Um Dia Qualquer. escrita por Hikari


Capítulo 15
Aniversário de Casamento


Notas iniciais do capítulo

Ooooooooooooooi, meus leitores lindos, estão bem? ^^
Neste capítulo minha amiga fez o vestido da Katniss! E também vão ter links (ou pelo menos é para ter) em algumas palavras, mostrando a foto daquilo, ok?
Espero que gostem!! (:



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Pov. Katniss.

-Tem certeza que podemos deixar os dois sozinhos? –perguntei para Peeta que estava de frente ao espelho de nosso quarto, imóvel, enquanto eu ajeitava sua gravata borboleta laranja do seu terno preto formal.

-Katniss. –ele disse meu nome pegando minhas mãos e me mandando um olhar tranquilizador. –Não se preocupe, eles vão ficar bem, eles não irão desaparecer da floresta desta vez. 

Peeta piscou para mim abrindo um sorriso brincalhão.

-Mas... você sabe que fico aflita quando se trata disso, não podemos os levar? –fiz um muxoxo tentando arrancar de Peeta um sim.

-Esse é o nosso aniversário de casamento, querida, você não acha que devemos ter um tempo juntos e sozinhos? –ele instigou e me mandou virar, para poder fechar o zíper de meu vestido laranja, no qual era simples e que Peeta havia combinado as cores.

-Sim, mas...

-Sem “mas”. –ele terminou de fechar o zíper e me virou, olhando para os meus olhos. –Está pronta?

Sorri concordando com a cabeça.

Ele arrumou uma mecha de meu cabelo para trás com um sorriso enorme no rosto e me conduziu pela mão até onde nossos filhos estavam fazendo tarefa para se despedir.

-Bom, pessoal! É, isso. O código de conduta que devem seguir é...

-Nada de queimar a casa, bagunçar, jogar Haymitch pela janela, colocar Haymi na privada, maquiar Haymitch enquanto ele dorme e blábláblá, nós sabemos. –Anny e Fynn responderam juntos, eu ri. Peeta sempre repetia isso.

-Nunca é ruim relembrar, não é? –Peeta murmurou baixinho, ranzinza por estragarem a moral dele de falar suas amadas regras, sorri e apertei sua mão carinhosamente.

-E também, tentem não melecar aí. –acrescentei, Anny e Fynn comiam o chocolate derretido que havia sobrado da calda do bolo que EU fiz, sozinha. E gostava de anunciar isso para o mundo.

Tinha separado para ambos metade da calda em duas panelas diferentes para não dar briga, mas parece que o de Fynn acabou cedo demais, porque ele já estava de olho no de Anny, balancei a cabeça mas não disse nada.

-Está bem, mãe. Pode deixar com a gente, nós não vamos melecar nada. –ele assegurou, mas não confiei muito em sua palavra.

Anny estava tão concentrada na tarefa em que fazia, e praticamente havia quase comido o lápis inteiro de tanto o morder frustrada, que nem percebeu Fynn que esticou o braço para raspar com o dedo o chocolate derretido que estava escorrendo pela borda da panela.

-Fynn! –ela deu um pulo quando a mão do irmão estava a meio caminho da boca. –Larga isso!

Ela deu um tapa tão forte na mão dele que ardeu na minha alma.

-Ei! É assim que você demonstra amor e carinho por mim? –ele fala indignado, chacoalhando a mão freneticamente com os dentes trincados. Podia imaginar a dor.

-Foi culpa sua que colocou o seu dedo imundo no meu chocolate. –ela retrucou e mostrou a língua antes de voltar para a tarefa e esquecer-se de nós completamente.

Peeta pigarreou.

-Anny. –repreendeu-a olhando severamente, ela se encolheu e me olhou, apontei para Fynn com minha cabeça e arqueei as sobrancelhas, com expectativa.

-Desculpa, Fynn. –ela disse a contragosto, mas pelo menos disse. –Não devia ter feito isso.

-Não devia mesmo. –concordou Fynn que estava lambendo o dedo coberto de chocolate e assentindo energicamente com a cabeça.

-Não exagere, Fynn. –Anny reclamou, pegando a panela e enfiando uma colher cheia de chocolate na boca fazendo com que Fynn a encarasse aborrecido.

-Acho que eles vão ficar bem, o que você acha? –Peeta sussurrou no meu ouvido.

