O Vampiro De Konoha escrita por Caesarean Tolledus


Capítulo 3
Lágrimas do Deserto




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Suna

Shikamaru sentia-se meio tonto. Sabia que havia exagerado no ritmo – o trajetode Konoha à Suna, que levava pelo menos dois dias, havia sido feito em um dia e meio – mas o cansaço era o que menos o afetava naquele momento. Precisava ver Temari, saber a verdade, mesmo que isso lhe custasse a vida. Só acreditaria em traição se ela mesmo confessasse. Ele, que apesar da pouca idade era uma das mentes mais respeitadas de Konoha, começava a deixar a racionalidade de lado para dar ouvidos às próprias emoções.

Já podia avistar a grande muralha de Suna. Da última vez que estivera aqui viera como convidado, representando Konoha, e havia sido honrado como tal. A amizade com Gaara e Kankuro ficara mais forte e Temari – ah, Temari... – sempre que estavam juntos comportavam-se como crianças: os gestos e ações mais simples como admirar as estrelas na noite do deserto ganhavam um significado único, como se tudo fosse pela primeira vez. Mesmo as “alfinetadas” que davam um no outro – ela era a “problemática” e ele o “preguiçoso “ – nunca eram motivo de mágoa, apenas de risos. Mas para ambos era difícil deixar o orgulho de lado e dar o primeiro passo além da amizade.

Muitos shinobis guardavam a entrada da Vila: mau sinal. Algo fora do comum estava acontecendo. Continuou aproximando-se com o coração apertado. Quando teve a certeza que a distância permitia que ele fosse visto com clareza, levou a mão direita à bandana e tocou o símbolo da folha com a ponta dos dedos estendendo, em seguida, esta mesma mão para o alto com a palma à mostra: o gesto que indicava que um shinobi aliado se aproximava. Os shinobis que estavam mais à frente se entreolharam e um deles se adiantou repetindo o mesmo gesto e caminhando ao seu encontro. Não foi o suficiente para tranquilizar Shikamaru.

– Nara Shikamaru, Chuunin de Konoha – apresentou-se

– Mitsuga Shoi, Chuunin de Suna – respondeu o shinobi – Perdoe-nos por esta indelicadeza Sr. Nara mas, por ordem do Conselho dos Anciões, a Vila da Areia encontra-se fechada a qualquer estrangeiro até segunda ordem – emendou.

– Suna fecha suas portas às nações aliadas? Aos amigos que já lutaram com ela e por ela?

– Perdoe-nos Sr. Nara. Eu mesmo já lutei ao seu lado e é com grande pesar que cumpro essas ordens. Mas a decisão dos anciões não pode ser questionada.

– E quanto a minha decisão? Irá questioná-la?
– uma voz calma, porém carregada de autoridade, fez-se ouvir do alto da muralha fazendo com que todos se voltassem para ver a quem essa voz pertencia.

– Kazekage... – murmuravam todos, baixando a cabeça em respeito.

– Apesar de estarmos sob o sol do deserto, nunca tive uma recepção tão fria... Me pergunto o por quê, Gaara do Deserto! – questionou Shikamaru.

Com um salto, Gaara desceu da muralha postando-se à frente de Shikamaru. Como sempre, seu rosto era uma máscara completamente desprovida de emoções. Somente os seus amigos, e entre eles, Shikamaru, sabiam discernir os sentimentos que sua face teimava em não revelar. Mas naquele momento, o que mais chamava a atenção no rosto de Gaara não era a ausência de emoções e sim os inúmeros e
profundos arranhões que cobriam o rosto e parte do pescoço, bem como as ataduras que cobriam seu olho esquerdo. Diversos hematomas também se estendiam por suas mãos e braços.

–Gaara... – começou Shikamaru, sem saber exatamente o que dizer.

– Venha, meu amigo – Gaara estendia a mão à Shikamaru – Você e todos da Vila da Folha são bem-vindos à Vila da Areia – disse isso olhando para os shinobis que guardavam a entrada, que imediatamente deram passagem aos dois – Temos muito o que conversar...


