Breath Of Life escrita por Writer, Apenas Ana


Capítulo 26
Beijos, e perseguição de Charlie


Notas iniciais do capítulo

Eu ia escrever algo aqui mas não lembro. Perdi dois leitores cara :(. Eu fiz algo pra vocês não gostarem?



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Eu estava em um estado de acordada/dormindo. Eu ouvi as vozes de Ana e Nico, mas não entendia suas palavras. Eu podia sentir os braços de Nico ao meu redor. Me carregando como uma boneca.

Minha mente acordou mais um pouco quando fui colocada em uma cama. Me espalhei um pouco e vi que se tratava de uma cama de casal. Uma luz fraca entrava pelas minhas pálpebras. Abri os olhos e vi que estava no quarto temporário de Nico, novamente. A luz do banheiro estava acesa, mas uma sombra passeava pela luz. Nico saiu do banheiro, com uma escova de dentes em uma das mãos e vestindo apenas uma calça. Corei.


-Eu tenho um quarto, sabia? - Perguntei para Nico.
-Quem disse que Ana deixava eu colocar você lá? - Ele respondeu minha pergunta com outra pergunta. - Ela disse que você ia gostar de ficar aqui. Seja lá qual o sentido.
-Não nego. - Falei, me aconchegando nas cobertas fofas. Ele sorriu, e foi para o banheiro escovar os dentes.


Antes de ele mesmo voltar, eu já havia caído no sono sem querer.

Eu estava acreditando que os sonhos "Elisabeth" tinham acabado, mas eu estava errada como habitual.

A garota estava sentada em um jardim, rodeada de flores de várias cores e tipos, em uma mesa de mármore delicada. Eu nunca tivera a chance de vê-la em todos os detalhes. Ela sempre estava correndo, lutando, ou de costas para mim. Dessa vez eu tive a chance. Eu pensava que era idêntica a ela, mas haviam pequenas diferenças. Seus olhos eram como os meus quando estava com raiva ou lutando. O azul arroxeado de raios que riscam o céu em uma tempestade. Havia até o mesmo brilho cruel e irônico. Seus lábios eram mais vermelhos que os meus. Ambas as suas mãos apoiavam sua cabeça. Em sua esquerda havia uma pulseira, de metal maleável enrolado no braço. A sua direita tinha uma marca preta. Era como uma raiz se enroscando. Começava na parte de dentro no meio do antebraço, e se enrolava até chegar na parte de cima da mão. Quando chegava lá, fazia uma linha reta até o dedo do meio e terminava como um anel negro. Era uma tatuagem estranha, uma marca. Ela usava um colar de espadas cruzadas, um vestido coral. E seu cabelo estava preso em um rabo que caía em ondas leves, dando-a um ar mais jovem.

Ela olhava fixamente para a mesa, com expressão triste e com um vago medo. Houve um ruído atrás de mim. Me virei, assim como a garota. Era meu pai.


-Pensei que não iria vir mais para ajudar-me. - Ela falou.
-Devo dizer que considerei a idéia. Mas você me parecia desesperada demais. O que quer?


Ela suspirou, e passou as mãos no rosto.


-Eles estão vindo atrás de mim, e eu não consigo aguentar mais lutar. - Meu pai se sentou ao lado dela. - Eu sei que você quer que eu apoie seu plano, mas eu ainda acho precipitado demais.
-A marca era nossa última chance. - "Nossa", ele dissera para ela. Ele nunca falava isso para outros deuses.
-Isso pode proteger meu sangue, pai. - Isso explica o "nossa". - Não mudar meu destino. Você viu o que as Moiras previram. "Ela viverá bem, mas seguirá o caminho errado. A menos de que a salvação certa apareça e a livre desse peso." Elas disseram quando nasci. Mas eu estou com medo de aquela não ser a escolha certa.
-Acredite, essa é. - Ele falou.


E então eu acordei de meu sonho desconexo.


A luz do sol entrava pela janela, me dando a certeza de que era dia. Tirei as cobertas de cima de mim e olhei para o lado. Nico estava deitado de costas para mim, coberto.

Me levantei da cama e em completo silêncio abri a porta. A luz bateu em meus olhos e ardeu como fogo. Fechei os olhos parecendo aqueles cachorros no sol. Saí do quarto às cegas, e abri os olhos quando estava fechando a porta.

