Que Chegue Até Você. escrita por L-chan_C-chan


Capítulo 39
Epílogo – Alcançando.


Notas iniciais do capítulo

Quatro e cinquenta e seis da manhã, e eu estou postando. :D
Depois de ter um surto criativo, eu escrevi esse epílogo que, francamente, considerei muito melhor do que o último capítulo! XD
Bem... talvez seja porque eu esteja com muito sono. ;*
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[EDITADO ÀS 13H20M]
Enfim! Como eu informei nas notas - editadas - do último capítulo, creio que a minha fanfic adorada deveria ter tido um final muito melhor do que aquilo. Pooortanto... Aqui está o novo epílogo, que eu levei a noite passada inteira para escrever, betar e postar. :)
Francamente, diferente do outro, que me causou certa hesitação, eu gostei bastante desse. Espero, com todo o meu coração, que vocês gostem assim como eu. ;-;
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Agradeço à todos que acompanharam, aos que comentaram, aos que recomendaram, aos que favoritaram... Agradeço à todos que estiveram comigo! Todos que me acompanharam sempre, até o fim dessa fanfic!
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Espero que gostem! sz



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Epílogo – Alcançando.

O dia estava claro e florido. Era o perfeito dia de primavera, o perfeito dia para o início das aulas, mas o rapaz ainda não estava satisfeito.

Ele seguia pela longa colina com as mãos no bolso, e olhos fixos nas três garotas à sua frente. Uma delas vinha cabisbaixa; a outra olhava furtivamente para o seu irmão – apenas teoricamente furtiva, pois pelo menos para ele, estava claro que ela queria estar ao lado de Hizashi – e a última, parava vez ou outra pare recolher algumas pétalas de cerejeira que haviam para que pudesse marcar cada página de seu diário. – Por que você faz isso, onee-chan? – A segunda garota perguntou.

– Se você esfregar bem, eu acho que fica com o cheiro da flor. – Ela respondeu como se fosse óbvio. As outras riram e ele se sentiu extremamente desconfortável por esse fato.

Afinal, ninguém além dele poderia rir de Yume.

~

Os olhos verdes procuravam incansavelmente, mas não conseguiam encontrar. A grande biblioteca da Eitoko – uma escola ginasial próxima à Konoha, só para meninas que era comandada pela doutora Rin Nohara – era tão grande, e Meiko Uchiha, tão pequena... Frustrante, completamente frustrante!

Ficando na ponta dos pés, ela se pendurou nas quarta prateleira. – MEEEIKO-CHAAN! – Sentiu as mãos bobas apertarem os seios inexistentes e enrubesceu. Meiko praticamente tropeçou nos próprios pés, mas foi segurada antes que pudesse cair.

– S- Sanae-senpai! – A pequena Uchiha exclamou, e a loirinha, com um sorriso sapeca, ergueu o polegar como cumprimento.

– Se tiver algum problema, a Sanae-senpai vai resolver! – E ergueu dois dedos; Meiko, entretanto, só pôde suspirar. Ela se levantou sem pedir ajuda à amiga de infância, e ajeitou o uniforme que passara a manhã inteira passando com ferro quente. Não que Sakura fosse uma mãe irresponsável a ponto de deixar a filha de doze anos e meio passar suas próprias roupas; o problema era que Meiko havia herdado o senso perfeccionista do avô – e também da avó, diga-se de passagem – e não suportava a ideia de que ela, a representante da turma A do segundo ano do ginásio e presidente do conselho estudantil, aparecesse em publico – em território escolar – com qualquer amassadinho que fosse.

– Eu estava procurando um livro de poesia. Não sou muito boa em interpretações, então queria treinar no final de semana. – Sanae Akimichi lhe lançou um olhar de descrença idêntico ao que a sua mãe faria se fosse uma colegial e estivesse ouvindo aquilo de Sakura.

– Mei-chan! – Ela bufou com um biquinho. – Nós devíamos sair e visitar os festivais! Temos que escolher para que colégio nós iremos! – A filha de Sasuke riu, e tornou a procurar o livro em questão.

– Senpai, você é a única que vai se formar. Eu ainda tenho um ano para me decidir. – Os olhos azuis da outra se reviraram.

– Não me venha com essa! – Bufou a Akimichi. – Nós vamos visitar festivais e ponto final! Até consegui uma carona com a Rikka-nee-chan! – Segurou os ombros da mais nova e apontou para o horizonte com as mãos; tinha um sorriso sonhador estampado no rosto. – Novos horizontes, Meiko! Um colégio misto! Garotos... – Ela suspirou apaixonada. – Nós enfim vamos poder investir! Namorados, Mei-chan! Namorados! – Meiko gargalhou com a ideia.

