Um Dia Qualquer. escrita por Hikari


Capítulo 7
Escola e uma visita inesperada. - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Desculpaaaaa por eu não ter postado antes!! Não tive tempo de terminar, tive prova a semana inteira, desculpa >
Bom, eu também queria pedir desculpas porque esse capítulo foi mais focado na Annie (uma boa parte, de novo) e no Fynn, mas tem no final uma reunião de família õ/ (me perdoe L Cullen, você queria ver as cenas da família e eu acabei deixando pro final e para uma parte menor, eu prometo que no próximo vai ter mais de todos juntos D:)
Ah sim, as amigas de Annie foram baseadas na minha própria prima e na minha amiga.



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Pov. Annie.

Acordei com uma claridade indesejável nos olhos.

–Hora de ir pra escola. –falou baixinho minha mãe no meu ouvido.

–Não... –gemi e voltei a dormir, abracei a presença ao meu lado, pensando que fosse um travesseiro. –Me deixa dormir só mais um pouco...

–Vamos, Annie, você não vai querer se atrasar bem no primeiro dia, vai? –ela perguntou, me sacolejando delicadamente.

–Acho que vou. –respondi de olhos fechados, tentando tampar com uma mão a claridade que batia nas minhas pálpebras.

–Annie! Não me diga que vou ter que apelar para a água gelada? –deixei sua voz dissipar perante meus sonhos. –Ou será que vou ter que lembra-la de que vai ter que dar o banho ao Haymitch se você não for? E não é no cachorro que eu digo...

Esbugalhei os olhos, desperta.

–Tô acordada, esquenta não. –avisei-a e quando fui levantar percebi um peso no meu lado.

Meu irmão Fynn dormia ainda, e estava abraçado comigo, não queria se desgarrar de mim. Havia me esquecido que ele estava dormindo no meu quarto.

Minha mãe riu.

–Parece que agora você tem um bicho de pelúcia.

Olhei para ela com um pedido no olhar.

–Você pode...?

–Não, você que irá acorda-lo, e trate de tira-lo da cama. Aliás, vocês têm quinze minutos para se trocar e sair se não quiserem chegar atrasados. Lembre-se do que eu te disse...

Ela saiu e me deixou sozinha ali. Não queria lavar o Haymitch, muito menos ir a escola. Qual que era melhor?

Decidi me levantar, bem, se eu pudesse.

–Fynn... –chamei meu irmãozinho. –Fynn...

Ela começou a se revirar inquieto e quando pensei que ele finalmente iria me soltar ele só me apertou ainda mais.

–Haymi, não seja desobediente. Fique aqui.

Haymi? Ele achava agora que eu era um cachorro? Ok, ele definitivamente não estava nesse mundo.

–Fynn! –perdi a paciência. –Acorda! Temos escola!

–Hãm? Escola? Você disse escola? –ele acordou assustado.

–Sim! Porque vamos ter uma daqui a pouco! –exclamei e me levantei, indo ao banheiro. –É melhor se trocar, não vai querer chegar tarde, sim?

Não esperei pela sua resposta, tomei um banho rápido e me troquei, estava atrasada, não podia desperdiçar nenhum momento.

Quando eu abri a porta do banheiro, adivinha quem estava na cama dormindo? Sim, Fynn ao menos havia se levantado.

–Fynn! –gritei com ele, tirando seu cobertor e escondendo-o para que ele não o pegasse de volta. –Acorda!

Fynn se revirou na cama e gemeu com frio, contorceu-se numa bola e tentou se cobrir com os travesseiros da cama.

–F-y-n-n! –tirei os travesseiros dele e acabamos segurando um ao mesmo tempo, tentava tirar dele enquanto ele puxava para si.

Minha mãe bateu na porta do quarto nos apressando.

–Cinco minutos! Vou estar no carro, caso vocês quiserem carona.

Assenti e ela saiu, puxei bruscamente o travesseiro dele e, já sem paciência, fui ao seu quarto.

