- Não houve nada! - respondi um pouco tensa.

- Ah, "nada" acontece quando eu não estou perto de você, Bells.

- Você esta insinuando que a minha vida é sem graça?

- Eu não disse isso! - ele ergueu os braços tentando se passar de inocente.

- Abobrinhas - murmurei a senha para a mulher gorda - Sirius, foi muito bom nosso treino e tudo mais...

- Ah, não tente mudar de assunto. - disse me arrastando até as poltronas. Me sentei meio desconfortável.

- Já disse que não foi nada, ele só disse as baboseiras de sempre.

- Mas isso já aconteceu umas quatro vezes, Bells. E ele falou as idiotices dele e mesmo assim vocês continuaram se falando normalmente. - ele parou pra respirar e prosseguiu - mas agora vocês dois parecem dois estranhos. Não se falam, não se olham...

- Sirius, você está imaginando coisas. - eu falei tentando ir embora.

- Tudo bem, já que você disse que não houve nada... - ele se levantou e foi em direção a uma parte do salão comunal que eu não tinha reparado.

Sorri e fui andando de fininho até a escada que dava para o dormitório feminino. Estava já dando o primeiro passo na escada quando senti agarrarem meu braço.

- Aqui está! - disse o cachorro sorrindo enquanto segurava Remo pela blusa. - Já que está tudo bem entre vocês, por que não se abraçam?

Olhei para Sirius com uma cara indignada e ele me olhou sorrindo maleficamente.

- Não preciso provar nada a ninguém - eu disse me virando para subir as escadas, mas ele me puxou novamente.

- Então os senhores vão me contar o que houve.

- Cachorro insuportável. - sussurrei.

- Hey, eu ouvi isso!

- Ainda bem, né? Porque assim você se toca.

- Ai Bells, que mal humor. - Disse Sirius sorrindo - sabe o que é isso?

Revirei os olhos e bufei como resposta. Fiquei olhando para a lareira evitando encarar os dois em quanto Sirius esperava minha resposta ainda com um sorriso no rosto. Olhei para ele e ele ergueu as duas sobrancelhas.

- O que, imbecil?

- É porque você está na seca.

- O que? - perguntei incrédula. Remo começou a tossir.

- É, sem pegar ninguém, sabe? - ele falou ainda sorrindo, porém lançando olhares preocupados para Remo que ainda tossia. Ele começou a dar tapinhas nas costas dele para ajudar.

Se a situação não fosse crítica eu estaria rindo. Imagine só a cena: Um garoto alto de cabelo até os ombros, negros e ondulados sorrindo maliciosamente e olhando preocupado para o amigo de cabelo castanho e olhos cor de chocolate e tão alto quanto o moreno que tossia sem mais nem menos por ter escutado que a garota de cabelos escuros, baixinha e com olhos castanho-esverdeados que até um momento era, ou é amiga deles dois, estava na seca quando ela havia beijado ele há pouco tempo.

Ok isso foi bem confuso. Fazer o que? A vida é confusa.

- Aluado, você esta me assustando. - disse Sirius balançando pelos ombros Remo que já estava quase roxo de tanto tossir - PARA DE BRINCAR, CARA!

- Eu acho que engoli um inseto - disse Remo entre a tosse.

Ok, eu não posso rir agora. Não numa situação tão tensa como essa.

Ele parou de tossir depois de um tempo e Sirius, aliviado, continuou:

- Então, Bells, não acha que precisa beijar alguém de vez em quando? Sabe, melhora o humor das pessoas...

- Deve ser por isso que está sempre de bom humor - eu disse irônica - Agora será que pode me dar licença? Eu tenho que... Hum... Falar com a Lily, é. Isso aí, tchau, vão pela sombra...

Comecei a subir a escada o mais rápido que pude, até o momento em que Sirius não pudesse mais me alcançar. Pude ouvi-lo gritando:

- Você não pode adiar essa conversa pra sempre! Eu vou descobrir o que aconteceu logo logo!

E o pior é que eu sei que ele vai. Sirius Black sempre descobre as coisas antes de todos, é só uma questão de tempo até ele ligar os pontos ou fazer Remo confessar.