– Eu não posso. E você também não deveria... Os vestibulares já vão chegar, e independente da escola que você escolha, terá que estudar. – Sanae suspirou desgostosa, e viu a menina Uchiha se afastar após encontrar o livro procurado.

Enquanto assinava a nota fiscal da biblioteca, Meiko afastou-se refletindo um pouco sobre o assunto dito pela veterana. – Escolher um colégio... – Ela murmurou para si mesma, e enrubesceu com o pensamento que surgiu em sua mente.

O sinal das aulas tornou a soar, e ela retornou ao seu lugar com a imaginação voltada a certa pessoa que conhecera um ano atrás, quando viajara com os pais em uma convenção de medicina onde Sakura seria palestrante.

Provavelmente, aquele rapaz que ela havia conhecido – que era, a propósito, um ou dois anos mais velho que ela – era o motivo de ela não se importar com o fato de estar ou não em uma escola mista. Jinta era o filho de uma das antigas colegas de faculdade de Sakura. Ele era bonito, inteligente e certamente se tornaria um médico tão dedicado quanto sonhara. – Representante Uchiha! – O professor chamou de repente, o que a despertou de seus devaneios.

Quase de imediato, ela se levantou. – Senhor? – O velho homem suspirou.

– A aula acabou. Por favor, coordene os cumprimentos. – Envergonhada por sua atitude, ela instruiu rapidamente os colegas de classe a se erguerem e reverenciarem o professor, e depois, avisou à vice-presidente do conselho estudantil que não se sentia bem, portanto voltaria para casa antes da reunião agendada.

Ela não se deu ao trabalho de pedir para que o pai a buscasse; só mandou uma mensagem, dizendo que sairia mais cedo e seguiria para casa de trem.

Por todo o tempo, ela se lembrou das duas semanas que passara com o único garoto que chegara a se interessar algum dia, em seu amor platônico que ela duvidava que um dia se concretizasse e quando percebeu já estava em casa. – Estou em casa! – Ela exclamou da porta, enquanto tirava os sapatos e subia o degrau da entrada.

– Bem vinda. – Ryuuji, como sempre, estava deitado no sofá com o vídeo game que nenhum dos pais aprovava nas fuças. Meiko, cumprindo o eterno dever implicante de irmã mais velha, puxou o aparelho e o desligou. – Onee-chan! – Ele exclamou irritado.

– Dever de casa. Já. – Ela comandou, e depois de murmurar um “você não é minha mãe”, ele começou a tirar o material da bolsa. – A mamãe já chegou? – Ele assentiu emburrado.

– Está dormindo. – Meiko assentiu e seguiu para o quarto dos pais. O espertinho até tentou voltar a pegar o jogo, mas foi impedido pelo “Ryuu!”, que a irmã exclamou cheia de censura, e tornou a fazer o que lhe fora mandado.

A primogênita do casal Uchiha bateu na porta, e sem esperar resposta, adentrou no lugar. Sakura estava jogada na cama, de bruços e com a expressão mais cansada do universo, como sempre ficava após uma noite de plantão.

Como a filha gentil que era, Meiko juntou todas as roupas espalhadas pelo chão: desde o jaleco até os tênis que Sak havia se esquecido de tirar antes de entrar em casa. Depois disso, aproximou-se e encobriu a mãe, que sorriu ao sentir a filha. – Olá, querida... – Timidamente, Mei beijou a testa da médica.

– Olá, mamãe. Desculpe, não quis acordá-la. – Sak assentiu sonolenta, e se sentou preguiçosamente. Bocejou longamente.

– Sabe querida... Se quiser ir a algum lugar, não precisa pedir à Sanae avisar. – Ela ergueu as sobrancelhas, inicialmente confusa. – Ela me ligou e contou que você estava com medo de decepcionar seu pai nas provas e, portanto, negou o convite que lhe fez de ir visitar festivais. – Os olhos verdes da mais jovem se arregalaram. Ela estava a ponto de gritar e desmentir a Akimichi, quando a mãe prosseguiu. – Você sabe que seu pai não é nenhum monstro, Meiko. Na verdade, acho que ele se orgulharia em pensar que você já está se preocupando com que tipo de colégio deseja frequentar. – O rosto dela enrubesceu ao imaginar o sorriso surpreso do pai após ela pedir permissão, e a mocinha se sentiu tão feliz com a possibilidade de orgulhar ao advogado que não pôde desmentir nada, e apenas concordou imediatamente, dizendo que conversaria com Sasuke assim que ele chegasse.

