Demorou ao menos uns dez minutos pra chegarmos na igreja.

Não é que o motorista ficou enrolando, mas sim o trânsito. Chegamos lá na hora exata, 20:15. Helena já ficou lá na expectativa enquanto já tocava a música para que as madrinhas entrassem.

A Júlia e Isa primeiro, com seus acompanhantes, depois a Mariana e a Camila, sem ninguém, e aí chegou a minha vez. Kujo apareceu ao meu lado e me levou até o altar, ele estava tão elegante! O terno preto e a gravata preta ficaram lindos nele, mas era estranho vê-lo sem orelhas de gato.

Começou a cerimônia e missa vai, missa vem, os dois estavam casados. Saímos rapidinho da igreja para ir até a chácara.

Isso mesmo, chácara. A Helena fez a festa numa chácara. Não me pergunte o por que dela ter feito num lugar desses, mas enfim... O sítio era todo coberto por grama, e uma trilha de pedra. Sem contar o salão de festas ser ao lado de uma grande piscina.

Demorou um tempinho para nos situarmos quando chegamos, as madrinhas entraram primeiro, e depois os noivos. Beleza, entrei junto das minhas amigas e fui cumprimentar as pessoas, até que notei um vulto atrás de mim. Me virei e dei de cara com Kujo.

‒ Não me assuste assim, idiota!

‒ Desculpa. Ei, já te disse que está linda?—Com seu comentário, devo ter corado. Antes de eu o responder Helena e Gabriel apareceram no salão e a galera começou à jogar arroz neles. Bem, parecia mais que estavam tacando de qualquer jeito o arroz...

Depois de alguns ataques de arroz, Gabriel ficou a frente do bolo de casamento, ele pegou duas taças de champanhe na mão e tomou-as de uma vez só. Eita, se ele faz isso no próprio casamento, imagina numa noitada.

Depois de tomar dos dois copos cheios de champanhe, ele pegou mais um (MAIS UM?!) com a mão esquerda e com a direita a mão de Helena.

‒ Um brinde à minha esposa, Heleninha. Querida... —Ele se ajoelhou—Nosso amor é tão bunito; e nem ligo para sua beleza pecuária. Só acho que tua cara pegou fogo e apagaram na paulada!

Meu Deus, cantar Nega do Subaco Cabeludo pra sua esposa não é muito romântico, sabe? Helena olhou para Gabriel com uma cara mista de pena e nojo, não sei descrever, tinha muitas emoções naquela expressão.

‒ Também te amo. —Ela se virou para a organizadora da festa e sussurou—Tire o champanhe dele. Ou melhor, tire todas as bebidas alcoólicas de perto dele.

Depois de a organizadora tirar as quatro tacas de vinho e a latinha de cerveja de Gabriel com dificuldade Helena se virou para mim.

‒ Como vou dançar valsa com esse projeto de Pranchana Jack?!

‒ Duvido que ele esteja assim tão bêbado.—Comentou Camila - Chama ele logo pra dançar antes que ele não consiga ficar em pé!

Helena fez sinal pro DJ e puxou Gabriel longe da cerveja, para o meio do salão. Eles começaram a dançar, ou melhor, capengar durante a música. Foi uma valsa rápida, pudera, Gabriel pisara umas trinta vezes só em dois minutos de valsa.

O irmão da Helena apareceu do meio do nada e empurrou longe o Gabriel, e fez outro sinal pro DJ, dessa vez começou á tocar uma música que eu adoro: All I Ask of You, de Sarah Brightman e Cliff Richard; Do filme do Fantasma da Ópera.

Casais começaram a se formar, eu abracei meus ombros e comecei a curtir a música, até que senti algo tocar meu ombro. Virei, e vi a alta figura de Kujo, me olhando.

Ele me estendeu sua mão e eu aceitei. Kujo me guiou até o meio do salão e se segurou na minha cintura. Ele me puxou ainda mais perto, fazendo com que eu olhasse diretamente em seus olhos.

