Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 13
A Noiva Vermelha


Notas iniciais do capítulo

Muito bem... da última vez eu vim meio revoltada, mas passou kkkkkk
Hoje - surpreendentemente - não tenho algo legal pra dizer aqui.
Então, hã... aproveitem :)



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Derrubar o balde. Esse é o plano, pensou Annabeth, quando o príncipe a abordou. Então a noiva dele não ficará desconfiada.

O balde cai ao chão, espalhando água por todo o vestido dela e encharcando os pés de Percy. A ruiva está logo atrás. Annabeth não pode ser alvo de todo tipo de desconfiança.

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Horas atrás

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Annabeth acordou toda dolorida. Acordou? Não, ela se mantivera acordada a noite toda. Tremia, assustada e nervosa, até olhar-se no espelho e recordar-se quem era. Lembrar-se de seu nome, de sua linhagem e de sua missão, e de todos que dependiam dela. Ela formou uma concha com as mãos e jogou a água que havia na tigela em seu rosto. O corte da testa ardeu, e ela desejou que o sacerdote Bernard estivesse ali para tratá-lo.

A cama dura não permitia que o corpo relaxasse, e sua cabeça latejava. Os curativos que fizera pareciam não serem suficientes para todos os arranhões, cortes e hematomas. Annabeth jurara a si mesma que usaria a pequena quantidade de néctar que trouxera para quando realmente precisasse, mas a dor parecia não abandoná-la em nenhum segundo, e ela não teve escolha. Pegou o menor cantil dos três que trouxe e tomou.

Imediatamente, ela já pode respirar sem sentir dor nas costelas. Seus ferimentos pararam de sangrar, e ela sabia que, pela manhã, já estariam bem menores.

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Ela levantou-se da cama e foi em direção ao espelho quebrado que havia no quarto onde dormia. Os arranhões mais profundos ainda estavam lá, mas todos bem mais discretos. Dos menores, não havia sinal.

Annabeth respirou fundo. Teria de conviver com uma Fúr... quer dizer, Benevolente, que não lhe faria nada de bom. Fechou os olhos e pediu ajuda a Atena. Sua inteligência seria a única arma que teria. A não ser...

A adaga estava escondida no meio de suas roupas, enrolada em um couro cozido. Não, pensou Annabeth, mantendo as costas para onde estavam suas roupas e batendo a mão compulsivamente sobre a mesa de madeira. Ainda não.

Na cozinha, Taylor não falou com ela, mas mantinha olhos atentos a ela e sibilava toda vez que Annabeth a olhava de volta. Ninguém mais em roda parecia perceber. Quando uma das criadas desceu à cozinha e gritou por Taylor, todas as empregadas se entreolharam bastante tristes. Mary, a moça gorda que parecia ser a única a gostar dela ali, explicou:

– Querida, o rei está muito doente. Pelo menos, é o que Taylor nos diz toda vez que vai ajudá-lo. O príncipe Perseus deve assumir o trono em breve. É o desejo do Rei Paul.

Annabeth franziu o cenho.

– Taylor? Por que ela?

Mary apertou as mãos nervosamente no cabo da vassoura.

– Bem, ela já está aqui há bastante tempo, é de confiança. Sacerdote Bernard sempre a mantém por perto quando vem visitar o rei.

Os olhos de Annabeth estreitaram-se.

– Verdade?

– Sim, sim. Mas... Taylor é uma estúpida falsa – Mary disse com desprezo. Alguns poucos segundos depois, ela colocou a mão rechonchuda na bochecha rosada: - Ah, mas por favor, não diga que eu lhe falei isso, pelo amor de todos os deuses que existirem!

Annabeth sorriu para lhe passar confiança, mas não estava verdadeiramente alegre.

– Pode confiar em mim, Mary. Não lhe direi uma palavra.

Mary acenou feliz com a cabeça e voltou a varrer o chão. Annabeth olhou-se no reflexo da prata que polia. Seus cortes estavam lá, ardendo furiosamente, mas ela seria forte. Não poderia abusar do néctar nem da pouca ambrosia que trouxera.

Uma das empregadas pigarreou, e Annabeth voltou o rosto para ela, atenta:

– Menina, escute aqui – a mais forte falou rispidamente; uma das que lhe espancara na noite anterior: - não gosto de seguir ordens daquela magrela idiota, mas Taylor possui contatos maiores com os senhores do reino, e pode acabar com nossa reputação. Estou apenas lhe deixando este aviso. Ela pode arrancar a cabeça de todas nós apenas com palavras. Se ela quer que você fique longe do príncipe, não teime. Afaste-se.

