Um Dia Qualquer. escrita por Hikari


Capítulo 14
As bestantes e a volta. - Parte VI


Notas iniciais do capítulo

Oooi! Não, eu não me esqueci de vocês! Desculpa a demora.
Essa semana foi corrido e acabei terminando o capítulo de madrugada e eu acabei deixando para postar agora para dar tempo para mim revisar.
Eu não achei que esse ficou tão legal, mas espero que vocês gostem! É a última parte dessa confusão na floresta (para a felicidade de todos) hahahaha.
E já como eu demorei, acabei escrevendo uma parte "extra", que espero que vocês gostem também. (:



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Pov. Anny.


Acordei delirante.

Havia sonhado com meu pai e acabei imaginando se ele e minha mãe estavam preocupados.

Do jeito como ele era, a probabilidade de ele estar era de cento e um por cento. Não queria nem escutar o sermão que definitivamente ouviria.

Escutei os pássaros cantando nas árvores, era bem relaxante, estava pensando em voltar a dormir e ficar ali igual ao Haymitch...

E então me lembrei: estávamos perdidos e tínhamos que achar a saída rápido, afinal de contas, não podíamos esperar que algo do além viesse e nos tirasse dessa confusão.

Levantei-me de um pulo e fui acordar Fynn que dormia de boca aberta.

–Ô cabeção. -cutuquei-o e já como ele não abria os olhos decidi apelar pelo meu lado carinhoso de irmã mais velha e tentar o acordar em forma de um 'leve' soco no braço. Parece que deu certo.

–Ei! Mana! -ele reclamou, dei de ombros. Ele não me deu escolha.

Agora tinha que acordar o ruivinho, ele dormia profundamente e suspeitava se iria ser difícil acorda-lo.

–Ô dorminhoca, acorda. Já tá na hora. -o chacoalhei, tentando não o machucar.

–Ah, para ele você é toda cuidadosa, não é? -meu irmão contestou, mandei um olhar para ele ficar quieto e parece que ele entendeu o recado.

Quando todos tinham acordado Will liderou a busca para a saída.

–Bem, pelo visto... O distrito fica por ali. -ele apontou para o lado esquerdo depois de ter estudado o céu azulado.

Caminhamos sem pausa, Will franzia a testa a cada minuto, será que estávamos pelo lado certo, mesmo?

–Ãhnm... -olhei para trás, vendo a clareira onde havíamos acampado se distanciando. -Então tá...

Continuamos o seguindo sem discussão, para falar a verdade, estávamos sob uma quietude incomodante, as únicas coisas que escutava eram os nossos passos esmagando as folhas secas do chão.

–Anny. -escutei o sussurro do meu irmão, vindo ao meu lado e tentando controlar o cachorro desesperado na sua mão. -Você acha que estamos no caminho certo?

Olhei para as costas de Will a minha frente, ele parecia estar concentradíssimo, murmurava coisas para si mesmo e olhava constantemente para cima.

–Hum... -relutei, não sabia dizer. -Não sei. Ele parece distante daqui...

Justamente, Will parecia meio... receoso.

Meu irmão parou para puxar Haymi que queria cheirar uma árvore e voltou-se para mim.

–Vai lá falar com ele.

–Eu? -perguntei atônita. -Vai você.

Fynn abriu um largo sorriso amarelo.

–Hmmmmmm, por que você não quer ir, heim? -ele me pressionou, me dando leves cutuques na barriga.

Rolei os olhos diante do que ele falava. O que se passava na cabeça dele?

–Ok. Já como você quer, eu vou. -aceitei e adiantei meu passo.

–Eai, ruivinho? -perguntei batendo em suas costas tentando o animar e usando o apelido que eu batizara ele quando tínhamos onze anos. -Estamos chegando?

Sua expressão dura se suavizou quando viu que eu estava do seu lado e ele sorriu. Percebi que havia olheiras visíveis no seu rosto, ele não deve ter dormido direito.

–Decidiu me acompanhar, encrenca? -ele levantou uma sobrancelha.

–Quer que eu saia? -ameacei apontando para trás.

–Não! Aqui está ótimo. -ele segurou meus pulsos, impedindo de me virar. Sorri.

–Ok, então... Por que tanta aflição nessa carinha? -brinquei, fixando meus olhos nos seus.

–Aflição? Blah!–ele bufou. -Por que estaria aflito?

Isso quer dizer que ele estava preocupado com algo, havia acabado de admitir.

Como ele não respondeu, olhei para meu irmão de esguelha, ele estava atrás de mim, ele sacudiu a mão em uma forma de encorajamento para continuar. Tentei outra.

–Hm, você não respondeu minha pergunta. A outra. Estamos chegando?

Sua expressão mudou, pareceu se fechar.

–Will? Will!! Terra chamando Will, alôooo?

Parecendo despertar, ele sacudiu a cabeça e parou.

–Acho melhor nós pararmos para descansar.

Então ele soltou meu pulso que nem havia percebido que ele estava segurando e foi para um canto, perto de um riacho que estava perto.

Mas por que parar? Nem eu estava sentindo cansaço. Ainda.