*************************


Konoha

“Naruto atacava com fúria incontida. O Manto da Raposa, com seis caudas, conferia-lhe um poder devastador que ele direcionava totalmente para o monstro de presas enormes à sua frente. Cada golpe gerava estrondos que poderiam ser ouvidos em todas as cinco nações, mas o monstro nem parecia sentir o que o atingia. Um único golpe da criatura o atingiu lançando-o ao espaço. A dor era insuportável. Os poderes da raposa o abandonaram antes que atingisse o solo. Mal conseguia ficar de pé e, quando conseguiu, foi apenas para ver o seu pior medo materializado: sob os pés da criatura, jaziam Sakura, Jiraya, Sasuke e Kakashi. Mortos, com as gargantas estraçalhadas. E, nos braços da criatura, jazia Hinata, com as presas do monstro a dilacerar sua garganta cujo sangue jorrava para deleite da criatura sedenta. Naruto tentava correr para salvar Hinata mas suas pernas não obedeciam. Gritava, mas não conseguia ouvir a própria voz...”




Acordou aterrorizado e confuso, sem saber onde estava. Não estava acostumado a ter pesadelos. Demorou também a reconhecer a figura de roupas extravagantes e de enorme cabeleira branca que estava ao seu lado esquerdo. Foi a voz dele que o trouxe de volta à realidade:

– Bom dia, ou melhor, boa tarde garoto maluco!

– ERO-SENNIN!!! –
falou Naruto, surpreso e feliz por ver seu mestre.

– Fale baixo! Caso não tenha percebido, você está num hospital. Além disso, não vai querer acordar sua namoradinha, não é? Já faz quase dois dias que ela não sai de perto de você...

Só então Naruto a percebeu, encolhida desconfortavelmente numa pequena poltrona à direita de sua cama. Hinata, exausta pela longa vigília, adormecera profundamente. Para ele, era a imagem de um anjo...

– Dormi tanto tempo assim?!

– Pois é... a safada da Kiuby te pegou direitinho desta vez!

Naruto baixou a cabeça, não conseguindo encarar seu mestre. Apesar do jeito brincalhão de Jiraya, sabia que aquilo era uma crítica. Mais uma vez ele dependera do poder da Raposa Demônio para resolver seus problemas.

A lembrança da discussão que tivera com Jiraya há alguns dias também era um dos motivos do constrangimento de Naruto. Dissera, impulsivamente, palavras duras a Jiraya. Lembrava-se com tristeza e vergonha daquele dia:

“ – Esqueça isso, Naruto! Essa busca só lhe trará desgostos e, talvez, a morte!

– Ele é meu amigo! Sei que ele fez besteira, mas ele foi enganado! Não desistirei dele!

– Sasuke é um desertor. Ele abandonou Konoha, assim como tudo o que lhe foi ensinado aqui para se unir ao nosso pior inimigo! Ele não é mais seu amigo, e
irá matá-lo se tiver a oportunidade. Esqueça-o! Se seu sonho é realmente ser o Hokage um dia, deve começar a pensar no interesse de todos e não somente no seu!

– Foi o que fez com Orochimaru? Ele era seu amigo, não era?

–...

–Talvez, se não tivesse desistido dele, ele não teria se tornado esse demônio! Já pensou nisso alguma vez, Ero-Sennin?

– ...”

Quando Naruto falou sobre Orochimaru naquele dia, Jiraya simplesmente foi embora sem dizer uma única palavra. Foi aí que percebeu que havia ido longe demais. Mas agora, lá estava seu mestre, ao lado de seu leito, com aquele sorriso enorme na cara como se nada tivesse acontecido.

– Ero-Sennin, digo, Jiraya-sensei, eu quero que me desculpe por aquele dia... Eu realmente só falo merda...

– Esqueça Naruto! No fundo, você tinha alguma razão... Mas esqueça isso agora! Quero que me conte tudo o que aconteceu.

Nesse momento, foram interrompidos pela porta do quarto que foi aberta com muito cuidado. Naruto surpreendeu-se com a visita.

– Neji!

– Naruto... –
respondeu Neji, com sua habitual frieza – Desculpe interrompê-los, mas meu tio exigiu que eu viesse aqui – explicou Neji, constrangido.

