Ao chegarmos em minha casa, o convidei para entrar, ele fez cara de quem estava em dúvida, como se fosse uma decisão difícil e entrando na brincadeira falei:

- Faço um lanche gostoso para nós.

Ele voltou a fazer uma carinha pensativa e indecisa e um som leve saiu de sua boca:

- Hummmm, até que estou com fome, acho que vou aceitar seu convite.

Ri alto e segurando sua mão enorme e quente, o puxei para dentro, feliz em tê-lo de volta depois de tanto tempo, tempo que para mim pareceu a eternidade.

Um arrepio percorreu meu corpo ao lembrar dessa palavra: - Eternidade! - eu não queria pensar nisso, principalmente agora, com Jacob ao meu lado.

Fui direto para a cozinha e já estava lavando as mãos quando Jake perguntou parecendo preocupado:

- Onde está o cão? – só então lembrei do coitadinho que tinha passado o dia no cercado, sempre que chego vou direto na área de serviço para vê-lo, mas hoje, com Jacob junto comigo esqueci completamente.

- Na área de serviço, dentro do cercado. – respondi observando a preocupação estampada no rosto de Jacob, rápido ele se dirigiu para onde eu indicara, o segui, curiosa pelo que o incomodava.

- O que foi? – perguntei sem agüentar a curiosidade.

Jacob não respondeu, já estava acocado ao lado do cercado, de costas para mim, fiz a volta, e então, apavorada vi meu cão que chorava baixinho, sua patinha se prendera num dos aros do cercado, com certeza durante uma de suas inúmeras peripécias, e já deveria estar assim a bastante tempo pois sangrava. Paralisei, não conseguia fazer nada.

- Bells! – era a voz de Jake que me tirava do meu total apavoramento. – Venha me ajudar.

Fiz um gesto negativo com a cabeça:

- Não posso Jake...

Ele me olhou irritado:

- Como não pode? Ele está ferido, precisa de ajuda, minhas mãos são muito grandes, não vou conseguir tirá-lo daqui, tem que ser você.

Recusei mais uma vez dando um passo para trás chorando.

- Jake eu...

- Venha aqui Isabella! – sua voz soou como uma ordem, encarei o rosto sério dele e lentamente me aproximei, respirei profundamente e me acoquei, sentindo meu corpo vacilar, Sunshine me olhava triste e chorão, sem pensar novamente, toquei em sua patinha, ele gemeu.

 - Com calma. – Jacob pediu.- Você consegue! – sua voz era segura, ele parecia ter certeza de que eu conseguiria, era certo que a força que Jake me passava e a carinha de dor do meu cão foram meus apoios e força nesse momento, se dependesse só de mim, ele ficaria ali.

 Encarando Jacob, fiz um ultimo movimento e a patinha finalmente ficou livre, caí para trás exausta com o esforço emocional que fizera, Jacob pegou o cão no colo e sem me dar tempo falou:

- Bells preciso de ajuda!

 – Ele não cansa de me chamar? - pensei olhando minhas mãos ensangüentadas, uma tontura e a voz de Jake ao mesmo tempo ecoando em meus ouvidos:

- Bells!

Automaticamente fui em direção a ele e o ajudei como pude a fazer o curativo, trabalhamos juntos na tentativa de acabar com o sofrimento de Sunshine que ainda chorava baixinho, e tentava lamber o machucado.

Carinhoso Jacob falava com ele enquanto cuidávamos do pequeno corte que se fizera logo abaixo da junta, quando concluímos, fiquei pensativa, jamais me imaginara capaz de ter um cão, cuidar dele então, menos, fazer o que acabei de fazer? Quase impossível. - Mas tudo era possível quando Jake estava comigo. – pensei olhando o rosto bronzeado do meu sol particular e sorri.

 Jacob colocou o pequeno sobre a almofada, e de tão esgotado o cão logo adormeceu, nem quis saber da ração que colocamos no pratinho para ele.

Após higienizar minhas mãos voltei para a cozinha.

Ainda atônita com os últimos acontecimentos, fiquei distraída lembrando e relembrando aquela cena quase irreal, enquanto preparava o lanche, Jacob estava ao meu lado,  apoiado no balcão ele me observava trabalhar, em completo silêncio, olhei seu rosto bonito e sereno e me surpreendi com seu olhar.

- O que foi? – perguntei sorrindo.

Ele se moveu, segurou a beirada do balcão e ainda me olhando profundamente falou:

- Estou orgulhoso de você, hoje você enfrentou um dos seus medos e saiu vencedora. – fiquei feliz com seu comentário, saber que ele se sentia orgulhoso de mim era maravilhoso, mas ele também queria dizer que eu era capaz de enfrentar meu outro medo, aquele que se relacionava a nós e quis dizer a ele o quanto sua presença ao meu lado me ajudava:

- Consegui porque você estava comigo, porque você é minha força.

Ele sorriu, parecia feliz com o que falei e logo a confirmação veio de seus lábios:

- É muito bom ouvir isso, mas acho que essa força está aí dentro. – ele ergueu minha mão e a colocou sobre o meu peito, senti um calor gostoso tomar conta de mim, ele continuou: - Só precisa de uma ajudinha para sair.

- Então, você é essa ajudinha. – falei séria apesar de estar feliz aquele não me parecia um momento para sorrir, as mãos dele foram para minha cintura e com um único puxão Jake me trouxe para  bem perto, pude sentir seu hálito no meu rosto e uma tontura leve me fez fechar os olhos.  Com certeza esse não era o tipo de ajudinha que eu esperava mas, estava adorando.