–Por acaso sou só eu ou ele está mais estranho que o normal? -Fynn chegou ao meu lado, segredando no meu ouvido.

Concordei, ainda com os olhos fixos em Will.

–Sim... Ele está.

Fui até ele, que agora tinha se agachado e formado a mão em concha para enchê-la de água.

Fiquei o observando enquanto ele levava a água em direção a boca. Ele pareceu notar e ergueu o olhar para mim.

–O que foi?

Inclinei a cabeça para o lado com o cenho franzido.

–Você está bem?

Ele riu deixando derrubar a água de volta para o riacho.

–Estou, por quê?

Olhei-o ainda desconfiada.

–Sei...

Ele voltou-se para a água e começou a bebericar me olhando de vez em quando para ver se eu continuava ali. E é claro que estava, ficaria até ele me contar o que havia acontecido.

–Hm. -ele murmurou limpando a boca com as costas da mão. -Será que você por me falar o que está acontecendo?

–Na verdade, eu estou esperando que você me conte o que está acontecendo.

–Você está me encarando. -ele disse.

Isso me lembrou de quando ele me visitou verão passado e tínhamos saído de casa, Fynn havia nos seguido, claro, e ele estava com uma aparência péssima, trocamos ideias com o olhar e partimos para o ataque ao Fynn, o prendemos no chão até ele dizer o que estava havendo. Será que daria certo ali?

Não custava tentar, não é?

Pulei em direção a ele que rolou e eu acabei caindo na água, sai de lá encharcada e Fynn pareceu entender o que fazia porque tentou me ajudar a segurar Will que só desviou de nossos "ataques", então Fynn se entediou e ficou sentado só observando enquanto eu tentava prender o garoto.

Mas o que aconteceu, de fato, foi justamente o contrário. Ele acabou me prendendo. O que não foi uma surpresa enorme já como ele era bem mais forte que eu.

–O que deu em você? -ele estava rindo enquanto eu tentava recobrar o fôlego.

–Eu pensei que se eu conseguisse te encurralar você me diria o que está te incomodando.

–Como ano passado?

Assenti e ele riu ainda mais.

–É sério, não é nada. -ele suspirou desabando no chão ao meu lado.

–Se não fosse nada, você não estaria assim. –é, eu conseguia identificar isso. Afinal, cinco anos de convivência dava nisso.

Escutei ele soltar um longo suspiro.

–Você me mataria se eu revelasse algo? –ele perguntou cauteloso.

–Não. Quer dizer, depende. Por quê? O que é?

O rosto de Fynn interveio na minha visão, ele tentava segurar a risada.

–Anny. Will não sabe o caminho! –ele disse.

Levantei-me com o auxílio das minhas mãos e encarei Will que também tinha se sentado e olhava para as águas do riacho.

–Isso é verdade?

–É... Seu pai vai me matar! Digo, se ele ver que eu estava com vocês e não consegui levar vocês de volta ele vai simplesmente me jogar pela janela e eu nunca mais vou poder andar com vocês porque eu não vou ter a capacidade de poder leva-los de volta a segurança e agora estamos presos aqui na floresta onde eu não sei mais por onde andar e ainda mais com a notícia de que as bestantes estão soltas por aí e que estamos fritos porque a gente não sabe onde ir e tudo está perdido tudo, tudo, tudo... –ele explicou desenfreadamente apenas quando segurei sua mão que ele parou e se acalmou.

–Calma, Will. Não precisa ficar assim... –ele levantou o olhar e percebi que assim como ele, Fynn me olhava com curiosidade para saber o que eu diria a seguir. –Vai dar tudo certo.

–Mesmo com as bestantes soltas aqui? –Fynn tentou dizer para piorar a situação, mandei outro olhar para ele se calar. Havia escutado aquilo e tentava não pensar muito nisso para eu não me desesperar.

–Desculpa. É só que... Eu não queria que vocês se preocupassem...

–Tudo bem, você não sabe nenhum ponto que podemos nos guiar? Alguma indicação do distrito...

–Sim, é o que estou fazendo, ou tentando fazer...

–Certo. –olhei para os lados tentando pensar no que faríamos. –Já como estamos descansando aqui, acho melhor comermos alguma coisa.

Nesse mesmo momento escutei a barriga de Fynn roncar.

–Também acho. –ele concordou.


Pov. Peeta.


Ainda bem que eles já tinham ido embora.

Não havia conseguido dormir nem por um mísero minuto, com aquela imagem das bestante estraçalhando meus filhos martelando na minha cabeça.

Sacudi a cabeça para espantar a imagem.

Desci devagar da árvore, com medo de eles voltarem, suspirei aliviado quando cheguei no chão.

Agora era só ir para onde Anny e Fynn estavam.

Pelo que me lembro, era por aqui...

Recomecei a andar pela trilha de ontem, com receio de não encontrar meus filhos no mesmo lugar em que eu pensava.

E como que por mágica, isso foi exatamente o que aconteceu.

Depois da longa subida, pude chegar à parte onde eu os havia visto, e ali estava.

Uma fogueira já consumida e uma pizza que Haymitch havia contado, no canto. Parecia que alguém a havia mordiscado e largado pela metade.

