Amor De Infância escrita por Samyy


Capítulo 30
Capítulo Vinte e Nove - Algo Errado


Notas iniciais do capítulo

Eita, mais um capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/272798/chapter/30

Aquele era um dos dias em que Rony gostava de apenas sentar-se ao lado de Hermione, segurar sua mão entre as dele e observá-la, apreciando o momento.

Ele podia dizer que aquele acidente lhe ensinara algumas coisas, como, por exemplo: A vida é curta. Em um instante você pode estar feliz, curtindo o melhor que a vida lhe oferece, e no outro momento você pode estar deitado em uma cama de hospital, sem previsão para melhoras.

O dia Catorze era mais uma data qualquer em seu calendário, mas a partir de Outubro daquele ano as coisas mudaram completamente.

A data seria uma espécie de feriado particular, no qual Rony se lembraria com desprezo do causador da memória.

Na empresa de Arquitetura ganhara três meses de licença médica. O chefe de seu setor e o chefe geral, de todos os departamentos, os dois foram bastante compreensíveis com a sua situação. Além da licença nesses três meses ganharia seu salário integral, normalmente, como se estivesse trabalhando.

Aquele último mês tinha sido muito cansativo. Hermione não apresentara nenhuma melhora em seu quadro, e felizmente nenhum regresso, as coisas simplesmente continuavam as mesmas.

Alguns amigos e familiares, sabendo dos acontecidos, tinham ido visitá-la. Seus avós maternos que há muito não a viam. Sua única tia, irmã de seu pai, junto dos dois filhos adolescentes. Amigos da faculdade e outros do ensino médio. Sem contar que a família mais próxima de Rony tinha ido vê-la também, O senhor e a senhor Weasley, seus filhos e as esposas daqueles que eram casados e conheciam Hermione.

Rony não duvidava que o país todo soubesse do ocorrido. Os jornais se ocuparam em comunicar a quem estivesse disposto a ouvir. Por mais que tivesse sido útil (as pessoas saberiam quem era Victor Krum e do que ele era capaz), aquela era uma invasão de privacidade. Talvez ele não quisesse o país se metendo em suas vidas, não eram nem um pouco agradável. Durante duas vezes tentaram contatá-lo pedindo entrevista, mas ele se recusara terminantemente a lhes falar.

“Jovem de vinte e quatro anos que foi vítima de ex-namorado ciumento continua internada.”

“O ex-namorado, Victor Krum (foto), está sendo acusado de homicídio doloso, quando há intenção de matar.”

“Nem a família, nem os amigos ou o noivo da jovem, quiseram conversar com a nossa equipe, a única coisa que disseram é que estão tentando se recuperar do ocorrido.”

Ele ainda se lembrava de algumas das manchetes noticiadas.

Escutou-se batidas na porta. Quem poderia ser? Rony pensou ser o Dr. Joshua, ou alguém que cuidava de Hermione, mas eles nunca batiam a porta.

– Entra! – Rony pediu e Harry rompeu pela porta.

O garoto dos óculos redondos, olhos verdes e cabelos negros parou a porta encarando o melhor amigo ruivo.

Harry e Rony se conheciam há bastante tempo, quase uma vida inteira.

Lily e James Potter, os pais de Harry, se conheceram no Canadá em uma viagem de férias das famílias, mas todos moravam na Inglaterra e curiosamente estudavam na mesma escola.

Namoraram por bons anos, e, ao se casarem decidiram morar no Canadá, pois haviam se conhecido por lá. Apesar de morarem no Canadá, Harry tinha nascido na Inglaterra.

Harry era filho único, por esse motivo os pais faziam de tudo para agradá-lo. Ainda criança conheceu a família Weasley, fazendo amizade com os filhos mais novos de Molly e Arthur. Ronald se tornou seu melhor amigo, melhor amigo de travessuras e palhaçadas, a primeira pessoa na qual Harry pensava quando lhe falavam de amizade.

Harry pensava em Rony da mesma forma que pensava nos pais, como uma pessoa de sua família, pela qual zelaria e cuidaria para vê-la sorrir.

Harry não conseguia encarar Rony perdido, porque era assim que ele se encontrava: Totalmente perdido.

Ele também tinha Hermione como uma grande amiga, mas a amizade dos dois nem se comparava com a deles. Harry nunca entenderia Hermione da mesma forma que entendia Rony, primeiro por ela ser mulher e segundo, mas não menos importante, porque ela era mulher.

– Ei Harry! – Rony cumprimentou o amigo com um aceno de cabeça. – O que faz aqui? – deixou transparecer o espanto e a curiosidade na voz.