Peguei seu uniforme e joguei na cabeça cambaleante do meu irmão.

–Rápido, Fynn! –ele pegou o uniforme de sua cabeça e encaminhou-se devagar até o banheiro. Ele estava brincando comigo. –Eu não vou te esperar, estou indo. Tchau.

–PERAI! –ele gritou quando estava a meio passo de sair, ele foi ao banheiro e dali dez segundos ele estava na minha frente, pronto.

Quando ele saiu vi na minha cabeceira uma pilha de papéis, foi quando me toquei dos meus trabalhos, tinha completamente esquecido!

Corri e rapidamente peguei os papéis.

Se ao menos tivesse me lembrado antes, agora já era. Tinha certeza que teria que apresentar meu trabalho na frente da sala inteira. E o que eu poderia fazer?

Desci as escadas pensando em dar um jeito nisso, na frente de casa vi que o carro já estava ligado, entrei correndo e minha mãe partiu, Fynn estava bocejando e a medida que chegávamos mais perto da escola eu olhei para o papel com praticamente nada escrito, e o que eu havia escrito não tinha quase nada que pudesse ser útil, suspirei, teria que inventar algo, urgente.

–Chegamos! –minha mãe avisou, parando na frente da entrada da escola, ah não, todos já estavam lá, podia visualizar todas as pessoas da minha sala.

–Hãm, obrigada, mãe. –disse antes de abrir a porta.

–Ei, espera, não vai se despedir? –ela me repreendeu, olhei para ela e voltei a olhar para a escola e então me inclinei e dei um rápido beijo em sua bochecha.

–Assim está bem melhor. –ela sorriu e se virou para Fynn, que a abraçou e implorou para que ela chegasse o mais rápido possível para nos buscar.

Desci do carro junto com meu irmão e fechei a porta.

–Annie. –minha mãe me chamou, virei-me para o carro e a observei. –Cuide de seu irmão.

Anui e gesticulei com um sinal de indiferença com a mão, peguei a mão de Fynn, nos misturamos à pequena multidão de pessoas que entravam, atravessamos o portão e entrando na “selva”.

Sério, se você por acaso visitasse o distrito 12 algum dia e fosse estudar na escola por aqui, você veria um bando de animais selvagens.

Bem, pelo menos a maioria deles.

Alguns veteranos caçoavam dos novatos, fazendo bolinha de papeis e cuspindo com canudo. Ridículo.

Enquanto passava com meu irmão pela entrada, consegui visualizar um desses “animais”. Esbarrei nele de propósito, fazendo-o cair. Ri silenciosamente.

Vários grupinhos se amontoavam em cada canto da escola, ainda não havia batido o sinal, por isso, a conversa fluía e carregava pedaços do que eles falavam aos meus ouvidos, coisas do tipo “o que você fez nessas férias?” Ou: “você viu aquele menino que acabou de entrar?”.

Um menino que corria por aí tentando pegar um disco no ar trombou comigo e com meu irmão.

–Ei, cuidado onde anda! –avisei, ele apenas virou e se desculpou voltando para os amigos barulhentos.

Viu? Um típico primeiro dia de aula.

–Annie. –Fynn puxou a manga do meu casaco. –Jason e Colin estão me chamando. Até depois então?

–Até. –disse, soltando sua mão.

Observei enquanto ele saia correndo ao encontro dos seus amigos, levantei-me na ponta dos pés e tentei encontrar Alex e Melanie, minhas duas únicas e melhores amigas dali.

–ANNIE!! –duas pessoas gritaram meu nome e pularam nas minhas costas, me fazendo oscilar perigosamente para o chão.

Elas saíram e consegui me equilibrar a tempo de Alex pular nos meus braços.

–Quanto tempo! Estou com tanta saudade! –ela disse para mim, me abraçando, tentava segura-la sem a deixar cair, era impressão minha ou ela havia crescido?