Depois daquilo, o dia que se passou foi comum. Nem Jinta mais ocupava os pensamentos da jovem Uchiha – que francamente, era jovem demais para se dizer "completamente apaixonada" – e ela só conseguia pensar em uma frase responsável suficiente para deixar o pai feliz e orgulhoso. A ansiedade da garota fez com que Sak perguntasse concluísse internamente que, talvez, o desejo de agradar aos pais estivesse impregnado no DNA Uchiha.

Quando Sasuke chegou, algumas horas após a própria Meiko, o pedido foi educadamente feito e imediatamente aceito. Assim como Sakura imaginara, e a filha esperava, ele ficou feliz com a atitude madura da filha mais velha e após insinuar que Ryuuji deveria se inspirar nela – sem nunca se lembrar que Fugaku fizera o mesmo com ele sobre Itachi quando eram menores – deu-lhe algumas listas com endereços de escola por quais talvez, ela se interessasse.

A lista era tão grande que ela concluiu que deveria estar muito mais preocupado com onde ela se formaria do que a própria.


Quando o fim de semana chegou, ela não se importou em vestir roupas bonitas e exuberantes. Vestiu apenas uma jardineira de jeans cinzento e uma camiseta azul escura; pegou uma bolsa com tudo o que julgava que precisaria e atendeu às buzinadas de Rikka Uzumaki às exatas sete horas da manhã.

Rikka onee – como ela a chamava – era uma grande mulher. Havia terminado, a pouco, de se formar em literatura e logo se tornaria uma grande professora. Por tanto, assim como Sanae, estava muito interessada em visitar seus potenciais locais de trabalho – pois ela tinha pavor da ideia de dar aula à crianças menores.

E assim o dia se passou, com uma animada ida e vinda de escola em escola, e no final da tarde quase todas da lista do senhor Uchiha haviam sido visitadas. Claro que uma das primeiras escolhas a ser visitada foi o colégio em que Jinta, o amor platônico da Uchiha estudava – ideia de Sanae, a única que sabia do sentimento da melhor amiga -, mas elas não o haviam encontrado em nenhum canto. Como ele provavelmente fazia parte do grupo CDF, assim como ela gostaria de estar, devia ter as fuças grudadas nos livros. Meiko não se preocupou muito em seguir a visita em outras escolas – mesmo que aquela, sem duvida, tivesse muitos pontos.

Quando estavam seguindo para uma em Suna, entretanto, uma estranha ligação da mãe a surpreendeu.

Sakura não era o tipo de mãe controladora, então aquilo era realmente estranho, e ela atendeu com um pouco de preocupação. – Mamãe? – Rikka havia baixado o som do radio e Sanae, ao lado da amiga, se assustou ao vê-la empalidecer. – Mas...! – Ela ficou em silêncio e depois assentiu.

Afastou o telefone da orelha e pediu cautelosamente para que a Uzumaki estacionasse o carro. Confusa, Rikka obedeceu, e tomou o aparelho das mãos da mais jovem. – Tia Sakura? Algum problema? – A primeira coisa que lhe passou pela cabeça foi que talvez Sanae tenha sido – mais uma vez – inconsequente ao ter mentido sobre a permissão que os pais haviam dado. Embora estivesse com a explicação na ponta da língua, temia uma bronca. Entretanto...

– Querida... Algo aconteceu com seu avô. – O coração dela acelerou imediatamente e por um instante, ela não pôde responder.

– Meu avô...? – Sakura pareceu hesitar.

– Ele desmaiou de repente, e foi trazido às pressas para o hospital, mas... Por favor, venha o mais rápido possível.

– Mas... Mas o quê aconteceu?! – Ela estava desesperada; cada nervo do seu corpo pulsava com a impossível ideia de que Minato, por qualquer motivo que fosse, havia tido qualquer tipo de mal estar. Afinal, ele tinha mais saúde que ela própria!

Quantas vezes o velho Namikaze não se gabara de que “se sentia um homem muito bom por estar mais disposto à viagens do que uma jovem universitária” e antes de responder que logo estaria lá, começou a chorar.

Sanae e Meiko, que por ora tinha as fontes baixas e outrora se entreolhavam, realmente não sabiam o que fazer. Quando Rikka desligou, tomou apenas um gole da garrafa d’água da Akimichi, e seguiu, após se recompor, diretamente ao hospital Senjuu.

~

Yume bocejou cansadamente, e se esticou de maneira preguiçosa na escrivaninha curta. Hiashi, que havia adentrado na cozinha para buscar um copo d’água, se surpreendeu por flagrá-la tão tarde da noite escrevendo qualquer coisa que fosse, pois a prima era sempre muito responsável com seus deveres de casa.

Ele se aproximou furtivamente, e mal conseguiu ler o nome “Minato” antes que a garota puxasse a carta para escondê-la. – Hishi-nii! – Ela exclamou, constrangida e nervosa. – Já é tarde! Devia estar dormindo. – Falou enrubescida e ele se sentiu incomodado com o fato de ela estar tão nervosa.

