Os dias passavam, com o final das aulas estendi meu horário de trabalho, Jake e eu voltamos a nos falar com freqüência, todos os dias, ao menos duas vezes, sempre, sem folga, se ele demorasse muito eu ligava, se fosse ao contrário ele ligava.

Não tínhamos marcado nada para aquele dia, por isso, quando o vi estacionar sua moto do outro lado da rua, meu coração disparou:

 - É ele mesmo? – me perguntei, e saindo de trás do balcão me aproximei do vidro para ter certeza que não era mera ilusão de óptica, ou uma criação da minha imaginação motivada pela saudade.

 Assim que me certifiquei de que se tratava do meu sol não perguntei a Mike se poderia ou não ir até ele, apenas abri a  porta e fui.

Percebendo minha aproximação,  Jacob abriu um de seus maravilhosos e perfeitos sorrisos fazendo meu coração acelerar mais, desde que o vira ele já estava disparado, porém, minhas reações a ele são sempre assim, intensas, intensas a ponto de  estar me acostumando a elas e já não ter condições de viver sem.

 Como sempre, fui recebida com um abraço apertado que quase me sufocou  e uma logo depois pergunta direta:

- Você ainda demora a sair? – seu olhar maroto escondia alguma coisa, olhei para ele desconfiada e respondi:

- Não. – com ar de provocação perguntei: - Você me espera?

Ele se recostou na moto ainda me segurando pela cintura e sério falou:

- A vida toda.

Ficamos nos olhando por alguns segundos, e eu confirmei minha idéia de que aqueles olhos me hipnotizavam, quando olhava para eles não conseguia pensar em mais nada.

- Volto logo então. – disse enfim, suspirando por ter de me afastar, mesmo que fosse por pouco tempo, mas ao menos poderia vê-lo de dentro da loja, antes de sair joguei um beijo e ele esticou os lábios como se o tivesse recebido, me fazendo rir feliz.

Na loja Mike me esperava com cara de poucos amigos, e não perdeu a chance de alfinetar o fato de Jacob ter mudado tanto em tão pouco tempo, como não respondi as provocações, ele decidiu tentar me convencer de que Jake estaria usando anabolizantes. Dei-lhe uma olhada atravessada e o mandei cuidar da própria vida, ele estava é com inveja, disso eu tinha certeza.

Observei o relógio, faltava pouco mais de meia hora para o final do meu horário,  cada minuto passava lentamente como se o tempo tivesse resolvido se arrastar e me irritar.

 Do balcão eu o via recostado na moto, os braços cruzados sobre o peito, as pernas longas e fortes apoiadas firmes no chão. Garotas passavam encarando-o  mas ele olhava diretamente para a loja e algumas vezes para o céu num movimento de impaciência. Nesses momentos eu sorria percebendo que a ansiedade dele era igual a minha.

Foi então que um grupo de garotas passou, cochichando e rindo, obviamente estavam falando dele, aquilo me incomodou, me movimentei e Mike me olhou indagador mas não perguntou nada, vi então uma delas se aproximar  provocante, falou com ele, Jacob ficou em pé para ouvir  o que ela dizia, meu coração disparou:

- Quem é aquela? – perguntei em voz alta e Mike me olhou curioso.

- Quem?

- Aquela... - parei de falar ao lembrar quem estava ali comigo. – Ninguém. – não sei o que Mike pensou, mas pouco ligava para a opinião dele, queria saber daquela garota. Meus olhos não se desviavam dela e de Jacob, eles falavam com facilidade e não me enganei, com intimidade, de repente, ele riu e meu coração quase parou,  não podia acreditar, ele estava sorrindo para ela? Era isso mesmo? Já saia detrás do balcão para ir até lá conferir quem era aquela pessoa, quando entrou um grupo de pessoas na loja, duas se dirigiram a mim, por alguns instantes. Perdi Jake e a garota de vista, com uma angustia me consumindo atendi o casal mostrando a cara mais fechada que pude, mesmo percebendo o olhar reprovador de Mike.

A mulher não conseguia se decidir sobre a marca que queria levar, tive vontade de dizer leva as duas, fazem o mesmo efeito, mas não falei. Num relance vi o lugar onde Jacob colocara a moto e não o vi nem a garota, meu coração ficou apertado, senti falta de ar, a voz embargou e quando falei a mulher me olhou preocupada:

- Você está se sentindo bem querida? – não, eu não estava me sentindo bem, minha vontade era sair correndo daquela loja e saber o que estava acontecendo,  tive um desejo enorme de gritar: - Comprem logo ou vão embora, eu preciso sair daqui e saber onde Jake está. – mas ao contrário do que sentia, tentei sorrir, disse que estava bem e perguntei se ela tinha decidido.

A resposta foi afirmativa,  senti um pequeno alívio, entretanto, ainda estava querendo saber o mais importante, onde Jake fora, e quem era aquela garota.

Antes do casal ir embora Jacob voltou sozinho, se recostou na moto novamente e passou as mãos pelo cabelo:

- Onde você estava? – perguntei nervosa como se ele pudesse me responder.

Alheio as minhas ansiedades e ao nervosismo que me atacara nos últimos minutos, ele olhava para a loja, enquanto eu, ainda me corroia, nervosa, querendo saber onde ele estivera, mas principalmente o que estivera fazendo com aquelas garotas.

O casal finalmente se foi, agradecendo pelo atendimento e recebi um olhar atravessado de Mike ao qual não dei a menor importância, tudo o que me importava era a pessoa recostada naquela moto do outro lado da rua.