Arrastei-me pelo chão, desolado. Não acreditava que tinha chegado até ali e nada.

Nada.

O que diria para a Katniss?

“Querida, eu fui tentar encontrar nossos filhos, mas parece que eles desapareceram no meio da floresta do distrito, e tem uma enorme probabilidade de eles terem sido devorados por bestantes que rodeavam nossa área”.

Não, ela poderia me jogar para dentro da floresta de novo para encontra-los ou acabar me deixando como ração para as bestantes.

E claro, eu não iria desistir de tentar acha-los.

Levantei-me, pelo menos eu sabia que eles estavam por ali.

Olhei para o chão e achei vestígios de uma caminhada, os passos ainda estavam afundados no solo e decidi segui-los.

Tomara que dessa vez eu conseguisse acha-los antes que eles se deslocassem de novo.


Pov. Anny.

Depois de meia hora –ou até mais- tentando pegar peixes no riacho - e acabando fazendo outras coisas como guerra de água-, acabamos três pessoas com as roupas pesadas pingando de água e um cachorro molhado desabados no chão perto de uma fogueira que criamos para que pudéssemos nos secar e esquentar o peixe recém-pescados que tínhamos encaixado em um pedaço de galho.

Haymi escolheu nesse momento perfeito sacudir-se para nos molhar ainda mais e deixar a água de seu pelo respingar nos nossos peixes.

–Haymi! Caí fora. –Fynn empurrou o cachorro que latia entusiasmado tentando convencer meu irmão de entregar para ele um pedaço do peixe.

Eu e Will estávamos rindo, foi divertido tentar pescar o peixe com nossas próprias mãos, mas foi ainda mais ver Fynn tentar armar uma vara de pescar que depois não deu certo e só fez com que ele ficasse mais irritado por não conseguir pegar um.

Quando tínhamos onze anos e ele sete, fomos para o distrito 4 pescar, junto com Agatha e Gale e os meus pais, Fynn havia se inclinado tanto para observar um peixinho dourado que acabou caindo na água de cara, eu tive que ir lá salva-lo já como ele não conseguia nadar, acho que depois daquela vez ele nunca mais ficou com vontade de entrar na água.

No final eu que tive que ceder o meu para ele e ir arrumar outro para mim, mas eu não me importava. Agora meu irmão estava satisfeito, se bem que sem paciência com Haymi.

–Dê um pedaço para ele logo. –falei farta de vê-los brigando, já com o cachorro vencendo fazendo de tudo para conseguir tirar um petisco da mão do meu irmão.

Ele reclamou um pouco, mas jogou um bom pedaço do peixe para Haymi, tinha suspeitas de que ele só jogou porque Haymi já havia babado naquela parte.

Comemos em silêncio por um tempo, o sol já estava lá em cima e a área onde decidimos descansar era bem aberta, deixando espaço para que víssemos o céu azul anil, sem nenhuma nuvem.

Resolvi falar alguma coisa.

–Will, você ainda não nos disse o porquê que você estava na floresta ontem.

Fynn, que estava terminando de mastigar o peixe que enchia suas bochechas cheias, anuiu.

–Eu não falei? ... –Will hesitou e então parou de falar.

–Não, pode desembuchar. –meu irmão jorrou as palavras para que ele continuasse, engolindo o resto da comida.

Ele olhou para mim e eu gesticulei para que ele falasse logo.

–Bom, eu estava andando pelo distrito e vi vocês gritando feito loucos pela rua, decidi segui-los e aí vocês entraram na floresta, antes que eu pudesse adverti-los. –ele parou para comer seu último pedaço do peixe. -Segui vocês mesmo assim, no meio do caminho encontrei Haymi, o que eu achei muito esquisito, mas já como não tinha outra escolha por ter perdido vocês de vista, eu fui com Haymi até onde vocês se encontravam.

–Então... você estava nos seguindo?

Ele desenhou círculos na terra com o galho.

–É... acho que pode falar isso. Desculpa.

Eu e Fynn nos entreolhamos e começamos a gargalhar tão alto que eu tenho dúvidas de que Haymi tenha ficado surdo.

–O que? Por que vocês estão rindo? –Will estava desnorteado.

–Você fala isso como se tivesse cometido um crime! –Fynn comenta.

–E não é? Quer dizer... Parem de rir! Vocês estão me desconcentrando.

Eu ri ainda mais.

–Eu estou desconcentrando você? Desde quando? –eu perguntei, Fynn estava segurando a barriga de tanto rir, eu comecei a lacrimejar.

Às vezes Will era tão ingênuo que quando ele falava esse tipo de coisa com culpa era tão engraçado que não dava para segurar. Era inevitável!

–Desde sempre. –ele sussurrou e eu parei de rir, Fynn ao invés disso continuou a rir descontroladamente.

Pigarreei e tentei desviar de assunto.

–Eu vou ir ali beber água. –avisei e fui para perto do riacho, de repente minha garganta pareceu ficar seca.


Pov. Fynn.

Minha irmã levantou-se e foi em direção à beira do riacho, minha risada foi aos poucos se abaixando até que eu estava completamente confuso e calado.

Olhei para ela que bebia água compenetrada e então para Will que havia recomeçado a fazer os desenhos na terra.