Soltei um suspiro e abri lentamente os olhos encarando seu olhar profundo e apaixonado, Jake lentamente se aproximava e me mantinha presa pelas mãos fortes e por seus olhos, eu sabia onde isso iria me levar, mas não conseguia e não queria parar, como naquele dia antes da luta, era uma sensação tão forte que eu não controlava, meu desejo de repetir aquele beijo era real, tão real quanto meu amor por Jacob.

Estávamos quase nos beijando, o aroma da pele dele nas minhas narinas, o calor do seu corpo colado ao meu, não havia escapatória, um aro invisível me prendia a ele e não havia forças em mim para rompê-lo. A mão quente e grande dele pousou em meu rosto, desceu lentamente para o pescoço, uma moleza me invadiu e meu coração estava aos pulos, mal conseguia respirar. Fechei os olhos antecipando o prazer e a alegria que sentiria, mas fui despertada pelo barulho de uma porta que se abria, era Charlie, nos afastamos assustados, mas continuamos conectados, olhos nos olhos. Ele parecia querer entrar em minha alma e me manter presa a ele através do seu olhar, respirávamos com dificuldade, nem sei o que aconteceria se meu pai não tivesse chegado.

- Jacob! – a voz dele era de surpresa. – Andou sumido! É bom vê-lo aqui outra vez.

- Valeu Charlie! – Jake respondeu sem desviar os olhos dos meus. – É bom estar de volta.

- Você será sempre bem vindo. – sorrimos ao mesmo tempo, e Jacob cochichou:

 - Espero que na minha próxima visita ele escolha melhor o horário para chegar. – ri alto e recebi uma olhada surpresa de meu pai, ele era quem melhor sabia a quanto tempo eu não ria assim.

Charlie subiu avisando que iria para o banho e eu voltei minha atenção para o que estava fazendo antes de ser interrompida pelo quase beijo, ao lembrar disso meu coração voltou a acelerar.

– Salva pelo gongo. – pensei, no momento em que eu cair nesses braços não vou conseguir sair mais, e ele sabe disso e se aproveita. Lancei um olhar irritado para ele e Jake fez cara de coitadinho me fazendo rir.

 Conheço muitas pessoas que não sabem a definição de felicidade, de paz, de amor, de luz, para mim é fácil definir, é só olhar para Jacob Black, ele é tudo isso na minha vida.

Acabamos de preparar o lanche, arrumamos a mesa e quando Charlie voltou saboreamos a comida juntos, conversando, rindo, era bom demais aquele clima, eu observava a maneira como os dois se tratavam, havia camaradagem entre eles, muito diferente de quando Edward vinha, com Jacob tudo era mais fácil, aquele foi mais um dos momentos em que constatei o quão simples as coisas seriam se eu ficasse com ele, se tudo fosse como deveria ser, se não houvessem vampiros, nem lobos, nem imprinting, apenas o amor que me unia a ele.

 Edward voltou a minha lembrança, sempre que pensava  nele uma sombra caía sobre mim, não que ele representasse a tristeza, mas porque ele já não significava a felicidade que eu  almejei tanto.

 Nesse instante, tirando-me de meus devaneios, Charlie falou que estava atrasado, surpreendendo Jacob, ao perceber que meu sol ia perguntar onde ele ia, fiz um sinal mostrando que explicaria depois, e lentamente começamos a recolher a louça.

Charlie se foi pedindo que Jacob voltasse mais vezes, mas fui eu quem garantiu que ele voltaria sempre e recebi um largo sorriso do meu sol como recompensa.

Assim que ouvimos o som do carro se afastando, o momento fofoca começou, Jacob queria saber tudo, eu pouco sabia, mas lhe falei do comportamento de Charlie nos últimos dias e que meu pai tinha praticamente abandonado seu principal vicio, as pescarias,  e que achava que a namorada deveria ser alguém legal pois ele estava mais sereno ultimamente.

Jacob ria alto do meu jeito me fazendo rir também e levamos o dobro do tempo necessário para colocar tudo no lugar.

Quando a última louça foi guarda ouvi o que não queria ouvir:

- Preciso ir! – disse colocando o guardanapo no gancho e fazendo meu coração se apertar já sentindo saudades.

- Já? – reclamei e tentando brincar dei-lhe um tapa no braço: - Você só ficou mesmo pela comida.

Ele riu.

- O que posso fazer? Tenho a fome de um lobo. – ergueu a sobrancelhas e se esquivou do próximo tapa.

Depois, virando-se para mim falou sério:

- Vim mesmo para lhe fazer um convite.

- Convite? - perguntei ansiosa.

Ele baixou os olhos e mexeu com o pé no chão antes de continuar:

- Não poderei ir a sua formatura... - eu não queria nem lembrar disso - então, pensei em comemorarmos juntos no dia anterior, só nós dois, o que você acha? – assim que terminou de falar me olhou daquele jeito, com aquele olhar maroto e sedutor que faz meu coração querer saltar do peito.

- Só eu e ele? – pensei – Isso não vai dar boa coisa. - mas algo dentro de mim gritava: - Sim! Sim! Sim! – e foi tão forte que a resposta afirmativa saiu pela minha boca sem que eu me desse conta, fazendo aquele sorriso perfeito que eu amo aparecer.

- Vou organizar tudo e te ligo. – ele parecia uma criança quando se comportava assim.

- Onde vamos? – eu queria informações – O que vamos fazer?

O olhar ficou ainda mais maroto e sedutor antes de falar:

- Surpresa...