Me joguei na cama sorrindo tanto que eu acho que daqui a pouco aquele sorriso ia rasgar a minha cara.

Esse, de longe, foi o melhor fim de semana da minha vida.

Primeiro eu fiz a Lily e o James irem num encontro. Depois entrei para o time de Quadribol. E aí o Remo me beijou.

E então ele resolveu dar uma bendita chance à nossa relação. Ah, Merlin, e aí ele me beijou de novo.

E esse foi o melhor beijo da minha vida.

Sim, eu já beijei outros caras de Hogwarts. E eu já beijei o Remo outras vezes também. Mas essa de longe foi a melhor.

Ele não estava se sentindo culpado. Não tinha Sirius pra atrapalhar. E pela primeira vez ele se entregou.

Eu estava me sentindo a pessoa mais feliz do mundo.

Será que tem alguém mais feliz que eu? Provavelmente não.

Toquei meus lábios só pra me certificar de que havia sido verdade novamente. A questão é que se parecia tanto com um sonho que eu estava com muito medo do Tarzan aparecer e começar a rir com aquela voz grossa dele.

Ouvi a porta do dormitório ser aberta com violência e me levantei.

– Ah, oi Lily.

Ela se assustou um pouco ao me ver ali. Mas logo me respondeu.

– Oi Bells. Hum, o que faz aqui? Os garotos que entraram no time de Quadribol estão começando uma festinha lá embaixo.

– Eu tenho assuntos mais importantes a tratar.

Olhei para ela e dei um sorriso maroto. Ela se assustou.

– B-Bells porque você não vai à festa? Parece divertido lá embaixo e...

– Tudo bem - a interrompi - Eu conto o que aconteceu hoje comigo e no final você me conta do encontro.

Ela ergueu uma sobrancelha, provavelmente querendo saber o que aconteceu hoje.

– Tudo bem. - ela disse se sentando na cama.

– Mas você vai me contar do encontro, ouviu? Não adianta tentar fugir, você sabe - ela engoliu em seco e assentiu.

Contei tudo e ela ia parecendo mais incrédula a cada palavra.

– Eu não acredito! É serio?

– É! Eu também não consigo acreditar, a cada minuto eu fico pensando que é um sonho e que o Tarzan vai aparecer.

– Tarzan? - ela perguntou confusa.

– Nada, nada. Então, e o encontro Hein? - juntei as mãos embaixo do queixo e a encarei.

– Então, sobre isso...

– "Sobre isso" nada. Pode falar tudo.

Ela mordeu o lábio inferior, olhando para baixo. Estava nervosa.

– Então, fomos no Três Vassouras. É isso, então, eu acho que esqueci o livro de Runas na biblioteca...

– Me poupe disso, Lily! Vamos, você sabe que de hoje não passa, anda, pode botar tudo pra fora.

– Bells!

– Lily! - gritei no mesmo tom que ela havia usado só pra irritar.

A testa dela estava franzida, ela olhava para os cantos como se procurasse uma saída. Ah, Lily. Pobre Lily. Ela sabe que nunca vai escapar.

– Eu preciso de tempo, Bells... Eu juro que quando eu estiver preparada pra te contar...

– Lily, eu conheço essa conversa.

– Eu juro, é sério. Você é minha amiga, devia entender...

Olhei no fundo dos olhos dela. Não parecia estar mentindo.

Pensando bem, foi bastante esquisito pra mim admitir o que eu sentia por Remo. Ela deve estar começando a entender o que se passa com James, e deve estar tentando entender a si mesma primeiro.

– Lily. - ela olhou para mim preocupada - Tudo bem.

Ela pareceu mais confusa ainda.

– Tudo bem? Tudo bem o que?

– Pense. E depois pode botar tudo pra fora, ouviu?

Ela sorriu.

– Obrigada Bells. - ela me abraçou.

– Então, eu acho que vou descer, Lily. Vai ficar aqui?

Ela pareceu pensativa.

– Hum, é. Eu vou fazer alguns deveres. E se acabarem os meus eu faço os seus pra passar o tempo.

Eu ri.

– Obrigada. - e fechei a porta atrás de mim.

Que horas são?

Abri a porta novamente.

– Eu acho que vou dormir.

Lily deu uma gargalhada e se levantou da minha cama, e eu me joguei lá de novo. Iria dormir com a roupa que estava mesmo.

Caí no sono rapidamente.

(•••)

Abri os olhos repentinamente, não sabia que horas eram, mas Alice e Lily não estavam mais lá. Safadas, não me esperaram!

Em quanto me vestia tranquilamente lembrei da minha conversa com a Lily na noite passada.

Desci as escadas com vontade de rir. Lily estava tão envergonhada ontem, com medo de me encarar, e ela ainda nega que ama ele. Tsc tsc esses dois ainda vão ter uma penca de filhos!

Cheguei lá embaixo e encontrei Jason sentado lendo o profeta. Letras grandes e garrafais tomavam metade da primeira pagina. Diziam:

Massacre de uma família trouxa choca habitantes do oeste de Yorkshire.