–Ei, por que ela foi para lá? –perguntei, minha barriga ainda doía um pouco devido ao meu excesso de gargalhadas, mas fora isso estava bem.

–Ela estava com sede. –ele disse indiferente.

–Hum. –falei sem confiar muito nisso. –Por que você não vai lá também?

Ele ergueu a cabeça rapidamente e estava prestes a dizer algo, quando o interrompi:

–Para beber água, sabe, para podermos continuar a viagem.

Ele assentiu, parecendo relaxar, e levantou-se indo para lá.

Credo, era impressão minha ou o clima estava ficando tenso?


Pov. Peeta.

Atravessei rápidas as distâncias das pegadas, mas eu não os encontrava em lugar algum.

Cheguei a outra área onde eles poderiam ter passado um tempo, ou até mesmo dormido, via as folhas amassadas e marcas de pegadas.

Pegadas?

Será que as bestantes, de fato, estavam os seguindo?

Ah, não!

Não meus filhos!

Eles podiam se preparam, porque não iriam relar um dedo nos meus filhos!

Corri pela floresta tentando encontra-los.

ONDE RAIOS ELES HAVIAM SE ESCONDIDO?

Parecia até uma brincadeira de esconde-esconde interminável.

Eu não queria perde-los, não podia nem pensar nisso.

Até que uma voz conhecida me chamou a atenção.

–ANNY! WILL! ALGUÉM!? –era Fynn?

Aquele era Fynn!

Aquele era meu garotão!

Ele parecia estar apavorado, conhecia bem esse tom de voz.

Era quase como aquela vez quando ele tinha encontrado uma aranha na cama dele e ele entrara em pânico.

E o Will?

Ele havia gritado Will?

Então aquele menino estava com eles...

É, estavam bem no caminho certo.

Enquanto corria entre as folhagens senti uma gota de lágrima escorrer pelo meu rosto.

Eu havia encontrado... Agora era para valer!


Pov. Anny.

Bebi um pouco da água, não estava com sede, não muito, na verdade, mas fui ali para pelo menos não precisar dizer alguma coisa.

Estava ficando meio desconfortável.

–Ãhn, oi. –pulei quando ouvi a voz de Will, será que ele gostava tanto de me assustar assim? Era isso desde os dez anos.

Ele riu, mas quando viu a cara que fiz, foi logo se apressando para se desculpar:

–Me desculpa, por assusta-la... e por... bem. –ele olhou para o horizonte, havíamos ficado quanto tempo ali? O sol já despencava do céu, era tão estranho o tempo passar tão rápido e nós nem percebermos. –Hoje o dia está lindo, não é?

Concordei, seguindo seu olhar.

Escutei um breve “psiu” me chamar, fui ver o que era e lá estava meu irmão, me olhando ironicamente e apontando para Will tentando transmitir o que ele pensava, falei com ele sem emitir som algum “você tem problema ou o quê?”.

Então Will me tirou da nossa pequena briga:

–Olha, desculpa por trazê-los aqui, por fazer nós nos perdermos mais ainda, eu prometo que vou tirar a gente dessa, ok?

Sorri, finalmente me esquecendo de alguns minutos antes.

–Will, às vezes você tem que parar de ser tão responsável desse jeito. Eu entendo.

Ele deu um sorriso torto.

–Está bem.

Ri.

–Seus pais devem estar bem preocupados... –ele tentou. –Eles vão me dar uma surra por não os ter trazido no lugar certo.

Fiz um gesto de desdém com a mão.

–Bem, mas vamos falar de outra coisa... –percebi quando ele tocou no assunto “pais” que eu nunca havia perguntado sobre os pais dele. –E os seus? Por que você nunca fala sobre eles?

Will contorceu o rosto e pareceu não gostar muito do assunto.

–Passo. Outra pergunta?

Suspirei, e pensei no que poderia falar.

–Esse negócio que você disse das bestantes é verdade?

–O quê? Sobre eles estarem soltos pelo distrito? Sim, infelizmente. Agatha me informou sobre isso... Era sobre isso que eu iria avisa-los antes de vocês adentrarem a floresta.

Estremeci e abracei minhas pernas, as odeio. De todo o meu coração.

–Você acha que elas podem aparecer aqui?

Ele sorriu tranquilizador.

–Acho. –nossa, mas que consolador. –Mas não se preocupe. Eu vou estar aqui para enxota-los.

Ele fez um golpe de karatê que iria fazer um professor profissional querer se matar, foi uma coisa bem desajeitada.

Soltei uma risada que abafei com a mão.

–É, você iria assustar muito eles. –fiz um sinal positivo com a mão para ele.

Ele assentiu, confirmando.

Eu deitei-me na terra, olhando para cima, Fynn fazia competição de olhares com Haymi, segurava sua cabeça e ficava o fitando.

–Você acha que Fynn conseguiria cuidar sozinho do Haymi sem mim? –perguntei, virando minha cabeça para Will que também havia se deitado e me encarava.

–Fynn? –ele bufou. –Não daria nem um dia.

Sorri com sua sinceridade.

–É isso mesmo, Will. –estendi minha mão e fizemos nosso toque.

