalmente por notar que apenas relembrou Annabeth da morte da amiga.

Ela olhou para as próprias mãos e estralou alguns dedos.

— Estou bem – sua voz sussurrou lindamente. – Apenas... aturdida. Não sabia que Natalie era uma semideusa. Mas juro-lhe – ela olhou de repente para Percy com olhos tristes – nunca vi Natalie agir daquela maneira. Ela era boa, tenho certeza disso. Talvez... talvez estivesse apenas... muito, muito triste... pela irmã.

— Conhecia a irmã também? – Percy pediu.

Annabeth assentiu com a cabeça.

— Uma linda menina. Creio... creio que nem todos os semideuses são assim. Talvez... sejam bons. Natalie era.

Percy estreitou os olhos.

— Não os teme senhorita?

Annabeth lhe devolveu o olhar curioso.

— E por que deveria? – ela perguntou. – Natalie era minha amiga. Nunca me fez mal, e eu não sabia de sua natureza.

Percy ponderou suas palavras. Recostou-se na cadeira, suspirando sua sensação de culpa.

— Entendo seu desespero, agora – ele disse, fazendo a menina franzir o cenho. – Digo, sobre minha decisão no momento. Peço que me perdoe se lhe assustei.

Annabeth inclinou-se para frente e pousou sua mão sobre a mão de Percy, que apoiava-se no joelho do menino. A garota sorriu-lhe.

— Sim, assustou-me – ela admitiu. – Mas, acreditava no senhor. Sabia que não estava perfeitamente bem para ordenar. Sinto que nunca mataria inocentes para sua própria defesa. O senhor não é assim.

O estômago de Percy deu voltas, e ele não entendia por quê.

— Como sabe? – ele perguntou.

Ela encolheu os ombros.

— Apenas sei. Sabe, sou bastante inteligente, modéstia à parte. Confio no senhor. Se desejar, confie em mim também – seu sorriso alargou-se e ela voltou a se encostar-se à cadeira, soltando a mão de Percy. O menino estranhou a falta de sua palma quente sobre a dele, que tremia.

— Obrigado – ele disse, sem encontrar palavras melhores. Ela assentiu, parecendo não se importar com a insegurança do príncipe. Algo em seus olhos cinzentos realmente dizia à Percy para acreditar nela.

E também para tomar uma decisão.

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Percy adentrou a sala do Conselho. Pela primeira vez, sentar-se-ia na cadeira do pai.

Todos os presentes que faziam parte do bagunçado e indeciso Conselho Real puseram-se em pé para recepcionar o príncipe. Percy correu os olhos sobre eles. Lá estava o sempre irritadiço Ryan Browne, ministro do comércio e navegação. Dern Castellan, ministro de defesa e senhor das armas que lhe sorria abertamente, talvez satisfeito pela ordem de Percy. O menino nunca entenderia a alegria macabra que ele possuía em matar semideuses.

Do outro lado da mesa redonda, estava Fritz. Infelizmente, ele compunha o Conselho, como o portador da voz divina entre os homens. Argh. Ao seu lado estava Arnold Britneyz, o senhor de Sol Poente, nada além que as terras mais ricas em minérios do reino. Também estavam Edward Marxton, o comandante da Guarda Real e o homem mais inteligente que Percy já conhecera, e Swart Levad, o mestre da moeda.

Eram esses os idiotas que discutiam entre si todas as vezes que se encontravam.

Assim que todos se sentaram, Percy não teve tempo nem de respirar.

— Quatro semideuses foram encontrados nos limites externos do reino, senhor – já informou Castellan, sem disfarçar o orgulho de seus homens.

— Estão presos e sob os olhares de meus soldados, senhor – deixou claro Marxton. Ele encarava Percy levemente decepcionado. – Não serão machucados sem suas ordens – ele deu ênfase em “suas”.

Dern lhe olhou de soslaio.

— É fácil ter a tarefa mais simples, hã?

Edward Marxton respirou pesadamente.

— Cuido de todas as ameaças contra o rei e sua família, ao invés de matar inocentes nas estradas, Dern. Não esqueça.

— O senhor insinua... – começou Dern.

— Cuida tanto que o moço quase foi morto anteontem – recordou Arnold. Era um homem de seus trinta e sete anos, mas muito mais orgulhoso do que sua idade permitia.

— O Castellan pelo menos seguiu ordens – provocou Ryan, ansioso por ver sangue.

— Calem-se, tolos – a voz esganiçada de Fritz encerrou a discussão. Por enquanto. – Me dão enxaquecas.

