Ulquiorra Feels escrita por cereal killer


Capítulo 14
Capítulo 12




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  Ele ainda não conseguia ficar longe. Continuava a vigiando. Saía sorrateiramente de Las Noches, mais preocupado em sem ser visto por Tália do que por Halibel. Se Tália descobrisse que ele vinha cuidar dela, mesmo que de longe, sabe-se lá o que ela falaria para Orihime. Poderia enchê-la de vãs esperanças.

  Mas a fracción também não parecia mais tão ligada nisso. Aliás, não parecia mais ligada. Andava mais neutra do que sempre fora, e além de sua aparência branca, estava agora cinzenta, depressiva. Isso era perceptível até mesmo para Ulquiorra. Andava chorosa, e não desgrudava de Chie. Parecia que não queria ficar sozinha.

  Raios de sol o despertavam de seus devaneios. Estava na hora de voltar para casa.

  A ruiva levantou. Se sentia um pouco mais conformada a cada dia que passava. Mas isso não quer dizer que se sentia bem.

  Ele nem deveria estar mais pensando nela. Nem Chie ou Tália. Deviam ter esquecido dela, aliás, eles pareciam ter coisas bem mais importantes do que se lembrar de uma humana patética que chora por qualquer coisa. E ela sabia que deveria fazer o mesmo, mas era como apagar uma boa lembrança de si.

  Tentava em vão não pensar em Las Noches, fraccións, Espada ou qualquer coisa ligada a arrankars. Mas seus pensamentos corriam para ele sem que ela nem ao menos se tocasse, era tão fácil lembrar dele, tão agradável.

  Terminou de lavar a louça do almoço, encarando a pia limpa com um olhar cansado. Foi até a sala e se sentou no sofá, ligando a TV e zapeando pelos canais, sem realmente assistir.

                                                           ...

  Chie estava a frente da enorme porta. Encostou as pontas dos dedos finos na mesma, olhando para baixo. Lá dentro havia um Espada cabeça dura o qual ela era obrigada a servir.

  Sem ao menos bater, adentrou o quarto. Era sempre assim, inconveniente sem perceber.

  Perto de uma janela, Ulquiorra estava em pé, preso em seus devaneios contraditórios.

-Pare de chorar por dentro.

  Chie não obteve nem um olhar como resposta. Ulquiorra permaneceu no completo silêncio, mas sentia uma interna vontade de bater a porta na cara da pobre menina. Não queria ouvi-la. Queria apenas o silêncio para poder pensar direito.

-Se você a quer, vá buscá-la.

  Novamente, recebeu silêncio como resposta. Da porta, o encarava ignorá-la. Estava disposta a comovê-lo com suas palavras desconexas. Chie fez uso de seu Sonido e parou atrás de seu mestre, cutucando-lhe repetidas vezes as costas.

-Rosa, rosa, rosa, rosa, rosa...

-Isso não existe.

  Ulquiorra desviou por um segundo os olhos da janela, olhando de relance para a fracción que cantarolava o sentimento em seu coração.

-Tá sofrendo por algo que não existe?

  Voltou o olhar para o longe lá fora. Não queria ter que pensar numa resposta que a faça crer. Na verdade, se sentia mais confortável em falar algumas coisas com Chie. Sabia que ela esqueceria logo, e que ela não daria ataques feito Tália.

  Chie lhe parecia ser a única coisa que se assemelhava a um amigo.

-Eu não sinto nada.

-Dor lhe faz pensar isso.

  Tocou a parede, se apoiando. Passava coisa pior na sua cabeça. Não queria machucá-la de novo, como fez naquele dia em Las Noches. Não queria magoar a humana, e sabia que isso seria inevitável se voltasse.

  Fez uma pausa em silêncio. A arrankar o encarava com seus olhos cansados, e ao perceber que não teria resposta alguma, prosseguiu seu discurso:

-Você ainda pode ter tantas cores bonitas com ela. Tipo um arco-íris nas suas tripas.

-Eu não me importo com ela. Ela poderia morrer, lixo não me faz falta.

  Era mais difícil do que poderia se imaginar para ele dizer tais palavras, sabendo que são apenas mentiras.

-Se você não se importasse, não iria toda noite até a casa dela para ver se está tudo bem.