– Eu vim vê-la, é claro! – Harry pareceu ofendido com a pergunta, mas Rony não o fizera por mal. Hermione estava internada há exatos um mês e Harry nunca entrara naquele quarto, sempre esperara na sala de visitas. – Ela também é minha amiga.

– Eu sei.

Um silêncio se instalou na sala, durante o qual Harry se aproximou do leito e ficou em pé no lado contrário ao que Rony se encontrava. Ele pousou a mão sobre a bochecha de Hermione e a acariciou usando o dedão. Naquele momento Rony teve certeza de que, além do Sr. Granger, e de seu pai talvez, Harry era o único homem que faria aquele gesto e ele não teria vontade de matá-lo.

– Ela está pálida. – Harry quebrou o silêncio.

– Acredite, ela já esteve mais pálida que isso.

Harry acreditou.

Por algum motivo algo lhe dizia que Harry não estava ali, somente, para ver Hermione. Tinha outro objetivo por trás daquela visita.

– A Gina está bem? Não falei com ela hoje.

– Sim, aliás, ela sabia que eu viria hoje e me pediu para mandar um abraço.

Mais uma vez o silêncio onde só se ouvia o barulho da respiração pesada que Hermione era submetida.

– Harry, você é meu amigo e tudo o mais, mas cara eu estou sentindo que você quer falar algo a mais comigo? Eu te conheço bem demais.

Harry checou o relógio em seu pulso. Eram 13h56min de uma sexta-feira.

– Você já almoçou hoje Rony?

[...]

Era um restaurante bem conhecido que ficava nos arredores do hospital.

The Three Broomsticks.

Eles tinham ido ao carro de Harry, um Chery Face cinza. Escolheram uma mesa mais ao fundo do lugar. Nem bem chegaram um garçom apareceu com os cardápios.

Harry não estava com a roupa do trabalho, usava um moletom preto com uma calça meio caqui.

O moreno era formado em Administração, curso que fez para ajudar aos pais no gerenciamento das empresas da família.

– Como você está Rony? – ele perguntou enquanto folheava o cardápio.

Como ele estava?

– Sinceramente? – Harry assentiu. – Eu não faço a mínima ideia. – ele suspirou. – Quer dizer... Vivendo cada dia de uma vez, cada dia desejando que nada disso tivesse acontecido. É... É assim que estou.

Harry sorriu tristemente.

– Acho que todos nós estamos assim.

Ambos fizeram os seus pedidos e enquanto esperavam-no chegar conversaram sobre coisas banais.

Harry contava das dificuldades que estava encontrando no trabalho já que o antigo funcionário deixara o serviço incompleto.

– E ainda tem o processo os meus pais estão enfrentando por causa dele. Dá pra acreditar?

– É complicado mesmo. – Rony respondeu no exato momento que o garçom voltou com os seus pedidos.

Rony não tinha percebido o quão faminto estava até o instante em que a comida tocou os seus lábios. Aquele dia tinha acordado as 10 da manha e ido direto para o hospital, sem tomar café da manha e nem nada.

– Então Harry, como eu disse antes, você quer falar algo comigo, eu sinto isso. Vamos lá, desembuche!

Harry suspirou pesadamente algumas vezes, talvez procurando pela palavra certa para iniciar a conversa.

– Rony, você sabe... Nós somos amigos há quantos anos?

– Uns bons dezesseis anos.

– Isso... Bem, somos todos da família e só queremos o seu bem.

– Não estou entendendo aonde quer chegar com essa conversa. – o ruivo foi direto.

Anos de convivência com Gina Weasley tinha o ensinado a ser bem direto, sem rodeios. Vá e exponha o seu ponto de vista.

– Rony... Estamos preocupados contigo.

– Preocupados com o que exatamente? Eu estou bem, ou tão bem quanto eu poderia estar, mas ainda assim estou bem!

– É essa a questão. Nós... Seus pais, Gina e eu, achamos que você precisa retomar a sua vida normalmente.

– E como exatamente eu faria isso? – Rony tentou falar o mais controladamente que pode. A conversa não estava fazendo bem para ele. Quer dizer que agora eles passavam a discutir o que ele deveria fazer da vida?

– Hum... Talvez começando por diminuir as visitas a Hermione. Quem sabe trabalhando em casa, fazendo algo de mais produtivo. – Harry estava ficando nervoso. Concordava, em parte com a conversa, mas conhecia o amigo muito bem para perceber que ele não estava gostando nada.

– Vocês querem que eu simplesmente pare de ver Hermione? – o ruivo perguntou se levantando de supetão e aumentando a intensidade de sua voz.