– Como assim?! Seu tio exigiu que você viesse me visitar??? – respondeu Naruto, completamente confuso.

– Não, seu baka... na verdade, ele me mandou aqui para buscar sua filha – explicou Neji, apontando para a moça ainda adormecida na poltrona.

Naruto lembrou-se da imagem do Sr. Hyuuga e sentiu um tremendo desconforto. Havia-o visto pessoalmente poucas vezes, mas notava o desprezo que aquele homem sentia por ele ser o Jinchuuriki, o portador da “Raposa Demônio”. No passado, já havia sentido esse mesmo desprezo por parte da maioria dos habitantes de Konoha, mas o desprezo daquele homem, além de mais forte, perdurava até hoje... Agora, imaginava o que esse homem não deveria estar sentindo sabendo que sua filha não havia dormido em casa porque estava fazendo companhia ao indesejável “Garoto-raposa”...

Neji aproximou-se de Hinata, tocando-a no ombro. Ela acordou assustada, olhando ao redor, mas sua expressão imediatamente tornou-se mais serena quando encontrou o olhar de Naruto.

– Oh, Naruto-kun... você já está acordado! Como você está?

– Bem melhor agora. Desculpe por deixá-la preocupada desse jeito. Eu não esperava ficar tanto tempo apagado...

– Não Naruto, e-eu é que peço d-desculpas –
disse Hinata, com os olhos lacrimejando para espanto de Naruto – Por minha causa, você teve que deixar a “Raposa Demônio” sair. Se eu fosse mais forte, você não precisaria ter sofrido tudo isso para me proteger...

– Hinata-chan, não diga isso! Você é a shinobi mais forte que eu conheço! Eu já vi sua verdadeira força, lembra?

– Naruto-kun...

–Hã-hãmm...
– Neji pigarreou constrangido – Hinata, trago um recado de seu pai: ele o aguarda em casa imediatamente. Creio que é desnecessário acompanhá-la, então me retiro – disse Neji, já se despedindo.

– Obrigada, Neji.

Naruto olhou para ela com tristeza. Gostaria que ela ficasse, ainda tinha muito o que lhe falar. Mas isso, mais uma vez, teria de esperar.

– Obrigado por tudo, Hinata. Te vejo assim que eu sair desse lugar!

– Melhore, Naruto-kun. Estarei te esperando...-
despediu-se, com a face intensamente vermelha, como de costume.

– Ah, o amor... a juventude... se amarrou em uma que realmente vale a pena, hein?! – dizia Jiraya, com cara de pervertido.

– Vê se não enche, velho tarado!!! – respondeu Naruto, com o rosto bem vermelho também.

– HA, HA, HA....- Jiraya ria com vontade. Mas, logo em seguida, sua expressão assumiu um ar mais sério ao falar com Naruto – Vamos lá, rapaz! Conte-me sobre esse monstro que enfrentaram... Não esqueça nenhum detalhe!


******************************


Suna

– Onde ela está Gaara? Onde está Temari? – questionava Shikamaru, mal escondendo sua ansiedade. Estavam no prédio do Kazekage, na sala de reuniões dos anciões.

Gaara hesitou em responder. Seu rosto continuava indecifrável como sempre, mas Shikamaru sentia que havia algo errado. Já havia contado a Gaara tudo o que acontecera em Konoha, menos a parte sobre o jutsu de Temari usado pela criatura. Gaara por sua vez relutava em contar-lhe o que havia acontecido em Suna.

– Ela está aqui em Suna, como sempre esteve... – respondeu Gaara, com certa tristeza na voz.

– Então, onde ela está? – insistia Shikamaru

– Você a verá Shikamaru, mas antes, há muito o que você ainda precisa saber. Eu ainda não havia percebido a gravidade do problema que enfrentamos até você me contar o que se passou em Konoha. E temo que isso ainda esteja longe de terminar... Antes de tudo, saiba que estou contrariando as decisões daqueles anciões obtusos ao lhe falar sobre nossos problemas. Considere isso o maior voto de confiança que já depositei em alguém.

– Sinto-me honrado –
Shikamaru estava surpreso. Nunca imaginara ver Gaara naquele estado de espírito. Viu o Kazekage respirar fundo, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros, antes de começar seu relato.

