Ando pelos corredores tentando não ser identificado pelos Agentes do FBI. Ouço tiros no andar de cima. Concluo que Lydron deve ter aumentado seu tamanho e de suas asas. Logo em seguida, olho pela janela, e para meu azar, estou no que parece ser um prédio abandonado.

Dois Agentes começam a disparar contra mim, pego o extintor que estava ao meu lado; na hora não penso se vai funcionar por ser tão velho, mas ainda bem que funciona. A fumaça tampa a visão dos Agentes. Afinal, minha prioridade não é lutar com eles, e sim, achar Zeus e Luke.

Avisto uma escada logo atrás de mim. Mas antes que eu pudesse sequer pensar em descer, sinto uma pancada forte no meio das minhas costas; a dor é tão forte que faz com que eu caia no chão, gemendo de dor. Cerro os olhos para tentar identificar quem é o agressor e me depara com um dos Agentes anteriores.

Ele mira uma de suas armas na minha testa. Me sinto um idiota diante daquela situação e realmente acredito que esse é o meu fim e a única coisa que devo fazer é fechar os olhos e lembrar daquele sorriso tão iluminado. Daquelas coisas atrapalhadas que só ela conseguia fazer... Eu ouço ele apertar o gatilho, escuto o som do tiro, visualizo a bala atravessando minha testa, destruindo tudo que encontra no seu caminho, destruindo minhas lembranças... Mas não a sinto, eu tenho certeza de ter escuto o tiro, será que ele errou? Impossível!

– IDIOTA! Levanta daí, precisamos sair daqui!

Escuto uma voz feminina me chamar, eu queria acreditar que era a Eni, mas sua voz é um pouco mais aguda. Abro os olhos e tento seguir o som...

– Vamos, precisamos ir. Ai meu Deus eu matei mesmo esse cara... Espero que meus pais não descubram isso... espero mesmo!

Ela segura com força meu braço e tenta me ajudar a levantar.

– Cara você é pesado. O que anda comendo hein?!?

Eu a encaro. O modo como fala é realmente engraçado, o que me faz soltar um riso fraco. Ela apoia meu braço esquerdo no seu ombro e me ajuda a caminhar. Meu corpo inteiro dói. E eu precisava de um banho e pelo menos quatro noites de sono intenso. Sem esquecer de um belo banquete!

Volto a minha realidade. Quem era aquela figura afinal?

– Sabe o que tem lá fora? Tipo um dragão enorme, cuspindo um tipo de líquido verde, que faz com que tudo derreta. Vamos virar um ensopado se não sairmos daqui! Alôoo, você não está me ouvindo? Vamos mais rápido!

– Aquele “dragão” está do nosso lado. Ou do meu lado... – Aumentamos um pouco os passos. Tem fumaça por todo lado. Tentamos descer as escadas sem sermos vistos pelos Agentes. Eles estão agitados com Lydron. – Quem é você? – Finalmente paro para perguntar.

Ela para de caminhar também e me encara sério. Consigo ver seus olhos perfeitamente por detrás dos óculos, com certeza ela só usa aquilo para fazer charme. Eles são de um preto tão intenso e sua pele é tão branca que parece aquela menina dos contos de fada, que come algo como uma maçã, ou seria uma nozes?

– Acho que isso não importa agora, sério, seu amigo está nos esperamos no segundo andar.

– Amigo? – Será que estão todos bem? Espero que sim. Realmente espero que sim!

– Sim, sim... Agora vamos!

Corremos o mais rápidos que podemos. Ao longo do percurso escutamos vários gritos e urros, vemos uns três Agentes vindo em nossa direção, mas algo acerta eles em cheio, fazendo-o apenas suas cinzas ficarem no chão.

– Que bom que você está bem...

Olho para ver quem dera o disparo, e para meu alivio era Zeus, ele estava bem, digo, sem um braço e uma perna, com metade de sua peça mecânica amostra, mas estava bem!

– Zeus!

***

Depois de um longo tempo descendo as escadas e tropeçando várias vezes, algo faz com que eu pare. Zeus e a Garota de óculos param e me encaram desesperados.

– O que você está fazendo? Vamos aproveitar enquanto eles estão distraídos com o Dragão! – A Menina berra, enquanto Zeus continua a me encanar; ele parecia saber no que eu estava pensando, parecia ler meus pensamentos. Os sons de tiros eram bem mais estrondosos no próximo andar, assim que descêssemos poderia ser um risco muito grave. Talvez pular da janela seria uma boa escolha, porém, ainda não havíamos encontrado Luke. E se fosse ele no andar de baixo? Lutando contra a sua raça, sozinho, sem alguém para estar por perto. Eu não era e nem sou o tipo de amigo que abandona o outro numa guerra, se o fizesse, seria um verdadeiro covarde, mas por outro lado, havia a menina que estava conosco, ela parecia muito indefesa para estar aqui.

– Hey, você, Branca de Neve. – Engulo em seco quando ela me olha nervosa. – Preciso que pule pela janela e arrume algum meio de transporte, precisamos sair daqui.... então nos encontre a mais rápido que puder!

– Primeiro: EU NÃO ME CHAMO BRANCA DE NEVE e segundo, não vou pular. Posso me quebrar todinha se eu pular deste andar...

– Eu sei que você consegue... tudo bem?

