— Ah, onde foi parar meu pobre coração? Abandonou-me por um feitiço... — cantarolei uma parte da música "Seu feitiço arrancou meu coração" da Celestina Warbeck. Que música irritante, eu odeio ela! Odeio.

— Impressão minha ou você esta triste, minha rosa? — ouvi aquela voz extremamente irritante dele falar. Respirei fundo na tentativa de me acalmar e virei-me com um sorriso falso.

— Olá, Edgar — ele sorriu e eu o praguejei mentalmente por ser tão irritante — É só impressão sua mesmo, não precisa se preocupar.

— Que bom então, rosa...

Por que diabos ele me chama de rosa? Será que ele não sabe que meu nome é Isabelle? Por Merlin, que cara chato.

— Meu nome é Isabelle.

— Disso eu sei — ele falou dando uma risadinha que fez minhas mãos clamarem por um murro no meio do seu nariz — É que como você adora rosas...

— Tá aí, Scamander. Eu odei...

— Diz ai, irmã mais linda do mundo e... — James chegou me abraçando e olhou avaliativo para Edgar, continuando — Cara estranhamente irritante da Corvinal! Sobre o que falam?

— Nada — me apressei em dizer.

— É-é, n-nada! — Scamander gaguejou olhando para James, engolindo em seco, e saiu tão rápido que parecia correr.

James caiu na risada e murmurou "Que otário". James não tem uma fama muito boa quando o assunto é "namorados da irmã". Fazer o quê? Irmão possessivo e ciumento!

Ri com ele até que vi a Meadowes passando quase saltitando de pura felicidade. Ou talvez ela gostasse mesmo de saltitar... Vai saber, é cada gente louca. Quem sabe ela não fica menos irritante se...

Opa! Eu prometi para a Lily. Olhei em volta e não vi muita gente no corredor.

O que Lily não vê... Lily não sente!

— James — chamei-o.

— Quê?

— Quer ver uma coisa engraçada? — sussurrei sorrindo e ele assentiu com os olhos castanho-esverdeados brilhando.

Puxei-o para um canto e apontei a varinha discretamente para a irritante garota que andava saltitando dando sorrisinhos a todos, exalando fofura enquanto balançava os cabelos de um lado pra outro, e sussurrei:

— Trip Jinx.

Se o problema era que ela estava me irritando porque saltitava alegremente, esse problema foi resolvido, porque minha azaração funcionou perfeitamente bem – em questão de segundos, Meadowes tropeçou milagrosamente nos próprios pés e caiu de cara no chão. Não consegui segurar a risada e pareceu que as pessoas que estavam passando pelo corredor também não.

A irritante se levantou apressada enquanto ajeitava os cabelos e corava furiosamente. Ela apanhou os livros e mencionou olhar para trás, o que me fez apressar em puxar James pela blusa. Não quero que ela saiba que fui eu.

— Ah, Merlin — falou James entre as risadas — Você viu a cara dela?

— Vi — falei quase morrendo de tanto rir. Começamos a caminhar até o salão principal para o jantar — Quem manda ser tão irritante?

— Amendoada está de volta — ele sorriu me abraçando. Agora percebi que nem Sirius, nem Remus e nem Peter estavam com ele. Estranho.

— Como assim "a amendoada está de volta"?

Viramos assustados. Ah, era só o outro idiota.

— Ah — disse James voltando a rir — A Bells azarou a amiguinha da McKinnon.

— A Meadowes? Foi você? — Sirius me perguntou surpreso. Assenti mordendo os lábios tentando abafar minha risada — Ah, genial! — ele exclamou rindo — Viu como ela saiu? Quase tão vermelha quanto a Bells quando recebe um elogio do Aluado.

— Quer parar, Sirius Orion Black? — falei irritada. Ele sorriu e levantou as mãos.

— Nossa, ela me chamou pelo nome completo! Que intimidador.

Ele e James riram enquanto eu revirava os olhos. Que babacas.

Sentamo-nos à mesa retangular e enorme da Grifinória na qual Remus não estava.

— Ué, Peter — falei franzindo a testa. Ele parou de degustar as coxas de frango e me olhou — Cadê o Aluado?

— Luma Cheina — ele falou de boca cheia apontando para a direção da mesa da Sonserina.

Luma Cheina? Quem é essa tal de Luma Cheina? Deve ser uma vadia, tenho certeza, olha só, ela é da Sonserina! Aposto que é aquela ali. Loira azeda, oxigenada, olha só pra ela! Ela exala arrogância, repugnância e vulgaridade.

— Luma Cheina? — foi só o que eu consegui dizer. Peter sorriu de boca fechada balançando a cabeça negativamente e fez um sinal de "espera" com a mão enquanto mastigava — Desembucha!

— Ah... calma, calma — ele engoliu e falou — Quis dizer lua cheia, olhe só — e apontou para a janela do lado da mesa da Sonserina, bem atrás da garota loira, onde o céu estava quase escurecendo. Senti minhas bochechas esquentarem. Ah meu Deus, ele quis dizer lua cheia e não Luma Cheina... que vergonha.