Fynn depois de um tempo falou que precisava “tirar a água dos joelhos” e foi para algum lugar na moita ao lado.

–Não vá muito longe! –gritei antes de ele desaparecer.

–Está bem, maninha! –ele berrou, sem se importar muito.

Tentei resistir à vontade de ir junto com ele para ter certeza de que ele não esqueceria o caminho de volta, como aconteceu.

Quando uma pergunta me surpreendeu.

–Você alguma vez já quis voltar no tempo?

Will estava olhando para o céu, que agora me cegava. O que ele queria saber com aquela pergunta?

–Eu penso que todos nós queremos. –refleti, vendo sua reação. –Talvez por alguma coisa que fez ou sei lá. Todos nós desejamos isso de alguma maneira.

Ele não disse nada, ficou apenas lá, olhando o céu.

–Você tem toda a razão. –ele murmurou.

–ANNY! WILL! ALGUÉM!? –escutamos Fynn gritar, sobressaltei-me e levantei com desespero. O que ele queria? De algum papel higiênico?

Mas parece que pelo seu tom de voz, não era só por causa disso.

–O que está acontecendo? –perguntei exasperada.

–O único jeito de saber é indo lá descobrir. –Will disse me ajudando a me por de pé.

Corremos até onde o grito havia vindo com Haymi trotando ao nosso lado, latindo, ele devia estar pensando que estávamos caçando borboletas, só pode.

–Fynn? –berrei quando paramos em um lugar recoberto por várias vegetações de todo o tipo, aquilo era o máximo que podíamos ir, ele não devia ter se distanciado tanto. –Fynn??

–Anny... –sua voz trêmula me chamou, fui em direção a voz que me chamava e encontrei a pior coisa que algum dia poderia imaginar.

Uma daquelas criaturas que eu odiava rosnava a caminho de Fynn.

Não sei o que aconteceu em seguida, foi uma raiva que me dominou e acabei nem me controlando.

–Saí de perto do meu irmão, seu bicho asqueroso! –peguei uma pedra e a bati com toda a força na cabeça dele, o meu objetivo deu certo: eu havia desviado sua atenção.

Mas, agora, também o havia chamado para mim.

Quando ele estava com as patas prontas para pular em cima de mim e me devorar ele caí no chão, inconsciente.

Will estava com uma pedra do tamanho da minha cabeça na mão e olhava para a pobre da criatura furioso.

–Obrigada... –falei pasma pelo que eu houvera presenciado, Will sorriu para mim, inocentemente, como uma criança que acabara de mostrar a mãe o desenho que fizera.

–Fynn? –perguntei para meu irmãozinho que estava espiando o outro lado da árvore. –Você está bem?

–Shiu! –escutei ele guinchar. –Fiquem quietos!

–O que você está fazendo? –Will falou ainda alto.

–Eu não disse para ficarem quietos!? –ele voltou-se para nós e sufocou nossas palavras com a sua mão. –Estou agradecido por vierem a tempo, obrigado. Mas acho que temos outro problema.

–O que aconteceu? –perguntei baixinho para ele.

Fynn fez sinal de zíper fechado na boca e apontou para o outro lado, o seguimos até o lado oposto da enorme árvore que bloqueava nossa visão.

Lá estava meu pesadelo: uma, ou melhor, três enormes criaturas horríveis. Três bestantes.

Mas que ótimo! Três bestantes, uma para cada um de nós. Eles têm uma refeição completa. –pensei comigo mesma, era a única coisa que conseguia pensar, além dos meus instintos de fugir o mais depressa dali.

–E não é só isso. –Fynn apontou para um canto.

Mas que maravilha. Haymi estava lá.

Will e Fynn tiveram que tampar minha boca para ocultar meu arquejo.

–Estamos mortos. –Will falou quase sem nenhum ruído.

Eu estava totalmente de pleno acordo com ele.

As pedras de Will não seriam suficientes para espantar todas elas, dessa vez.


Pov. Peeta.


–Fynn!! –berrava para a floresta. –Fynn!! Meu garotão, onde você está?

Encontrava-me em um lugar onde estava tudo coberto por folhagens que impediam de ver qualquer coisa que se encontrava do outro lado.

–Ai Céus, o que está acontecendo para todo mundo começar a me chamar tão de repente, heim? Virei uma celebridade, por acaso? –escutei a reclamação de Fynn vindo da minha direita, me joguei para o som de sua voz e agarrei o primeiro sinal de vida.

–Fynn! Estava tão preocupado! –apertei o ser contra mim, o abraçando com força. –Nunca mais faça isso comigo.

–Pai, er... Eu estou aqui. E dá para se calar um pouco? –Fynn me disse na minha frente sussurrando, fiquei confuso.

–Se você está aí... então... –olhei para a pessoa que estava dando meu abraço de urso. Era Will, estava quase o sufocando.

–Me desculpe! –o soltei e ele cambaleou para trás. –Um engano.

Peguei Fynn e dessa vez o apertei ainda mais.

–Nunca mais, ouviu?

–Pai, eu entendi... Na verdade se você continuar falando nessa altura todos nós não vamos ter nem a oportunidade de fazer isso de novo.