– Há pouco mais de duas semanas, um gennin de grande talento, pertencente a uma das principais famílias de Suna, foi encontrado morto do lado de fora da muralha. A maioria de seus ossos estavam quebrados e seu pescoço tinha uma horrível laceração, como se ele tivesse sido atacado por algum animal selvagem. Esse assassinato trouxe grande perturbação à Vila, tanto pela posição deste gennin quanto pelas circunstâncias de sua morte. A situação piorou depois que examinamos seu corpo e descobrimos que ele havia sido completamente drenado: não havia uma única gota de sangue e, ao mesmo tempo, não havia sangue no local em que ele foi encontrado. Não havia explicação plausível para essa morte: esse shinobi não estava em missão nem carregava algum segredo relevante. No entanto, ele era forte e acabou sendo morto sem que ninguém testemunhasse.

Shikamaru ouvia com atenção. Gaara, que nunca foi de falar muito, continuava avidamente seu relato.

– Na noite seguinte, outra morte: desta vez um Jounin, considerado um dos mais experientes e poderosos do nosso país! Foi encontrado da mesma forma, mas ainda estava vivo. Seu chakra havia desaparecido inexplicavelmente. Mas ele não resistiu e acabou morrendo também. Depois disso, toda a vila entrou em alerta: ninguém, shinobi ou não, andava mais sozinho. Na terceira noite foi que descobrimos que os inimigos que enfrentávamos não eram humanos.

– Inimigos? –
surpreendeu-se Shikamaru.

– Sim – respondeu Gaara – Tratava-se de mais de um. Eram três criaturas. Três monstros que matam pelo sangue...


*********************


Konoha

– Aquele desgraçado me jogou para o alto como se eu fosse um trapo! Quando me recuperei ele já tinha fugido largando a Ino, quase morta, no chão...

– Humm.... um jutsu da Vila da Areia, é? –
questionou Jiraya que ouvia atentamente o relato de Naruto.

– Isso mesmo! Depois, conseguimos encurralá-lo quando ele estava quase atacando a Hinata, mas ele fugiu de novo. Foi aí que eu o persegui junto com a Hinata e acabamos com ele nos arrozais.

– E foi nessa hora que a Kyuubi te deu uma mãozinha, certo?

– Isso mesmo... –
confirmou, constrangido, Naruto. – Mesmo assim, estava difícil... nem sei como conseguimos vencer! Só que, de repente, parecia que a força dele tinha ido embora. Ele começou a virar um velho seco e enrugado, bem
na nossa frente!

–...

Jiraya permaneceu em silêncio durante alguns instantes depois que Naruto terminou o seu relato, meditando de olhos fechados sobre o que tinha ouvido. Súbito, de olhos bem abertos e com uma expressão muito séria, interrogou Naruto.

– Diga-me Naruto, a que horas mais ou menos aconteceu esta última luta com a criatura?

– Bem, foi de madrugada... o dia já estava nascendo –
respondeu Naruto, sem entender onde Jiraya queria chegar.

– Entendo... Preciso ver uma coisa, agora – disse Jiraya, levantando-se apressado – Venha falar comigo assim que sair do hospital.

– Tá... Mas onde você vai? Qual o problema, afinal?

– O problema Naruto é que, a menos que eu esteja muito enganado, não foi você que derrotou este inimigo. Foi o Sol.




Saindo do quarto, Jiraya mal podia esconder sua apreensão. Já havia enfrentado um inimigo com as características que Naruto descrevera. Mas isso havia sido há
muitos anos e ele quase perdera a vida nesse confronto. Estava tão imerso nestes pensamentos que quase esbarrou em Sakura que vinha visitar Naruto.

– Jiraya-sama! Que bom revê-lo.

– Olá, Sakura! Que bom encontrá-la, talvez possa me ajudar. Diga-me: o que foi feito do corpo dessa tal criatura?

– Bem, o normal nestas circunstâncias é que o corpo seja trazido aqui para o necrotério do hospital, mas não foi o que ocorreu desta vez...

– Então, onde ele está?

– A ANBU levou o corpo. Acredito que para investigar sua origem...