Annabeth abria a boca para responder, quando uma mais baixa de voz esganiçada falou:

– E se está derretendo-se de amores por ele, perca as esperanças – ela disse de forma debochada, e todas as outras caíram em gargalhadas, mas Annabeth mantinha-se séria – Perseus está de casamento marcado com a princesa vermelha.

– Quem? – Annabeth soltou de repente, pois não estava informada de noivado nenhum.

A baixinha pareceu confusa.

– Não sabe?

– É claro que não, idiota – outra empregada de cabelos escuros e pele azeitonada retrucou. – Ela veio de outro povo, e ainda aquela menina sardenta cheia de si acha que seu casamento é uma grande coisa e fica fazendo mistério – a mulher, que cortava cenouras, parecia a mais inteligente entre elas.

– Pelo menos você a conhece – a mulher baixa devolveu, e então se voltou de novo para Annabeth. – Tudo sei é que é a filha do duque Bobofit, e que ela não mora aqui no reino. Fica fazendo de conta que é uma princesa muito importante e não diz seu nome para ninguém.

– Alguém devia avisar aquela menina de que ela é vista como uma metida imbecil por aqui – uma das criadas gritou, e todas as outras riram. Até Annabeth deu um pequeno sorriso.

– Como apenas uma de vocês a conhece?

– Ah, Claire é outra metida – a baixinha balançou a mão em desgosto.

– Cale essa boca, Ellen – Claire disse, atirando um pedaço de cenoura nela. A cenoura acertou o olho de Ellen, e as outras empregadas aplaudiram a boa mira. – Ela visita o príncipe todo fim de semana, ou melhor, vem lhe importunar todo fim de semana. A rainha lhe disse que eu guardaria seu segredo idiota, e ela me aceitou com a condição de não dizer nada sobre como ela é. Só na mente vazia daquela tola que eu irei seguir essas ordens infelizes.

– Então, ninguém sabe nada sobre ela? – Annabeth quis confirmar.

As criadas balançaram a cabeça. A mais bruta, a que iniciara a conversa, mandou todas voltarem a seus respectivos trabalhos. Quando Annabeth ficou sozinha no canto da cozinha polindo a prata, a mesma empregada se aproximou dela com um sorriso malicioso.

– Bom, já lhe avisei sobre Taylor e Ellen deixou bem claro as condições do príncipe Perseus de se aproximar de outra menina. Mas esse jeito de Claire falar sobre ela é pura inveja – ela segredou, e Annabeth fingia não estar interessada – Dizem que a menina é muito bonita. Alta, de corpo belo e rosto formoso. Seu cabelo vermelho é espesso e cacheado, e possui belos olhos verdes – a empregada continuava, tentando irritar Annabeth.

– Ótimo para o príncipe – ela respondeu, educada. – Espero que o casal seja muito feliz – Annabeth completou, mas algo em seu estômago formava um nó e a impedia de estar completamente feliz. Para evitar ser importunada ainda mais, deixou a mulher musculosa falando sozinha.

Annabeth percebeu quando Claire encarou séria a empregada grosseira, mas a mulher apenas pousou o indicador sobre os lábios e franziu as sobrancelhas. Um arrepio subiu pelas suas costas.

Lá fora, encarregou-se de buscar água no poço para os animais. Ela ainda preferia cuidar dos cavalos a conversar com suas “colegas de trabalho” na cozinha. Mas, para sua surpresa, ao aproximar-se da estrebaria, viu o príncipe correndo desesperado. As palavras de Taylor lhe vieram imediatamente à cabeça.

“cada vez que se aproximar de Perseus, ele sofrerá tanto quanto você.”

Annabeth se perguntou o que Taylor havia feito com ele. Seu coração partiu-se e ela se sentiu terrivelmente impotente, ali, machucada e segurando um estúpido balde de água.

Sentiu-se ainda pior ao ver que ele era seguido por uma moça muito bonita, de cabelos ruivos e figura notável. Só poderia ser a princesa.

Annabeth tentou voltar rapidamente para dentro da cozinha, mas o príncipe já havia avistado-a. Ele surgiu de repente diante de si, com um sorriso que em pouco tempo se desmanchou.

– Srta Chase? O que houve? Por que está tão ferida assim?

Ela olhou por cima do ombro do rapaz, e ao fundo a menina ruiva esperava em pé, como se não quisesse incomodá-los. Annabeth lembrou-se de como a futura rainha fora descrita por Claire e decidiu que não queria problemas com ela. Por mais estranho que isso soasse... Annabeth sabia que seu único dever era levar Percy até o acampamento e fim. O casamento dele já era outra história, a qual ela não pertencia.

Annabeth soltou os dedos da alça e o balde estatelou-se ao chão. Pensou que Percy não precisaria saber sobre Taylor, pelo menos, não por enquanto. Ele mal deve saber que é um semideus, e taxará Annabeth como louca se ela lhe disser quem a criada realmente é.