–Hãm? –o deixei sair dos meus braços.

–Se você não vê... Tem três criaturas mortíferas atrás dessa árvore que quer nos matar. –outra voz chegou aos meus ouvidos.

–Anny? –virei-me e vi-a atrás de mim. –Anny!

Dessa vez eu a abracei, estava praticamente soltando o mar inteiro dos meus olhos.

–Pai... Você está me asfixiando... –ela ofegou, estava tão feliz que nem percebi a força que exercia.

–Me desculpe. -soltei-a ainda a observando, foi quando eu me toquei. Criaturas mortíferas ela havia falado? –O que você está falando, filha?

Ela indicou a árvore, andei até ela e antes que eu passasse para o outro lado percebi as três bestantes e voltei direto para onde estava antes.

–Vocês estão de brincadeira? –eu falei o mais baixo que podia, como eles não nos havia percebido ainda, eu não sei, mas uma coisa é clara: se não sairmos dali imediatamente tinha absoluta certeza que eles nos reconheceriam. Se não fosse pela voz, iria ser pelo faro. –O que vocês estão esperando? Vamos sair daqui.

Virei-me e estava quase dando um passo para longe quando Fynn me puxou de volta.

–Não podemos. –ele falou com os dentes trincados.

–Não podemos por que...?

–Fynn esqueceu o cachorro dele ali de novo. –Anny justificou para mim, espiando pelo lado da árvore.

–O cachorro...? Não me digam que Haymi está com vocês?

Juntei-me com Anny. É, ele estava lá.

Ele parecia não ter nenhuma noção de onde estava e o que estava perto. Ele pulava perto das criaturas como se fossem amigas.

–Eu disse que ele não conseguia cuidar dele sozinho. –Anny ciciou e Fynn estava prestes a retrucar quando separei os dois.

–Ow, ow, ow, podem parar já os dois. Vocês querem chamar mais atenção ainda?

–Vamos morrer de qualquer jeito. Por que não agora? –Fynn levantou os braços, se rendendo.

–Fynn, não diga isso. Vamos sair dessa. –Will tentou acalma-lo.

–É, e como? Eu não saio daqui sem Haymi.

Inspirei o máximo de ar que podia.

–Pai... Acho que você não vai querer ver isso.

Olhei e lá estava Haymi, levantando as pernas para fazer algo nada agradável na criatura.

Por favor, Haymi! Tem que ejetar suas necessidades bem ali? Não tem lugar melhor, não?

–Ah, não... –virei a cabeça e olhei para meus filhos e Will. –Crianças, se preparem para correr. Se quiserem, podem começar a correr a partir de agora.

Fynn começou a disparar floresta adentro.

–Pai... O que você vai fazer? –Anny perguntou, apreensiva.

–Eu vou chama-lo. –falei, simplesmente e a mandei seguir o irmão, ela e Will obedeceram.

Assim que fui olhar para Haymi novamente, fechei os olhos e prendi a respiração antes de fazer o que nos ajudaria e nos afetaria ao mesmo tempo.

Eu assoviei.

Tudo aconteceu muito rápido.

Haymi se virou em minha direção e latiu alegremente correndo para mim, assim como as bestantes com as caras enfurecidas e espumando de raiva.

Saí em disparada para longe, gritando “Vem, Haymi!” em plenos pulmões para fazê-lo me seguir não importa o que seja.

–Correm, crianças! Mais rápido. –apressava-os, quase os podia ver e apontei para uma árvore. –Sobem ali, está bem? Vai dar tudo certo! Vão para lá! É só não olhar para trás.

E naturalmente, ao dizer isso, eles olham para trás e arregalam os olhos, a corrida desacelera.

–Vamos, logo! Se vocês não querem ser comidos pela criatura se apressem! –gritei.

Eles subiram na árvore desajeitadamente, mas pelo menos subiram. Fynn ficou para trás, ele tinha medo de altura e se recusava a subir de todos os jeitos.

E nossa distância ficava cada vez menor.

–Vai, garotão, você consegue! Não precisa ficar com medo, é só pensar que existe algo macio em baixo se acaso você cair!

–Algo macio? Como o chão pode ser macio? É fácil você falar, já como subiu em mais de milhares de árvores em toda a sua vida! –ele falou, enraivecido.

–Fynn! Anda logo! –Anny estendeu a mão.

–Filhote, vai lá! Sua irmã vai estar te ajudando.

Fynn olhou para mim e para a mão de Anny, hesitou e por fim deu a mão a Anny ainda vacilante.

Suspirei aliviado.

Peguei Haymi que havia me alcançado nesse meio tempo e escalei a árvore rapidamente, com o tempo isso fica tão natural quanto ler ou andar.

–Pai, você é um ninja e não contou para a gente? –Fynn pergunta me encarando, ele estava agarrado a Anny e tremendo, com os olhos fixos em mim, tentando não olhar para baixo.

Balancei a cabeça e passei a mão no topo de sua cabeça.

Então o impacto dos corpos das bestantes contra a árvore nos balançou um pouco, mas nem tanto.

–Ahh... –gemeu Fynn, assombrado, fechando os olhos e abraçando Anny com mais força.