  Ulquiorra virou os olhos discretamente para a fracción. Chie continuava com seu ar sonolento pairando ao redor de si, e nem percebeu que o que acabara de falar havia pego-o de surpresa.

-O que disse?

-Ham?

-Repita o que você disse.

-Ah, o que eu disse. Repetir. Hm... o que foi o que eu disse mesmo...?

  Abaixou a cabeça, franzindo a testa, pensativa, fazendo um esforço demasiado grande para se lembrar. Ulquiorra soltou o ar nos pulmões, revirando os olhos. Mas, se ela sabia, Tália poderia saber. E isso era um problema.

-Tália sabe que eu vou para o Mundo Real de noite?

-Você vai? Fazer o que?

  Ulquiorra assentiu com a cabeça.

  Chie não ia se lembrar disso nunca mais, provavelmente.

-Não importa.

  Chie assentiu com a cabeça, repetindo o movimento do Espada, ainda confusa. Ulquiorra gesticulou com a cabeça para que ela saísse do quarto, mas não foi atendido.

-Se você for está noite, não se esqueça de dizer que sente rosa por ela.

-Não vou essa noite.

  Murmurou, quase passando pela porta.

-Por que não?

  Ulquiorra sentiu que precisava colocar isso para fora. Precisava demonstrar fraqueza pelo menos uma vez em toda a sua existência. E considerando que Chie tem memória seletiva, poderia até se esquecer disso. Com pesar, falou:

-Seria mais difícil ficar longe dessa vez.

-Você poderia entrar. Não sente saudades dela?

-Se eu entrar vai ser pior para ela depois.

  Deu as costas a ela, andando para longe, rumando a porta. Chie o encarou ir, assistindo sua tristeza conduzi-lo para qualquer lugar, menos para onde ele deveria estar.

-Pense direito sobre entrar ou não, eu acoberto você aqui!

                                                           ...

  Orihime preparou a cama novamente para dormir.

  Hoje tinha saído de casa. Fora até o supermercado e comprara chocolate e mais outras besteiras para comer durante o dia todo. Andou um pouco, afinal, precisava respirar ar puro. O tempo estava agradável para andar, mas quis logo voltar para casa. Iria passar um filme que queria ver.

  E cá estava ela, ainda com o rosto inchado depois de Marley & Eu terminar, arrumando a cama. Não tinha muita vontade de dormir, mas não era nada novo. Sentou-se na cama, bufando, olhando o teto.

  Era tudo tão vazio, olhando por este lado.

  Ela era tão sozinha. E estava tão cansada disso.

  Jogou o corpo para trás, impactando as costas no colchão, olhando para o teto. Era só entrar no quarto para que suas críticas existências começassem. E elas eram sempre voltadas para o Espada.

  E como se fosse novidade, Ulquiorra também pensava nela.

  Sentado no divã, tentava decidir no que iria fazer. Sabia que já era noite no Mundo Real, e sairia de Las Noches logo se fosse até ela nessa noite. Mas depois das diversas coisas que Chie disse, não sabia se iria conseguir ficar do lado de fora. E se cogitasse entrar, não iria querer ir embora.

  E ele teria que retornar um dia.

  Passou a mão no rosto, apertando as têmporas. Iria ficar doido qualquer hora se continuasse pensando nela assim.

  Teria que ir.

  Teria que entrar. Entrar e sentir seu coração batendo próximo de sua pele, sentir a vida dela atravessando seu peito, sentir seu sorriso e sua risada escandalosa.

  Se levantou e abriu uma Garganta, rumando o mundo Real.

  Caminhava em direção de sua casa com um choque percorrendo suas veias, como se estivesse prestes a fazer algo proibido. Se sentia no mínimo desconfortável, mas estava disposto em ir ate o fim.

  Lá estava a janela dela.

    Parou em frente, encostando as pontas dos dedos na mesma, percebendo que estava aberta, e hesitou. Gelou por um momento ao escutar a respiração calma e suave da jovem. Convenceu-se de entrar; não importava mais, já estava aqui, não iria embora sem nem ao menos ceder ao desejo de tocar-lhe o rosto.

    Empurrou a janela e lá estava sua pequena humana, deitada na cama, dormindo.

