Segunda.

Não teve nada de importante no domingo, portanto não irei narrar um dia inútil, certo?

Acordei de um turbulento pesadelo, onde estava caindo em um precipício sem nada para que me segurasse, só olhando para o vazio negro a minha frente. As veze ouvia uma voz rouca, ela chamava o meu nome e pedia para que eu acordasse.

Acordei. E senti algo delicado a roçar em meu rosto, cabelos negros que tinham um leve cheiro de Jasmin-do-Imperador.

Me dei conta de duas coisas; Primeira: Kujo estava em cima de mim, na posição de dominante da relação, isto é, sentado em cima do meu quadril. E segunda: O filho-da-mãe anda usando o meu shampoo.

Pisquei forte para se acostumar com a luz. Rapidamente, olhei para seus olhos, que pareciam preocupados e cansados. Kujo estava descabelado como se tivesse tido uma noite terrível.

‒ Kujo...?

‒ É.—Ele deslizou as mãos dos meus pulsos, e ficou ereto sentado em cima de mim, me olhando de soslaio.

‒ Porque...

‒ Eu fui te chamar, e no momento que pronunciei seu nome, você tentou me bater.—Ele coçou o olho—Bom dia.

‒ Oi...—Me levantei, e me troquei rapidamente. Lavei o rosto no banheiro e vi que Kujo ainda estava sentado na cama.—Pode voltar a dormir, se quiser.

‒ Não precisa. Gosto de te fazer companhia.

‒ Kujo...—Ele levantou a cabeça, curioso.—O que vou te dizer fica só entre nós, tá?—Ele balançou a cabeça afirmativamente.—Você é agora o meu melhor amigo.

Kujo corou. Deu um sorrisinho meio acanhado e se espreguiçou.

‒ Olha...—Ele disse, bem sério.

OO__OO

Fui para a aula, mesmo tento pensamentos em Kujo.

“Vou te falar uma coisa muito, muito, muito importante hoje, depois da aula. Eu vou te buscar, OK?”

O tempo se arrastava, fazendo com que as horas parecessem séculos. Quando deu o sinal da última aula, juntei minhas coisas rapidamente e saí correndo para o pátio.

Embaixo de uma árvore, vi a silhueta dele de costas, e me aproximei rapidamente. Quando cheguei perto, vi algo que eu nunca queria ter visto.

Kujo estava envolto por braços femininos, e parecia estar bem ocupado, beijando uma menina. Não qualquer menina;

Mas sim a Ingrid.  

Estava num verdadeiro estado de choque, que deixei a bolsa cair do ombro, fazendo um verdadeiro estrondo. E o casal se virou para olhar.

Kujo parecia ter um rosto de terror. Ele piscou várias vezes como se não acreditasse que eu havia visto aquilo. E Ingrid me olhou com olhos perversos e cruéis.

‒ Eliza, não é o que...—Kujo começou a se justificar.

‒ Não é o que? O que é então?!—Eu explodi, entre lágrimas—Você sabe muito bem que não sou cega, muito menos idiota! Era isso que você queria me mostrar?!

‒ Liz não...

‒ LIZ?! NÃO OUSE ME CHAMAR DE LIZ SEU CAFAGESTE. NÃO QUERO TE VER NUNCA MAIS!

E saí correndo, aos tropeços.

Como ele pode ter feito isso comigo? Como? Eu pensei... Que eu... Que ele... Que nós... Tivéssemos algo.

A única coisa que sei agora é: Amar é destruir; e ser amado, além de improvável, é ser destruído.