Tudo bem, eu confesso: demorou um tempinho até que eu conseguisse dormir noite passada. Eu simplesmente não conseguia tirar aquilo da minha cabeça.

Vá em frente, pode me chamar de safada. Sou mesmo, e aí?

Desci as escadas olhando para os meus pés quando no último degrau eu tropecei e bati em alguém. Ótimo! Já começo o meu dia batendo nas pessoas.

– Uou, calma aí!

– Vai pra merda, Sirius! - revirei os olhos - para onde estava indo?

– Chamar você para o café da manhã.

– Ótimo, então vamos porque eu tô com fome!

– E quando você não está?

Balancei a cabeça negativamente e empurrei-o até a sala de jantar. Que estranho: vamos tomar café na sala de jantar! Hahaha... Ai, eu tô muito idiota!

– Bom dia princesinha!

– Bom dia pai. - falei dando um beijo na sua testa e fui me sentar ao lado de James - Bom dia Loren - falei contra a minha vontade e ela me devolveu um sorriso amarelo.

– Filha, e os seus convidados? E o James?

– Quê? - olhei para ele confusa - esses inúteis? - apontei para eles - não merecem ser cumprimentados!

Meu pai riu balançando a cabeça negativamente e eu fui me servir. Passado um tempinho, eu estava na metade do meu prato quando olhei para Loren e consequentemente para Christian. Ele estava sorrindo maliciosamente para mim e para Remo, que estava na minha frente.

Na mesma hora eu me senti envergonhada. Aquilo ontem...

Eu devo ter algum problema mental, porque eu olhei para Remo. E eu sabia exatamente que o que aconteceu ia acontecer. E que depois viriam as consequências.

Eu senti meu rosto queimar muito, pois ele olhava para mim também e ele parecia meio sem graça, eu não sei. Desviei meu olhar para Sirius e o mesmo tinha os olhos cerrados e nos olhava acusadoramente.

Voltei minha atenção para o prato e voltei a comer. Depois me levantei e sai rápido e subindo as escadas correndo. Merlin! Por que eu estou com tanta vergonha?

Argh! Maldito! Por que ele tem que ser tão irresistível? E porque o Christian tem que ser tão idiota e curioso? E o Sirius tão perceptivo? E porque eu tenho que viver cercada dessa gente?

Malditos!

Respirei fundo e abri a porta do meu quarto, mas algo me impediu de entrar.

– O que foi, Sirius? - perguntei receosa. Boa coisa não é! Se você considerar que está vindo dele...

– Eu vi, ok? - ele me puxou para dentro do meu quarto e fechou a porta - algo muito estranho aconteceu entre vocês dois.

– "Vocês dois" quem? - perguntei me fazendo de desentendida. Ele bufou e sentou na cama.

– Você e o gay Lupin!

– Primeiro: não sei do que está falando, e segundo: Só há um veado nessa casa... E não se anime que eu não estou falando de você... É o James!

Ele olhou para mim sério e passou a mão pelos cabelos em um ato de irritação.

– Não se faça de desentendida! - exclamou irritado - Eu vi vocês dois trocando olhares e ficando vermelhos. Então eu deduzi que só pode ter acontecido algo ontem para que vocês sintam vergonha um do outro.

Por essa eu não esperava. Certo, eu esperava. Mas eu estava bem mais feliz me iludindo com a ideia de que Sirius pelo menos uma vez na vida não fosse sagaz.

Eu ia responder mas a porta bateu e eu fui lá abri-la.

– Ah, o-oi Remo...

– Boa hora amigão! - falou Sirius se levantando e puxando Remo pelos ombros para a cama. E então contou sua teoria para Remo que ficou atento a cada palavra do que ele dissera e por incrível que pareça ele não corou, diferente de mim que já sentia minha face queimar só de lembrar...

– Cara, você está louco! Não houve nada que não seja absolutamente normal entre dois adolescentes de 17 anos...

– Eu sei, até por que sexo é algo absolutamente normal entre adolescentes...

Comecei a tossir. Sim: eu me engasguei com o ar. Isso está se tornando mais constante.

Sexo? Quê? Não! Isso é... Um absurdo. Mas se não teve nada disso, então por que eu reagi assim?

– ... Principalmente entre casais como vocês dois que se passam de santinhos, quer dizer, só o Remo porque a Bells...

– Sirius! - exclamei escondendo meu rosto com as mãos. Ele mantinha a expressão normal. Como se ele estivesse falando fossem coisas normais.

– Não é isso que você está pensando... - Remo tentou falar, mas ele usou a maldita frase. Maldita!

