Na manhã seguinte limpei seu espaço e o coloquei na área de serviço, dentro do cercado enquanto fazia as tarefas diárias, muitas foram as vezes em que voltei para observá-lo, ele estava quietinho, mas ao perceber minha presença ficava em pé e me lançava um olhar implorando para sair dali e choramingava, mas fui firme e o deixei ficar.

A tarde levei-o para a sala e brinquei com ele sobre o tapete até a hora em que Edward veio me buscar para irmos a casa dos Cullen acertar com Alice os últimos detalhes para a festa de formatura. Na realidade não via necessidade disso já que fora ela quem planejara tudo, mas me resignei a ouvir seus relatos entusiasmados com o máximo de atenção que fui capaz de lhe oferecer.

Ao final da tarde, Edward e eu nos sentamos juntos e conversamos longamente sobre o que pretendíamos fazer antes do casamento, mas minha curiosidade sobre como seria depois não me deixava em paz, e o interroguei tentando tirar todas as dúvidas.

- Como vou me sentir depois? – encarei seu rosto na tentativa de obter uma resposta sincera

- Isso é muito particular. – falou calmamente – Mas tenho certeza de que você será ainda mais bela.

Sorri encabulada e parti para a pergunta que mais me afligia:

- E... e as pessoas com quem convivo? – apertei as mãos nervosa – Como me sentirei em relação a elas?

- Seus pais já não terão a mesma importância, seus amigos, serão apenas pessoas com quem você conviveu e Jacob... - ele baixou o tom de voz ao mencionar o nome de Jake, mas mesmo assim meu coração disparou, minha pergunta fora exatamente sobre isso, apesar de eu não ter sido tão clara, me atormentava saber como eu reagiria a ele.

- Ele não será mais seu amigo, vocês sentirão enjôo com o cheiro um do outro e será praticamente impossível passarem mais do que cinco minutos juntos... - senti que meus olhos ficaram úmidos ao ouvir a explicação de Edward, apertei o peito com as mãos numa tentativa de conter a dor que me invadia, Edward continuou alheio aos meus sentimentos :

 - Tudo perderá a importância, tudo terá passado, você será um novo ser, mas ainda será a Bella que eu amo.

- Tudo perderá a importância... – repeti séria, era isso o que me consolava, a dor pela ausência de Jacob passará, o amor por ele acabará, da mesma forma que acontecerá com ele quando ele encontrar o seu imprinting.

Quando penso assim me sinto covarde por não viver algo que eu sei que me faria imensamente feliz, mas feliz até quando? Por quanto tempo? Dias? Meses? Anos talvez? E depois? Depois eu envelheceria sozinha, pois ninguém será capaz de substituir o amor que sinto por Jacob, exceto Edward ao me transformar. Se eu ceder, acabarei uma velha infeliz e solitária.

- Bella! – era a voz de Edward que me retirava de meus pensamentos. – Estava distraída. – seu olhar era investigador.

- Estava pensando em como será isso, a eternidade ao seu lado. – me recostei em seu ombro, e ficamos calados, tinha claro em minha mente que ainda amava Edward,  mesmo que não fosse cm o mesmo amor de antes, mesmo que meu coração e mente não pertencessem a ele somente, mas ele era a certeza de não haver sofrimentos e dores futuras, a certeza de ser jovem para sempre, a única maneira de me salvar do amor que sinto por Jacob e que me mataria quando ele me abandonasse.

Naquela noite ele ficou comigo como sempre, mas meu coração e minha mente não se aquietaram, eles desejavam ver e falar com alguém que não estava por perto, alguém que me aquecia, que me fazia rir, que iluminava meus dias.

E assim os dias se arrastavam, simplesmente passavam sem modificações. Provas, provas e mais provas foram o resumo dos dias seguintes, mal tinha tempo para mim, Sunshine a cada dia parecia mais esperto e odiar Edward com mais intensidade mesmo com as tentativas dele de se aproximar.

Numa rara tarde de folga dos estudos, resolvi colocar coisas velhas fora, arrumei o roupeiro e já estava com uma pilha de quinquilharias socadas dentro de um saco de lixo quando abri a gaveta do criado mudo. Papéis velhos foram amassados e jogados no saco, vi uma agenda antiga, que eu guardava porque gostava das imagens e das mensagens, peguei.

- Vai para o lixo! – falei observando a cara de Sunshine que sentado ao meu lado observava cada um dos meus gestos.