–É, tio Peeta, parece que você é um bom detalhista. –Will elogiou, segurando-se no galho.

–Obrigado. –agradeci, ajeitando Haymi nos meus braços, ele balançava o rabo, ainda não havia desvendado no que acontecia dentro de sua cabeça.

Mais um dia tinha passado... E eu os havia achado.

Agora era só aquelas criaturas descerem para voltarmos.

Ainda bem que eu tinha uma ótima memória.


Pov. Will.

Depois de termos passado um bom tempo em cima daquela árvore até nossos músculos se enrijecerem, conseguimos descer.

As criaturas haviam finalmente se dispersado.

E agora estávamos andando atrás do tio Peeta, que sabia exatamente a trilha de volta.

Avancei alguns passos para ficar ao lado dele.

–Desculpe-me. –falei, ofegante. Ele conseguia caminhar mais rápido do que eu e me cansava muito, apesar de não querer transparecer isso. Havíamos gastado muito tempo.

–Pelo quê? –ele perguntou para mim, com interesse.

Então quer dizer que ele não me espancaria até a morte?

–Por não conseguir levar seus filhos de volta ao distrito... –murmurei.

–Ah, por isso! –ele bateu em minhas costas, rindo. –Não se preocupe, não o culpo.

–Não? –alegrei-me e ele negou.

–Obrigado, tio Peeta! –agradeci, pensando que estaria sendo a pessoa mais feliz do mundo.

–Mas não pense que só por isso você não vai ter que ouvir também. –ele sussurrou no meu ouvido, quando paramos para esperar Anny e Fynn acompanhar o passo novamente.

Antes que pudesse formular uma pergunta para ele, Peeta voltou a andar me deixando para trás.

–O que foi, ruivinho? Você não vem? –Anny me chamou ao chegar onde estava.

–Estou indo... –falei ainda atônito.

É, apesar de não ter meus pais por aqui, teria que aturar não só minha irmã, como tio Peeta também.


Pov. Anny.

Minha mãe gritava conosco sem nenhuma piedade.

Eu, Fynn e Will estávamos de pé, a sua frente, imóveis e com medo de qualquer coisa que fizéssemos, aquilo era mais medonho do que ter que encarar as três bestantes.

–Nunca, escutaram? N-u-n-c-a tentam fazer isso de novo! Pelo menos se vocês prezam as suas vidas!

Fynn espirrou e minha mãe o fulminou com o olhar, ele se endireitou na hora.

–Não vou repetir mais isso... Vocês quase me mataram do coração!

E então com uma mudança de emoções repentina ele começou a chorar e abraçou-nos, nos espremendo tanto que era quase como ser abraçados pelo papai.

–Fiquei tão preocupada...

Eu acho que sabia como ela se sentia, retribuí o abraço.

–Desculpa por tê-la preocupado, mãe. –falei.

Fui seguida logo pelo meu irmão.

–Desculpa, mamãe... –puxa-saco, só porque eu falei.

–Desculpa, tia Katniss. –Will também falou, esse era outro. –Desculpa, Agatha e Gale...

Papai veio e nos abraçou, sem dizer nada.

E assim como ele, veio Agatha e Gale.

Ficamos assim por um tempo.

Não pude deixar de pensar como éramos uma família, assim todos reunidos.




Extra:


Estávamos eu e Will levando Fynn para o parquinho, que ele havia insistido tanto para irmos também.

Eu sei que parece coisa de “criança”, mas pensando bem, ainda somos crianças, então não tinha problema, não é?

–Por que você quer vir aqui, mesmo? –perguntei a Fynn que abria a portinhola para a entrada dos brinquedos.

–Estava entediado. –ele respondeu, correndo direto para o gira-gira que se balançava sozinho, assim como todos os outros brinquedos, o balanço balançava sozinho e tudo se movimentava, ele começou a falar para girar mais rápido e ficou gritando feito um maluco enquanto o brinquedo ia cada vez mais depressa.

Fiquei tonta só de olhar.

–Então, em qual brinquedo você quer ir? –perguntei a Will, sorrindo.

–Você quer ir mesmo? –Will perguntou com a sobrancelha levantada.

–Claro, por que não? –respondi, colocando a mão na testa para conseguir o enxergar já como o sol refletia bem em seu rosto.

Ele riu de uma piada que só ele sabia.

–Então está bem. Posso te levar a um lugar?

Desconfiada, assenti.

Seu sorriso se alargou e ele pegou minha mão, me levando para um lugar distante dali.

–Onde você pretende me levar? –perguntei, olhando para trás enquanto nos distanciávamos de Fynn.

–Você vai ver.

Deixei ele me guiar pelos brinquedos até conseguir ver algo ao longe, fora da área do parquinho.

–Primeiro as damas. –Will levantou a grade, que demarcava a área, para eu passar, ri e fui à frente, ainda segurando sua mão.

Quando nos aproximávamos consegui ver o que era.

Dois balanços estavam parados ali, se mexendo só pelo vento, eles estavam isolados, em um campo vazio com as árvores em volta bem espaçadas e um vento que fustigava nossos rostos trazendo um aroma doce e calmante, carregando algumas folhas aos nossos pés.