-Acho que sim. –respondi e fomos recuando rumo à porta, enquanto os dois discutiam pelo olhar, podia sentir até mesmo as fagulhas me agredindo.

Eu e Peeta estávamos girando nossos calcanhares para a porta quando nos interromperam:

-Vocês dois! Podem parar já aí! –Anny levantou-se da cadeira. –Onde pensam que vão?

Virei à cabeça e vi que ela estava com as mãos na cintura, nos olhando autoritária como se os papéis estivessem se revertido e os filhos fossem nós.

-Vamos sair... –Peeta apontou para a porta e vendo que Anny não tinha se convencido em nos deixar ir, ele completou: - Lembra-se o que havia combinado com você ontem à noite?

Os olhos de Anny pareceram brilhar com felicidade e ela relaxou seu corpo.

-É sério mesmo? –ela perguntou, quase saltando de empolgação, Peeta assentiu com a cabeça e ela correu para nos abraçar.

-Obrigada, vocês são os melhores. –ela falou para nós e então se empertigou. –Agora, saiam, e não se preocupem em voltar cedo! Podem chegar amanhã de madrugada se preferirem.

Não estava entendendo nada, me sentia excluída de tudo aquilo, Peeta apenas sorria parecendo se divertir com a situação.

-O que estão esperando? –perguntou Anny, franzindo a testa, ela gesticulou para que fossemos embora. –Xô. A noite de vocês está sendo desperdiçada.

Anny começou a nos arrastar para fora de nossa casa. O que era aquilo?

Quando chegamos à soleira da porta, ela fechou um pouco a porta e deixou uma fresta, na qual passou a cabeça e olhou novamente para Peeta com um sorriso enorme no rosto.

-É sério mesmo? –ela insistiu.

-Sim, ela é toda sua. –Peeta começou a rir.

-Obrigada!! Você não vai se decepcionar. –ela então bateu a porta nos deixando ali sozinhos na escuridão da noite. E eu ainda mais desnorteada do que antes.

-O que vocês combinaram? –cochichei com Peeta, tentando entender.

-Sinceramente? Nem eu sei direito, ela perguntou se poderia usar a casa para nos fazer uma surpresa. Disse que sim. –ele respondeu indiferente, mas duvidava que fosse isso mesmo.

Suspirei e andamos um pouco mais para distante da casa.

-Que ela não dê uma festa...

-Eu não vou dar festa alguma! –escutei a voz de Anny gritar do outro lado.

-Ainda está aí, filha? –Peeta gritou ao nos distanciarmos ainda mais, não houve resposta.

Olhei para Peeta e vi que ele sorria, sabia que estava escondendo alguma coisa de mim.

Parei na sua frente e o barrei, impedindo-o de continuar a andar, cruzei os braços, semicerrando os olhos.

-O que você está aprontando, Peeta Mellark? –falei lentamente tentando descobrir o que ele e a sua expressão travessa estavam tramando.

-O quê? Eu? –ele sobressaltou-se apontando para si mesmo. –Você acha que eu estou fazendo alguma coisa?

Continuei a encara-lo sem dizer nada. Ele pensava que eu fosse o que? Continuaria ali até ele me falar o que pretendia armar.  

Ficamos por um tempo sustentando o olhar um do outro, até que por fim, ele desistiu e suspirou.

-Está bem, você venceu. –Peeta aproxima-se e me abraça pela cintura, continuava com os braços cruzados e não retribui o gesto, não iria fazer nada até ele me dizer. –Vamos dizer que uma surpresa irá nos esperar quando chegarmos...

Minha expressão foi lentamente se tornando mais suave, descruzei os braços e perguntei:

-Uma surpresa? Você já disse isso. E que tipo de surpresa é essa?

-Se eu falar qual surpresa é ela não vai mais ser uma surpresa. –Peeta falou sarcástico e riu colando nossas testas e me olhando fixamente nos olhos. –Agora, antes de tudo, por que não vamos onde eu havia prometido que iríamos?

Balancei a cabeça.

-Não. Não saio daqui sem antes saber o que é.

Peeta levantou as sobrancelhas.

-Não? –ele recuou e eu pulei quando ele se inclinou e me pegou no colo, apoiando-me no seu peito. –Então vou ter que leva-la a força?

Debati-me em seus braços, tentando escapar.