O apartamento estava completamente silencioso, o que me levava a conclusão de que todos ainda estavam dormindo. Fui para o quarto das meninas, e entrei. Estava muito escuro a não ser pela luz do sol vinda da porta entreaberta do banheiro. Ana e Beatrice ainda estavam dormindo. Fui até o canto, peguei minha mochila, e entrei no banheiro. Fechei a porta atrás de mim, coloquei a mochila no chão e me olhei no espelho. Meu rosto estava com marcas do lençol, meu cabelo parecia um ninho de mafagáfos e eu estava com olheiras. Sem contar com o pijama quente de moletom. A marca do corte em meu rosto, agora era bem mais fina. Meus olhos estavam azuis escuros como um oceano profundo, ou o céu a noite. O que havia causado aquela reação? Entrei no chuveiro, e coloquei a água no verão apesar de estar com calor. Lavei meu cabelo e meu corpo, e logo sai. Coloquei um vestido verde-água de um tecido leve como cetim, que ia até um palmo acima do joelho, de amarrar nas costas que deixava meus ombros e parte das costas descobertas. A pulseira que Nico me dera no aniversário do ano passado estava em meu braço, assim como o anel e o colar/espada.
Escovei o cabelo e os dentes.

Sai do banheiro, e olhei para o relógio. 12:45. Eram 12:45 e ninguém estava acordado além de mim. Sai do quarto, e fui direto para a cozinha procurar algo para comer. Eu estava cansada de comer coisas do freezer. Tudo o que eu queria era um grande bife acebolado, mas não achei. Então, comi cereais. Quando os outros acordassem, poderíamos pedir comida. Enquanto comia, pensava em maneiras de acordá-los acidentalmente, para tentar realizá-las. Odiava ficar assim. Comi e me sentei no sofá, procurando algo para assistir. Me peguei assistindo Procurando Nemo, e repetindo as frases dos personagens. Chega, pensei. Era tédio demais.


(...)


Havia se passado uma hora e meia, e ninguém havia acordado. Eu não estava conseguindo dormir mais, e não estava com sono também. Eu havia roubado o Macbook de Ana, e jogado vários jogos em que sou péssima, visitei todas as redes sociais e procurara alguém pra conversar. Desliguei o Macbook e bufei frustrada. Já eram 14:20, e eu estava odiando ficar ali sozinha. Me levantei e fui até a única pessoa que eu poderia acordar e não iria querer me matar: Nico. Entrei em seu quarto, com a porta rangendo ao ser aberta. Me virei e a fechei. Caminhei pelo quarto, parando na metade do caminho até a cama. Observei-o, dormindo tranquilamente indagando a mim mesma qual seria a desculpa para eu vir acordá-lo.


-Vai ficar me observando até quando? - Sua voz ainda bêbada de sono, me assustou levemente.
-Até eu decidir uma desculpa pra ter vindo te acordar. - Respondi, me aproximando da cama e sentando de pernas cruzadas e encostando as costas na parede, ao seu lado no lugar onde havia deitado antes. Deixei minhas mãos sobre meu joelhos. Ele se virou para mim.
-Já achou sua desculpa?
-Não. Mas agora que você acordou me vejo livre dessa questão.


Ele sorriu e se sentou na minha frente, de lado com as pernas no chão. O fato de ele estar sem camisa ainda me distraía.


-Bom dia. - Ele murmurou esfregando os olhos e bocejando.
-Bom dia. - Respondi bocejando também. Bocejos eram contagiosos. Ele sorriu.
-Você não tá com sono? Você parece tão cansada.
-Não. - Respondi achando sua preocupação fofa.
-Então, qual é o motivo de você vir me acordar?
-Tá todo mundo dormindo, e eu queria alguém pra me fazer companhia.
-Que horas são? - Ele perguntou.
-14:25. - Respondi lendo o relógio.
-Que dia é hoje?
-Não faço a mínima idéia. - Respondi sorrindo. - Nossos aniversários estão chegando, ou já passaram.
-Vou ter que pensar em um presente. - Ele falou e eu ri.
-Não vou falar que não quero presente porque se não, estaria mentindo. - Falei para ele.
-Você é uma ótima mentirosa.
-Não, não sou. Você viu aquela hora em que Ana apareceu com o assunto da cozinha? Não consegui convencer ninguém.
-Mas você não estava tentando convencer de que nada tinha acontecido, e sim de que não havia nada que eles precisavam saber.
-Odeio quando você está certo.
-Então você me odeia a maior parte do tempo. Eu estou sempre certo. - Ele falou e eu sorri.
-Convencido.
-Quem disse que eu sou o único? - Ele falou baixo o começo da frase vindo para perto de mim e quando terminou, nossa distância era mínima.