– Isso é um absurdo! - Falei me sentando de frente a ele. Ele tirou o jornal da frente do rosto e sorriu, eu achei estranho, mas sorri de volta para não deixar ele sem graça.

– É, esse cara está ficando cada dia mais forte.

– Pois é, e o estranho é que nunca conseguem tirar uma fotinha dele! - suspirei encostando na poltrona. Estranho: Remo ainda não acordou. E Lily já deve estar tomando café.

– Jason?

– Sim? - ele abaixou o jornal novamente.

– Você viu, Ham, o Remo por aí?

– A ultima vez que eu o vi estava ainda para o salão principal.

– Aff ele nem me esperou! E a Lily?

– Ah, ela estava te procurando! A manhã inteira...

– Me procurando? Espera... A MANHÃ INTEIRA? - gritei o assustando. Não! Eu não posso ter dormido a manhã toda! Não! Não! - que horas são, Jason?

– São... meio dia e meio! Por que?

– Droga! Eu tenho que ir - falei pegando minha mochila jogada no chão - Tchau, Jason!

– Tchau - não sei se ele falou baixo ou foi porque eu já estava saindo pelo retrato da mulher gorda.

Sai correndo feito uma desesperada esbarrando em todo mundo. Eu até derrubei um garotinho do primeiro ano! Ele ficou me olhando assustado com a bunda no chão e os livros espalhados.

– Desculpa! Desculpa! - falei o ajudando a levantar - depois me procura que eu te dou um doce tá? Mas não conta isso para ninguém!

O menininho assentiu deixando bem claro que ia me cobrar e eu sai correndo de novo descendo as escadas feito uma louca e fui até o salão principal. Eu nem tinha percebido, mas eu estava faminta! Todo mundo me olhava como se eu fosse um macaco no meio de uma escola. Mas foda-se eu posso ferrar os meus planos de ser curandeira.

Avistei os quatro e fui até eles e nem olhei para cara de ninguém e fui logo enchendo meu prato. Nem ficou tão grande dessa vez. Agarrei um coxa de frango e comecei a comer com a mão mesmo. Quase me engasguei e tomei um pouco de suco de abóbora para tomar, olhei para frente e vi Lily e Alice me olhando com nojo. Ao lado delas estava Peter, E do lado dele Remo. Do meu lado Sirius e do lado de Sirius estava James. Todo mundo olhando para mim. Eu hein o que deu neles hoje?

– Quê?

– Nada... - disse Alice balançando a cabeça.

– Duas coisas: Por que você não foi a nenhuma aula hoje de manhã? E segundo: como você consegue comer tanto?

– Eu dumi diais - falei de boca cheia. Ela fez uma careta e pediu para eu repetir. Engoli a comida e falei - Eu dormi demais!

– Eu fiz de tudo para você acordar, mas você ficou resmungando coisas e até me deu um tapa.

– Ah, desculpa - menti. Na verdade eu não me senti culpada não. Ela sabe o que eu faço com as pessoas quando elas me acordam. Não tenho culpa!

Voltei a comer e fui feliz durante 10 minutos até que a comida acabou. Suspirei e dei um ultimo gole no suco.

 – Terminou? - perguntou Sirius ao meu lado - Finalmente!

– Não cabe sobremesa! - resmunguei tocando na minha barriga - eu sinto que se eu levantar dessa mesa eu vou sair rolando por aí.

– É claro, você come parecendo uma morta de fome. O que vocês fazem com ela nas férias? Trancam no sótão e não a deixam comer? - perguntou Lily olhando para James e Sirius.

Eles se entreolharam parecendo pensar sobre a ideia. Dei um tapa nos dois e eles riram. Encostei minha cabeça no ombro de Sirius e suspirei. Olhei para Peter e ele olhava para a mesa da sonserina parecendo que estava com medo, ou sei lá e Remo estava ao lado dele olhando para baixo, provavelmente está lendo um livro.

– Daqui a pouco é aula de Herbologia. Você vem, Bells? - perguntou-me Lily.

– Vou sim! - disse me levantando e pegando minha mochila. - Tchau Babies! - acenei para os que ficaram e segui Lily.

(•••)

São 4 horas da tarde e eu não tenho mais aulas! Graças a Merlin! Por que eu deveria ter mais duas aulas só que eu não faço mais adivinhação. Então...

Cheguei ao salão comunal e me joguei no sofá ao lado de James.

– E aí sangue bom? - disse para Sirius o cumprimentando. Ele me olhou estranho e disse:

– Bem, eu pensava que você não ligava para a pureza do sangue...

– Ham? Não! "Sangue bom" é uma gíria trouxa...

– E como você conhece gírias trouxas? - perguntou James.

– Segredinho! - sorri e coloquei os pés em cima das pernas de Sirius.

– Folgada.

Olhei para Remo que estava lendo na poltrona da frente. Quer dizer, olhando para o livro porque os olhos dele não se moviam. Sirius e James conversavam sobre Quadribol, como sempre e Peter não estava. Ele parou de olhar para o livro e me olhou e eu sorri para ele.