Começamos à dançar lentamente, com os corpos quase colados; dava pra sentir seu coração batendo tranquilamente junto ao meu. Eu encostei minha cabeça em seu ombro e ele pareceu gostar disso, pois apoiou seu queixo no topo de minha cabeça.

“ Love me, It’s all I ask of you”

Eu me sentia estupidamente nas nuvens, com ele tão perto de mim. A musica acabou e eu continuei abraçada nele, como se não tivesse final aquela música. Olhei para longe e vi Gabriel tomando o lugar do irmão de Helena e o DJ colocou outra música linda.

Time to Say Goodbye, Também da Sarah Brightman. Pô, esse DJ também gosta das músicas dela?!

Continuei abraçada ao Kujo, mas ele se afastou para me olhar bem nos meus olhos. Naquela luz cálida, seus olhos azuis pareciam ter vida. Ele deu um belo sorriso quando começou o refrão e me deu um giro.

Quando começou realmente o refrão, estava de volta nos seus braços, sendo levada pela música. Não importava para onde eu estava sendo levada, pois estava com ele.

É, acho que é isso que dizem que é Amor, não?

“Irei revivê-los com você; Irei com você; Em barcos através dos mares; Eu, e é claro que; Mares que não existem mais; Irei revivê-los com você; Irei com você; Eu e Você.”

Quando acabou a música, fui puxada por alguém pra sei lá onde. Kujo deu uma risadinha e fez um “tchauzinho” enquanto eu era arrastada para longe. Entrei no banheiro e estavam lá todas as madrinhas. Helena já tinha umas três tacas de vinho vazias na bancada do banheiro e tinha uma lata vazia e uma na metade de cerveja.

Essa daí bebe, hein?

‒ Fala suas loucas.—Eu comecei

‒ Primeiro, vai dizer que vocês não são namorados?!—Mariana exclamou

‒ Verdade, você ficou muito “dorgas” lá dançando com ele.—Isa completou

‒ Calem a boca!—Helena nos cortou - Quando sairmos daqui vai começar a tocar aquela música, sabe? Qual é o nome mesmo?—Ela pareceu estar fritando os miolos, nossa o que a bebida não faz, fala sério?—Isa, qual é o nome da porcaria da música?!

‒ Man! I Feel Like a Woman.— Respondeu Isa, tranquilamente.

‒ Essa mesmo!—Helena cortou novamente— Vamos lá!

Saímos do banheiro e a música começou a tocar bem alta. Helena nos guiava para o centro do salão, cheia de atitude.

Começamos a dançar loucamente, quando tocou a parte “ Short Skirts” levantamos os vestidos, não muito é claro! Mas subimos as saias para que ficassem curtas.

Naquele momento eu ouvi (e vi!) o queixo de Kujo indo para o chão.

Continuamos a dançar, alegremente. Não sei de onde (devem ter tirado do vestido da dona Marina) minhas amigas arranjaram um xale grande; e elas me laçaram junto com Kujo, para que ficássemos com os corpos totalmente colados. Eu senti-me corando bruscamente enquanto Kujo soltava o nó que aquelas capetinhas tinham dado, portando ele estava com as duas mãos nas minhas costas. Quando ele finalmente conseguiu tirar o nó só ouvi um barulho de água.

Vamos resumir em: Helena. Piscina. Catástrofe. Casamento arruinado. Le eu virando profetisa.

Desenvolvendo um pouco mais, Helena se empolgou e se jogou na piscina, a barriga falsa se desprendeu e começou a boiar na piscina. Helena, bêbada, olhou para a barriga falsa e flutuante e exclamou:

‒ Ei olha, o bebê já nasceu!—Ela apontou para o volume na água—E já sabe nadar! Vai se chamar César Cielo II!