Eu podia sentir sua leve respiração batendo em meus lábios, e estava sendo lentamente hipnotizada pelos seus olhos de escuridão. Me desencostei da parede, consequentemente chegando mais próxima dele. Estava admirada por ele conseguir manter sua respiração tão calma. Não conseguia ficar parada ali apenas olhando para ele, à uma distância mais que torturante. Seus braços passaram por baixo dos meus, me arrepiando ao tocar as minhas costas descobertas até a metade. Ele me puxou para perto dele, finalmente me beijando com calma. Era surpreendente o fato de cada diálogo nosso, fosse interrompido por uma "agarração". Ele mal havia me tocado e eu podia sentir minhas mãos começando a ficar trêmulas. Meus olhos estavam fechados, mas eu podia sentir quando ele se movia e visualizar como se estivesse com os olhos abertos. Ele tirou as pernas do chão, e se sentou sobre elas sem partir o beijo. Meus braços saíram de perto de mim, e cercaram Nico. Minhas mãos espalmadas em suas costas, o puxando para mais perto de mim. Por um impulso estranho, minhas pernas se descruzaram e se fecharam ao redor dele, o trazendo mais perto ainda e me dando mais calor. E me fazendo pensar o quão pervertidos éramos. Uma de suas mãos havia descido um pouco mais, e estavam no fim de minhas costas. A outra estava em minha cabeça, se enroscando em meu cabelo. O beijo havia se tornado mais quente e urgente.


E então, bateram na porta. Não nos separamos de imediato. Nosso beijo se tornou mais lento, e se partiu com ele sugando e puxando meu lábio inferior.


-Você deveria atender a porta. - Ele falou baixo quase como um sussurro, tirando sua mão de meu cabelo a juntando com a outra. Seus olhos estavam com um brilho indecente. Eu podia sentir as batidas aceleradas do seu coração por causa de nossos troncos colados. O meu não estava diferente. As minhas batidas ecoavam em meus ouvidos.
-E você deveria tomar um banho. - Respondi no mesmo tom e altura. Bateram na porta novamente. - Te espero lá fora.


Dei-o um selinho rápido, e nos desvencilhamos de nosso mais-que-abraço. Continuavam a bater na porta e eu estava ficando irritada. Me levantei da cama, com pernas moles e mãos trêmulas, e fui até a porta. A abri, coloquei a cabeça pra fora e me surpreendi com Charlie ali.


-O que você está fazendo aqui? - Ele perguntou, com sua voz suando surpresa.
-Eu que pergunto.
-Eu vim aqui chamar o Sr. Namorado da minha irmã, porque estamos saindo daqui a pouco.
-Para onde? - Perguntei ficando estressada com ele. Sai do quarto, e encostei a porta atrás de mim. - E não fale assim de Nico. Você mal o conhece, Charlie.
-Para voltar ao Acampamento. - Ele estava ficando estressado também, mas não parecia tanto quanto eu. - E tanto faz se eu o conheço ou não. O que eu quero saber é porque você está aqui. E obviamente estava se agarrando com ele. Não é?
-Depois que você e Beatrice foram dormir eu cai no sono no sofá. Ana não deixou Nico me colocar no quarto das meninas, então foi obrigado a me deixar aqui. Porque você diz que eu estava me agarrando com ele?
-O seu vestido torto, cabelo bagunçado, e boca vermelha mostram isso. - Eu deveria arrumar tudo isso que ele falou, mas não o fiz. - E como assim você passou a noite aqui?
-Minha vida pessoal não te diz respeito, Charlie. - Minha voz estava fria.
-Aprenda Giovanna, ele não faz bem a você. Ele não é boa influência.
-E quem é você pra me dizer isso? - Pude raiva percorrer meio corpo, e a estranha sensação de quando meu olho mudava de cor. - Ele me fez mais bem do que um cérebro faria pra você. E repetindo a mesma coisa que eu já disse pra você: - Me virei, abri a porta e entrei no quarto. - Você não o conhece.


E eu fechei a porta em sua cara. Encostei as costas na porta, e cobri meu rosto com as mãos. Qual era o problema de Charlie? Esfreguei as mãos no rosto. Nico estava parado perto de mim, perto de sua mochila. Ele olhava pra mim, sem saber o que dizer. Eu também não tinha idéia.


-Você ouviu tudo? - Meus olhos voltaram para a cor habitual. Ele assentiu, desviando o olhar.
-Você concorda com ele? - Ele me perguntou, e pude sentir meu nariz arder e meus olhos encherem dágua. - Eu sou má influência pra você? Não te faço bem?


Me aproximei dele, com a garganta formando um nó.