- O que foi, Bells? Porque demorou tanto? - Lily perguntou quando eu entrei.

- Sirius me atrasou lá embaixo - respondi - Lily, se importa se eu dormir agora? Estou exausta.

E eu realmente estava. Só agora que o cansaço do árduo treino de Quadribol chegou, e só o que eu queria era me jogar na minha cama e dormir até amanhã à noite.

- Tudo bem... Você viu a Dorcas? - ela perguntou se levantando

- Não, porque? Você vai me trocar por ela também? - elevei meu tom de voz - Ela é melhor que eu, não é? Inteligente, doce, responsável... Ela é o tipo de garota exemplar. Não me admira que todos a achem melhor do que eu.

- Enlouqueceu, Isabelle? - ela perguntou - ela está com meu livro de Transfiguração, e eu o quero de volta. Você tá bem?

- Eu... - senti minhas bochechas queimarem de vergonha - Eu não sei, eu tô cansada agora, Lily. Serio, vou dormir. Boa noite. - fechei os olhos.

Só ouvi ela murmurar "Boa Noite" e "Eu hein, eu tenho certeza que ela enlouqueceu" e a porta do dormitório fechando.

O que tá acontecendo comigo? Eu nunca odiei a Dorcas. Ela e a Marlenne sempre foram minhas amigas, e agora eu sinto ódio toda vez que ouço o nome dela. O que deu em mim? Eu azarei ela!

Será que eu sofro de alguma doença cerebral? Será que aquela prateleira de fato afetou meu cérebro? Por que eu sinto que isso tem a ver com o fato de que o Remo olha pra ela constantemente?

Adormeci com esses pensamentos rondando minha cabeça.

***

- James, para! Se eu não eu vou te jogar da torre de astronomia. - eu falei dando um tapa na cabeça dele.

- É hoje, é hoje, é hoje. - ele dizia pulando e ignorando completamente o meu tapa.

- Eu sei que é hoje, James. Agora fica quieto, cara.

- Não consigo! - ele sorriu e andou todo serelepe pela sala comunal - Cadê o aluado, em? Cadê? Cadê? Cadê? Cadê?

- Estou aqui. - disse Remo descendo as escadas. Ai meu Deus, ele está tão lindo!

Tive que me segurar para não suspirar. Ai, eu tenho que parar de ser tão sentimental. Tenho que parar de olhar para esse idiota, tenho que parar de pensar nele, suspirar por ele, desejar ele, chorar por ele e amar ele.

- Ótimo! Ótimo! Ótimo - James falou pulando.

- Por que ele está desse jeito? - Remo perguntou.

- Está animado para sair com a Evans. - disse Peter surgindo de só Merlin sabe onde.

- Animado é pouco! - falei saindo do salão comunal - esse veado está louco já! Fica pulando aí todo serelepe pelos cantos.

- É cervo, Isabelle.

- Ah nossa! Ele falou meu nome. Oh Deus, o que será de mim agora? - ironizei e vi Sirius revirar os olhos e Remo dar um sorrisinho de lado que quase me fez cair para trás. Ok eu não cai para trás, mas acabei esbarrando em alguém, ou melhor, em algo.

- Olha para onde anda, Potter. - falou Snape com aquele tom de "sou perigoso".

- Ranhoso - eu sorri diabólica - como vai? Fugindo do shampoo?

Escutei as risadas de Sirius e James. Peter soltou um guincho, era a risada dele. Ai Ai esse aí tá cada vez mais parecido com um rato.

- Saia da minha frente, Potter. - sibilou Snape querendo passar.

- E por que eu deveria?

Escutei ele rosnar. Estranho. Embora seja comum para alguém irracional como ele.

- Você vai se arrepender, Potter. Vai se arrepender.

- Uuh, que medo hein Ranhoso? O que você vai fazer? Balançar os cabelos e me encher de óleo? Eu tomo banho, diferente de você.

Eu apenas sorria mais e mais. Brincar com o ranhoso é tão divertido! Senti falta disso.