Alex era a minha amiga mais doida que alguém poderia encontrar, ela fazia de tudo para você rir quando se sentia mal e fazia as maiores loucuras sem a menor preocupação, uma vez tinha até colado um daqueles papeis “Me chute” nas costas da diretora e ainda conseguia fazer gracinhas na sala de aula e tirar dez em todas as provas.

–Eu também estou, Alex. –disse com esforço, Melanie notou minha dificuldade em segura-la e falou suavemente para ela:

–Alex, deixe Annie respirar um pouco, daqui a pouco ela perde os braços com seu peso.

Alex retorceu a cara e mostrou a língua para Melanie, mas desceu me dando um grande alívio, meus braços começaram a latejar.

Melanie era a mais calma, parecia nunca se estressar e conseguia resolver todos os problemas que apareciam na vida dela e na nossa, até aqueles exercícios impossíveis de matemática. Eu a achava incrível.

–Eai? Como foram as férias de vocês? –ela perguntou.

O sinal bateu e escutamos um coro de protestos, as pessoas começaram a se esbarrar enquanto andavam de encontro a porta de entrada do colégio.

–Bom, foi entediante. –Alex disse ao nosso lado. –Como sempre, fiquei em casa com meu irmão me atormentando o dia inteiro.

Ela bufou e me cutucou.

–E você? Algo de interessante? Tenho certeza que sim. Fala! Fala! –ela continuava me cutucando e falando sem parar.

–Calma, Alex. –ri e afastei sua mão, mas não adiantou nada porque ela começou a me cutucar com a outra mão. –Na minha não aconteceu nada também.

–Ah qual é Annie! –dessa vez foi a vez de Melanie implicar comigo. –A gente sabe que você tem alguma, você sempre tem. Ainda mais com a sua família...

Nós entramos na sala e nos sentamos nos nossos lugares de sempre: no canto perto da janela, nem muito na frente nem muito a trás.

–Isso mesmo, nós não caímos nesse de você não ter nenhuma novidade, a gente tá aqui no tédio, poxa! –Alex reclamou, ainda cutucando minha barriga.

–Está bem. –respirei fundo, mas era verdade, não tinha nenhuma mesmo. –Bom, eu não consegui fazer o trabalho das férias. –admiti.

Alex parou de me cutucou e levantou o braço, com a boca aberta e balançando a cabeça com um sorriso irônico.

–E desde quando isso é novidade, me diz?

Melanie deu um risinho, quando eu estava prestes a responder a professora entrou na sala, fechei a boca antes de ela chamar minha atenção, era inacreditável como ela tinha olhos só para mim e para Alex, afinal, o que nós fazíamos? Nada de mais. Mas não parecia isso para a professora.

–Bom dia! –ela cumprimentou, mas sabia que ela não queria realmente nos desejar um “bom dia”, olhei carrancuda para ela.

–Eu falei bom dia, classe! –ela repetiu.

–Bom dia, professora... –nós respondemos desanimadamente e quase morrendo, odiávamos aquela professora.

Ela empinou o nariz em sinal de aprovação, pegou um caderno e começou a falar, e falar... e falar... e falar... nunca prestava atenção nas aulas dela, nunca conseguia.

–Alex Green? –a professora chamou e Alex que sentava ao meu lado levantou a cabeça na qual estava deitada.

–Oi?

–O que eu acabei de falar?

Alex olhou para os lados, desnorteada. Tentei fazer contato visual com ela, porém a professora me mandou um olhar matador e acabei ficando quieta.

–Hum... Sobre... Hã.... –então ela encarou os olhos da professora e respondeu vitoriosa: - Sobre Revolução Francesa.

A professora sinalizou com os dedos de que estava de olho nela e ela apenas revirou os olhos quando ela voltou a ler o texto “de ninar” dela.

Não disse que Alex sempre acertava o que perguntavam a ela?

Ela continuou com suas perguntas para a classe e cada vez que ela tirava o olho do texto em me encolhia e olhava para baixo, para a apostila, com a finalidade de ela não me escolher.