— Merlin! — exclamou Sirius botando a mão na cabeça — Temos que nos apressar, a transformação é em alguns minutos.

E então saiu puxando James e Peter pelo colarinho das vestes sob os protestos do mais baixo, que guinchava indignado pela comida. Saí apressada atrás deles, ignorando os olhares de curiosidade e a minha vergonha. Corremos até a torre da Grifinória, dissemos a senha para a Mulher Gorda e James subiu apressado para pegar a capa – que eu queria muito ser dona – e cobriu Sirius.

— Olha, não dá para cobrir nós quatro, então vai ser o esquema de sempre — ele começou.

— Você leva Sirius embaixo da capa, que por sinal deveria ser minha — acrescentei com raiva e James revirou os olhos — Peter se transforma num rato e se enfia aí embaixo também, e então você os leva para a casa dos gritos e depois volta para me pegar, nós vamos nos encontrar com o Aluado e o acompanhamos com o "probleminha peludo" dele.

— Isso — ele falou sorrindo.

Peter rapidamente assumiu sua forma animaga e se enfiou embaixo da capa junto com os dois patetas. Eles sumiram e depois só vi o quadro da Mulher Gorda se afastar. Agora é só esperar pelo veado.

Já haviam se passado vinte minutos e nada daquele retardado voltar. Essa é a desvantagem de sempre ficar pra trás. Será que aconteceu alguma coisa?

Ah, eu devia estar me preocupando à toa. O James sempre demora pra tudo mesmo... e lá vinha o veado. Ou talvez algum aluno que saiu mais cedo do jantar. Ou talvez a Mulher Gorda só queira dar uma remexida nas juntas... rá, eu sou hilária.

James entrou sem a capa e com um leve arranhão no queixo, o que significava que Remus já estava transformado, ou talvez que ele tinha uma péssima coordenação motora e havia tropeçado. São tantas opções...

— Vai, anda logo — ele olhou para os lados e viu que não havia ninguém no Salão Comunal, tirou a capa de dentro das vestes e jogou-a sobre nós dois.

— Ele já...? — perguntei com um sussurro.

— Já, anda logo, vai, vai, vai — ele empurrou o quadro e nós passamos de uma vez.

— Quem está aí? — a Mulher Gorda perguntou não vendo ninguém.

Eu e James a ignoramos e seguimos para os portões do castelo. Já estava transformada quando James colocou a capa dentro do mesmo arbusto em que ele sempre a esconde e vimos a forma animaga de Sirius nos esperando na entrada do túnel do Salgueiro Lutador. Ele pressionou o nó e eu fui à frente de James, passando pela abertura e já ouvindo os uivos do Aluado.

Isso não era justo com ele. Por que logo ele? Uma pessoa tão doce e esforçada. Para mim, de todos no mundo, ele era quem menos merecia isso. Ninguém merecia isso.

Entrei no quarto em que geralmente Remus ficava e James entrou atrás de mim, fechando a porta com um empurrão. Encolhi-me quando vi o estado dele, todo arranhado pelas próprias garras. Quando se isola um lobisomem, a ausência de algo para destruir torna-o completamente masoquista, ferindo-se sem cessar. Mas aquilo costumava passar logo... Ou pelo menos assim esperávamos.

Ele só costumava ficar mais estressado quando acabava de se transformar, depois saímos por aí perambulando mais tarde, mas Remus não gostava muito disso, sempre achou perigoso, mas, como sempre, Sirius e James não dão ouvidos e Peter não tem opinião própria.

Estava perdida em meus pensamentos deitada embaixo da cama quando me toquei que a situação saía do controle. Sirius havia mordido a perna de Remus, sabe-se lá o porquê, pelo que eu entendi. Mas ele estava furioso. Não vi Peter, devia estar se escondendo em algum buraco. Sempre que a situação fugia do controle ele se escondia, era patético.

James tentava tirar ele de cima de Sirius, que olhava pra mim com súplica, então eu finalmente me levantei e corri até onde eles estavam.

Alguma coisa me atingiu na cabeça e eu voei pra trás, por sorte caindo na cama. Vi James começando a ficar irritado, ele odeia quando alguma coisa acontece comigo.

Bom, sendo um coiote e muito menor que a forma lobisomem de Remus, só o que eu tinha a fazer até ele se acalmar era tentar distraí-lo para que Sirius e James pudessem fazer alguma coisa. Comecei a ficar na frente dele e me esquivando das suas investidas até que ele se cansasse e algum dos dois patetas pudesse imobilizá-lo ou algo do tipo.

De repente fui atirada com força na direção de uma enorme estante vazia. Caí no chão sentindo uma dor agonizante nas costas, que haviam batido numa das prateleiras.

Vi Sirius me olhando aflito e latindo para algo atrás de mim. Virei lentamente, sentindo minhas costas queimarem com a dor. A estante tinha se desequilibrado e estava caindo.

Tentei me levantar, sem sucesso, e comecei a me arrastar para longe dela, mas não a tempo – ela caiu com tudo na minha pata dianteira esquerda e eu soltei um ganido de dor. Um pedaço dela se soltou e atingiu a minha cabeça, e a imagem de James furioso foi a última coisa que vi antes de apagar.