Lógico que Peeta não deixou. Apenas me segurou mais forte, só que delicadamente para não me machucar.

-Não seja tão impaciente, querida. A curiosidade mata o gato, você sabe disso.

Parei de me mexer e me rendi, abracei Peeta pelo pescoço e mantive meu olhar firme em seu rosto.

-É, eu amo esse ditado. Porém você me contar não iria fazer mal algum, não é?

Ele não me respondeu, ele iria me contar. De alguma maneira.

-Uma mesa para dois, por favor. –Peeta pediu, quando chegamos ao restaurante. Eu estava corada por ainda estar sendo carregada pelo Peeta, mas ele pareceu nem perceber ou ficar envergonhado por nós sermos as únicas pessoas desse jeito.

-Certo... vocês são o casal Mellark? – a moça que estava atrás do balcão perguntou com um sorriso doce, Peeta assentiu. –Vou mostrar a mesa de vocês. Por aqui...

Então ela nos conduziu para uma imensa sala repleta de mesas brancas com vasos de flores de diversas cores colocadas estrategicamente em cima, as paredes eram de uma cor neutra e a iluminação era forte e enchia todo o espaço de uma cor viva.

O salão estava cheio, com pessoas conversando e jantando, além de casais, eu via famílias e isso me fez lembrar-se de Anny e Fynn e de como eles estariam.

-E aqui está. –ela mostrou a mesa no canto, Peeta afastou uma cadeira com o pé e me repousou ali cautelosamente, olhei para os lados e vi que algumas poucas pessoas nos observavam com um sorriso enorme no rosto e alguns outros dando risinhos, corei mais ainda.

-Obrigado. –ele agradeceu e a mulher que inclinou a cabeça em sinal de consentimento.

-Já vou chamar alguém para atendê-los. –ela disse e saiu.

Olhei carrancuda para Peeta que parecia não notar meu descontentamento.

-Gostou daqui? –ele perguntou pegando minhas mãos na mesa.

-Sim. –respondi. –Um ótimo lugar para você me dizer a surpresa.

Peeta rolou os olhos para mim.

-Você não vai esquecer isso, não? –perguntou e eu balancei negativamente minha cabeça para ele, me esforçava para não começar a roer minhas unhas.

Ele endireitou-se no assento e olhou para as flores que havia na nossa mesa, elas eram incrivelmente verdes, com as pétalas amarelas.

Peeta delicadamente puxou uma das flores e remexeu-a nas mãos, fiquei estudando cada movimento que fazia. Fiquei pensando como eu poderia ter tido a sorte de tê-lo.

-Katniss, o que você está pensando? –ele me surpreende com a pergunta.

Penso um pouco.

-Na surpresa. –digo, colocando meus braços na mesa e apoiando minha cabeça em uma das mãos.

Ele ri.

-Sem ser a surpresa, Katniss. O que você está realmente pensando? –ele tenta, desviando o olhar da flor e prestando atenção no que eu diria, vi que ele estava sério.

Ponderei no que estaria pensando de verdade... não sei. O que eu estava pensando? Era mais como se o que eu havia pensado tivesse se dissipado no ar e agora tudo que eu pensava era no que Peeta havia dito.

Ótima explicação.

Limpei a garganta e o fitei pensativa.

-Eu estou pensando, hmmm... –Peeta continua me encarando, abro um largo sorriso e digo: – Em você. O que está pensando?

Peeta sorriu e me mandou se aproximar. Estávamos tão perto que podia sentir sua respiração em meu rosto.

-Sabe o que eu estou pensando? -ele olhou de esguelha para a mesa ao lado, olhei também.

Uma bandeja havia sido posta na mesa, e quando abriram, apareceu uma enorme e suculenta lagosta.

-Se for à mesma coisa que eu. Sim. –continuei olhando aquele alimento, imaginando como seria o gosto.

-E o que você está pensando? –olho para ele e vejo que ele está me encarando com um olhar divertido.

-Ué, na lagosta ora.

Peeta começou a gargalhar tão alto que as pessoas que sentavam nas mesas perto de nós começaram a nos olhar.

-Do que você está rindo? –perguntei irritada, tinha me empertigado e não achava graça nenhuma.

-Desculpa. –ele falou abaixando a voz e pegando minhas mãos. –Não pude resistir. 

-Não pode resistir a o que?