– Você também. O que está fazendo? – Ele puxou a carta das mãos dela sem pedir permissão e foi como se seu coração sangrasse ao ler as palavras da primeira frase, que diziam: “Sei que não me conhece, mas gostaria de falar que eu estou apaixonada por você”.

Yume puxou a carta imediatamente, rubra e constrangida, mas não pôde dizer qualquer mau criação para o primo mais velho, e correu para o quarto com os olhos perolados cheios de lágrimas envergonhadas.

Hiashi, entretanto, não pôde responder, e nem sequer tentou ir atrás dela.


Os aparelhos piavam dolorosamente lentos para os ouvidos das filhas que, chocadas com o acontecimento, estavam de mãos dadas ao lado do leito do pai.

Era um fato que Hiashi nunca foi o mesmo desde seu primeiro ataque cardíaco, mas ainda assim... Foi um choque para todos quando Tenten ligou desesperada para o trabalho de Hinata e afirmou que o sogro de consideração “estava tendo um treco!”.

Embora todos estivessem em choque, e cheios de angústias pela situação do velho, que dificilmente sairia daquela situação.

A família era grande – embora nem todos o considerassem realmente – portanto, apenas Neji e as filhas (que era como um filho), foram permitidos de entrar no quarto. O rapaz, entretanto, estava um pouco preocupado com a situação de choque de Tenten, que havia visto tudo, então vez ou outra deixava as primas e a tia a sós com o senhor Hyuuga.

Hanabi estava péssima, e não conseguia controlar o maldito choro silencioso e angustiado. Temia que, depois de tudo, com aquela idade, o pai não conseguiria mais uma internação. E embora ela estivesse mal, não poderia se comparar ao estado da irmã.

Hinata não amava mais Hiashi do que Hanabi, mas seu sentimento, naquele momento, era muito maior do que ela própria podia descrever.

Ela não conseguira chorar ainda, e sua mente estava simplesmente paralisada com a ideia de que “se algo acontecesse com ele, a culpa seria sua”, pois de fato, ela havia causado o primeiro infarto; graças à ela, a saúde de Hiashi jamais voltara a ser a mesma. E ainda que ela tivesse motivos para ter se comportado daquela maneira, agora, anos depois, não conseguia entender o porquê de tal comportamento.

O sentimento de culpa, certamente, era o pior sentimento daquela saleta. Foi o que ela pensava, até o pai murmurar de repente o nome “Yume”, justamente quando Suzuki estava ajeitando a bolsa de soro em suas veias.

~

Quando Rikka estacionou no hospital, sequer se lembrava das meninas que estavam sentadas no carona. Ela saiu do automóvel e correu para dentro do prédio sem sequer trancar o carro – o que foi sorte para as garotas, que puderam sair de lá.

Ela chegou à recepção do hospital aos prantos, gritando para que a recepcionista lhe dissesse o numero do quarto do senhor Minato Uzumaki. – O prefeito não está em nenhum quarto, senhorita. – A mulher tentava explicar gentilmente, mas Rikka estava desesperada demais para ouvir alguma coisa. A única coisa que podia concluir era de que, em seu desespero, deveria ter ido até o hospital errado.

Todas as suas suspeitas, entretanto, foram acalmadas quando Yuuta apareceu, vindo do refeitório com dois copos de café fechados. Então, Rikka pôde perceber, com certo alívio – que mais tarde se transformaria em arrependimento, apenas por ter se sentido aliviada, mesmo que só por um momento – de que o avô a que Sakura se referira, na verdade, era o senhor Hyuuga.

~

– “Eu sou Kushina Uzumaki, é um prazer conhecê-los”. – Yume imitou amargamente a frase que mais a havia irritado no dia. – Sério mesmo, como uma estrangeira pode tomar toda a atenção do representante da classe? – Ela murmurou desgostosa enquanto mordia com irritação o sanduiche preparado por Mai.

– Já faz três meses e ainda está com ciúmes, onee-chan?! – A irmã exclamou aos risos, e Yume revirou os olhos. – Não se preocupe, o Namikaze-kun não gosta de garotas. – A informação idiota fez com que Yume batesse a tampa do bentou na cabeça da irmã, que riu.

– Namikaze-senpai é um bom rapaz. Ele liga mais para estudos do que para confissões de garotas, então não se preocupe, prima. – Suzuki sorria gentilmente, mas mal podia imaginar que, na verdade, aquela frase havia magoado-a muito mais do que a dita por Mai. Quase sem pensar, Yume se levantou e deixou os três primos e a irmã para ficar sozinha.