Voltei a olhar o relógio, faltavam alguns minutos ainda, mesmo assim resolvi arriscar:

- Posso ir Mike?

Ele me olhou irritado e falou irônico:

- Pensei que seu namorado fosse Edward.

Não iria dar bola para esse idiota, mas ele que não me provocasse mais, voltei a perguntar:

- Posso ou não ir?

Ele fez um gesto com a cabeça e saí dali, com o coração na mão, disparado de medo, Jake naquele momento olhava para o chão, tinha uma expressão distraída no rosto, parecia estar longe, o que em nada me ajudou. Fiquei imóvel na frente da loja, tive vontade de voltar para dentro, de repente eu não queria saber o que acontecera, nem quem era aquela garota, mas se entrasse teria que explicar a Mike porque eu voltara e isso eu não queria fazer, olhei para o chão.

 – E se eu fosse embora?- logo percebi que era uma idéia idiota, Jake me veria antes que eu chegasse a esquina.

Não, por mais difícil que fosse enfrentar essa situação era isso o que eu teria que fazer, de repente outra ideia me assaltou fazendo meu coração quase parar:

- E se aquela garotinha idiota fosse a tal, a tal que Jacob esperava? - eu nada poderia fazer, já teria acontecido, e pior, bem no momento em que ele viera me buscar. Respirei fundo tentando acalmar meu coração que parecia um tambor, então Jake levantou o rosto e sem outra alternativa caminhei em direção a ele, com as pernas trêmulas e os olhos embaçados.

Assim que me aproximei, contrariando o que eu pensara ele abriu meu sorriso perfeito e me ergueu num abraço apertado que quase me deixou sem ar.

A reação dele era a mesma de sempre, mas eu não deixaria aquela história passar, com o coração doendo perguntei sem rodeios, queria saber tudo de uma vez:

- Quem era a garota? – minha voz quase não saiu

Ele apertou os olhos como se não soubesse do que eu falava:

- Quem?

Isso me irritou, ele estava brincando comigo? Fuzilei-o com o olhar e voltei a falar:

- A garota com quem você esteve falando a poucos minutos?

Ele abriu um sorriso:

- Sei lá! – a resposta pareceu sincera. – Ela precisava de ajuda com o pneu do carro, só isso.

- E você ajudou? – eu estava ficando mais irritada a medida que ele tratava o assunto com tanta tranqüilidade, quer dizer que ele sai ajudando qualquer uma assim? É só pedir ajuda e ele vai?

- Claro! – ele parecia ter lido meu pensamento.

Suspirei fundo, tentando recuperar a calma e quando o olhei novamente ele sorria e me olhava divertido:

- Você está com ciúmes?- era só o que me faltava, Jake pensar que eu sentia ciúmes, é claro que estava, mas não admitiria, ou essa historia serviria como motivo para chacota por um mês no mínimo.

- Não! Só queria saber quem ela era....só isso. – ele me olhou e gargalhou falando:

- Admita! Admita que você estava com ciúmes.

- Não! – tentei parecer convincente, mas ele não me deixaria em paz,  rindo muito me olhava maroto.

 – Não! – repeti desta vez sem a raiva, a dor voltara - Eu não tenho direito de sentir ciúmes de você. – ele me olhou sério, isso era verdade,  não tinha esse direito, não tinha nem o direito de perguntar quem era a garota,  isso me doeu,  não tinha nenhum direito sobre ele, apesar de amá-lo. Senti que iria chorar e me virei para que ele não visse. Mas nada escapa a Jacob, ele puxou meu rosto e falou:

- Você é a única que me importa, não há ninguém mais. – sua mão acariciava meu rosto, lá estava eu novamente ouvindo a declaração perfeita do homem que eu amava, motivada por mim mesma, pelo meu egoísmo, por não conseguir aceitar o fato de ser abandonada por ele, fazia a nós dois sofrer.

- Sinto muito pelo meu comportamento. – falei segurando a mão que ele mantinha no meu rosto – Você tem razão fiquei com ciúmes, fiquei doida em ver você com aquela garota, não sei como será quando... – ele tapou minha boca com as pontas dos dedos e falou:

- Não vamos falar sobre isso, certo? – ele me olhava diretamente nos olhos como sempre.

- Está bem...você me desculpa?

- Sempre. –  falou sorrindo. – Agora vamos?

- Sim. – estava totalmente encabulada depois da cena de ciúmes que protagonizei. Mas ele parecia não se importar e me olhava com o mesmo carinho de sempre.

Gentil e carinhosamente colocou o capacete na minha cabeça depois montou, fiz o mesmo me agarrando a sua cintura o máximo que conseguia, sentindo o calor que vinha daquele corpo, mantendo principalmente meu coração aquecido, depois daqueles momentos em que pensei que tudo poderia estar acabado,  tinha a total certeza de que se acontecesse eu morreria ao saber que jamais o teria a meu lado, nada nem ninguém conseguiria fechar esse buraco.

Mas, quando estava assim, junto dele, tudo era mais fácil, o medo desaparecia e eu conseguia ser e fazer o que desejasse, conseguia até imaginar que não existia esse maldito imprinting e que havia futuro para nós.

 O trajeto até em casa não é longo, mas eu pretendia aproveitar cada segundo dessa curta distância muito bem, e mantê-lo ao meu lado o máximo de tempo possível.