-Nunca mais me pergunte isso. Você é uma das melhores pessoas pra mim, e nunca ninguém me fez tão bem como você. Não o escute, Nico. - Peguei os lados de seu rosto, o fazendo olhar pra mim. Finas lágrimas salgadas corriam, por culpa de Charlie e medo de o mesmo nos separar. - Todos precisam de um herói, e você é o meu.
-Pensei que fosse seu namorado. - Ele falou sendo engraçado por causa das lágrimas rolando em meu rosto. Eu ri jogando minha cabeça pra trás.
-Você pode ser os dois, eu acho. - Falei sorrindo. Puxei-o até mim e o beijei.


Era um beijo calmo, com amor, mas acima de tudo com uma pontada de medo. Medo de perdemos um ao outro. Me separei dele, puxando o ar.


-Eu não sei se você ouviu, mas vamos voltar pro acampamento hoje. - Falei descendo minhas mãos passando por seu pescoço, ombros, braços, e pegando ambas as suas mãos. Provoquei arrepios ao passar as mãos por sua pele.
-Como vamos?
-Não faço idéia. - Respondi sorrindo com ele fazendo o mesmo ao ouvir minha resposta. - Vai tudo voltar ao normal, afinal.
-E eu ainda tenho que descobrir que dia é hoje. - Ele falou, e eu ri.
-Eu vou olhar pra você, pode deixar. Agora você precisa pegar as suas coisas e tomar banho. - Falei soltando suas mãos pouco a pouco. Dei um selinho demorado nele. - Vou pegar minhas coisas.
-Vai esperar junto com os outros? - Ele perguntou e eu assenti. - Então tá.


Ele pegou meu queixo e me puxou para um selinho, que logo evoluiu para um beijo.


-Se continuar assim eu nunca saio daqui. - Murmurei com a boca dele ainda colada com a minha.
-Quem disse que eu quero que você saia? - Ele deu uma pausa no beijo, e eu sorri com sua frase. Voltamos a nos beijar.
-É sério. - Falei me separando dele. - Tenho que ir. Ah, e não precisa levar a mochila pra lá. Eles vão querer comer alguma coisa antes de sair.


Ele fez uma cara triste por eu ir embora, e eu sorri.


-Vai tomar banho, vai. - Falei indo para a porta e parando para ajeitar o vestido e o cabelo.
-Já tô indo, mãe. - Eu ri.


Abri a porta e sai. Agora seria obrigada a encarar Charlie. Do corredor eu podia ouvir discussões.


-E eu tenho culpa se ela não relutou e recusou dormir com ele? - Ana perguntou. - A vida é dela, para de se meter. Nem o pai dela consegue controlá-la, você vai conseguir? Cala a boca e respeita.
-A culpa é sua por ter colocado os dois juntos. - Charlie estava querendo puxar a coisa para o lado de Ana.
-Você acha que eu não fiz um favor a ela? - Ela estava quase gritando com ela. Eu caminhava lentamente pelo corredor.
-Não, você não fez. Você está fazendo ela ficar mais perto dele.
-É ele que faz bem a ela. - Beatrice entrou na discussão. Até ela brigava com Charlie.
-Exatamente. - Falei entrando na sala, com o olhar de todos indo até mim. Limpei as lágrimas que tinha esquecido, de meu rosto. Pela primeira vez não fiquei com vergonha. Me virei pra Ana, suavizando a expressão irritada e dando-lhe um leve sorriso. - E você realmente me ajudou.
-CHORA HATERS. - Ela gritou jogando os braços pro alto. Eu ri.
-E você, - Falei me virando para Charlie que continuava com a expressão dura. - cala a sua boca, enquanto você ainda tem uma inteira. - Minha voz estava fria, dura, e cheia de raiva. - Você pode ser meu irmão, mas isso não o protege de nada. E nem te dá o direito de tentar destruir meu relacionamento. - Olhei para o lado e Alex estava sentado em uma das cadeiras. Charlie estava na cadeira ao lado de Alex, Beatrice estava no sofá grande junto com Ana. Alex estava com uma cara de tédio, mas me olhava com certo divertimento como se me imaginasse quebrando a cara do irmão gêmeo. Falei suavizando o tom. - Oi Alex.
-E aí. - Ele murmurou.
-Oi Beatrice. - Falei lhe dando um sorriso sem mostrar os dentes.
-Oi. - Ela falou soltando uma risada pelo nariz por causa das minhas variações de humor.
-Pelo jeito a coisa do humor melhorado não era brincadeira. - Ana falou orgulhosa do próprio trabalho.
-Não mesmo. - Falei me sentando no sofá de dois lugares. - To com fome.
-Pedimos pizza no Pizza Hut. Shrimply Delicious e Chicken Delight.
-Quem vai pagar? - Perguntei.
-Você. - Ana respondeu.
-Eu deveria estar surpresa, ou até mesmo brava. Mas não.
-Vou te colocar pra dormir com o Nico mais vezes. - Ana falou e Charlie a fuzilou.
-Você fala como se eu só fosse fazer isso por ser obrigada por você. - Falei e Charlie me fuzilou. - E Charlie me olha como se eu tivesse feito... Aquela coisa.
-Sexo? - Alex traduziu minha mensagem, falando como se falasse que água não tinha gosto.
-É. - Murmurei sentindo meu rosto corar e abaixando-o. Eu era uma pessoa estranha. Não gostava de falar coisas relacionadas a... Aquela coisa. Me sentia a pessoa mais imatura do mundo.
-Nossa você é muito inocente. - Beatrice falou. Mal sabia ela que estava muito errada.
-Não, não é. - Ana cortou o barato de Beatrice.
-Eu não sei porque eu fui falar aquilo pra vocês. - Me arrependi. - Vão ficar discutindo minha inocência até quando?
-Até a hora que perder a graça ver você corada assim. - Ana falou. - Conta o que rolou.
-O que? - Fiquei nervosa, mas não no sentindo brava. E sim vergonha. Corei mais ainda. - Não!
-Sem graça. - Beatrice falou.
-Me sinto gay aqui. - Alex falou fazendo uma cara estranha.
-Sai daqui então. - Falei rindo.
-Me sinto contrariado. - Charlie falou.
-Vai se ferrar, você. - Ana falou. - Até eu que não sou a Giovanna to ficando irritada.
-Porque não falamos da vida pessoal de outro? - Perguntei, querendo voltar ao assunto. - Tipo da Ana? Ou Beatrice?
-Minha vida pessoal é tão parada que até cria mosca. - Beatrice fala e na mesma hora Nico entra.