-A você. –Peeta falou, ainda sorrindo.

-Não vejo o que foi tão engraçado. –resmunguei, fazendo biquinho, emburrada, parecendo o meu filho, Fynn, quando eu não o deixo ver TV.

-Pois eu, sim. –ele riu ainda mais e antes que eu lhe desse um tapa em sua mão o repreendendo ele passou se esticando pela mesa e prendeu a flor em meus cabelos, depois voltou a seu assento e me analisou, com os dedos sob o queixo, pensativo.

Ele gesticulou para que eu fizesse algo, torci o rosto, confusa, e Peeta deu de ombros, então fiz uma pose e uma careta qualquer e ele riu e balançou a cabeça em sinal de aprovação.

De repente aparece um cara com terno suntuoso e um sorriso falso, ele estava com as costas eretas e olhava para nós por cima.

-O que os dois pombinhos querem? –ele pergunta, com uma caneta em uma mão e um bloco no outro, usava luvas brancas e deu um sorriso ameaçador mostrando seus dentes tão brancos feito giz.

 Estremeci, seu jeito lembrava-me um pouco com as pessoas da Capital.

Peeta fez o pedido por mim, apenas acenei a cabeça que “sim” quando ele perguntou se eu queria o mesmo.

Quando o homem foi embora Peeta voltou-se para mim.

-Katniss, você está bem? –ele perguntou, preocupado me olhando com a testa franzida.

-Eu estou sim. –pigarreio, e olho ao redor. –Por quê?

-Você está pálida. –ele diz, colocando sua mão na minha testa.

-Estou bem, Peeta. –retiro sua mão delicadamente e a aperto. –Só tive um vislumbre de alguém conhecido.

-Hm. –Peeta murmurou, então ele começou a falar sobre outras coisas para ver se eu me distraia, o que ele conseguiu fazer com sucesso.

-Aqui estão seus pedidos. –o homem que parecia da Capital apareceu, trazendo dois pratos que depositou na nossa frente. Deu um sorriso amarelo e disse sem muita animação - para não dizer nenhuma-: - Bon Appétit.

Ele curvou-se e foi embora com desgosto.

-Uh, que sujeitinho mais frio. –Peeta comentou e começou a atacar a comida dele.

Enquanto comia não pude deixar de notar aquele cara, ele passava pelas mesas e sempre saia com o nariz torcido.

Quando estava levando minha comida à boca, paralisei.

Vi o cara que olhava pelo canto do olho uma família que havia chegado e que ele tinha acabado de anotar o pedido, a família não era lá comparável as outras que rodeavam, pareciam ser humildes e os pais mostravam para os seus dois filhinhos, um de colo que estava com a mãe e outro que devia ter uns seis anos e que estava inquieto em sua cadeirinha, todos os objetos que havia pelo salão.

Sorri sem perceber, eu podia me visualizar ali, o garotinho que estava com a mãe batia as palmas enquanto a mãe mostrava para ele as flores da mesa e o pai ria quando o menino mais velho perguntou algo para ele.

Mas o meu sorriso logo desapareceu quando o homem chegou com o pedido e “tropeçou” – melhor dizendo, fingiu tropeçar. – e deixou cair à comida na família.

O menininho de colo que há pouco estava rindo começou a chorar com a sopa esparramada em sua roupa azul clarinha e o outro menininho mais velho fungou ao ver seu brinquedinho ensopado da sopa. A mãe estava coberta da cabeça aos pés da comida, assim como o pai.

Vi a boca do mordomo se mexer em delirantes pedidos de desculpas, se remexendo tentando limpar a roupa do pai, observei enquanto a família aceitava educadamente o “atrapalho” do mordomo, e pedia eles mesmo sinceras desculpas.

Quando eles estavam se levantando para ir embora, vi o mordomo repuxar pelo canto dos lábios um sorriso perverso.

Meu queixo caiu. Fiquei com tanta raiva que a minha mão tremeu e, junto com isso, meu garfo que deixou cair toda a comida que ali estava.

-Katniss? –Peeta me chamou e girou para ver o que eu estava olhando.

-Aquele cara... –rosnei batendo o talher no prato, fazendo voar comida por todo lado.

-O que aconteceu? –Peeta sussurrou surpreso quando viu que ele estava limpando a comida derramada.