Bem para resumir a catástrofe, as madrinhas ajudaram-na a sair da piscina e começou a 4ª Guerra mundial lá. Gabriel começou a gritar e Helena também; Helena pegou um pedaço de bolo e jogou na cara do marido, ele não ficou para trás, pegando os doces e jogando em Helena. Depois de uma baita guerra de comida (onde todos os convidados ficaram torcendo e apostando) os dois pararam. Helena encarou o marido por uns longos segundos e se jogou nos braços dele.

‒ Se você não fosse um molusco mentecápito idiota e maldito, isso não teria acontecido!

Os dois começaram a brigar ainda mais, até que o irmão da Helena se enfiou no meio da briga e separou os dois, levando-os junto dos pais para um outra sala.

Depois de uma meia hora eles voltaram e Helena veio desconsolada em nós.

‒ Vamos entrar em processo de divórcio!

‒ Calma flor, tudo bem...—Júlia a abraçou

‒ Ah tudo bem mesmo. A festa ainda tá de pé!—Helena se alegrou e saiu saltitante para o salão. Essa daí ninguém entende...

__oo__

Já não havia quase ninguém na festa, só as madrinhas, os pais dos ex-casal, e os meus pais, ah claro, sem contar o Kujo.

Meus pais tagarelavam com os pais de Helena e Gabriel. Aquele papo demoraria pelo menos, mais uma hora, e eu não estava com saco para ficar lá. Helena ficou capengando, Bêbada, por aí, atrás do ex.

‒ Amor, Meu doce de Margarina Doriana com coco! Volta comigo, você não disse que minha beleza é pecuária?

Gabriel tentava se livrar dela, custe o que custasse, mas era quase impossível.

Cansada de toda essa ladainha, peguei uma grana com o meu pai e vazei da chácara. Junto com o Kujo. Pegamos o taxi e rapidinho chegamos em casa. Paguei e tals, quando virei vi que Kujo já tinha entrado em casa.

Ele tinha deixado a gravata na bancada da cozinha, e se espreguiçava enquanto eu fechava a porta.

‒ Festão hein, Eliza?—Ele perguntou

‒ É...

‒ Sério, você dança muito bem! Foi ótimo dançar com você, eu adorei e...—Ele parou de falar ao ver que eu olhava para ele, com um sorriso tímido nos lábios—Cara, cada vez que eu te olho te acho mais linda nesse vestido.

‒ O-obrigada— Gaguejei, sem jeito.

‒ Só queria saber como você é sem ele, sem nada...

Opa! QUE QUE É ISSO NOVINHO?! E VOCÊ QUER QUE EU ME SEGURE DIANTE DAS SUAS PERVESÕES?!

‒ C-como?—Tentei disfarçar, como se não houvesse ouvido

‒ Nada não, Linda.—Ele se aproximou e mexeu no meu cabelo—Você é tão bela quanto um lírio branco.

Kujo foi se aproximando cada vez mais do meu rosto, como... como.... Como se fosse beijar meus lábios. Mas invés disso, ele roçou os seus lábios na minha testa e beijou-a delicadamente.

MAS QUE DECEPÇÃO KUJO! CADE A SUA PERVERSÃO?! QUERO O SEU ATREVIMENTO DE VOLTA! O EU É ISSO PRODUÇÃO?! O QUE É ISSO?!?!

Ele se afastou e me olhou novamente nos olhos, depois deu um sorriso manso.

‒ Vou tomar banho primeiro, estou perdendo parte da minha humanidade.—Ele riu—Se quiser pode vir comigo, vou ficar feliz em poder sentir o seu corpo nu junto do me-

Ele não terminou a frase, pois peguei a escumadeira que tinha pendurada na pia e bati na cabeça dele. Ele começou a fugir de mim e quando já estava bem longe gritou:

‒ Olha, desse jeito vou desistir de te seduzir!

Eu gritei de volta:

‒ Sou difícil! Mas com o tempo até as mais duras rochas cedem!

É, acho que isso é o verdadeiro amor.

Um amor, que eu vou fazer de tudo, para conservar.