–Will! Que lindo... –falei boquiaberta, soltando suas mãos e dando um giro completo em volta de mim mesma, observando cada detalhe. Era impressionante como existia um lugar tão lindo como aquele.

As árvores eram cheias de folhas de coloração diferente, nunca se igualando, e os balanços, mesmo parecendo velhos, pareciam seguros, e a grama era tão verde quanto... quanto os olhos do Will.

Will soltou uma risada e ofereceu um dos balanços para eu me sentar.

–Que bom que você gostou daqui, é aonde eu venho quando quero ficar sozinho. Nunca mostrei a ninguém.

Sentei-me no balanço que ele me indicava e olhei para ele erguendo o olhar para cima, para poder vê-lo.

–Sério? Hum, me sinto honrada por ter sido a primeira pessoa que você revela esse lugar secreto.

Ele sorri e começa a me balançar, me empurrando delicadamente para cada vez mais alto.

–Mas, Will... Eles não se balançam sozinho? Como os outros brinquedos?–perguntei curiosa.

Ele não respondeu por um tempo, e eu pude sentir o ar puro daquele lugar, eu podia ficar ali o dia inteira, se pudesse.

–Esse é diferente, ele é o único que não faz isso por aqui. –Will responde para mim. –Não sei o porquê, mas como ele não era como os outros, eles decidiram deixa-lo nesse lugar, longe de todos.

–Ainda bem que não o derrubaram. –pensei em voz alta.

Ficamos calados por um momento até que eu falei para nos revisarmos, ele protestou, mas consegui coloca-lo no balanço para que eu pudesse o balançar.

–Como você descobriu esse lugar? –pergunto, subitamente.

Will começa a parar lentamente o balanço, saí de trás dele e sentei-me no balanço ao lado, tentando entender o que se passava na cabeça de Will.

–Na verdade não fui eu quem o descobri. –ele responde, olhando para o chão.

–Não foi você? Então... quem foi?

Assim que ele levanta o olhar, vejo que eles estão marejados.

–Meu pai.

Então ele enterra o rosto nas mãos e chora silenciosamente.

O pai dele? Ele nunca me contara sobre ele, e eu nunca o vi desde que o conhecera.

Será que...?

–Will. –chamei-o, sai do balanço e me agachei na sua frente, pegando suas mãos do seu rosto. –Will.

Ele apertou minhas mãos e eu sorri para ele, que estava com o rosto marcado pelas lágrimas.

–Desculpa. –ele sussurrou.

–Dá para parar de falar desculpa? –eu ri fracamente, tirando um sorriso de seu rosto. –O que aconteceu com o seu pai?

Ele lentamente foi se recompondo.

–Ele desapareceu quando eu tinha seis anos, ele me mostrou esse lugar quando eu fiz cinco anos...

–Ele desapareceu? –perguntei perplexa.

–Sim, não que ele desapareceu do nada... Eu sei o que aconteceu, ele morreu, foi por isso. Mas ninguém quis nos contar.

O pai de Will morreu? Foi por isso que ele nunca me queria falar sobre ele, ou sobre a mãe...

Decidi mudar de assunto.

–Eu sinto muito... –pigarreei e então o fiz levantar do balanço. –Já como voltamos no tempo agora... Está com você!

Toquei nele, empurrando-o de leve para trás e corri entre as árvores, rindo, assim como ele.

–Ei, isso não é justo!

–Espera aí. Combinamos que teria regras? –virei-me e continuei correndo por trás sorrindo zombeteira para ele.

Então ele se lançou para a minha direção, gritei e corri o mais depressa que pude, ele era mais rápido que eu, odiava isso.

Ele acabou me pegando e correu em disparada. O que ele queria? Que eu fosse o flash?

Ele deixou que eu o pegasse na outra vez, e na outra rodada ele acabou me derrubando no chão, acabamos a brincadeira por aí, sem fôlego e no chão olhando o céu enquanto o vento trazia o aroma da nova estação chegando.

–Eu poderia ficar aqui o resto da minha vida. –falei, fechando os olhos.

–Eu também. –ele disse, percebi que eu havia conseguido distraí-lo e fiquei muito presunçosa comigo mesma.

Depois de um enorme tempo parados ali, resolvemos voltar para nos encontrar com Fynn.

Ao chegarmos ao parque novamente, decidimos assusta-lo, ele nos procurava em todos os lugares, até mesmo debaixo das pedras. Só mesmo o Fynn...

E quando ele estava indo para uma rocha enorme, onde nós nos escondíamos atrás, saímos do nosso esconderijo e gritamos, Fynn pulou e tropeçou nos próprios pés.

Rimos até não podermos mais, Fynn não falou mais nada no trajeto de volta para nossa casa provisória.

Quando Will seguiu para o caminho diferente, um pensamento estranho apareceu na minha cabeça: eu estava ansiosa para o ver novamente, na verdade, eu o queria ver o mais rápido possível.

Mas por quê?

Talvez a época da floresta afetou o meu cérebro.

Quem sabe?



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Notas finais do capítulo

E o que vocês acharam? Comentem, por favor, e me digam se gostaram ou não. (:
Para vocês se animarem, o próximo vai ser Peetniss!!!!!!