Embora Hiashi “achasse muito problemático”, como havia dito, acabou por ir atrás dela. – Francamente, você poderia ser um pouco mais madura-... – Ele parou de falar assim que viu a imagem constrangedora para ele, e assustadora para ela: Minato e a nova aluna, Kushina, sentados um do lado do outro, dividindo timidamente seu almoço. -... Yume...

– Yume... – Ele voltou a murmurar, e Suzuki, após ajeitar os cobertores hospitalares, afastou-se do marido.

Ela podia sentir o olhar de Hinata às suas costas, mas preferiu ignorar. Praticamente correu para fora do quarto, e após avisar a irmã, a filha mais velha do adoentado se apressou para segui-la.

Quando a médica passou chorosa pelos familiares, todos acharam compreensivo que ela estivesse naquele estado. Infelizmente, eles não sabiam o que de fato a fazia se sentir tão mal.

Já era noite. Suzuki se apressou até o terraço do hospital e apertou as grades tentando conter, o máximo que podia, o grito entalado em sua garganta.

Yume... Até os dezessete anos de idade, Yume Hyuuga sempre havia sido alguém em que ela podia se inspirar. Até se casar, a prima mulher mais velha sempre havia se mostrado forte e decidida; ela sempre havia corrido atrás de seus objetivos, atrás de seus sonhos... E sempre fora amada por Hiashi. Assim como ela própria, desde menina, sempre amara Hiashi.

A angústia foi tanta que ela não pôde se conter, e com um grito amargando na garganta, se ajoelhou no chão cimentado e chorou. Quando sentiu os braços de Hinata envolvê-la gentilmente, o choro tornou-se mais alto e desesperado, e as lembranças do casal que havia se formado de maneira convencional para qualquer um na família Hyuuga retornaram a sua mente, torturando-a.

Suzuki Hyuuga era a filha mais jovem de um membro distante da família. Os pais, entretanto, faleceram quando ela era ainda muito jovem, e a menina foi levada para a família de Yume e Mai, que a criaram como se fosse sua criança.

Mesmo que os pais e as irmãs adotivas fossem tão gentis e bondosos, ela nunca deixou de ser uma criança tímida, e assim foi por muito tempo.

Ela era muito mais jovem que os primos, mas como frequentavam o mesmo prédio, da mesma instituição, que dava aulas do primário ao colégio, se sentiu muito próxima de todos.

Desde que conhecera Hiashi Hyuuga, Suzuki se apaixonara perdidamente. Por sua mania de controlador, por sua inteligência e por sua gentileza, mesmo que sempre mostrada apenas sutilmente. Esse sentimento, entretanto, nunca fora realmente correspondido; ela sempre soube disso. Nem quando Yume havia se apaixonado perdidamente por Minato, mesmo quando ela deixou o marido para morar em Kyoto, pois não aguentava mais suas atitudes para com as filhas, mesmo quando ela faleceu ou quando ele casou-se novamente.

Hinata apertou a madrasta gentilmente, demonstrando todo o amor que de fato sentia por ela. – Suzuki... Você tem que ficar forte... – Ela disse entre lágrimas, e fungou. – Se você não ficar forte, como eu vou conseguir?! – A médica, entretanto, não conseguia cessar as lágrimas.

“Eu posso ser como ela!”, foi aquele o pensamento que fez com que a garota mudasse tão radicalmente de comportamento. Após entrar no colégio, os primos já estavam noivos, mas de alguma maneira, ela gostava da ideia de que poderia chamar a atenção de Hiashi de algum jeito. Por tanto, tomou para si a personalidade que Yume deixara após ser obrigada a noivar: se tornou energética, animada e otimista. Toda a timidez e medo ficaram para trás e ela se espelhou completamente na Yume Hyuuga que conhecera na infância. Na Yume Hyuuga que Hiashi amava.

Mas... Ele não amava apenas a personalidade da mãe de Hinata. Ele a amava tanto, que mesmo sabendo que ela só tinha aceitado o casamento porque não tinha chances com a verdadeira pessoa por quem estava apaixonada, não voltou atrás. Antes mesmo de Suzuki se formar, eles já estavam casados. Esse acontecimento encheu de alegria a todos os Hyuuga, e no fim, ela preferiu afastar-se a mentir.

Frequentou uma universidade importante de medicina, e mal havia decidido em quê especialização investiria, a prima morrera tão repentinamente que ela, necessitada por acolher as filhas dela assim como a mãe dela havia-a acolhido, se reaproximou da família Hyuuga. Na época, ela realmente não pensava ainda estar apaixonada pelo pai das garotas, e a teimosia dele era tão grande que ela decidiu que, nem em um milhão de anos, tornaria a se interessar por ele. O resultado das brigas, entretanto, foi um casamento muito feliz para ela.