Isso que era o pior das aulas dela, ela nos dava prova oral todo santo dia, e sempre, SEMPRE, pedia para que eu apresentasse todos os meus trabalhos.

Por quê? Porque ela sabia que eu não fazia e gostava de me humilhar publicamente.

Lógico, eu havia feito uma promessa para mim mesma falando de que eu iria começar a fazer os trabalhos direito.

E é claro que eu não cumpri.

A aula passou deprimentemente lenta, além de não conseguir me concentrar no que a professora falava, tinha que aguentar mais uma aula com ela.

–Bom, espero que tenham entendido. Amanhã quero tudo isso estudado para termos uma prova. –a sala começou a reclamar. –Silêncio! Se vocês prestaram atenção vão conseguir fazer a prova tranquilamente.

Alex imitou uma pessoa morrendo e apontou para a professora, mexendo a boca em sinceras palavras, que me deixavam emocionadas “é ela” falava enquanto passava sua mão-faca pela garganta.

Melanie e eu rimos e a professora olhou diretamente para nós com um olhar cortante, abriu um sorriso apodrecido e falou para mim:

–Annie! Você fez o trabalho de férias? Creio que sim. Pode vir aqui na frente e ter a honra apresenta-lo para nós.

Praguejei para mim mesmo e peguei a folha onde deveria estar meu trabalho. Teria que inventar. E isso tinha que ser agora.

–Vixi... –escutei alguém murmurar e levantei o olhar para procurar de onde vinha aquilo.

–Aê! Deixe-a em paz! –Alex falou alto e levou uma repreensão da professora, que Alex não se importou.

Comecei a ler o que estava escrito gaguejando.

–O trabalho que vou apresentar é sobre... hãm, sobre os incas.

Ponto. Acabou, agora era comigo.

Fingi ler no papel e comecei a falar coisas que me lembravam e que vinham na minha cabeça.

–Eles eram um povo muito antigo... Muito mesmo e eles foram destruídos... eles faziam previsões através de lhamas sacrificadas... e veneravam o sol...

–Eles não veneravam o sol, Annie! Veneravam o deus sol, especificamente. (N/a: Apolo u.u –me matem)

E quem se importa? É quase a mesma coisa. Não disse nada e quando fui abrir a boca alguém se intrometeu.

–Ela não fez o trabalho, professora! Por que insisti tanto em chamar ela? Ela nunca faz! Acho que ela pensa que só porque os pais dela são famosos por aqui ela não tem a obrigação de fazer o que os outros fazem.

Vi quem era, a pessoa de sempre. Tess.

–Não começa, Tess! –Alex se levantou, enfurecida. –Ninguém vai mexer com o feijão da minha marmita aqui, ok?

Tess olhou para ela desafiadora, apressei-me e me coloquei diante de Alex.

–Está tudo bem, sente-se aí e se comporte. –adverti, Alex sentou-se hesitante e olhei para a professora, que estava pouco se lixando dentre as nossas discussões.

–Annie Mellark, pode se sentar, por favor. –a professora disse rispidamente.

Sentei, não queria criar problemas.

–Não liga pro que a Tess diz. –Melanie virou-se para mim.

–Eu sei, eu não ligo.

–Lógico que não, caso isso piorar saiba você é a vaca do meu curral, não quero que ninguém a perturbe e ninguém vai te perturbar.

–Já disse, está tudo bem. –falei, sorrindo para ela.

Estava acostumada as provocações de Tess, meus pais eram famosos, sim. Mas eu não me sentia privilegiada ou algo assim por isso. Eu simplesmente esquecia de fazer os trabalhos. Não podia evitar.

A aula continuou chata como sempre, acho que nem é preciso detalhar como foi. Quando o sinal do intervalo bateu, foi como se eu pudesse finalmente descansar.

Fomos para fora e andamos falando sobre coisas diversas.

–Sabe, nessas férias eu fiz uma experiência com a minha outra irmã, aquela que veio nos visitar e que mora no distrito 4. Nós pegamos um peixe vivo e vimos por quando tempo nós conseguimos deixa-lo na boca sem cuspir.