– Não, é claro que não Rony, mas você não pode deixar que a situação tome conta da sua vida de tal forma. Hermione também é nossa amiga, nós também a amamos. Não tanto quanto você a ama, mas também a amamos. – Harry respondeu equiparando sua voz à do amigo. Não estava realmente irritado, ou chateado. – Quando foi a última vez que você foi visitou os seus pais? Eles sentem a sua falta, nós todos sentimentos. E... – o moreno baixou o tom da voz, pois já estavam atraindo olhares curiosos. - Também sentimos a falta de Hermione, mas não é como se ela fosse acordar hoje ou amanha! Você não pode passar a sua vida inteira nesse hospital. É Hermione quem está internada em coma, não você!

Era demais para ele. Rony abriu a carteira e jogou uma nota de vinte na mesa saindo sem olhar para trás.

Voltou a pé para o hospital.

Gostava de andar para esfriar a cabeça, isso o ajudava a pensar melhor, para tomar decisões melhores.

Harry, seus pais e Gina, todos, estavam todos enganados a seu respeito.

Eles não sabiam como era estar feliz em um noivado e de repente o ex-namorado de sua noiva ter um ataque de ciúmes e tentar mata-la. Eles nunca saberiam.

Eles não sabiam a dor que Rony sentia toda a vez que acordava e sentia o lado da cama vazio e gelado.

Eles nunca saberiam.

Rony se arrastou de volta ao hospital. Estava tão acostumado àquele caminho, passou direto pela recepção se dirigindo ao elevador. Apertou o botão que indicava seis e esperou chegar ao andar desejado.

Naquele corredor se encontravam seis quartos.

4420

4421

No teto, uma lâmpada a cada seis metros.

Do lado de fora de cada quarto um banco, com cadeiras almofadas.

4422

4423

Cada porta tinha uma janela com acesso para dentro do quarto, dando visão imediata a cama do paciente.

4424

4425

Por algum motivo a porta do quarto 4426 estava se distanciando dele, quanto mais perto ele estava mais comprido o caminho parecia estar.

Quando finalmente alcançou a porta girou a maçaneta ruidosamente. Hermione estava lá, como sempre, como era de se esperar. Rony usou o braço que ainda estava na tipoia, engessado, para fechar a porta.

Enquanto caminhava lentamente contemplando o rosto de Hermione, que parecia estar apenas dormindo, pensou nas duras palavras de Harry.

“Também sentimos a falta de Hermione, mas não é como se ela fosse acordar hoje ou amanha. Você não pode passar a sua vida inteira nesse hospital. É Hermione quem está internada em coma, não você!”

Ele tinha que reconhecer, infelizmente.

Segurou em uma das mãos de Hermione.

– Garota você não sabe o quanto eu te amo. – ele sentou-se a cabeceira de Hermione.

Rony não soube explicar muito bem as cenas que se seguiram, mas ele se lembrava de claramente de sentir um forte aperto de mão vindo de Hermione. Por alguns instantes, em seu íntimo, pensou que ela poderia estar acordando, ter escutado o que ele disse e estar concordando. Pobre engano o seu, mal teve tempo de levantar quando os espasmos começaram.

Seu corpo todo tremia, por pouco não conseguia segurar sua mão.

O que diabos estava acontecendo.

Hermione parecia um peixe que fora tirando do mar, se debatendo na cama de forma agitada e um tanto perigosa.

Rony não sabia o que fazer, já que não sabia o que estava acontecendo.

A primeira coisa na qual pensou foi em acionar a campainha que tinha ao lado da cama. E o fez.

Em questão de segundos o doutor Joshua apareceu acompanhado de alguns enfermeiros. Todos levaram um susto, correram para tirar Rony do quarto e tomar as devidas providências.

Ele relutou, sempre relutaria, não gostava, em hipótese alguma de ser tirado daquela forma, à força, de perto de Hermione. Quando tentou espiar pela janela da porta uma cortina se baixou diante dos seus olhos.

Sentou em um dos bancos no corredor, não muito longe do quarto.

Esperou por longos minutos por notícias.

Em algum momento da tarde, o doutor Joshua finalmente saiu do quarto, seguido de sua equipe que empurrava a cama de Hermione. Rony levantou-se de supetão atraindo a atenção do médico.

O médico suspirou e se aproximou do ruivo.

– O que... O que está acontecendo? – pra onde estavam levando-a?

– Ela teve uma convulsão e estamos a levando para fazer alguns exames mais detalhados. – ele explicou. – Não é muito grave, mas o senhor não poderá vê-la tão cedo. Eu sinto muito. – ele virou-se, acompanhando os enfermeiros, deixando Rony sozinho no corredor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pessoas, só gostaria de ressaltar que deixar um comentário, por mais mísero e pequeno que for, ajuda a aquecer o coração de alguém que escrever. É por meio deste Feedback que nós sabemos se estamos ou não agradando.

Fazendo de tudo para postar capítulos semanais!
Beijos e até a próxima.