– Agora eu sei o que houve! - ele sorriu me olhando. - Já conseguiu leva-lo para o mau caminho, é?

– Argh! Sirius! Não houve nada ok? - falei irritada.

– Como não? Vocês estão muito estranhos. Coisas aconteceram, Eu posso sentir!

– Tá! Confesso! Não foram simples beijos, mas... - Remo disse parecendo cansado.

– AHA! - Sirius gritou se levantando e apontando para ele. - Eu sabia!

– Remo! - falei incrédula.

– Quê?

– Não acredito - disse massageando minhas têmporas - Sirius, não foi nada demais, mas você não tem nada a ver com a nossa vida, então porque ainda está aqui?

Ele não respondeu, mas continuou sorrindo irritante para mim.

– Fora do meu quarto! - falei fuzilando Sirius com o olhar - Agora! - ele ergueu as mãos sendo dramático como sempre e não saiu sem antes falar:

– Se quiserem continuar o que não foi terminado, usem o Abaffiato...

E depois desviou de um travesseiro que eu joguei contra ele. Olhei zangada para Remo cruzando os braços e com o pé batendo nervosamente no chão. Ele não me encarava, mas sim a porta atrás de mim.

– Não devia ter feito isso!

– Eu sinto muito!

– Eu também sinto! Sinto muita raiva. - falei tentando me acalmar - Como você pode ser tão idiota ao ponto de deixar isso passar, hein? Isso é pessoal, Remo. É nosso e não temos que dar satisfação a ninguém, muito menos àquele cachorro.

– Eu sei, mas ele estava me pressionando, e você sabe como eu fico quando sou pressionado. O que você queria que eu fizesse?

– Que tivesse mantido essa droga de boca calada! - disse com raiva e olhando para o lado frustrada.

Vi ele se levantar e respirar fundo, chegou perto de mim e passou os dedos pela minha bochecha. Por um momento toda minha raiva e frustração havia passado. Reuni todas as minhas forças e o olhei nos olhos dele:

– Isso não vai funcionar. Não comigo!

– O quê?

– Isso! - Tirei a mão dele do meu rosto.

– Você está muito estressada. Tem que se acalmar!

– Não preciso de você para me dizer isso. - falei virando de costas para ele e indo em direção à porta.

– Ah, espera! - ele correu e me impediu de abrir a porta - Não vai ficar com raiva de mim, vai?

– Vou.

Tentei abrir de novo mas ele continuava me impedindo de abrir.

– Me deixe sair, Lupin!

– Você só me chama assim quando está com raiva...

– É porque eu estou, seu demente! - falei irritada tentando inutilmente abrir a porta. - Eu quero sair!

– E eu quero que você me perdoe.

Encarei seu rosto serio e suspirei. Tenho que resistir, resista, resista. Ele tirou a mão da porta e botou junto à outra nos dois bolsos da calça. Deixando-me livre para Sair. Não consigo resistir, não consigo resistir, não consigo.

Girei a maçaneta e sai do quarto me sentindo uma idiota e vencedora ao mesmo tempo, idiota por ser idiota e vencedora por conseguir resistir. Certo, eu sou muito mais idiota.

– Ei! - ele exclamou me chamando.

– O que é? - mal tinha me virado e quando vi estava encostada na parede com Remo me prensando contra a parede. Ok, ele estava me beijando.

Isso me pegou de surpresa, até porque eu estava de olhos abertos ainda. Fechei os olhos quando dei por mim e o puxei pela nuca, suas mãos apertando minha cintura, talvez com medo de que eu tentasse fugir de novo. Mas estávamos no corredor da minha casa. Meu pai, James... Não daria muito certo. Se bem que já está na hora de dizer a verdade... Mas e Remo? Iam odiá-lo! Não posso fazê-lo escolher entre mim e o amigo.

Mordi seu lábio inferior separando-nos, mas ele os juntou de novo. Comecei a empurra-lo no peito para que se afastasse.

– Remo, podem nos ver aqui...

– O que me importa agora é se você está magoada com aquilo que eu disse pro Sirius.

– Ele ia saber de todo jeito mesmo...

Ele sorriu e me abraçou, e me deu um beijo na cabeça.

– Minha mãe me disse uma vez para nunca dormir um dia sentindo raiva ou brigado com uma pessoa considerada importante. Ela aprendeu isso do pior jeito.

– Não se preocupe, eu não estava com tanta raiva assim! - ele me olhou como se estivesse falando "fala sério?" E eu sorri e disse - Tá, só um pouquinho!

Ele riu e me puxou para as escadas.

– Vem, vamos jogar Snap explosivo!

Assenti descendo as escadas, feliz: Eu era importante para ele.