Pov Giovanna


Eu não sabia o que fazer com aqueles dois. Se agarrando no meio do chalé. Alex segurava o braço da Ana por alguma razão estranha, e eles estavam perto da estátua. Me escorei na porta, e cruzei os braços. Bufei insignificante, mas eles se separaram assustados. Um sorriso se esboçou no meu rosto, mas eu tentei escondê-lo.


-O que eu faço com vocês dois? - Perguntei.


Ambos se encolheram. Provavelmente com medo de eu fazer algo de ruim pra eles. Mas eu nunca faria isso pra nenhum dos dois. Ambos são meus melhores amigos, e um deles é meu irmão. A cor do rosto de Ana estava da mesma cor das sardas, e ela estava de cabeça baixa com um quase-sorriso.


-Eu criticando o Charlie e a possível namorada dele, enquanto vocês dois estão aqui se agarrando. - Porque apenas eu estava falando? Isso não me dá um ar legal.
-Não estávamos nos agarrando. - Alex falou segurando o sorriso, que dizia o contrário.
-Eu quero falar com a Ana. - Falei, ainda escorada na porta e de braços cruzados. - Sai daqui Alex.
-O chalé é meu também. Eu saio se eu quiser. - Ele deu uma de bravo, o que não funcionou na situação porque ele estava quase sorrindo ainda.
-Então eu saio. E se um dos Stoll ou alguma filha de Afrodite ouvirem a conversa, em cerca de minutos estarão tão famosos quanto eu e o Nico ficamos.
-Ok, eu saio. - Ele falou.


Ele saiu do chalé, e eu entrei. Me virei e fechei a porta. Assim que eu me virei para Ana ela estava pulando sorrindo e agitando os braços. A única coisa que eu podia fazer era olhá-la e rir. Depois de vários segundos ela parou e respirou, mas sem tirar o sorriso enorme do rosto.


-O que aconteceu? - Perguntei tentando usar um tom malicioso, mas ela não notou. Estava muito feliz pra isso.
-Eu... Nós... Estavamos aqui... Aí eu ia embora... E ele me beijou... E...
-Frases completas me deixariam feliz. - Murmurei.


Ela me contou tudo o que aconteceu, desde a praia até eu chegar. As vezes a alegria das pessoas me surpreende, pensei.


-Mas e o Percy? - Perguntei, e o sorriso dela vacilou. - Não quero ver ele matando meu irmão.
-Ele não vai fazer nada arriscado desse jeito. - Ergui uma das sobrancelhas.
-Tem certeza? Você é a irmãzinha dele. E também, se eu fosse ele eu faria isso. - Ela abaixou a cabeça levemente triste. - Mas vamos ter cuidado. Até vocês começarem a ter algo sério não vamos falar nada.
-Você promete não contar pra ninguém?
-Eu prometo. Mas o Charlie vai acabar sabendo. Isso é inevitável. Mas eu faço ele não contar nada.
-Valeu. - Ela falou voltando ao sorriso.
-Agora me dá licença que eu quero tomar banho. - Falei quebrando o clima.
-Tá né. Fazer o que. Alias, eu também tenho que tomar banho. - Ela disse se levantando. - Te vejo no jantar.


Ela caminhou sem nem esperar eu me despedir, abriu a enorme porta do chalé e saiu. Me deixando sozinha com a enorme estátua de Zeus. Observei o chalé. Eu tinha saudade daquele lugar as vezes. O teto distrativo que imitava o céu e certas horas uma tempestade, as paredes brancas com os nichos. Mas algo que eu não sentia falta em hipótese alguma da estátua gigante do deus hippie. Aquilo ocupava muito espaço, e sem contar com o fato de ser muito feia. Ignorei-a como sempre fiz.


Entrei no banheiro e fiquei muito tempo apenas dispersando água. Cantei, dancei, pensei um pouco. Quase nada to tempo eu gastei realmente tomando banho. Saí do banheiro, me troquei, escovei o cabelo e os dentes. Saí do chalé com a sensação de estar atrasada. Mas felizmente eu havia errado. Fui sozinha até o pavilhão. O que era meio estranho pra mim que sempre ia acompanhada com alguém. Mas enfim, cheguei no pavilhão e quase todo mundo estava lá. Mas não havia nada de anormal felizmente. Quase todos estavam sentados e comendo, o resto estava na fogueira jogando as oferendas. Todos estavam com cara de cansados, mas vagamente felizes. Procurei Ana, e vi que estava sentada próximo ao Percy. Meus irmãos estavam na mesa seguinte. Peguei minha comida, e joguei uma parte para Zeus e Hades. Caminhei preguiçosamente até a minha mesa e me sentei. Aquela noite o céu estava lotado de estrelas, o que eu não achava estranho.


-E aí Charlie, como foi o encontro? - Perguntei colocando um pedaço de torta na boca.


Charlie apenas riu sem humor e voltou a comer.


-Ela descobriu o quão você é lerdo e burro? - Alex falou tentando não sorrir.
-Vocês são muito chatos. - Ele murmurou. Eu e Alex assentimos em concordância.


Olhei a mesa da Casa Grande, e Rachel não estava lá. Os dias de vida que Nico tinha estavam se diminuindo, e eu não podia fazer nada enquanto o oráculo não chegasse. A sensação de não poder fazer nada era pior do que saber que ele estava a beira da morte.


Várias pessoas puxaram o ar assustadas, e suas bocas congelaram em um "o" medonho. Mas eu não fazia idéia do que tanto as assustavam, até ver que meus irmãos e Ana me olhavam admirados. Olhei minhas mãos mas não havia nada diferente. Com medo do que poderia ver, olhei para cima. E a coisa que nunca imaginei ver estava lá. Eu estava sendo reclamada denovo.

 Mas o símbolo por mais que eu quisesse não era o de Zeus. Era um céu estrelado que era difícil de ver do ponto que eu estava. Algo desceu dos céus e pousou nos meus ombros. Fiquei com medo de ser um bicho, mas era uma capa negra como a noite. Fitas se amarraram em meu pescoço fazendo um laço leve. Olhei desesperada para Quíron que estava com os olhos fechados denovo. Eu tinha uma vaga idéia de quem seria. Provavelmente seria Nix ou Hécate. Os campistas não falavam nada, apenas me encaravam assustados como se eu fosse um fantasma. Quíron apenas falou algo realmente inútil pra mim.


-Vamos prosseguir para a fogueira.