Quando voltei a atenção para a gaveta vi algo que não queria ter visto, meu coração disparou, o apanhador de sonhos que eu tirara da cabeceira da cama numa tarde de muita irritação pela ausência de Jacob, agora, estava ali, na minha frente. Peguei o fio e o ergui diante dos olhos admirando cada detalhe e lembrando do dia em que o ganhei, um suspiro doído pela saudade escapou-me pela garganta. Como se soubesse  como eu me sentia Sunshine latiu e colocando as patas sobre minha perna se aproximou cheirando o objeto.

- Jake ainda não conhece você. –  falei e uma idéia surgiu, era uma idéia absurda, sabia, mas era também uma desculpa, desculpa esfarrapada mais ainda assim, uma desculpa para procurá-lo.

 – Azar! – sem me preocupar mais levantei do chão, calcei os tênis observada atentamente por meu cão, peguei sua coleira, a chave da picape e convidei:

- Vamos? – abri a porta e ele correu alegre na minha frente.

Depois de muitos dias finalmente estava feliz na esperança de ver Jacob, entrei no carro e coloquei o cão sobre o banco, não ia parar para pensar se o que eu fazia era certo ou errado, apenas seguia o que meu coração estava pedindo desesperadamente.

Curioso o cão não conseguiu ficar quieto durante todo o trajeto até La Push, o que me ajudou, mantive a atenção voltada para o pequeno e não tive tempo de ponderar se minha atitude era acertada.

Entretanto, quando cruzei a fronteira senti meu coração acelerar, as pernas tremeram.

 - Como Jacob me receberia depois de tantos dias afastada? Nem ligado eu tinha, sim porque ligar e desligar antes de alguém atender não conta como ligação.

Avistei a casa vermelha, uma tremedeira se apossou de mim, Sunshine me olhava ansioso, ele parecia entender o que estava acontecendo. Freei o carro pensando que logo saberia como seria recebida, agora já não tinha como voltar. Desci do carro e coloquei a guia  no cão, entretanto o mantive no colo. Ele parecia feliz e balançava o rabo.

Tomei a direção da entrada e logo me deparei com Seth que vinha em direção oposta. Ele sorriu e veio falar comigo, toda vez que via aquele garoto lembrava do lobo no qual ele se transformava, era totalmente irreal, me sentia dentro de um conto de fadas, numa daquelas histórias fantásticas que os pais contam para os filhos dormirem.

- Oi Bella! –sua voz era gentil e descontraída.

- Oi! – falei encabulada

- Que bonitinho! -  ele disse sorrindo e apontando para o cão perguntou: - É seu?

- Presente de Charlie. – respondi tentando sorrir.

- Parece uma miniatura de Jacob. – falou tranqüilo como quem constata um fato e me senti ficando totalmente vermelha, a vergonha tomando conta de mim.

- Burra, idiota, besta! - pensei –  esses com certeza são adjetivos que podem ser colocados na lista da minha personalidade. - Todos esses dias andara grudada num cão que era uma cópia de Jacob e o pior, obrigara Edward a conviver com ele. Não importava o quão má eu possa ser, sempre me supero.

 Pensei em desistir da visita, Jake com certeza iria rir da minha cara quando visse Sunshine.

- Jacob vai adorar o cão! – era a voz suave de Seth me tirando de meus pensamentos – Mas vai gostar mais ainda de ver você. – seu rosto expressivo fez uma careta. – Não dá para aguentar mais ele Bella, por favor, faz alguma coisa!

Sorri e acariciei o rosto bonito do menino.

- Onde ele está? – perguntei num impulso de coragem.

- Na praia como sempre! Reclamando da vida e da sorte.- gesticulando e revirando os olhos demonstrou o quanto Jacob o importunara nos últimos dias.

- É, eu sabia o quanto Jake poderia importunar alguém.- pensei e conclui: - Vou até lá.

- Por favor! – sua expressão era de súplica.

 Fiz um gesto afirmativo e tomei a direção da praia, com o coração aos solavancos e a respiração ofegante como se tivesse corrido léguas. Mal conseguia conter a ansiedade de vê-lo, mesmo que fosse para ele rir de mim ao ver o cão ou me mandar embora depois de tantos dias sem dar notícias.

 Cada passo que eu dava na direção daquele lugar era um momento a mais de tortura, meu corpo todo estava reagindo, uma alegria contida no peito que queria logo sair não me deixava pensar e tornava meu caminhar trêmulo e vacilante.

Parei por alguns instantes tentando recuperar minha tranqüilidade, mas foi em vão, tudo o que me vinha a mente era como seria recebida por ele? O que ele diria? Ele ainda me amava? Ele ainda me perdoaria por tê-lo magoado mais uma vez?