-Ele simplesmente jogou sopa na família que estava ali! –exclamei e me levantei, não conseguindo me conter. –Ah, mas ele vai ver como que é isso na pele...

-Katniss! Se acalme! –Peeta me segurou pelo braço e eu olhei furiosa para ele.

-Ele fez aquilo de propósito! Só para que a família fosse embora.

Peeta notou minha raiva e me deixou ir, ainda apreensivo.

Porém essa apreensão logo foi embora e ele estava com uma expressão compreensiva.

-Ei, com licença. –pedi rispidamente para o mordomo que estava agachado pegando os talheres caídos, cutuquei-o brutalmente e ele se levantou com a boca aberta prestes a falar algo, mas eu não deixei.

Fechei minhas mãos em punho e soquei seu rosto com a maior força que conseguiria.

Claro, aquilo não bastaria muito. Ah... Como queria ter meu arco ali! Podia mirar bem no crânio dele...

-O que...? –ele começou a gritar e antes que eu fizesse mais alguma coisa para calar aquela boca imprestável eu fui puxada e levada para fora, correndo.

-Nunca mais tente fazer isso com alguém comigo por perto! –berrei para ele enquanto era arrastada pela enorme sala com milhares de olhares recaídos sobre nós, incrédulos.

Antes de me virar e começar a correr com Peeta, vi que o mordomo gritava algo em francês para alguém. Nem quis saber quem era.

Passamos pela porta da frente, apressados, dei um “tchau” para a balconista que nos olhou e retribuiu o aceno sorrindo alegremente, como se fosse normal ver pessoas correndo daquele jeito para fora de um restaurante.

Lá na frente, vi a família.

-São eles? –Peeta perguntou, me trazendo para trás de um muro que havia ali perto, olhando para a família que andava mais a frente.

-Sim, são eles. –disse melancólica.

Ele assentiu e esperamos alguns segundos, cinco guardinhas saíram do restaurante e pararam ali na frente, falaram algo um para o outro e saíram por lados opostos.

Depois que os guardas sumiram na penumbra da noite Peeta agarrou minha mão e foi comigo para a família que havia se sentado na calçada, o pai havia tirado seu terno amarrotado e velho para limpar os filhos que tinham no rosto uma expressão completamente diferente de quando entraram, estavam tristes.

-Vocês estão bem? –Peeta perguntou para eles, o pai ergueu o olhar e sorriu para Peeta calorosamente.

-Sim, muito obrigado. Não precisa se preocupar.

Olhei para a mãe que me olhava com os olhos brilhando, sorri para ela que correspondeu o sorriso e depois voltou ao trabalho de tirar pedaços de carne do cabelo do mais velho.

Sentei-me ao seu lado.

-Vocês precisam de ajuda?

-Não precisa...

Antes de ela terminei, comecei a limpar o mais novinho com a barra do meu vestido, não me importava muito. Afinal, depois era só lavar e já estava encardido mesmo.

-Você não precisa... –ela tentou me interromper, mas eu neguei com a cabeça.

-Preciso sim. –falei com um sorriso dócil. –Eu quero.

Ela sorriu e abaixou a cabeça, vindo me ajudar.

-E você, meninão? –Peeta havia se agachado para ficar no nível do mais velho.

O menino deu um sorriso mostrando as “janelinhas”, os seus dois dentes da frente já haviam caído.

-Vamos seca-lo. –Peeta retirou seu terno e quando foi recobrir o menino o pai falou:

-Não, por favor, não quero que você faça suje sua roupa.  

-Eu não me importo. –Peeta sorriu para ele e começou a secar o garotinho com seu terno, junto com o pai deles.

-Por que vocês estavam correndo? –o garotinho mais velho perguntou, eu ri, ele era um bom observador.

-Por quê? –Peeta repetiu. –É porque fizemos algo que eles não gostaram muito lá no restaurante.

Peeta o olhou tristonho, como se a vítima fossemos nós, o menininho que abriu a boca, surpreso.

-Sério?

-Sim, sim. Eles não vão muito com a nossa cara... você acha que parecemos ser maus?

O garotinho sacudiu violentamente a cabeça, dizendo que não.

-Acho que vocês nunca poderiam fazer uma coisa do mau! –ele falou para Peeta, que começou a secar os cabelos dele com seu terno que ele deixou cair sobre todo o rosto do menininho, e brincou com ele não o deixando ver nada, quando retirou o terno o cabelo dele estava todo bagunçado para cima e para os lados.