Bells, deixe ele passar. É melhor evitar confusões. - adivinha? Ele mesmo: Remo Lupin. Às vezes essa alma certinha dele me irrita.

- E desde quando você sabe qual é o melhor? - eu me virei o olhando com raiva. Os comparsas cachorro e veado franziram a testa. Remo olhou para a parede e suspirou.

Me virei novamente para o Snape e o mesmo tinha um sorrisinho nojento nos lábios.

- Tá rindo de que em, ranhoso?

- Parece que há algo de errado com sua trupe em, Potter? - ele falou agora olhando para James.

- Não tem nada de errado com ninguém. - disse James emburrado - Só se esse alguém for você. Porque se for... Bem, o que será que não tem de errado em você é a questão, não é?

Essa foi a minha vez de rir. Olhei para Sirius que ria também. Peter? Nem preciso falar nada não é? Ria feito uma hiena.

- Desprezíveis vocês dois, gêmeos Potter traidores de sangue imundos junto com esse Black deserdado e o lobisomem. - ele sussurrava tamanho o seu ódio.

- Quem você pensa que é para falar assim do meu irmão e dos meus amigos? - eu perguntei com raiva.

- Bells é melhor a gente ir, o café da manhã já esta quase acabando. - disse Remo me olhando preocupado. Café da Manhã? E desde quando ele de quando ele se importa com isso? Que eu saiba o esfomeado aqui é o Peter. Aposto que ele quer ver a Meadowes logo e ficar admirando a fofura dela.

- Você não sabe o que é o melhor para mim - eu disse sentindo os meus olhos marejarem. Virei de frente para o Ranhoso que sorria vendo "a briga" e eu apenas o empurrei com força enquanto passava.

Eu não iria a Hogsmeade. Sirius vai com uma garota aí que eu não me dei ao trabalho de lembrar o nome, James com Lily e Lily, bom, com James. Ri só imaginando esse encontro, e tentando esquecer o choro entalado na minha garganta. Vai ver se eu comer passa.

Não iria com a Meadowes porque tenho nojo de olhar para ela e Marlenne. Nossa, Isabelle. Que violência. Cala a boca consciência. Me deixa ser violenta.

Sentei-me à mesa da Grifinória colocando comida no prato sem nem ver o que eu estava pegando, quem se importa afinal? Comida é comida. Comecei a pensar de novo.

Geralmente eu ia a Hogsmeade, bem, com o Remo. O choro voltou, que ótimo. Provavelmente ele vai ficar estudando e sendo nerd como ele sempre faz. Mas quem liga pra ele?

Eu, pensei.

Lily chegou no salão atrasada, logo depois de James, Sirius, Remo e Peter, que haviam acabado de se sentar. Opa, a Lily atrasada? Aí tem coisa.

- Lily! Você chegou! Pensei que não viria! - James falou tudo de uma vez quando ela se sentou.

- Hum, é, eu estou aqui, então...

- Ela veio! Tá vendo só, Almofadinhas? Ela veio, ela veio! Três galeões.

- Não liga não, esse tá sendo só o dia mais feliz da vida dele. E também não liga pra a aposta, eles fazem isso o tempo todo, você sabe. Ele anda todo serelepe aí. - murmurei para Lily que riu nervosa. - O que foi?

- Nada.

- E esse seu risinho aí?

- Que riso? Não sei do que você esta falando. - ela voltou à postura séria de sempre. Um dia Lily sai da fase de negação!

- Primeira aposta que eu ganho no ano! Acho que vou dar uma festa. - James exclamava alegre e Sirius cruzou os braços emburrado.

Já estava quase terminando de comer, levantei e fui ao dormitório, sem falar com ninguém além de Lily e James, desejando boa sorte. Lembrei Frank do nosso treino mais tarde quando ele saía do Salão Comunal com Alice e não fiquei pra me despedir do pessoal que ia a Hogsmeade.

Me larguei na poltrona. Ninguém no salão comunal. Finalmente sozinha.

Então, opções: Dormir, treinar Quadribol, fazer deveres, chorar ou pular pelos cantos?