Melanie assentiu, com a expressão contorcida e virou o rosto.

–Às vezes eu não consigo te entender. –falei para ela.

Ela deu de ombros e pegou um pedaço do seu bolo, ameaçando que iria me beijar na bochecha com o bolo já mastigado na ponta do beiço, fugi dela e quando estava encurralada, o sinal tocou. Bem na hora.

–Vamos, Alex, o sinal bateu! –falei, tentando empurra-la.

Ela riu e se afastou, engolindo a sobra do bolo, Melanie ficou quieta.

–Não vou nem falar nada...


Voltamos para a aula e tudo se passou como sempre, eu quase dormi, Alex desenhava na apostila e Melanie escutando a professora atentamente.



Pov. Fynn.


Saí da aula desesperado. Aquele era o primeiro dia de aula, mas já parecia ter se passado metade do ano.

–Até amanhã, Fynn. –Jason falou antes de partir.

Fiquei esperando minha mãe chegar junto com Annie, ao meu lado.

–Como foi o dia de aula hoje? –perguntei, tentando puxar assunto, éramos praticamente os únicos por ali e estava um silêncio que não acabava nunca.

–Tudo de pior que você possa imaginar. –ela me disse, encostando-se ao assento de madeira do banco onde estávamos sentados.

–Somos dois. –fizemos nosso toque com as mãos, batendo-as e socando depois.

Depois de um tempo interminável, conseguimos ver o carro da nossa mãe chegando.

Pulamos do banco e disparamos em direção ao carro.

–Nem demorou, não é, mãe? –fui logo a cumprimentando.

–Desculpa, filho, tivemos um pequenos imprevisto... Uma visita chegou em casa. –ela falou com uma careta.

–Visita? –perguntei. –O tio Gale resolver vir mais cedo com a tia Agatha?

Eu já disse que a tia Agatha faz uma comida maravilhosa? Esperava que fosse ela, ela sempre fazia nossa comida quando nos visitava, faz dois anos desde que ela e o tio Gale estão casados, e parece que Annie já não está mais tão brava com ela, uma vez até conseguiu rir de verdade nas piadas dela.

–Não, não são eles. –minha mãe avisou e se arrumou no banco. –Bem, vocês vão ver.

–Hummm... Quem será? –minha irmã pressionou, dando um cutucão na barriga dela, mas minha mãe apenas fez um sinal de zíper fechado na boca e se concentrou na estrada. –Quem você acha que é, Fynn?

Pensei um pouco, desisti.

–Não sei...

Minha mãe riu e apontou para frente.

–Vocês vão descobrir rapidinho.

Olhei para frente, já podia ver minha casa, e foi o que me impressionou mais ainda.

Arregalei os olhos e abri a boca, completamente pasmo.

–Mas. O. Que. Raios. Aconteceu. Com. A. Nossa. Casa? –minha irmã falou devagar, se inclinando o máximo possível do assento. –Ô-ou... Por favor, não me diga que...

A casa estava toda adornada de tapetes felpudos e laços nas janelas, havia sinos na porta, os quais tilintaram quando alguém a abriu, uma coisa medonha e bufante saiu dali, ah espera...

–Effie? –perguntei.

–Só podia ser. –Annie fechou a boca e tentou se esconder.

–Não disse que iriam acertar na hora? –minha mãe nos disse, sorrindo.

A coisa bufante – Effie, para ser mais preciso. – chegou perto do carro, abriu com delicadeza a porta e falou em uma voz estridente:

–Annie! Mas que linda que você está! –Annie que estava toda encolhida deu um meio sorriso falso e foi puxada para um abraço apertado.

Abri lentamente a porta e consegui me esgueirar para fora, contornei o carro e tentei sair da vista dela, mas quando estava entrando em casa fui pego.

