Pov. Fynn

Um estrondo me acordou, levantei-me suando frio e ofegante. Meu ouvido estalou e começou a fazer um barulho fino e irritante na minha cabeça: “piiiiiiiiiiiiiiiiiii”.

No meu quarto pequeno uma luz iluminou todos os móveis, o armário a minha frente, minha escrivaninha ao lado e o chão com Haymitch deitado. Tudo parecia tenebrosamente assustador.

O armário pela minha visão estava entreaberto e uma mão pendia da fenda da porta, na escrivaninha havia uma pessoa de rosto indistinto sentada em cima e no chão, bem debaixo dos meus pés, apareceram diversas mãos e tentáculos apalpando o ar em busca de meu pé.

Estremeci e me encolhi na minha cama, agarrando meu travesseiro, assombrado.

A chuva despencava lá fora, outro rugido me fez pular e eu desisti de tentar ficar ali, fingindo ser corajoso.

Fui direto pro quarto dos meus pais.

–Pai!! Mãe!! –sussurrei alto, pulando na cama, caindo em cima dos meus pais, que dormiam abraçados, me enfiei no meio deles e fiquei ali, tremendo.

–Hãm? O quê? –minha mãe começou a acordar, parecia ao menos perceber a chuva lá fora e os trovões ensurdecedores.

–Um... Um... Um... –gaguejei. –Um monstro!

Outro trovão sacudiu a janela e me escondi debaixo do cobertor. Poderia sentir a vibração no meu corpo, eu iria morrer! Nós iríamos todos morrer! O trovão iria incendiar a casa e os monstros iriam nos devorar, iriamos morrer!

Meu pai riu, se divertindo da minha situação.

–Calma, filhote. É só uma tempestade.

–Mas... Mas... –outro trovão, dessa vez parecia bem mais perto, gritei e abracei minha mãe.

–Querido, não precisa ficar com medo. –ela falou suavemente para mim, tirando meus cabelos suados da minha testa.

–Mas e se ele resolver vir até aqui? E nos atacar?

Debaixo da coberta e no calor dos meus pais, senti uma mão fazer cócegas em minha barriga, ri sem conseguir me controlar, as lágrimas que nem havia percebido brotar nos meus olhos escorregaram pelo meu rosto e desapareceram diante da minha súbita felicidade.

–Então nós vamos lutar e ganhar! –meu pai assegurou e abraçou minha mãe e me apertando no meio deles. Riamos tanto que nossa voz sobressaía o som dos trovões.

–Mas o que é isso? –uma voz conhecida nos interrompeu e Annie adiantou-se e se prontificou na nossa frente. –Por que todos estão rindo?

Observei seu rosto confuso por um tempo.

–A gente vai vencer o monstro da tempestade. –expliquei. –Ninguém pode nos derrotar!

Annie me fitou por um tempo, com o rosto sem expressão. Ficamos em silêncio por um tempo, o barulho da chuva que batia no teto sendo o único ruído da casa.

–E vocês não me chamaram? –ela perguntou ao mesmo tempo atônita e revoltada.

Meus pais riram e meu pai que estava mais perto puxou ela para mais perto e a derrubou na cama, deixando-a ao meu lado.

–Desculpa por não ter te acordado e te convidado para vir dormir aqui com a gente, Anita. –meu pai disse rindo, falando o apelido que minha irmã odiava.

–Anita. –repeti com um sorriso no rosto.

–Não me chamem de Anita! –ela reclamou, porém vi um sorriso se esboçar em seu rosto.

Ficamos ali, juntos e consegui finalmente dormir, mesmo com o tempo lá fora.

Escutava os trovões e o vento gritando, os monstros estavam furiosos, mas eu sabia que eles não podiam chegar perto, porque eles tinham muito medo de perder a batalha, já como meus pais sempre venciam a luta.