Ele estava com uma camiseta preta com estampa branca sem sentido, uma calça preta, e um all star completamente preto, desses de coleções recentes. Nossa conversa estava tão animada, que eles nem se importam muito com sua chegada. Menos eu, e Charlie. Ele caminha até o sofá, e se joga nele. O cheiro de seu perfume me intoxica, e parece me abduzir. Mesmo apesar disso tudo, a conversa corria. Não houve aquele silêncio incômodo junto com o encaramento. Já estavam o encarando como um do "grupo".


-Não seria teias de aranha? - Alex perguntou.
-Não gosto de aranhas. - Beatrice respondeu.


A campainha tocou.


-Charlie, atende a porta. - Ana falou se levantando, pra pegar o dinheiro na minha mochila, e saiu andando.


Charlie se levantou bufando, e todos o acompanharam com o olhar sem virar a cabeça. O humor de Charlie já tava dando ódio. Ana passou correndo por nós, segurando o dinheiro. Minha mão por reflexo escorregou para a de Nico. Segurei sua mão fria e apertei como se estivesse perguntando se estava tudo bem. Ele olhou pra mim, e deu um sorriso de lado. Fiz o mesmo. O momento de afeto acabou quando Charlie passou por nós como um furacão fazendo cara feia. Ele colocou a pizza na mesa de centro, e se jogou na cadeira.


-Bom humor mandou lembranças, Charlie. - Falei cutucando a fera. Ele olhou para mim e semicerrou os olhos.
-Não me irrite mais ainda.
-Uh, que medo. - Falei sendo a primeira a abrir a caixa de pizza. Tive infelizmente que soltar a mão de Nico pra isso. - Digo o mesmo. Mas você insiste em ignorar.


Ana chegou com uma garrafa de dois litros de Coca-Cola e copos plásticos. Encerrando meu curto-diálogo-não-amigável com Charlie. Eu não sabia qual dos dois sabores de pizza eu estava comendo, porque não sabia o que tinha nelas. Todos se serviram, e eu continuei comendo minha pizza com a mão. Beatrice lutava para manter a pizza reta e não cair.


-Não tem prato não? - Ela perguntou e todos encararam ela.
-Aprenda a não ser uma pessoa civilizada. - Ana falou.
-Que tipo de pessoas come pizza com prato garfo e faca? - Alex perguntou para ninguém em especial.
-Pessoas normais. - Respondi.
-Então eu sou normal. - Beatrice falou, finalmente vencendo a pizza.
-Então... - Alex tentou puxar assunto. - O que vamos fazer quando chegarmos ao Acampamento.
-Morrer. - Ana murmurou.
-O de sempre. - Beatrice respondeu ignorando-a. - Falar com Quíron e descansar o resto do dia.
-O único bom de voltar de missão é esse. - Ana falou. - Ter paz.
-A questão é: Como vamos voltar? - Perguntei curiosa.
-Sabe aquelas pedras que Percy me deu? - Ana explicou/perguntou. Assenti me lembrando. - Então. Elas vão servir pra isso.