  Sentia tanta a falta de seus olhos castanhos. Todas as vezes que viera secretamente a sua casa, Orihime estava dormindo. Havia meses que não encarava-os de perto, fazia meses que não sentia a vida que eles emanavam atravessar-lhe o peito. Ansiava por ela como um dependente químico.

  Entrou e se encostou-se à parede, sem saber o que fazer no momento.

  A respiração calma pareceu se interromper. Orihime virou-se para o outro lado. Em seguida, virou-se novamente. Deitou de barriga para cima, colocando o travesseiro na cara. Em seguida o tacou no chão, bufando.

  Com uma cara emburrada, Orihime bufou e tentando se desvencilhar das cobertas, sem jeito, quase caiu contra o chão. Colocou os pés para fora da cama, calcando seus chinelos e se levantou, ajeitando a roupa, meio cambaleante. Parou de andar ao perceber um vulto parado perto da janela. Franziu a testa, temendo ser o Sexto Espada. Respirou fundo, virando-se lentamente com os olhos no chão, temerosa.

  Completamente virada para Ulquiorra, Orihime ergueu a cabeça.

  Não havia ninguém lá.

  Soltou o ar que prendia sem perceber, balançando a cabeça, se chamando de louca. Virou-se, pronta para ir a cozinha, quando bateu em alguém.

  Franziu a testa, sonolenta, dando um passo para trás. Foi analisando a pessoa com os olhos. Reconheceu a roupa. Reconheceu a pele clara. E aquelas marcas, e aquele cabelo escuro, e aqueles olhos... ah, aqueles olhos verdes que por diversas vezes lhe tiraram o sono... Os olhos de seu amado, Ulquiorra, queria tanto que ele estives...

  Interrompeu seus pensamentos aleatórios, caindo bruscamente na realidade. Ergueu os olhos novamente para seu rosto, juntando as sobrancelhas, sem reação.

-Ulqui... –kun?

  Murmurou paralisada, mal conseguia encontrar a voz. Esquecera como ele era alto e intimidador, e esquecera principalmente como respirar perto dele. Ulquiorra permaneceu quieto e calado, mal ela sabia que ele também estava paralisado por seus olhos tão inofensivos.

-Chie me disse para vir.

  Sussurrante, não percebeu o momento em que uma de suas mãos encontraram as pontas dos cabelos da ruiva, enrolando-o em seu dedo indicador.

-Eu vim.

 Orihime continuava com os olhos paralisados nos dele, como se visse mais uma de suas alucinações. Ulquiorra franziu levemente a testa, nada que ela possa ter visto, deixando seus fios escorregarem entre seus dedos feito seda.

-Se achar melhor que eu vá...

-Eu não deveria deixá-lo entrar. Não depois do que você me disse em Las Noches.

  Não tinha como escapar disso. Sabia que ela estava magoada com ele, sabia que o que tinha feito ela nunca iria esquecer. E vê-la assim, tão fragilizada, era terrível. Queria se redimir, mas não sabia como.

  Começava a averiguar se voltar foi mesmo o certo a se fazer.

-Esqueça o que eu disse.

-Não é tão fácil quanto parece.

  Ulquiorra abaixou a cabeça, enfiando as mãos nos bolsos. Deveria ter ficado em Las Noches. Não deveria ter dado ouvidos a Chie e suas palavras estranhas. Deveria ter esquecido-a, e ter apagado aquilo como na última vez. Cometera mais um erro por ter sido inconseqüente.

  Seus pensamentos dissolveram assim que sentiu dedos finos e gelados tocarem timidamente os seus. Orihime encostou a bochecha em seu peito, passando o outro braço ao redor de seu corpo, abraçando-o.

-Eu nunca vou esquecer a sensação desesperadora de quando você ergueu a mão pra mim naquele dia em Las Noches e eu não consegui tocá-lo.

  Os dedos finos apertaram a mão do Espada.


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Notas finais do capítulo

Então, pessoinhas? Não muitas emoções, né... AHEUAHEUHAUEHAUE
Altos papos entre Espada x Fracción, quem diria, Ulquiorra sente afinidade pela Chie. Nunca que eu iria suspeitar. Na1, pera...
see ya, bebês da Killer ~