************************


Suna

– Naquela noite, eu havia acabado de me reunir como os anciões para discutir assuntos inúteis que eles consideravam vitais. Como Kazekage, eu não podia simplesmente abandonar a reunião portanto tive de suportar aquela tortura até o fim. Procurei Temari e Kankuro depois da reunião, pois além de meus irmãos eles se mostraram ótimos conselheiros depois que me nomearam Kazekage. Principalmente Temari, cuja perspicácia e intuição têm me sido muito úteis.

Shikamaru suspirou, inconscientemente, ao ouvir o nome de Temari. Tinha um mau pressentimento, cujo relato de Gaara só fazia piorar.

– Conversávamos despreocupadamente quando, subitamente, sentimos um perigo mortal. Foi como se um exército tivesse surgido do nada dentro da Vila da Areia. Era como milhares de chakras, mas todos emanando de um mesmo ponto. Imediatamente, corremos ao encontro dos supostos invasores, colocando toda a Vila em alerta, e encontramos três figuras encapuzadas, imóveis e alinhadas, bem no centro da Vila. Questionei o que elas faziam ali e o porquê de terem invadido nossa Vila, mas elas permaneceram em silêncio. Foi então que, a um gesto da figura que estava no meio, as outras duas baixaram seus capuzes, revelando seus rostos e me atacaram com uma velocidade inacreditável, ignorando completamente Temari e Kankuro. Tratava-se de uma mulher de beleza exótica, jovem, loira e de olhos muito vermelhos e de um homem de idade indefinida, muito magro, de pele branca e longos cabelos negros.

Shikamaru estremeceu ao lembrar da luta com o monstro que atacara Konoha. Seu corpo ainda sentia as consequências do poder sobrenatural daquela criatura.

– Todos os Jounins que patrulhavam Suna vieram ao nosso encontro e tomaram parte na batalha. Como Kazekage, eles buscavam me proteger, algo que eu jamais consegui aceitar mas que não podia fazer nada para impedir. A luta foi sangrenta, muitos perderam a vida naquela noite. Depois de horas, só sobraram novamente eu e meus irmãos. Durante todo esse tempo, o encapuzado do meio, que dera a ordem para o ataque, permaneceu completamente imóvel não participando da luta em nenhum momento.

Gaara silenciou durante alguns instantes. Não era fácil para ele falar abertamente daquela forma, ainda mais um assunto que expunha tanto a sua Vila...

– Kankuro caiu primeiro. Suas técnicas de manipulação foram inúteis contra a vampira loira. Seus fantoches foram destroçados. Na luta franca ele não era páreo para a velocidade e a força física extrema da mulher. Ela quase o matou. Então, ela voltou sua atenção para mim, enquanto Temari enfrentava o outro vampiro, com dificuldade. Em um dado momento Temari usou seu DAI KAMAITACHI NO JUTSU contra a criatura, conseguindo feri-la significativamente. Isso,
surpreendentemente, fez com que a criatura sorrisse entusiasmada, como se o poder de Temari houvesse finalmente despertado seu interesse para a luta. Foi então que vi quando Temari ficou completamente paralisada, à mercê daquele monstro, certamente presa por algum genjutsu. Na ânsia de socorrê-la, cometi o erro de dar as costas à minha adversária... Aquela maldita conseguiu trespassar minha defesa absoluta como se ela não existisse! Minha SUNA NO YOROI foi destroçada e ela conseguiu me atingir de uma forma que eu jamais imaginei ser possível. Fiquei incapacitado tempo suficiente para que o vampiro fizesse o que queria com Temari...

Gaara colocou a mão sobre as bandagens do olho esquerdo, como se o ferimento doesse intensamente, antes de continuar.

– Quando consegui me recuperar, ouvi os risos da vampira que contemplava seu companheiro enquanto ele abocanhava a garganta de Temari, ferindo-a com aqueles dentes imundos e sugando o sangue que vertia da ferida. Saciado, ele a soltou deixando-a cair no chão como um animal morto. Aquilo despertou em mim a fúria homicida que eu já tive no passado quando eu era um jinchuuriki. Reunindo tudo o que restava do meu chakra capturei o maldito com meu SABAKU KYUU e o despedacei com meu SABAKU SOUSOU. A vampira, que julgava que eu estava fora de combate, também se enfureceu pela perda de seu companheiro e saltou sobre mim
para terminar o que havia começado. Mas outro gesto do encapuzado, que ficara fora da luta, fez com que ela parasse.