“Para mim, mas não para ele”, esse era o pensamento predominante em sua mente. Pois, afinal de contas, se ele tivesse algum dia se apaixonado por ela, não estaria murmurando o nome de sua quase irmã com tanto fervor, não é?


– Elas estão demorando. – Naruto falou tenso após olhar para o relógio. Sak suspirou; estava sentada, alisando os cabelos da filha que estava acolhida em seu colo.

– Eu nunca vi a doutora Hyuuga desse jeito. Deve ser um golpe muito grande... – Naruto concordou.

– Eu também não. Suzuki sempre foi tão... Forte. – Sak concordou. – Acho que eu deveria ir até lá, ver se elas precisam de alguma coisa... Talvez um café, ou um chá, as acalme. – Neji negou a ideia imediatamente. Ele abraçava a esposa que estava encolhida.

– Ele tem razão, papai. – Rikka concordou. Estava abraçando a cintura do noivo, que estava ainda mais triste do que ela (pois tinha muito mais contato com o velho, portanto, era muito mais apegado a ele do que qualquer uma das duas netas que eram suas, de fato). – Suzuki precisa desabafar. – Murmurou e o pai concordou.

– Você tem razão. – Ele se sentou e bagunçou os cabelos de forma exasperada. Neji se levantou.

– Eu vou lá, não quero deixar a Hanabi sozinha. – Avisou à esposa e à Konohamaru, que não se interpôs, pois embora quisesse estar lá, era impossível, uma vez que a própria Suzuki havia proibido qualquer visita que não fosse de seus filhos, pois poderia exaltá-lo.

~

– Eu não vou aceitar mais isso, Hiashi! – Yume exclamou com os olhos cheios de lágrimas. – Por favor, pare de tratar Hinata como se ela precisasse fazer tudo o que você não conseguiu quando era menino! – Aquilo o incomodou um pouco, porém, o homem apenas suspirou exasperado.

– Mas é exatamente isso o que significa ser o líder da família, o herdeiro: ser forte, saber sobreviver à pressão. – As sobrancelhas da esposa se juntaram. Ele sabia que ela estava furiosa.

– Eu não vou deixar que você faça com a Hanabi o mesmo que está fazendo com a Hinata. – Disse decidida, e saiu do escritório sem pedir permissão.

Como Hiashi não estava mais acostumado às crises de personalidade de Yume há muito tempo, ele não podia ter certeza de nada. Entretanto, quando viu as malas prontas no dia seguinte, decidiu que não poderia refreá-la. – Por favor, Yume... Não vá. – Ele pediu por uma última vez, mas foi ignorado completamente.

Aquilo o irritou tanto, que ele não se controlou, e acabou apertando com violência o braço da esposa. – Se fosse o Minato, você não se comportaria dessa maneira. – O olhar dela, por um minuto pareceu de espanto. – Não é verdade?! – Ele estava tão irritado que não conseguia pensar direito. – Se estivesse casada com Minato, não se importaria se ele falasse mal com suas filhas. – Ela o olhou como se tivesse algum problema mental. Respirou fundo e segurou firmemente o rosto que, embora tentasse parecer indiferente, não passava de angústia pura.

– Eu... – Ela pareceu pensar bem nas coisas que diria. – Eu realmente amo você. – Murmurou baixo. – Por Deus, Hiashi... Minato foi uma paixão platônica do colégio. Você é meu marido, o pai das minhas filhas, e eu amo você. Jamais o deixaria se não amasse mais minhas filhas do que minha própria vida. – Ele estava surpreso, mas não acreditara totalmente naquelas palavras.

– Então me prove. – Ele necessitava de uma garantia. Ela ficou em silêncio, esperando que ele prosseguisse. – Você pode ir para Kyoto... Pode criar as meninas da maneira que quiser, mas... – Apertou o pulso dela, controlando-se para não implorar que ela ficasse com ele. – Não vamos nos divorciar. – Era tudo o que o orgulho que fora ensinado a ter lhe permitiu pedir.

Yume aceitou a proposta, e foi fiel ao compromisso até o fim de sua vida. Ela havia vivido pouco, não saia de casa e dava a educação correta para as filhas. As únicas vezes que sentia o calor do corpo de um homem, eram nas regulares visitas de Hiashi.

Mesmo enquanto Hanabi estava sentada há certa distância do pai, não conseguia tirar os olhos dele. Mesmo enquanto bebia do copo de café que Neji lhe dera tão gentilmente, conseguiu notar o quase imperceptível movimento no dedo indicador do velho. Ela, então, se levantou prontamente, e correu a tempo de ver os olhos de Hiashi se abrindo lentamente. – Ele está acordando! – Ela gritou. – Ele está acordando!