Swart balançou a cabeça, pesaroso.

— Melhor decidirmos logo o que faremos com estes prisioneiros. Custam muito ao governo. Comem demais.

— Ah, por favor – meteu-se Edward. Ele julgava todos uns ignorantes – Eles têm direito a comer uma vez por dia, e isso por que o sacerdote Bernard implorou.

Fritz desdenhou virando a cabeça para o lado. Percy, que assistia a tudo entediado, riu da reação do velho. Parecia ter ciúmes do sacerdote mais jovem.

— E é o suficiente – cortou Dern. – São uns miseráveis. Se fossem bons, estariam livres fazendo seus trabalhos calados. Ou mortos – olhou sugestivamente para Percy.

Neste instante todos se calaram e fitaram-no. Percy inspirou longamente, mantendo a calma.

— Está certo, senhor Levad – começou. – E Dern também está. Não devemos manter estes semideuses presos. Devem estar livres para trabalhar.

Swart Levad não reagiu. Ficava feliz em saber que o dinheiro real não seria gasto com prisioneiros. Já Dern quase engasgou-se com o vinho que bebia. Fritz analisou Percy com olhos críticos.

— Senhor – começou o Castellan – está falando em manter vivos semideuses. Essas criaturas possuem poderes inimagináveis, talvez incontroláveis...

— Além de serem uma afronta – intrometeu-se Fritz. – Uma afronta terrível contra Deus e os homens.

— Talvez uma afronta contra os homens – corrigiu Percy. – Mas só uma morte carregada de sangue limpo seria uma afronta contra Deus.

Fritz arregalou os olhos. Ele raramente era confrontado daquela maneira. Sua palavra era sempre final. Ryan soltou um risinho. Dern respirava com raiva. Marxton sorriu. Ele detestava Dern Castellan.

— Além do mais – continuou Percy, impassível. – A menina me atacou sob um sentimento de amor pela irmã. Estava cega de vingança. Da mesma maneira que eu ordenei que todos fossem mortos, sedado pelo medo, ela tentou me matar, sedada pela tristeza. O fator diferencial aqui não foram os poderes sobrenaturais. Foram sentimentos. Nisso, não há diferença entre nós. Não há. Compreendem?

Os integrantes do conselho entreolharam-se. Dern se controlava para não esganar o príncipe ao seu lado. Fritz manteve-se quieto, fuzilando Percy com o olhar, o que aterrorizava o menino ainda mais do que se ele estivesse falando.

— Resumindo – falou Ryan, de cenho franzido – você permitirá que estes quatro trabalhem para o reino em troca de liberdade, para provar às pessoas que não nos farão mal.

Percy assentiu alegre. Ele queria acreditar que os semideuses honrariam essa chance. Ele a estava dando pensando em Natalie. Queria que, em algum lugar, ela não o odiasse mais.

Marxton colocou-se em pé.

— Muito bem, decisão tomada – ele disse, então sorriu para o príncipe. – Parabéns pela decisão, senhor. Prova que é maduro. Se me der licença...

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Percy foi o último a deixar a sala. Andou pelos longos corredores em direção ao quarto de seu pai. Queria vê-lo, contar o que fez, saber se ele se orgulharia. No caminho, Percy torcia para que ele estivesse ao menos acordado, que pudesse ouvir o que ele diria. No corredor, ao passar por uma das gigantes janelas do castelo, viu Rachel e Annabeth sentadas no peitoral, admirando o fim do pôr do sol.

Elas não perceberam sua presença. Percy observou Annabeth, imensamente grato por sua sabedoria. Uma jovem sabia muito mais que todo seu Conselho. Isso era, de certa forma, constrangedor, porém cômico. À todos aqueles homens estúpidos, ele preferia ouvir a menina.

Percy voltou a caminhar. Fritz então cortou seu caminho.

— Cuidado com suas decisões, jovenzinho. Muito cuidado – ele disse, passando pelo príncipe e indo embora.


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Notas finais do capítulo

Desculpem-me se não ficou muito bom, não sou muito romântica :p
Qualquer semelhança com A Guerra dos Tronos é pura coincidência, hahaha
É que algumas coisas são difíceis de explicar como funciona, aí recorro ao livro :)
Se alguém percebeu alguma coisa interessante no cap, NÃO CONTEM NO REVIEW
E não fiquem "Ah Annie, beija logo ele caramba", ela ainda tem que conquistar a confiança né rs
Tá, vou calar a boca.