Como pode uma pessoa ser tão linda?

Ele retribuiu o sorriso. Logo percebi que Sirius nos encarava com uma cara de nojo, e revirei os olhos para ele.

Ele tentou puxar algum assunto.

– Então Bells, já deu a vingança merecida ao Scamander?

– O que o Scamander fez?

James endireitou-se na cadeira, olhava para mim sério.

Sirius, seu grande idiota. Agora um garoto vai ser torturado e meu irmão vai para Azkaban.

– Hum, então - enrolei um pouco. Antes eu precisava verificar se Lily estava por perto, afinal nem eu nem James poderíamos fazer nada que ela soubesse. - Esqueci de falar, sabe...

– O que ele fez? - ele pressionou.

– Noite passada, depois do treino - eu continuei depois de checar se Lily estava lá - Ele colocou uma poção do amor no meu chocolate.

– UMA POÇÃO DO QUE?

James já estava a caminho do buraco do retrato, pisando forte.

– Hey, calma, eu quero ir também - Eu disse tentando acompanha-lo. Ah, eu ainda não tinha me vingado do Scamander.

– Não se esqueçam de mim. Há tempos que eu não vejo uma boa azaração - Sirius disse correndo do lado de James.

James tinha um olhar mortífero. Pobre Scamander, quem manda se aproveitar de pessoas inocentes como eu? Ah, imagina só se tivesse acontecido alguma coisa... O coitado já tinha morrido.

Alguns corredores antes do Salão Comunal da Corvinal, encontramos o Scamander conversando com um garoto moreno.

– Ei você - James disse agressivamente empurrando o ombro dele. O amigo saiu discretamente e logo só estávamos nós no corredor.

Eu e Sirius nos entreolhávamos segurando o riso. Eu segurava minha varinha firmemente, e o olhar do Scamander era de puro pavor.

– O-o-o que? - ele gaguejou quando James segurou na gola da sua camisa e o empurrou contra a parede, com a varinha em seu pescoço - E-eu não fiz n-nada, eu juro...

– Nada?– ele perguntou sarcástico - Então a minha irmã, aquela que odeia você, ficou obcecada por você assim, do nada?

– V-vai ver e-ela percebeu...

– Percebeu o que, Scamander? - ele empurrou-o com mais força e eu e Sirius já estávamos rindo pelo nariz.

– N-nada, nada! - ele gritou com a voz esganiçada - Não me machuque, eu não queria fazer mal, eu...

– Ah, ele não queria fazer mal - ele disse irônico - Então não devíamos fazer nada, não é Sirius?

Sirius não respondeu à pergunta, estava ocupado demais rindo da situação do Scamander.

– Se a Corvinal é a casa dos inteligentes, Scamander, você não devia estar nela. Porque você foi suficientemente burro para dar uma poção do amor à minha irmã contra a vontade dela.

– Tenta dar um jeito na cabeça oca dele, Pontas - Sirius falou lançando um olhar estranho a James, como se passasse uma mensagem.

James olhou para ele, e pareceu entender. Sorriu maldoso e o Scamander engoliu em seco. E então ele lançou um feitiço não verbal.

Fiquei observando pasma em quanto a cabeça de Edgar Scamander aumentava seu próprio tamanho uma, duas, três vezes.

Ah, meu Deus.

A cena do Scamander com a cabeça triplicada me faria entrar em colapso em pouco tempo. Eu e Sirius já estávamos rolando no chão de tanto rir.

– Qual é cara, tá difícil se equilibrar com esse cabeção?

James ainda permanecia em pé, de braços cruzados e desafiador diante do Scamander. Este já estava rolando no chão sem aguentar o peso da cabeça. Lágrimas de riso saiam dos meus olhos.

– Ei, James – falei entre risadas – Não acha que ele ficaria melhor careca? Realçaria a cabeça dele.

– Sabe Bells, você tem razão.

A essa altura nosso querido amigo cabeçudo já estava chorando, mas o James ainda parecia mais irritado do que nunca.

Outro feitiço o atingiu. Dessa vez, o cabelo loiro caiu todo de vez, e ele ficou extremamente parecido com um gnomo de jardim, pequeno e cabeçudo.

Notei que haviam algumas pessoas nas extremidades do corredor rindo dele também.

Meu Deus!

Parei de rir subitamente, olhando para os lados. A Lily não podia me ver ali, não, não, não!

– James – chamei-o.

– Sim? – ele respondeu sem parar de olhar o Scamander se encolhendo no chão.

– Você está com sua capa da invisibilidade aí? – sussurrei.

– Não. Por quê?

– Droga!

Olhei pelos lados a procura de uma saída. Havia gente dos dois lados do corredor. E do lado direito... Ah, droga!

Com o rosto da cor dor cabelos, braços cruzados e expressão furiosa, lá estava Lily Evans.

Ah, eu estou completamente ferrada.