Agora, Shikamaru mal podia se concentrar no relato de Gaara. Seu mau pressentimento tinha fundamento: Temari havia se ferido...

– Calmamente o encapuzado aproximou-se de mim – prosseguia Gaara – Pude ouvir quando a mulher discutia com ele:

“ – Acaso permitirá essa infâmia?! Esse verme destroçou um de nossa espécie! Ele despedaçou Richi e nos humilhou!!!!

– Cale-se, mulher irritante! Acha que sou cego? Ele só está nesta situação porque é um teimoso inútil! As ordens foram claras: eu queria o Kazekage e não seus subalternos! Se a perda dele é tão insuportável, talvez queira se unir a ele, Yoru...

– N-não Kuroi-sama... perdoe-me! Ele t-teve o que merecia...”

– Percebi que a expressão da mulher demonstrava muito medo. Aquele com certeza era o líder e para ser temido assim por uma inimiga tão perigosa quanto aquela, os poderes dele deviam ser imensuráveis. Calmamente, o líder daqueles desgraçados aproximou-se de mim e fitou-me intensamente. Seus olhos tinham um brilho estranho, de uma cor indefinida... Após alguns instantes, seu rosto assumiu uma expressão de raiva e frustração:

“ – Tsc! Chegamos tarde... Ele é inútil! Não passa de uma casca vazia...

– Então, se não vai mais usá-lo, não vai se importar se eu matá-lo, não é?

– Não há mais tempo para isso, sua tola! Veja!”

– Enquanto dizia isso, a criatura apontava para o leste. Eu não entendi. Tudo o que eu via era a muralha de Suna, sob o céu da madrugada que já se tingia de vermelho com o dia se aproximando. Vi quando Kuroi, o líder, se transformou numa névoa negra que envolveu os restos mortais do vampiro que eu havia matado como se os absorvesse, desaparecendo logo em seguida. A mulher hesitava entre seguir seu líder ou ficar e acabar comigo. Decidiu partir também, não sem antes me ameaçar:

“ – Nós nos veremos de novo, verme do deserto!”

– E partiu rapidamente, transformando-se numa espécie de ave negra, voando sobre a muralha de Suna... Quanto a mim, eu mal conseguia abrir os olhos. Jamais havia sido ferido daquela forma. Não muito distantes de mim estavam Kankuro, gravemente ferido e Temari, imóvel e mortalmente pálida pela perda de sangue... Fomos socorridos pelos anciões. Meus ferimentos não foram tão graves e eu pude me recuperar depressa. Kankuro continua hospitalizado, com lesões tão sérias que ainda não sabemos se ele voltará a servir Suna como shinobi. Quanto a Temari, ela permaneceu em coma nas últimas duas semanas, só acordando ontem. Ainda está muito debilitada...

Por um breve momento, Shikamaru pensou ter visto algo impossível: uma pequena lágrima no olho direito de Gaara...


***************************


Konoha

Jiraya tinha pressa. O sol já havia se posto e ele precisava ver o corpo da criatura o quanto antes. Se seus temores não fossem infundados, se o inimigo que seu discípulo enfrentara fosse o mesmo que ele enfrentara há mais de trinta anos, a noite só o tornaria mais poderoso...

Saltava entre os telhados, em direção ao quartel-general da ANBU. Temia que eles não permitissem seu acesso ao corpo, já que ele não possuia uma autorização expressa da Hokage. Só podia contar com a sorte e com o bom senso daqueles shinobis...

Chegando ao quartel general, imediatamente percebeu que alguma coisa estava errada. Não havia ninguém guardando a entrada. O silêncio e a total ausência de luz no edifício também eram incomuns. Entrou no prédio escuro com todos os sentidos em alerta máximo, temendo pelo pior. Quanto mais ele andava, mais o cheiro de sangue se pronunciava... Não demorou muito para que seus temores se mostrassem reais: o corpo no chão, contorcido em uma posição que sugeria que todos os ossos estavam quebrados, permanecia com a máscara dos ANBUS curiosamente intocada no rosto, apesar das pequenas manchas de sangue que a cobriam. Jiraya, apesar de ser um dos lendários sennins, engoliu em seco com aquela cena...