Assim que o balde caiu, a água espalhou-se por todos os cantos. Annabeth fingiu desespero ao pegá-lo de volta.

– Desculpe-me, mil vezes desculpe-me! – ela dizia com a voz falha. – Sou desastrada, me perdoe.

Percy parecia aturdido.

– Ah, está, está tudo bem – ele riu, como se a água pelas roupas não lhe fosse um problema, mas seu sorriso era frágil. – Deixe que eu pego o balde.

– Não! – Annabeth gritou, deixando-o confuso. Ela tentou retratar-se: - Quer dizer, veja – ela abaixou-se – já o peguei. Quanto aos ferimentos, eu... hã, tropecei. Mas estou ótima. Obrigada. Sinto muito pelo rei. Adeus – ela falou de modo automático, sem dar chance ao príncipe para responder. A menina ruiva estava mais perto, e cuidava os dois com atenção.

– Espere – pediu Percy. Annabeth suspirou.

– Sim, senhor?

Ele procurava as palavras.

– Hã, bem... gostaria que... ah...

– Precisa de mais alguma coisa? – pressionou ela.

Os ombros de Percy caíram.

– Não, nada. Desculpe. Pode... voltar... ao seu trabalho – ele disse, mas soou como se não fossem as palavras que ele queria dizer. Annabeth agradeceu com a cabeça e se afastou.

Ao olhar para trás, viu a menina ruiva encontrar-se com o príncipe. Então, Annabeth voltou para a cozinha.

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///////////

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– O que aconteceu? – pediu Rachel.

– Eu não sei – Percy encolheu os ombros. – Não lhe disse? Ela não fala comigo. Parece que tem medo.

– É óbvio que tenha um pouco de receio – ponderou Rachel, a sempre sábia Rachel.

Percy olhou ressentido para onde a menina loira havia ido.

– Acho que ela nunca falará comigo.

– Se ainda quer falar com ela, faça isso antes de casar-se com Nancy.

Percy rolou os olhos. A chata da Nancy, Rachel quis dizer. A tola da Nancy, a repugnante da Nancy.

– Cuidado, você não está guardando segredo – Percy brincou.

– Ah, é verdade, sou prima do príncipe e sei o nome verdadeiro da noiva dele, a futura rainha – Rachel falou, fingindo estar encantada. – mas ninguém pode saber que o nome dela é Nancy-Cara-de-Traseiro.

Percy e Rachel riram até ficarem vermelhos. Esse era o apelido que Rachel lhe dera, e ela o dizia sempre que o primo entristecia-se. Poderia repeti-lo a tarde toda, e ambos ririam cada vez que o ouvissem.

Mas o clima no mundo de Percy ainda estava escuro, por isso, quando cessaram as risadas, ele voltou a calar-se. Tudo que ele queria era que o tempo estacionasse. Então seu casamento jamais chegaria. Seu pai jamais morreria. Ele jamais seria rei. Nada seria melhor do que isso.

– Percy, desculpe-me por isso – disse cautelosamente Rachel – mas ainda temos o baile de apresentação de seus vassalos.

O menino ergueu olhos assustados.

– Oh, não – ele resmungou. – Não farei isso. Papai não poderá estar lá. Esqueça.

– Mas é necessário – reforçou Rachel, o mais doce que podia – precisa fazer isso para homenageá-los. Ou prefere ter todos como seus inimigos?

Ela estava certa.

– Quando será?

– Amanhã à noite.

– Já?

– Infelizmente.

Percy esfregou os olhos com a ponta dos dedos.

– Terei de ir sozinho.

– Ou... – começou Rachel. – Posso acompanhá-lo – ela sorriu.

– Iria junto?

– Ora, mas é claro!

– Você odeia ir a bailes como alguém da realeza – lembrou Percy.

– Sim, é verdade – ela concordou. – É tedioso sentar naquelas mesas enormes e fazer-se de “bela senhora” para com todos aqueles donos de narizes empinados, mas você precisa de mim.

– Então, não se atrase – Percy sorriu como forma de agradecimento.

Ela riu, e ambos caminharam em direção ao castelo.

– Não se preocupe, tolinho, de ficar sem sua noiva ruivosa – ela falou. – Eu também tenho cabelos vermelhos, mas talvez você ainda prefira Nancy...

– Céus, não – brincou Percy, tentando esquecer a dor, mas não conseguia de fato. – Só certifique-se de que ninguém a confundirá com Nancy.

– Ninguém seria tão burro assim – ela sorriu.




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Notas finais do capítulo

Acho que todo mundo já sacou o que vai acontecer no próximo capítulo, certo?
Besos :)