Era o oitavo mês estudando todo o dia para o vestibular. Estava fazendo um bico de secretária para um cara aí que eu não ligava, nem nunca iria ligar. Tinha voltado do trabalho muito tarde devido ao meu querido, amado e gentil chefe.

FLASHBACK ON

Lá estava eu sentada na frente da escrivaninha, tinha acabado de alguns e-mails, e como faltavam apenas três minutos para dar as seis da tarde—Meu horário— Estava ouvindo música tranquilamente

Meu chefe aparece do meio do nada e coloca uma pilha gigantesca de relatórios escritos a mão para que eu os digitasse. Olhei para ele com uma cara de “WTF” e mirei na pilha, esperando uma explicação.

‒ Quero que você digite isso até as sete.—Querer não é poder né cara?

‒ Meu horário é até as seis.—Eu repliquei.

‒ Sou eu que decido que horas você sai daqui. E pare de ouvir música enquanto trabalha, é irritante.—Ele se virou e estava saindo quando falou— Hoje é o último capítulo da última temporada daquele seriado de ficção científica que você assiste, não? Então acho melhor acabar logo com isso.

Desesperei-me rapidamente, tinha trabalho, uma pilhe gigantesca de lição para fazer em casa, e ainda tinha que comprar as coisas para o almoço de amanhã. Peguei a pilha de relatórios e comecei a folheá-los tão rapidamente que parecia que eu tocava só o ar; digitei tão rápido que os meus dedos começaram a ficar dormentes, estava acabando o último relatório quando meu celular tocou.

Kujo.

Nem atendi, eu sabia que ele estava muito bravo, pois hoje era o dia de ficarmos juntinhos, e se eu não cheguei em casa é porque estou enrolada, e não tive tempo de acabar a lição. 

FLASHBACK OFF

Me espreguicei depois de ter acabado toda a lição. Já eram nove horas, então fui atrás do Kujo, para ver se ele estava disposto a ver o último capítulo do seriado.

‒ Kujoo, já terminei a...—Nem acabei de falar, pois ele estava deitado no sofá, com um livro em inglês na mão. Fui comer alguma coisa, já que não tinha nada no estomago desde o lanche da tarde. A cozinha estava uma bagunça, pratos para todo o lado, facas sujas, cascas de legumes jogados pela pia. Já iria linchá-lo quando vi uma panela grande no fogão; quando eu abri dei de cara com um conteúdo bonito, que mesmo frio tinha um cheiro gostoso. Ensopado.

Eu chamei-o para que ficássemos juntinhos, ele não acordou, mas o livro em inglês em seu colo caiu. Eu o peguei e marquei a página, já iria atrás de um cobertor quando algo grudou no meu pulso e me deu um leve puxão.

‒ Já acabou meu bem?—Kujo perguntou, com a voz levemente embargada.

‒ Já. Que livro é esse?

‒ É um livro que não tem no Brasil, fala sobre os deveres de um marido no casamento. Quer ouvir as partes que eu grifei?—Eu tentei me soltar do seu pulso, ele me puxou novamente, me ignorando e me forçou sentar em seu colo.—“deve se fazer os trabalhos domésticos de forma ativa”.

‒ Então comece limpando a sujeira que fez na cozinha.

‒ “Deve sempre demonstrar amor todos os dias”—Eu me senti corando, ele tem um jeito muito peculiar de me mostra isso. Se é que você me entende.—E “não pode se esquecer de distribuir beijos todos os dias”

Ele segurou meu queixo, já aproximando nossos rostos, meu coração estava a mil, BAH! Quem se importa com a louça, ou a série?

Minha barriga deu um ronco enorme e constrangedor, Kujo parou de se aproximar e esboçou um sorriso sincero e travesso.

‒ Parece que a minha princesa precisa mais de jantar do que de beijo.—Ele se levantou e me ofereceu a mão—Quer ensopado?—Eu o segui, timedamente.

Depois disso, ficamos sentados assistindo o último capítulo da série. Os vilões foram derrotados, a filha do casal finalmente encontrou a mãe, o casal ficou juntinho; Igual à mim e o Kujo.

Juntos, hoje e sempre.