A moça dirigia rápido e tamborilava os dedos no volante do carro como se demonstrasse seu nervosismo. Era o primeiro dia de Dayse no seu novo trabalho. Ela sabia que aquela era a chance de sua vida. Era agora que ela poderia mostrar tudo o que ela era capaz de fazer. O diretor do filme havia sido realmente muito generoso por ter lhe dado essa oportunidade. Ela nem se quer notava o olhar apreensivo da irmã ao seu lado. Daiane estava tão ou até mesmo mais nervosa que Dayse. Essa era a última chance que teria para demonstrar que poderia sim construir uma vida, mas ela não sabia ao certo por que sentia medo de fracassar. Talvez ela soubesse, apenas não queria admitir.

Ela era fraca. Sempre houvera sido. Na verdade, ela uma vez pensou que fosse forte, mas bastou a primeira grande desilusão para lhe provar o contrário. Ela havia sofrido muito uma vez. Mas não fora um sofrimento realmente tão grande assim, foi algo normal, mas ela não estava preparada e nada do que fizesse a deixava se recuperar. A bonequinha brincalhona agora não tinha mais o brilho costumeiro no olhar e o sorriso maroto raramente era real no rosto dela. Seu brilho havia se apagado, ela havia praticamente desistido, mas no fundo ainda brilhava uma pontinha de esperança. Esperança essa que ela alimentava com a pontinha de fé que ainda possuía. Sim. Fé, foi a ela que Daiane sempre se agarrou para continuar e foi através dela que havia conseguido que sua irmã te desse uma chance de seguir em frente. Chance essa que ela agarraria com unhas e dentes.

Wendler Süskind estava encostado a janela do avião vendo o seu reflexo roncando ao seu lado. Wilhelm dormia sem saber se estava em casa ou em um iglu qualquer no ártico. Ele pensava em como seu irmão gêmeo poderia ser tão diferente dele. Fisicamente eles eram idênticos, mas era apenas nisso que se pareciam. Wendler nasceu exatos sete minutos e meio antes de Wilhelm e por isso tinha sobre ele a responsabilidade de irmão mais “velho”. O mais novo era um inconsequente e sempre deixava para ele a tarefa de resolver as asneiras que aprontava. Ele era seu “empresário”. Wendler nunca gostou dos holofotes, mas de um jeito ou de outro estava exposto a eles. Era um ator tão bom quanto o irmão, mas não gostava de atuar. Preferia ficar por de trás das câmeras e nas horas vagas concertava as besteiras do irmão. Não que ele fosse um exemplo de seriedade. Na verdade, não era. Ele apenas tinha mais jeito para se safar depois.

Não demorou muito para o avião pousar fazendo com que finalmente Wilhelm abrisse os olhos. Wendler sorriu para ele e lhe entregou uns óculos escuros e um boné. Ao olhar para o lado ele percebeu que o irmão agora trajava uma roupa idêntica a dele e pelo sorriso no rosto dele era perceptível que pretendia brincar com os fotógrafos. Ele sorriu e juntos desembarcaram atraindo a atenção de todos os que aguardavam por eles. Os fotógrafos deixaram sair umas risadinhas quando perceberam a intenção dos irmãos. As fãs soltaram gritinhos histéricos e tentaram agarrar aquele que estivesse mais próximo de si. Os rapazes apenas riam da confusão e logo foram afastados da multidão pelos seguranças que esperavam por eles. Dali eles seguiriam para o hotel e logo estariam a caminho do estúdio de gravação no intuito de serem apresentados a equipe.

Dayse dirigia sem prestar muita atenção em nada a sua volta. Não estava indo muito rápido. Tinha tempo de sobra, mas por um instante um detalhe lhe passou pela mente despertando sua própria atenção.

–Ah Meu Deus._Ela disse batendo de leve no volante e chamando a atenção de Daiane.

–Que susto Day._A mais nova ralhou._Qual o motivo do chilique?

–Não é um chilique Nane, eu me esqueci de algo muito importante e agora eu vou correr o risco de ser demitida._A mais velha disse choramingando a última parte. Daiane revirou os olhos. Já era hábito os dramas da irmã.

–Mas o que, por Deus, era tão importante Day?_perguntou já imaginando uma resposta estupidamente simples vinda da outra.

–Eu me esqueci de procurar sobre o cara que vai trabalhar comigo. Na realidade não sei nada sobre o protagonista. E se ele for um daqueles estúpidos a mauricinhos que querem demitir todo mundo Nane, eu nem me lembro direito o nome dele, estou indo para minha ruína...._Antes que Dayse terminasse o grande drama Daiane resolver intervir.

–Podemos procurar agora Day. Eu trouxe o Notebook e o moden, e se ele é famoso acharemos algo._Ela disse dando de ombros.

–Certo. O diretor disse que ele era alguma coisa parecida com o ator mais bem pago da atualidade e era alemão, por isso tem um nome estranho._Ela disse sem notar o olhar intrigado da irmã sobre si._o nome dele é Wilhelm Süskind.