~

Suzuki respirou fundo; estava encolhida nos braços de Hinata, que ajeitava as madeixas molhadas pelo choro gentilmente. Uma ação, a propósito, que lembrou muito a própria Yume... Quantas vezes a mais velha das primas não tinha flagrado-a chorando pelos cantos da casa, lamentando pela morte dos pais, e a acolhera?

O pensamento a fez sorrir dolorosamente. – Não... – Ela disse de repente, tomando toda a atenção de Hinata. – Eu não odeio sua mãe por seu pai amá-la. – Esclareceu à dúvida silenciosa da mulher, que enrubesceu.

– Eu sei... – Não era exatamente verdade, mas ela achou que seria a resposta certa naquele momento.

– Eu era como você, Hinata... Como você era quando criança. Eu tinha medo... Tinha vergonha... A sua mãe não tinha medo de nada quando jovem. – O sorriso dela foi nostálgico, e Hina soube que era verdade. – Ela era uma garota forte, de fibra... Todos se surpreenderam quando ela se acalmou após o casamento. – Riu. – Achávamos que ela... Controlaria o seu pai... – O sorriso se desfez com a lembrança da dor mortificante que sentiu, ao receber a noticia de tal casamento. – Quando ela morreu, eu pensei... Eu pensei que queria ajudar a você e sua irmã. Pensei que ela poderia gostar que vocês fossem tão corajosas quanto ela um dia foi.

– Você é uma inspiração para nós duas, Suzuki. – Afirmou com convicção. – Todas as vezes que eu fui forte... Foi tudo graças ao seu apoio. – A médica sorriu.

– É claro que não é verdade. Você foi forte porque você tem uma natureza forte... Você tem o sangue dos seus pais, afinal. – Hina riu, e negou.

– Não... Você foi sempre a força dessa família. – Ela apertou as mãos da madrasta firmemente. – Você sempre foi e sempre será a mãe que a minha mãe enviou para cuidar de nós. – Elas se abraçaram cheias de amores, quando a porta se abriu.

Rikka, ofegante, anunciou que Hiashi havia aberto os olhos e sem pensar em mais nada, as duas mais velhas correram para o quarto do Hyuuga.


– Papai... Você consegue me ouvir? – Hanabi perguntou ansiosa. O pai estava com os olhos abertos, de fato, mas não parecia enxergar nada à sua frente. Os pis da máquina ficavam cada vez mais rápidos e insuportáveis. – Papai... Papai! Papai! – Ela gritava, cada vez mais assustada com aquele barulho maldito.

– Hinata, me perdoe... – O velho murmurava sem forças. Lágrimas mudas escorriam por seu rosto vermelho. – Hanabi, me perdoe... Yume...

– Papai! – Hana não conseguia se controlar mais. Mesmo que Neji a puxasse, insistindo que ficar ali seria pior, ela não queria. Precisava ficar ao lado do pai. – Pai! Por favor! Pai! Não precisa pedir desculpas... Pai! – Quando Hinata e Suzuki entraram no quarto, ele ainda estava murmurando suas desculpas...

– Hinata... Desculpe... Hizashi, Mai... Suzuki... – A cena era terrível, mas ela tinha que ser forte.

– Tire-as daqui! – Comandou imediatamente à Neji, que teve que pegar no colo a prima mais jovem e puxar pela cintura a prima mais velha. Sakura já estava preparando as máquinas.

– Suzuki... – Ele apertou a mão da esposa, que conteve o forte impulso de chorar. – Por favor... Peça perdão... Por favor... – Ela respirou fundo, e assentiu.

Mais alguns médicos adentraram ao quarto da UTI e começaram a preparar o que fosse necessário para salvar o senhor Hyuuga, que por todos os momentos que ficara acordado, continuou a murmurar o nome da eterna amada. Mas Suzuki não estava ouvindo. Mesmo quando a máquina avisou que o coração havia parado de bater.

Suas ordens eram sempre profissionais, e mesmo que seu coração estivesse na garganta quando ela exclamou: “O desfibrilador!”, foi sempre profissional. Como uma cirurgiã – sua especialização – deveria ser. E quando Sakura, após apertar seu pulso, afirmou que já era o suficiente, ela parou.

Olhou bem para o rosto do agora falecido marido, que sorria levemente. Aquele sorriso a fez ter certeza que a última coisa que o homem vira fora a imagem da sempre bela Yume, talvez com seu vestido negro longo de tecido mole que havia sido enterrada, ou vestindo o belíssimo modelo de casamento. Fosse como fosse, ela estava sorrindo, e o velho partiu tendo certeza de que era amado.