Seu pai riu e abraçou o filho, que já estava tão limpo quando poderia ficar.

Assim que eu e a mãe terminamos o trabalho com o mais novo, ela o pegou no colo, passei a mão em seu rostinho rechonchudo e sorridente.

-Como ele se chama? –perguntei, ainda olhando para os olhos enormes e castanhos que me encaravam. 

-James. –a mulher sorriu e beijou o topo de sua cabecinha, o menininho riu, uma risada tão doce e leve que eu também comecei a rir.

Levantamo-nos e eu e Peeta ficamos de frente para o casal e os filhos.

-Muito obrigado mesmo... E desculpe se atrapalhamos a noite de vocês.

-Não precisam agradecer, estamos felizes por ter ajudado.

-E a nossa noite só ficou melhor por isso. –Peeta completou, pegando minha mão.

-Obrigado. –disse o mais velho, corado e abraçado à perna do pai.

Peeta sorriu e avançou para ele, abraçando-o. Fiquei observando a cena e vi os bracinhos do menininho se desagarrarem as pernas do pai e retribuindo o abraço.

Depois de nos despedirmos, vimos à família seguir seu curso e ficamos ali, parados, os vendo desaparecerem com as mãos dadas.

-Comecei a sentir uma tremenda falta do meu Fynn bagunceiro e da minha Anny mandona. –Peeta sussurrou de repente.

-Eu também. –disse, com uma repentina vontade de voltar para casa mais cedo.

Então um grito nos tirou de nossos pensamentos.

-EI, vocês aí! Vocês tem que voltar para o restaurante agora! –eu e Peeta viramos a cabeça ao mesmo tempo para olhar um guardinha apontando para nós acusadoramente.

-Pronta? –Peeta murmurou para mim.

-Sempre. –respondi.

Ele apertou minhas mãos e desatamos a correr.

-Ei, voltem aqui! –escutamos os passos pesados do guardinha correndo atrás de nós.

-Mais rápido, querida. –Peeta me apressou e eu comecei a rir.

Começamos a andar pelas ruas tortuosas e desertas, passando por caminhos diferentes para confundir o guarda, tentando cansa-lo.

-Acho que o despistamos. –Peeta me disse quando me puxou para trás de uma árvore para podermos recuperar nossos fôlegos.

-Conseguimos. –coloquei minha mão em seu ombro, vitoriosa.

-Agora feche os olhos.

Franzi a testa.

-Fechar os olhos? Por que...?

Peeta gargalhou e me pegou no colo novamente, agora me deixando em seus ombros, me largando nas suas costas, não conseguia ver para onde ele ia.

 -Peeta! –chamei, tentando me levantar. –O que deu em você hoje?

-Nada! Só não quero que você desperdice suas forças.

-Aham, sei disso. –retruquei e desisti de qualquer coisa que poderia vir tentar a fazer, apoiei minha cabeça nas mãos e meu cotovelo nas costas de Peeta. –Estamos chegando?

-Quase lá.

Depois de um tempo, ele parou.

-Está de olhos fechados?

-Não. –respondi enfadada.

-Então feche.

-Por quê?

-Só feche, vida minha.

Suspirei e fechei os olhos.

-Fechei, feliz agora?

-Sim. Obrigado. –ele disse me colocando de volta ao chão e tapando meus olhos com as mãos.

-Você não acredita que eu os deixe fechados? –falei indignada.

-Claro que acredito! É só por via das dúvidas...

-Entendi, entendi... –disse sarcasticamente para Peeta.

Escutei uma porta ranger ao se abrir, tateei a minha frente só encontrando o ar.

-Fique aqui. –Peeta sussurrou para mim. –Não saia nem abra os olhos.

-Está bem. –concordei e senti seus braços em volta de mim sumirem, senti falta daquele contato. –Peeta?

Escutei uma gaveta se abrir e fechar apressadamente e então minha mão foi envolvida pela dele.

 -Pode abrir os olhos. –ele disse e eu fiz o que ele pediu.

Pisquei para meus olhos se adaptarem a luz fraca, só as velas espalhadas nos cantos iluminavam o cômodo, os móveis estavam afastados e tudo estava cheio de porta retratos de nós, eu e Peeta, Anny de quando nasceu e depois Fynn bebê e Anny segurando ele, e várias outras que marcaram nossa fase.