Eu só esperava não ter que engolir aquilo. Pareciam grandes demais pra isso.


-To com sono. - Reclamei. Quando eu não tinha nada pra dizer reclamava. Eu estava com um pouco de sono, realmente.
-Que horas você acordou? - Charlie perguntou. Acho que ele só perguntou aquilo porque tinha a ver com a noite com Nico. Eu estava ficando cansada daquela perseguição. Estava feliz por poder me livrar dele quando chegar ao acampamento.
-Antes de 12:40. - Respondi. - Eu levantei e me arrumei e só fui olhar o relógio depois disso. Eu vou chegar no acampamento fazer os relatos e dormir até o jantar, se puder.
-Eu não vou ter paz. - Ana falou, e todos viraram pra ela. - Percy vai querer me interrogar.
-Agora que tenho irmãos eu vou deixar eles viverem. Não vou ficar em cima, não. - Mandei uma indireta/direta para Charlie. Só faltava dizer o nome dele. - Eu tinha que perguntar alguma coisa, mas esqueci.
-Que dia é hoje. - Nico me lembrou.
-Isso. Que dia é hoje?
-Terça-feira. - Ana respondeu.
-De número... - Pedi.
-18 de Junho acho. - Beatrice respondeu e eu sorri.
-Feliz aniversário pra mim, então. - Falei animada.
-É hoje? - Ana perguntou para mim.
-É. - Respondi. Olhei para Nico e ele sorriu. - E o seu foi ontem.
-Quantos anos? - Beatrice perguntou.
-Qual dos dois? - Nico perguntou. Estava feliz por ele estar falando mais com eles, e não ficando só calado.
-Os dois.


Ele olhou pra mim com a sobrancelha erguida. Como se perguntasse: Devo dizer que tenho 15 ou 85?


-Acho melhor abstrair um certo fato. - Murmurei, e ele soltou o ar pelo nariz em uma risada silenciosa. - 15. - Respondi por fim.
-Opa. - Charlie falou. - Abstrair o que?
-Você sabe o que significa "abstrair", Charlie? - Perguntei desviando do assunto.
-Retirar, basicamente. - É, ele sabia. - Abstrair o que?


Agora a desgraça tava feita. Ana não falava nada, assim como Alex e Beatrice.


-Nada que afeta sua vida. - Respondi ríspida.
-Tudo que tem a ver com a minha irmã me afeta.
-Para de insistir, Charlie. - Alex interviu. - Todos temos segredos, e ter uma empatia com alguém não vai fazer os segredos dessa pessoa irem direto a você.
-Se insistir, sim. - Ele respondeu. Ele estava com a cabeça virada para Alex, mas olhando Nico pelo canto do olho. Nico olhava pra ele e pra mim. Ele estava querendo bater no meu irmão, isso sim. Mas se isso acontecesse, eu bateria junto. - Mas eu ainda vou descobrir sobre o que vocês estão falando.


Então, uma imagem começou a tremeluzir no ar. No centro da sala. Uma Mensagem de Íris se formou. Quíron estava lá, olhando para nós com sua expressão levemente preocupada que se suavizou ao nos ver. Ao fundo podíamos ver as camas do chalé de Íris com as paredes coloridas, junto com as colchas e tudo mais. Também haviam Percy e Annabeth, que ao ver a MI funcionando se aproximaram.


-Oi Quíron. - Falei sorrindo. Ele deu um leve sorriso em resposta.
-Então, como estão as coisas aí? Está todo mundo bem? - Ele perguntou calmo, mas aí apareceu Percy.
-Ana? Cadê a Ana?
-Eu to aqui. - Ana falou se levantando com o refrigerante e a pizza em mãos, e se pondo atrás de mim e Nico. - Oi. - Ela falou sorrindo. Ela odiava mas amava o irmão.
-Oi. Oi Nico, oi Giovanna. - Ele falou sem jeito por ter nos ignorado.
-Oi. - Falamos em uníssono, aumentando meu sorriso.
-Deuses, Giovanna. O que aconteceu com você? - Annabeth sempre preocupada.
-Em relação a... - Perguntei.
-Tudo. Até seus olhos estão diferentes. - O olhar de Quíron foi direto para meus olhos, depois da frase de Annabeth.
-A cicatriz foi culpa de Dylan Aaron, uma luta, e uma espada envenenada. A cara terrível é sono. Uma madrugada movimentada. E os olhos eu não sei. Mudaram sozinhos. - Olhei para Quíron. - Tem a ver com as coisas que só meu pai pode me contar, não é?