Mesmo que o amor de Suzuki nunca o tivesse importado de fato, ela se sentiu feliz por ele ter alcançado o amor verdadeiro que ela, com quase cinquenta anos, não devia mais encontrar. – Três e cinquenta da madrugada. – Ela murmurou baixo. – Ele está morto.


Assim como fora pedido em seu testamento, o corpo de Hiashi foi enterrado em Kyoto, ao lado do túmulo de sua falecida esposa. Na lápide, seu epitáfio apenas dizia: “Amado por suas esposas e filhas”. Afirmação que se mostrou inteiramente verdadeira, se considerasse as lágrimas desesperadas que as três ainda vivas derramaram por seu falecimento.

As últimas palavras de Hiashi nunca chegaram aos ouvidos de Hinata, pois Suzuki não só temia como sabia que elas só fariam a enteada sentir-se ainda mais culpada do que deveria. Ao invés do perdão implorado, ela disse as filhas do falecido que ele havia afirmado mais de uma vez, que as amava mais do que qualquer coisa.

Ao fim do enterro, todos se retiraram do túmulo, exceto as duas meninas que foram deixadas com uma fortuna considerável. Hinata e Naruto – que fora não só mencionado, como destacado – ficaram, segundo o testamento, com terras e ações consideravelmente grandes pertencentes ao velho; Rikka herdara uma boa casa, que foi considerada como um presente de casamento adiantado; Neji herdara um prédio que seria bom o suficiente para abrir seu próprio negócio e Hanabi se tornou a sócia majoritária da Companhia Hyuuga.

Naruto, embora não tivesse gostado de ser citado naquele papel idiota, que jamais consertaria as atrocidades que ele e a esposa foram obrigados há passar um dia, não comentou nada. Ele sabia que aquele devia ser um momento terrível para a amada, que mesmo que fosse consideravelmente distante do pai, ainda o amava inexplicavelmente.

Hanabi também achou insuportável ouvir as últimas palavras de seu pai sendo lidas por Neji e portanto, quando ela e a irmã mais velha ficaram sozinhas em frente ao túmulo de seu pai, não pôde controlar suas palavras. – Eu não quero ser a dona! – Ela gritou de repente, apertando a areia idiota que a afastava de Hiashi. – Eu só quero que você volte, papai! Quero que me dê broncas! Que diga que eu não posso dormir fora! Quero que faça o que sempre faz, papai! – Hinata, como sempre, estava ao lado da mais jovem, sempre apertando suas mãos. – Por que ele teve que ir, onee-chan?! – Ela berrou após abraçar a cintura da mais velha.

– Todos nós nos vamos algum dia, Hanabi... – Ela murmurou enquanto beijava a cabeleira castanha da mais jovem. – O que importa é que nós o amamos... E ele nos amava. – Ela assentiu imediatamente.

– Papai...! Papai! Você ouviu? Nós te amamos! – Ela exclamou em meio à rios de lágrimas.

E Hinata sabia... De alguma maneira... Tinha certeza de que aqueles sentimentos haviam alcançado seu pai, e que ele estava lá em cima, em algum lugar, ao lado de Yume, sorrindo e cuidando delas.

THE END.


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Notas finais do capítulo

Enfim... Foi um capítulo difícil de se escrever, mas foi satisfatório para essa escritora que estava angustiada pelo fato de ter decepcionado seus adorados leitores.
Acho que posso até mesmo ouvir um "amém" dos que queriam a morte do Hiashi...
~
Enfim! Eu gostei muito de escrever isso. A história do Hiashi... Os motivos pra ele não gostar da ideia da filha se envolver com Naruto e os verdadeiros sentimentos dele para com todos.
Eu sei que algumas lacunas - como o porquê da Rikka não se importar tanto com ele, ou o final da Suzuki - podem ter sido geradas com isso, mas creio que foi um bom final. Não perfeito, mas bom. :)
~
E, não. Eu não inventei isso de uma hora para a outra. Eu já tinha idealizado o passado da Yume e do Hiashi! Mas nunca achei que realmente iria divulgá-lo.. XD Portanto, fiquei satisfeita em revelá-lo para vocês.
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Obrigada a todos que me acompanharam! Obrigada, obrigada, obrigada! Eu nunca fiquei tão feliz em escrever uma história! :)
Eu espero, do fundo do meu coração, que vocês gostem - mais do que o outro, pelo menos - desse final, que me custou muito suor.
Obrigada por tudo, pessoal! Por toda a força, pelos elogios e pelas críticas, que creio eu, tornar-me-ão uma melhor escritora! :D
~
Espero vê-los novamente em The King e/ou 50 Tons de Uchiha (que, pfvr, é uma paródia)! :)