–Oh, Fynn! –ela apertou minhas bochechas, era disso que eu não gostava, ela amava apertar minhas bochechas, estava pensando seriamente em comprar uma “bochecha metálica” para essas ocasiões. –Como você cresceu!

–Tia Effie, nós só não nos vemos há quase uma semana. –tentei falar, o que só saiu um murmúrio quase ininteligível por ela ainda estar apertando minhas bochechas.

–Eu sei, querido. Mas tia Effie sente muita falta de vocês.

Escutei Annie rir atrás de mim.

–Ah é, tia, nós também. –a vi entrar em casa e senti inveja por ela não ter que passar por essa tortura.

Tia Effie não entendeu a ironia e sorriu, pomposa.

–Você não precisava sair, Effie. –minha mãe me salvou. –Você mesma não disse que queria que fosse uma surpresa?

Ela até que enfim largou minha bochecha dolorida e eu desesperadamente me afastei dela, apalpando a parte do meu rosto que ardia.

–Acho que não consegui me segurar. –ela soltou um risinho e entrou na casa.

Olhei para minha mãe que me levantou e eu subi nos seus pés, ela me levou até a sala toda decorada, isso era outra coisa que Effie adorava fazer: transformar nossa casa em uma casa mágica das fadas, todos os lugares onde eu batia o olho havia coisas cintilantes e coloridas, as poltronas tinham enfeites peludos e – para variar. – rosas.

Podia ver meu pai que tentava costurar a peruca que eu havia pegado de Effie. Senti uma pontada de remorso por aquela visão, mas logo isso passou.

–Peeta, querido, acho que ainda tem uma falha ai em cima. –ela indicou um pequeno espaço quase invisível.

Meu pai fez uma cara de sofrimento e me mandou um olhar de “satisfeito?”. Retribui com um olhar inocente.

Ficamos um tempo na sala tendo que aturar Effie falando da sua vida, como sempre.

Minha barriga roncou e todos me encararam.

–Bom... Acho melhor nós comermos! –Effie bateu as palmas e se levantou toda sorridente.

Quando ela desapareceu pela porta perguntei para minha mãe:

–Foi ela quem fez a janta, mamãe? –ela assentiu, senti meu estômago se embrulhar e segurei minha barriga. –Acho que não estou mais com fome.

–Se você não tivesse pegado essa bendita peruca ela não estaria aqui. –Annie falou baixinho.

Effie nos chamou na sala e fomos obrigados a ir, sentei na cadeira e pedi socorro para meu pai que meneou a cabeça em sinal de que não podia fazer nada.

–O jantar está servido. –Effie anunciou e colocou o prato principal em cima da mesa. Um frango enorme todo despedaçado e gosmento, com um gordo e nojento brócolis. E couve de Bruxelas. Não me julgue. Mas eu odeio brócolis. E couve de Bruxelas. E por acaso aquilo era realmente um frango? Tinha minhas dúvidas.

Annie, ao meu lado, engoliu em seco.

–O que vocês estão esperando? Sirvam-se. –Effie cortou um pedaço do tamanho do mundo e colocou no meu prato. Ahhhh, por que eu?

–Como se diz, Fynn? –Haymitch incitou.

–Obrigado, Effie. –peguei o garfo e comecei a revirar a gororoba que parecia um frango... Com brócolis. E couve de Bruxelas.

Levantei os olhos e vi meu pai forçando-se a comer, minha mãe engoliu um pedaço do “frango” e tossiu, constrangida.

–Está muito bom, Effie. –ela disse, falsamente.

–Não elogie se não ela vai querer cozinhar ainda mais para a gente. –meu pai murmurou para ela, mas todos da mesa ouviram e riram. Principalmente eu.

Distraído, sem querer eu levei um pedaço do frango na boca e eu quase me engasguei. Disfarçadamente eu engoli o frango e fingi estar fazendo outra coisa.

Effie estava aprendendo a cozinhar. Não a culpava por quase ter cortado o dedo de minha mãe com a faca quando ela estava ensinando Effie a cortar uma maça, afinal ela nunca havia tocado em algum objeto desses antes.