O monstro havia despertado.


**************************


Suna

– Posso entender muitas coisas agora – Shikamaru dizia a Gaara enquanto caminhavam em direção ao hospital de Suna – Há algumas coisas que você também precisa saber, Gaara. O vampiro que você supostamente matou: foi ele que nos atacou em Konoha. E, ao lutar com Naruto, usou um dos jutsus de Temari.

Gaara parou subitamente. Seu rosto continuava impassível, mas sua atitude denunciava a surpresa e a raiva que sentia.

– Você conhece a técnica do “funeral do deserto”, Shikamaru. Você já me viu usando-a no passado. Sabe que o corpo do adversário é reduzido a simples fragmentos. Como é possível que tenha sido ele?! E ainda: como ele pôde ter usado um jutsu dominado apenas por Temari?

– Eu não tinha a resposta para isso até conversar com você –
respondeu Shikamaru – Mas agora tudo faz sentido. Não é apenas o sangue que interessa a estes vampiros mas também, senão principalmente, o chakra. E quanto mais poderosa a vítima, melhor, pois teoricamente ela possuirá um chakra mais poderoso. Ao absorver o sangue e o chakra de suas vítimas, é certo afirmar que estes vampiros absorvem também suas habilidades. Foi assim que Richi conseguiu usar o DAI KAMAITACHI NO JUTSU de Temari.

– Mas como ele sobreviveu? Eu o fiz em pedaços!

– Se Kuroi se preocupou em recolher os pedaços de Richi, apesar do nítido desprezo que ele demonstrou, ele deve conhecer o kinjutsu de vida eterna ou mesmo algum jutsu médico mais poderoso. Com o poder que ele supostamente detém, não deve ser uma técnica difícil para ele.

Gaara assentiu discretamente com a cabeça. Fizera o certo ao confiar em Shikamaru. Seu intelecto sempre estava um passo à frente.

Haviam chegado ao hospital. Gaara deixaria Shikamaru a sós com Temari enquanto visitava Kankuro.

– Lembre-se Shikamaru: Temari está frágil, debilitada... mas ela ainda é Temari do Deserto! Cuidado para não sentir pena dela, ou ela jamais o perdoará por isso!

– Vou me lembrar disso. Obrigado, Gaara...


*****************************


Konoha

Jiraya corria pelos corredores escuros da ANBU buscando a confirmação daquilo que a cena sangrenta ao seu redor sugeria. Os poderosos ANBUS, a elite dos shinobis de Konoha, jaziam pelos corredores, alguns horrivelmente mutilados, indicando o que Jiraya já sabia: que o inimigo que os atacara não era humano.

Chegou finalmente a uma grande sala no final do corredor do primeiro andar, que ele reconheceu como uma sala de interrogatórios, onde sentiu a inconfundível presença dos chakras múltiplos. Não era, porém, o inimigo que esperava. Era uma mulher loira, de olhos intensamente vermelhos, com sangue nas mãos e na boca. Em seus braços, carregava o cadáver ressequido do vampiro morto...

– Não era você quem eu esperava enfrentar, mas não posso deixar que leve esse corpo e, considerando a carnificina que você fez, creio que também não posso deixá-la sair daqui viva... – disse Jiraya à mulher.

A vampira sorria em desdém. Ignorava talvez que estivesse diante de um dos lendários sannins. Mas preferiu não lutar.

– É uma pena velhote, mas não posso brincar com você agora. Mas não se preocupe: terá outra oportunidade muito em breve...

Percebendo que ela pretendia fugir, Jiraya adiantou-se e tentou agarrá-la, mas foi inútil: A mulher fundiu-se às sombras, desaparecendo juntamente com o cadáver de seu companheiro morto.

“ Com certeza ela é um deles – pensou Jiraya – Os Kyuketsukis acordaram novamente...”