O bom de Mensagens de Íris é que você pode olhar pra pessoa, e ela sabe que você está olhando pra ela. Era diferente de conversar com uma webcam, por exemplo. Ele assentiu.


-E então, como estão as coisas? Todos vivos? - Quíron perguntou. Ana continuava atrás de mim. Peguei um pedaço de pizza.
-Se Charlie continuar me irritando não vai voltar vivo. Ou faltando pedaços. Mas de resto estão todos bem.
-Porque não avisaram de nada? Podiam ter mandado uma mensagem. - Percy nos repreendeu.
-Tínhamos outras coisas pra nos preocupar. - Ana respondeu.
-Tipo...?
-Cuidar de cortes envenenados e infeccionados, conta? - Beatrice falou aparecendo também atrás de mim.
-Irmão intrometido, também conta? - Perguntei.
-O que ele fez, afinal? - Annabeth me perguntou.
-Longa história.
-Ok. Quando pretendem voltar das férias? - Percy perguntou, dessa vez. Quíron não dizia nada, eles não davam tempo.
-Hoje. - Beatrice respondeu.
-Como? - Dessa vez, milagrosamente, Quíron se pronunciou.
-Pérolas. - Ana falou.
-Então a gente vai ficar falando a primeira coisa que vem a cabeça? - A enchi. - Calabresa.
-Não, sua burra. Vamos voltar usando as pérolas.
-E o que é isso? - Nico perguntou, virando o corpo um pouco pra trás pra olhar pra ela.
-Explico depois. - Ana falou acenando com a pizza para ele. - Percy, você tem certeza que aquilo não vai nos jogar no meio do mar aberto né?
-Sim. - Ele disse levemente impaciente. Ana deve ter perguntado aquilo umas quinze vezes. - Vai deixar vocês na praia ou no lago.
-Espera aí. Deixar a gente aonde? - Perguntei alarmada.
-Depois eu explico. - Ana falou irritada. - Deixem pessoas nos esperando com roupas secas. Porque pelo amor dos deuses, eu não quero ter que ficar ouvindo: "eu to com frio", "vou ficar resfriado", "essa roupa grudando me dá agonia". Não. Só não.
-Tá bom. - Annabeth falou lentamente.
-Grata.
-Cadê os gêmeos? - Quíron perguntou, se manifestando depois de várias perguntas.
-Sentados, se excluindo. - Beatrice respondeu.
-Então, ok. Quero vocês no acampamento em no máximo uma hora. - Quíron falou, e desfez a Mensagem de Íris.
-Nossa, que grosseria. - Falei.
- Nem se despede.
-Ana, explica essa coisa de pérola. - Nico exigiu.
-São pérolas - Ela começou a falar, e passou na minha frente depois se jogou no sofá seguida de Beatrice. - que você pisa nelas, e elas te levam para o lugar que deseja ir. Mas geralmente te deixam em lugares com grande concentração de água. - Ela rolou os olhos azuis claro, sem algum motivo aparente. - Então Giovanna, se não quer parecer um gato molhado sugiro que troque de roupa. E nada de branco.
-Sim senhora. - Falei em deboche, mas recebi um olhar impaciente dela. - Que mau humor.
-Não é mau humor. Só não quero voltar pro acampamento. - Ela falou, e eu bocejei. Não era uma boa hora pro sono aparecer.
-To ficando com sono. - Falei jogando minha cabeça pra trás, mas logo voltando por não gostar da posição. - Acho que vou me arrumar. Mas to com preguiça.
-Você sempre tá com preguiça. - Nico falou, e eu tive que concordar com a cabeça e responde-lo.
-Isso é verdade.


A sala ficou em um silêncio que quase me fez dormir.


-Ok, eu vou me trocar. - Falei me levantando.
-Eu vou arrumar essa bagunça. - Beatrice falou. Ela suspirou e se levantou.
-Vou ajudar então. - Nico falou. Ele sabia que quanto mais tempo perto de Charlie ele ficasse mais se irritaria.


Atravessei a sala e fui para o quarto. O quarto das meninas, dessa vez. Cheguei, e fechei a porta. Me joguei na cama ainda sentindo os lugares onde as lágrimas haviam passado e secado. Eu ainda temia que Charlie conseguisse separar Nico e eu. E eu acho que não importa o tempo que passasse e quantas opiniões mudassem, eu ainda ia sentir aquele medo. Que me congelava e derretia ao mesmo tempo.