Eliminando pular pelos cantos de imediato. Que tipo de perda de tempo é essa?

Pra que chorar? Eu já chorei demais.

Hum... Não tô afim de fazer deveres agora.

Não posso treinar Quadribol sozinha, e todos os capazes de me treinar estão em Hogsmeade. Cortando Quadribol da lista.

Eu não tô com sono suficiente pra dormir... Ótimo, vou passar meu final de semana em Hogsmeade pulando pelos cantos! É melhor que fazer deveres.

Fiquei olhando para o teto por um bom tempo, até ouvir algo bater na janela e ver uma coruja batendo o bico na mesma. Ah, era só a Ártemis. A coruja da minha família.

O nome vem da sua penugem, que é de um cinza tão brilhante que é quase prateada. E Ártemis da mitologia grega é a deusa da lua, então...

Abri a janela e ela se empoleirou no braço de uma cadeira.

- Oi Ártemis! O que você trouxe pra mim hoje? - perguntei a ela retirando a carta amarrada em sua perna esquerda - Desculpe, não tenho nada aqui agora... - falei tateando os bolsos. - Me desculpa mesmo, só na próxima.

Ela soltou um pio em reclamação e saiu voando pela janela. Uma figura, essa coruja.

Observei a carta e reconheci a caligrafia do papai do lado de fora, com os dizeres "James e Isabelle". Ah, e daí se era pro James também? Eu tô sem nada pra fazer. Abri a carta.

James e Isabelle,

Como vai o 7º ano? Estudando bastante?

Ah, a quem eu quero enganar?

Devo dizer que estou desapontado com vocês. Até agora não recebi uma carta do Dumbledore ou da Minnie reclamando sobre vocês dois. Diferente da mãe de vocês que esta orgulhosa. Coitada... Acha que o Remo deu um trato em vocês dois!

Por falar na mãe de vocês, eu mandei essa carta para dizer que a mãe de vocês está no St. Mungus. Não precisam se preocupar, ela está bem. Ah não vou iludi-los. Vocês já tem dezessete anos e já são bem maduros - mesmo com o James e Sirius explodindo o banheiro da Bells em todos os verões - para entender que a mãe vocês está doente e é grave.

Os curandeiros não sabem o que é que ela tem, mas o estado dela é instável. Ou seja, ela não piora e nem melhora. Mas eu peço a vocês que não se preocupem com isso. Os curandeiros do St. Mungus são competentes demais e eles vão descobrir e achar uma cura. Certo? Vocês vão continuar a "estudar" ai em Hogwarts e não quero que venham para cá porque não há necessidade.

Só fiz essa carta porque ela pediu. Mas ela diz que vocês não podem parar os estudos por causa disso. Então, ela quem manda.

Charlus sedutor Potter.

Minha mãe? Ela esta doente? Ah meu Deus! Merlin, meu pai é um cara de 60 anos com mentalidade de 15.

Bells?

Me virei e vi Remo parado com uns livros na mão. Revirei os olhos e me virei novamente o ignorando. Ele suspirou e se aproximou de mim. Dobrei a carta e guardei no bolso da minha saia. Direcionei-me para as escadas para ir embora mas ele segurou meu braço.

- Espera! - ele disse me virando para ele. Droga de garoto, por que tem que ser tão lindo? - nós precisamos conversar.

- Eu não tenho nada para conversar com você!

- Você tem que entender, Bells. - ele falou me olhando com aqueles olhos cor de mel que tiravam meu fôlego. Safado! Ele sabe o quanto seus olhos são meu ponto fraco.

- Isabelle para você. - disse tentando parecer com raiva. - e tire sua mão do meu braço! - ele ficou mais um tempo me olhando e tirou.

- Você tem que entender, Isabelle, que aquilo não podia ter acontecido!

- E por que não? - perguntei um pouco mais calma.

- Porque eu sou um lobisomem! - disse como se fosse óbvio - e isso é perigoso, não só...

- Mas, isso não te impede de gostar de mim, não é?

... OI OI OI