**********************


Suna

Entrou sem bater, com medo de acordá-la, mas seus olhos estavam abertos. Por um momento, pensou que havia se enganado de quarto, mas olhando-a de perto viu que era ela, apesar dos cabelos que ele nunca havia visto soltos e da palidez mortal de sua pele. Ela sorriu ao vê-lo.

– Oi “preguiçoso” – disse ela com voz débil mas surpresa.

– Oi “problemática” – respondeu Shikamaru com um sorriso tímido.

– Não vá me dizer que veio de Konoha até aqui só para me ver...

– E se for? Acha isso tão improvável assim?

– Você é muito certinho para abandonar assim suas responsabilidades e vir correndo para Suna, “Sr. Chuunin”... –
Mesmo fraca, Temari ainda conseguia gracejar.

– Eu faria isso por você, Temari... – respondeu, com segurança, Shikamaru.

A declaração inesperada deixou Temari sem fala. Ela corou, afastando um pouco a palidez intensa e respirou profundamente tentando desacelerar um pouco seus batimentos cardíacos. Shikamaru assustou-se.

– Temari, você está bem???

– E-estou. Não é nada –
respondeu, recompondo-se – Mas como soube que eu estava neste estado?

– Uma shinobi de Konoha sofreu o mesmo que você, Temari. Ino também foi atacada pelo mesmo monstro que fez isso com você.

Temari fechou os olhos, tentando reprimir as lágrimas que ameaçavam transbordar com a lembrança daquela noite. Sentia o sangue ferver de ódio ao pensar no que aquele maldito vampiro havia feito com ela.

– E-eu mal tive tempo de conversar com Gaara depois que acordei... Sei que Kankuro está aqui também, mas ainda não tive condições de vê-lo, só me disseram que o estado dele é pior do que o meu... E quanto a Ino, Shikamaru? Como ela está?

– Ela está bem. Ela também esteve em coma e acordou quase ao mesmo tempo que você – “ uma coincidência curiosa...” –
pensou Shikamaru.

– E quanto ao vampiro? E os outros dois que estavam com ele? Conseguiram pegá-los? – Temari perguntava ansiosamente.

– O vampiro que atacou você e Ino agiu sozinho em Konoha. Naruto e Hinata o mataram. Não sabemos o paradeiro dos outros dois que estavam com ele aqui em Suna.

Temari assentiu debilmente com a cabeça. Fechou os olhos, ainda lutando contra as lágrimas. Orgulhosa, nunca chorava na frente de ninguém. Sentia necessidade de ser abraçada, protegida até, mas ainda não estava pronta para abandonar sua máscara... Shikamaru, julgando que ela estava cansada, pensou em deixá-la sozinha.

– Preciso ir “problemática” e você precisa descansar. Voltarei amanhã para te ver...

– NÃO! Digo, por favor, fique... –
Temari disse abruptamente, segurando o braço de Shikamaru. Durante duas semanas esteve sozinha na escuridão de suas lembranças. Agora que ele estava aqui, era insuportável ficar só novamente.

– Fique... – pediu-lhe novamente.

– Todo o tempo que você quiser... – respondeu Shikamaru, sentando-se ao lado dela no leito e passando o braço sobre seus ombros – Sempre estarei aqui para você! – disse Shikamaru, acariciando seu rosto.

Então, Temari do Deserto perdeu a batalha. Escondendo o rosto no peito de Shikamaru, chorou. Chorou intensamente, como nunca havia chorado antes, sozinha ou não. Chorou nos braços do único homem que ela suportaria que a visse chorar. Nos braços do homem que ela amava...




(continua...)



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Notas finais do capítulo

KAZEKAGE = líder político e militar da Vila Oculta da Areia
HOKAGE = líder político e militar da Vila Oculta da Folha
DAI KAMAITACHI NO JUTSU = técnica da grande foice de vento
JINCHUURIKI = hospedeiro de monstro, ou besta, selada em seu corpo
SUNA NO YOROI = armadura de areia
SABAKU KYUU = caixão do deserto
SABAKU SOUSOU = funeral do deserto
KYUKETSUKI = vampiro
Por favor, comentem...
Obrigado por lerem!



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