Eu estava morrendo de preguiça de levantar. Encarando o teto, e não pensando em nada. Pela primeira vez em muito tempo. Me obriguei a levantar, e troquei de roupa. Coloquei um short vermelho escuro e uma regata solta de malha preta. Duas cores que eu tinha certeza que não ficariam transparentes. Meu cabelo, ao invés de liso como sempre, estava fazendo ondas nas pontas e meus olhos estavam um tom mais claro comparado a de manhã. O que eram todas aquelas mudanças? Era impossível dizer que eu não estava com medo. Parei de me encarar no espelho, procurando por mais diferenças. Era cruelmente torturante ver tudo aquilo, saber que tinha uma resposta mas não poder consegui-la. Peguei minha mochila, e me arrastei do quarto. Eu me sentia completamente cansada, psicologicamente. Charlie Nico e eu, meu pai, Elisabeth, essa mudança de aparência, minha nova mãe. Eu me sentia perdida.

Chegue a sala, e para variar me joguei mole no sofá. Charlie não estava presente e Ana e Beatrice apostavam em algum jogo em um Nintendo DS cada uma. Alex estava com os olhos fechados, quase dormindo. Nico observava a mobília. Deixei a mochila no chão aos meus pés e coloquei a mão direita, agora livre da mochila, na minha perna. Escorreguei a esquerda conscientemente para a mão de Nico. Segurar sua mão me dava uma sensação interessante. Devia ser a falta de calor ou a segurança e paz que eu sentia. Ou ambos. Entrelacei os dedos e senti o anel em seu dedo. Nico olhava para as nossas mãos, já por não ter nada para olhar. Levantei nossas mãos até a altura do meu rosto, e fiquei girando o anel em sua mão. Ele me olhou com a sobrancelha erguida com uma mistura de humor e incômodo. Sorri de canto, e continuei a girar o anel. Mesmo ele não gostando ele não contestou.


-Eu não acredito que você ganhou de mim. - Ana não queria aceitar de que alguém no mundo poderia ser melhor que ela. Ela tentou se expressar mas não achou a palavra certa. - Eu me sinto...
-Derrotada? - Beatrice sugeriu sorrindo.
-Isso!
-Talvez seja porque você perdeu de mim. Talvez. É só uma hipótese.
-Para. - Ana falou rindo mas com voz falsamente chorosa. Soltei o ar pelo nariz em uma risada silenciosa por causa delas.
-Que jogo ela ganhou? - Perguntei para Ana, mas foi Beatrice que respondeu.
-Mario Kart. - Beatrice respondeu. Ana não variava muito nos jogos. Eram sempre clássicos, quando ela pegava o aparelho pra jogar.
-Eu sou péssima nesse jogo. - Admiti.
-Imagino. - Beatrice falou.
-Posso ser péssima, mas gosto de jogar. - Admiti. - Parece que eu gosto de perder.


Charlie entrou na sala, e ficou em pé encostado na parede com expressão séria, e os olhos em mim (eu ainda rodava o anel no dedo de Nico) lentamente mudando para os outros.


-Ninguém gosta de perder. - Beatrice falou.
-Sempre existe alguém. - Respondi.
-Vamos voltar, ou vamos ficar aqui? - Alex interrompeu, para a surpresa de todos. - Eu quero dormir.
-Não é só você. - Nico murmurou ao meu lado e eu olhei para ele pelo canto do olho. Ele piscava os olhos lentamente.
-Eu não acredito que vocês estão com tanto sono depois de dormir o dia todo. - Falei. Eu podia ficar com sono já que não havia dormido nada. Eles não.
-É o sujo falando do mal lavado. - Ana falou. E eu cai na idéia de pensar qual dos dois eu era. Sempre fazia isso. Acho que eu era o "sujo".


Suspirei derrotada, e falei.


-É, acho que já está na hora de voltar pro Acampamento.


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Notas finais do capítulo

Meu deus o capítulo deve ter ficado enorme. Eu não sei o tamanho que fica porque eu escrevo em um aplicativo, e ele não mostra número de palavras. Mas enfim, vou começar a escrever os recados aqui denovo, porque eu recebi uma advertência por causa disso. Vocês podiam indicar a fic. Só tenho duas indicações. AS PERGUNTAS DO CAPÍTULO SÃO: O que acharam da cena Gico (ship criado pela Ísis e adotado por mim e Ana)? Qual a idade de vocês (isso é só curiosidade)? E vocês podiam ajudar a divulgar mais a fic. To com poucos leitores. E ACESSEM MEU BLOG. É MEU, DA MINHA IRMÃ, E DA MINHA VIZINHA: meio-t-ermo.blogspot.com.br



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