–Ok._Daiane iniciou a pesquisa e se permitiu chocar por um momento ao ver a foto do tal cara. Ele era simplesmente lindo. Alto e com os padrões alemães. Pele pálida e olhos de uma cor incrível. Porte impecável. Cabelos aloirados._Meu Deus, Day, ele é lindo.

–Sério, Daiane? Quero saber sobre a personalidade e não sobre a aparência._Dayse disse sem dar realmente atenção ao comentário da irmã.

–Tudo bem._Ela disse recomeçando a ler a pagina da foto._Diz aqui que ele tem vinte e dois anos e é alemão como você disse. Diz também que ele é bem exigente com a equipe,_Dayse tremeu._e também que o empresário dele é o seu irmão Wendler Süskind.

–Ótimo. Bom saber que ele ama cortar algumas cabeças._A mais velha disse desinteressada.

–Mas eu não disse nada disso Day._A outra retrucou.

–Mas disse que ele é “exigente” o que da basicamente na mesma coisa.

–Não vamos nos precipitar ok? Vamos esperar você conhecê-los e depois descobrimos os motivos que temos para nos preocupar._ Daiane pontuou.

–Claro. Faremos isso._Dayse concordou.

Uma hora depois Daiane se encontrava de pé em uma sala onde deveria caber duas ou talvez três pessoas no máximo, onde havia na verdade umas dez ou doze pessoas. Todas pertenciam à equipe técnica do filme, e Daiane, que aparentemente seria a assistente pessoal da irmã e do diretor e sub diretor e do cara das câmeras e de todo mundo que precisasse de assistência naquele lugar. Belo emprego ela havia arrumado. Em pensar que agradeceu a Dayse por isso. Mas ela prometeu não desistir e iria cumprir a sua promessa.

Minutos depois uma garota provavelmente da mesma idade dela entrou na salinha, soltando gritinhos ritmados e pulando feito uma gazela no cio, enquanto anunciava bobamente que “eles chegaram”.

O diretor deixou a sala e foi de encontro a “eles” e disse que logo depois a Day deveria ir conversar com o empresário do cara para acertar algumas pendências de produtor e empresário.

Não demorou até o diretor sair da sala e dar espaço para Dayse entrar. Ele ainda disse algo como “ele está bem aí” quando passou por ela.

Assim que Dayse entrou na sala percebeu que havia um homem sentado de costas pra ela em um sofá e ao ouvir o cumprimento inicial dela nem se quer respondeu.

–Olá...gostaria de dizer “boas vindas” e acrescentar que será um prazer trabalhar com você. _Ela terminou a frase ao ouvir uma pergunta seguida de um olhar interrogativo vindo do rapaz que finalmente se virou.

–What?_Ele perguntou mostrando uma careta de confusão estampada na face.

–Burra._Ela se xingou mentalmente e se lembrou que não falava alemão e ele provavelmente não falava português. Desespero mental. Uma característica do desespero é diminuir sua capacidade de percepção e foi justamente isso que aconteceu impossibilitando a moça de perceber que a palavra “What” era em inglês e não em alemão.

–Can you understand me?_Ele perguntou e ela finalmente se tocou, mas demorou a responder fazendo com que ele a olhasse com um sorriso debochado. (Ele continuará falando em inglês, mas eu não vou mais digitar em inglês ok? Agora será só português)

–Oh, sim. Você fala inglês. É claro, me desculpe._Ela disse despertando ainda mais as risadas dele. Ela optou por ignorar._Serei sua produtora e vim aqui para acertar os detalhes sobre...

Antes que ela pudesse terminar outra voz soou do outro lado da sala despertando a atenção da garota.

–Bom saber._Wendler disse._Eu sou Wendler Süskind, o empresário de Wilhelm Süskind._Ele disse estendendo a mão em forma de cumprimento.

–Mas...mas, vocês dois são o mesmo..._Ela disse esboçando toda a sua confusão.

–Na minha terra, chamamos de “gêmeos”, mas tudo bem._Wilhelm disse arrancando risadas do irmão e trazendo a garota de volta a realidade.

–Me desculpem._Ela disse recuperando a compostura._Qual de vocês é o empresário e qual é o ator?

Ambos levantaram as mãos e depois apontaram um para o outro e caíram na risada ao notar que estavam conseguindo confundir a pobre garota.

–Eu sou o ator._Wilhelm disse depois de parar de rir.

–E eu sou o empresário._Wendler disse sorrindo de leve._Agora já podemos conversar seriamente.

–E eu estou fora disso. Vou conhecer melhor isso aqui._Wilhelm disse se direcionando a porta, mas ainda olhando para o irmão que apenas acenava com a cabeça.

Porém, antes que ele pudesse abrir a porta alguém do outro lado o fez, acertando a porta em cheio na testa do rapaz.

–Ops..._Foi o que Daiane disse assim que percebeu que acertou alguém.