Ela parece meio confusa. Encara a janela por alguns segundos e depois salta; Zeus e eu corremos para ver se ela está bem, e como pensado, ela está de pé, correndo e desviando dos ataques dos Agentes. Algo nela era estranho, como não tínhamos tempo a perder, esperava que aquilo fosse esclarecido em breve.

Minha respiração estava descontrolada, Zeus me entrega uma arma de porte pequeno.

– Vamos? – Ele me pergunta e pela primeira vez, vejo que está preocupado... preocupado se sairemos vivos daqui ou não.

Descemos os últimos degraus o mais depressa possível e vemos Luke lutando contra um Agente. Luke consegue quebrar uma das pernas do cara e tenho certeza de ter ouvido um ou duas costelas se quebrando também.

– Vocês... vão ficar só olhando? – Luke pergunta quase num grito, e antes que eu pudesse atirar, Zeus dá o disparo.

– Cadê o resto? – Pergunto, olhando ao redor e vendo um monte de corpos espalhados. – É, isso explica tudo. – Pigarreio.

– Spanner... eu vi a Eni..

Arregalo meus olhos, pasmo com tudo isso. Como era possível? Como ela poderia estar aqui? Será que estava sendo mantida presa também?

– Não posso acreditar... – Digo quase num suspiro. – Como é possível Luke?!?!

Ele parece cansado e um pouco confuso, o que me deixa nervoso, mas logo começa a falar de novo. – Eu a vi! Juro! Estava muito diferente, mas tenho certeza que era ela... Acho que está trabalhando com os Mogadorianos, não sei, ela estava com a aparência boa e bem vestida e... – Luke para de falar e olha assustado, logo entendo o motivo, Zeus está apontando uma arma para ele.

– Zeus o que você está fazendo? – Pergunto furioso.

– Não está vendo? Ele está delirando! Eni não está aqui e nunca iria trabalhar com eles!

Sei que Zeus está frustrado, assim como eu. Se Eni estivesse aqui, com certeza a gente a encontraria, mas... trabalhar com eles, lutar pela causa dos Mogadorianos, não, essa não seria ela!

– Zeus... – Tento ganhar forças, tento ser firme com as palavras que vão sair. – Se você não abaixar isso, eu vou desligar você... para sempre!

Zeus leva um tempo até abaixar a arma, pois parecia decidido a atirar no Luke. Acho que todos nós estávamos atordoados com tudo o que aconteceu, ainda mais com essa agora.

– Você sabe aonde... – Antes de terminar de falar, escutamos vários passos vindos em nossa direção, com certeza eram mais deles e antes de tudo, precisávamos sair dali.

Corremos até a saída do prédio, a Menina estava num carro dos Agentes, junto com Lydron em seu colo, esperando por nós.

Luke me olha confuso e trava na hora de entrar no carro.

– Vamos Luke, ela está do nosso lado. – Digo.

Ele entra meio desconfiado, mas logo entra e relaxa na cadeira detrás.

– Bem para onde vamos? – Diz a Menina sorrindo.

– Para beeem longe daqui e o mais depressa possível! – Eu tento sorrir, mas ver muitos caras saindo do prédio e todos armados faz com que meu corpo inteiro trema.

Eles param e guardam suas armas como se estivessem dando tempo para que fugíssemos. Contudo, algo mais irreal acontece, todos nós olhamos atentamente para eles. Como se o líder estive passando entre eles, eles abrem caminho... E lá está ela, passando ordem para eles, tenho certeza que meu coração foi engolido por algum tipo de buraco negro. Tudo poderia acontecer, menos isso.

Eni está trajada numa roupa de couro e cheia de armas, seus cabelos estão soltos e tenho certeza que seus olhos encontraram os meus. Zeus está a ponto de descer do carro e correr atrás dela, eu também estou, mas aquilo pareceu ser o suficiente, pelo menos por hoje. Encaro a Menina no volante e ela entende o que quero dizer.

Sem nenhuma palavra mais, a Menina sai em disparada para longe dali, para longe de tudo. Não podíamos desperdiçar está chance. No fundo eu só queria esquecer de ter visto ela, queria esquecer que ela estava com eles, mas não podia, eu tinha que salvar ela, tinha que salvar meu coração.

Meus olhos se fecharam e tudo escureceu.

***

Por que você deixou eles escaparem? – Me pergunta a Agente Walker, e eu não sei o que responder, nem eu mesma sabia o porquê tinha feito aquilo, mas sentia que era preciso fazer, era preciso salvar a vida deles.

Muitas vezes eu os via nos meus sonhos, eu os amava sem os conhecer, o que era totalmente inaceitável para meu pai. Quantas vezes eu não levei tapas na cara só de perguntar o que eram esses sonhos...

– Hein, Senhorita? O Sr. Setrákus não ficara feliz com isso.

– Blá Blá Blá... você só sabe reclamar Walker, se ousar dizer mais alguma coisa, eu mesma direi ao meu pai que você deixou eles escaparem.

– Ele não vai acreditar...

– Será que não? – Sai andando em direção ao helicóptero, tinha que pensar em alguma desculpa e tentar entender o que estava acontecendo comigo. Eu sabia que não estava sendo eu, que tudo aquilo era uma mentira, que muito coisa estava errada, mas toda vez que eu tentava me lembrar de algo, minha cabeça doía.