Atrás de mim escutei a TV chiar, virei-me e vi Fynn se atrapalhando com um DVD, até que Anny se estressou e acabou colocando ela mesma.

Um filme começou a passar, era o filme em que eu e Peeta tínhamos gravado. Mostrava nossos filhos pequeninos e depois nossas brincadeiras, no gramado, no lago da floresta, na própria floresta, e tudo que aparecia, nós estávamos nos divertindo, rindo e felizes.

-Peeta... –nós nunca havíamos visto aquele filme, na verdade, Peeta havia escondido para que eu não ficasse com a tentação de ir colocar para assistir. Além do mais, o filme ainda não havia terminado.

-Katniss. –ele também me chamou, finalmente olhei para baixo onde Peeta estava ajoelhado com uma mão segurando as minhas e a outra segurando uma caixinha preta.

-O. Que. Você. Aprontou. Dessa. Vez? –perguntei admirada, cada ano era uma coisa diferente.

Peeta se divertiu com isso, ele abriu a caixinha e lá se encontrava um colar, seu pingente era um arco e flecha e tinha um delicado coração em cima.

-Katniss, obrigado por ter passado todos esses anos comigo, foi os melhores anos da minha vida, com a pessoa que mais amo e que sempre me apaixono mais a cada dia, obrigado por ter me ajudado a passar pelos meus problemas sempre estando lá comigo... Não sei o que minha vida viraria sem você. Eu te amo, Katniss. Sempre, e sempre... Você aceita esse pobre homem apaixonado de novo? Quer passar mais um ano comigo?

Comecei a rir, estava ouvindo certo?

Peeta franziu a testa, desconcertado.

Então eu pulo em seu pescoço e o abraço tão forte que quase o sufoco.

-Seu bobo... Não só como um ano, mas como toda a eternidade. Eu te amo, meu garoto do pão. –bagunço seus cabelos e o beijo.

-Olha, Fynn. Nossos pais não são fofos? –escuto Anny sussurrar para Fynn.

-É claro que... são...

-O que foi? Ficou com ciúmes por mamãe ter ganhado algo e você não? –provocou ela. –Quer carinho também, é?

-Fique quieta. Estamos estragando o clima.

-Oh... –Anny diz e depois de um tempo: –Quer um abraço, maninho? Me sinto tão sozinha aqui.

Eu e Peeta não conseguimos aguentar, nos afastamos e começamos a rir.  

-Anny, é impressão minha ou eles estão rindo de nós? –diz Fynn que havia abraçado a irmã.

-É, me sinto excluída...

-Idem.

Tive que limpar os meus olhos que havia começado a escorrer lágrimas de alegria.

-Posso? –Peeta perguntou estendendo a caixinha com o colar, assenti sorrindo feito uma boba, sempre ficava assim nesse dia.

Peeta levantou-se e arrumou meus cabelos para o lado, passou o colar pelo meu pescoço e o prendeu.

-Obrigada, Peeta. É lindo. –disse segurando o colar, eu abracei Peeta agradecida.

-Nós que fizemos tudo isso e nem recebemos um obrigado, Anny! –Fynn falou chateado.

Peeta ri e agarra Fynn pelas mãos que estava segurando Anny que concordava com a cabeça.

-Obrigado, pessoal. Fizeram um bom trabalho. –ele diz.

Então essa era a surpresa. Olho para os meus filhos e sorrio.

-Obrigada, meus dois carentes.

-Eu não sou carente! –Fynn fala e Anny ri.

-Não, você não é. –ela diz apertando sua bochecha.

-Será que todo mundo tem que apertar minha bochecha? Daqui a pouco não vou ter mais ela.

Eu e Peeta trocamos uma mensagem silenciosa com Anny e começamos e beijar sua bochecha.

-Mas que afeto todo é esse?! –ele se assusta.

-Se não quer apertos fazemos outra coisa. –expliquei abertamente.

Peeta e Anny continuavam com a brincadeira e Fynn contorceu a cara, mas pude notar um vestígio de sorriso em seu rosto.

Aquela foi uma das melhores festas de casamento de todas.


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Notas finais do capítulo

O que me dizem? Gostaram? Não gostaram? Comentem!!
No próximo tenho uma surpresinha :D Talvez até lá tenha capa nova!