Mas por que ela foi tentar fazer o jantar se ao menos isso ela sabia?

–Effie, sabia que você está mais linda do que nunca, hoje? –Haymitch mandou uma cantada para Effie que inflou a bochecha no meio da mastigação e pediu licença, indo ao banheiro, Haymitch olhou para nós, desentendido.

Ele levantou-se e começou a seguir para onde Effie havia ido.

–Acho melhor você não ir. –minha mãe avisou.

Como sempre, Haymitch ignorou o comentário.

Aproveitei o momento e taquei todos os pedaços de carne e brócolis e couve de Bruxelas no chão e mandei Haymi ir comer. Por mais incrível que pareça ele gostava. Na verdade, ele comia de tudo. Por isso que eu achava esse cachorro mágico.

Uma conversa me trouxe de volta a mesa.

–Annie, filha, o que acharam do nosso trabalho? –meu pai pergunta, alegre e ansioso para saber a resposta.

Chuto a perna da minha irmã e imploro silenciosamente para ela não falar o que aconteceu.

–Bem... –ela começou e parou. Vi que meu pai começou a desconfiar.

–Bem...? –ele comeu a comida da Effie sem pestanejar, devia estar muito aflito para saber o que ela falaria porque para não sentir o gosto daquilo...

–É... Eles adoraram! –ela falou sem muita convicção. Sabia que meu pai não tinha caído nessa.

–O que aconteceu? –ele falou com o sorriso do rosto se esvaindo lentamente.

–O Haymi comeu. –Annie disse tristonha.

Vi que meu pai se desanimou, olhou para a comida e ficou mais triste ainda.

–Foi tudo por causa de mim! –declarei me sentindo culpado. –Foi mal...

–Não, tudo bem... Eu sei que o trabalho não era tão importante assim...

–Pai! É CLARO QUE ERA! EU NÃO PRETENDIA... –Annie começou a jorrar as palavras, como sempre fazia quando se sentia em um momento de aperto. -DESCULPA, EU REALMENTE NÃO Q-

Ela foi interrompida pela risada do meu pai.

–O que foi? –ela perguntou, pensei que ele tinha enlouquecido e fiquei tão desnorteado quanto ela.

–Eu vi o que sobrou do “trabalho” lá no quintal.

Annie enrubesceu e para tirar o momento de tensão, gritei:

–SOBREMESA!

Minha mãe riu e se levantou com meu pai, ambos estavam com um sorriso estampado no rosto, eu e Annie nos entreolhamos, desconfiados.

Eles foram para a cozinha e voltaram com uma bandeja de um bolo de um metro de altura, comecei a salivar na hora.

–Seu pai me ensinou a fazer um bolo. –mamãe contou.

–Foi você quem fez? –eu e Annie dissemos ao mesmo tempo.

–O que foi? Qual a surpresa? –ela cruzou os braços e meu pai riu.

–Nada... Nada. –disse pegando um pedaço, quer dizer, uma metade do bolo.

–Ei, deixa um pedaço pra mim! –Annie reclamou e agarrou a bandeja, colocando a colher e comendo avidamente.

–Nossa, e pra dona do bolo? Não vão deixar nada pra mim? –mamãe reclamou.

–O que foi? Você já tem o papai, nos deixe. –expliquei e devorei a maioria do meu bolo em dez segundos. E não é que estava bom mesmo?

Consegui escutar um fino e distante grito de “Haymitch, seu pervertido!” na minha mente, mas não me importei.

Tudo que era importante agora era o bolo. Aquilo sim era um jantar.



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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Está bom? Ruim? Péssimo? Eu sei que vocês querem Peetniss é que eu fiquei tão empolgada em descrever o dia-a-dia dos filhos deles que acabei deixando esse capítulo mais para eles, mas eu PROMETO que no próximo será Peetniss... por favor, comentem e me digam o que acharam. O próximo vai ser melhor, prometo.



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