- Eu heim! Sai prá lá seu doido! – Xaveco gritou para o homem de sobretudo que tentava em vão falar com ele.

- Deixe de ser bobo, rapaz! Ela está te enganando!

- Eu não sei do que você está falando.

- Da entidade que está te acompanhando. Pensa que eu não sei? É por causa dela que você está famoso.

Xaveco tremeu fortemente ao ver que aquele homem tinha descoberto seu segredo. Como aquilo foi possível sendo que ele nunca comentou nada com ninguém?

- Você pode pensar que ela é boa, que está te dando tudo de bom, mas é tudo uma armadilha! Você precisa sair dessa enquanto é tempo.

- Então é isso! Você quer roubar minha felicidade, não é? Todo mundo quer tirar as coisas boas que eu consegui, mas eu não vou deixar de jeito nenhum!

O rapaz tentou sair correndo dali e não pode porque Ivan o segurou pelo braço com força.

- Me larga!

- Você precisa me escutar, garoto! Ela está te sugando e daqui a um tempo não vai sobrar nada de você!

- Não tem ninguém me sugando, você tá falando besteira!

- Ah, não? E esse cansaço que você está sentindo todos os dias? E essa fraqueza? Você dorme, dorme, dorme e ainda continua com sono. Você vai negar isso?

Ele hesitou um pouco. Sim, aquilo era mesmo verdade. Nos últimos tempos ele andava cansado sem nenhuma razão aparente. Mesmo dormindo bem a noite inteira, ele sempre acordava cansado e se pudesse, ficaria o dia inteiro na cama. Ao ver que sua presa estava quase fraquejando, Melina resolveu entrar em ação. Ivan sentiu um choque muito forte que o fez largar o braço do Xaveco.

- Sua criatura nojenta! Pensa que vai me fazer desistir dele? Pois está muito enganada! – ele gritou olhando para ela com os olhos faiscando de raiva, deixando Xaveco ainda mais assustado. Então ele podia vê-la também? A situação era pior do que ele pensava.

- Xaveco, saia daqui agora mesmo. Esse homem é louco e quer roubar sua felicidade espalhando mentiras entre nós!

- Mas Melina... ele tá falando umas coisas...

- Mentiras, apenas mentiras.

- Quem está mentindo aqui é ela, rapaz.

Sua cabeça começou a ficar confusa e ele sentia tonteira. De repente, sua vida pareceu ter virado uma loucura. Primeiro, ele perdeu os amigos. Depois sua privacidade já que não podia fazer praticamente nada sem ter uma legião de fãs lhe seguindo. E como se tudo não estivesse louco o bastante, de repente apareceu aquele maluco que tampou sua boca e o arrastou para o último andar do prédio e falou aquelas loucuras sobre Melina.

Ao ver o quanto o rapaz estava confuso e perdido, Ivan tentou falar com mais calma.

- Olha, rapaz. Eu sei que tudo parece estar indo muito bem e agora você tem tudo o que quer, mas entenda que isso tem um preço muito alto!

- De repente eu quero pagar esse preço!

- Não, você não quer. Acredite em mim! Quando tudo isso terminar, você sentirá muita falta da sua antiga vida!

- E por acaso você viveu minha vida pra saber? Claro que não! Então não vem falar bobeira no meu ouvido. E me deixa em paz, ouviu? Se vier me encher o saco de novo, chamo a segurança!

Sem falar mais nada, Xaveco saiu dali apressadamente antes que Ivan pudesse falar mais alguma coisa. Melina apenas olhava o homem com um sorriso de vitoria, dando a entender que mais uma vez ela ia sair vitoriosa.

Ivan deu um soco na parede para extravasar a raiva e passou as mãos nos cabelos num gesto nervoso. A situação parecia fora de controle. O rapaz não acreditou nele, como era de se esperar. As vítimas daquela coisa nunca escutavam ninguém. Os amigos dele poderiam ajudar, mas ninguém sequer parava para escutá-lo. Mesmo assim ele procurou esfriar a cabeça e tomou a decisão de lutar até o fim. Se perdesse aquela batalha, não seria por ter desistido.

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Ele molhava as mãos várias vezes e esfregava em seu rosto para tentar recuperar a calma.

- Ei, garoto! Tá tudo bem aí? – Moreira perguntou batendo na porta do banheiro.

- Tá tudo legal, foi só um mal-estar.

- Anda depressa que a gravação tá atrasada. Você saiu fora de hora e agora a gente precisa correr para recuperar o tempo!

- Peraí que eu já vou.

Vendo que ele não se acalmava, Melina procurou envolvê-lo.

- Xaveco, meu querido. Você não está acreditando naquelas mentiras, está?

- É que...

- Mais tarde eu te direi quem ele é. Por enquanto, prepare-se para sua gravação. Você precisa brilhar hoje!

Ele deu um longo suspiro e saiu do banheiro. Moreira esperava do lado de fora batendo um pé com impaciência. Tempo era dinheiro e a sua conta bancária não ia engordar com o Xaveco trancado naquele banheiro.

- Você está melhor agora?

- Estou sim.

- Então vamos que não podemos mais perder tempo.

O rapaz seguiu seu empresário, contrariado com a falta de sensibilidade daquele homem que sequer parecia notar que ele estava com problemas. Chegando ao estúdio, todos o bajularam, sorriram para ele e até elogiaram sua aparência, fazendo-o duvidar da sinceridade daquelas pessoas. Sua aparência abatida e cansada não era nem um pouco digna daqueles elogios. Eles estariam fingindo ou apenas ignorando o problema? Ele não sabia.

Durante o resto da tarde ele trabalhou e foi apenas com um telefonema ameaçador de sua mãe que Moreira concordou em deixá-lo ir embora. A primeira coisa que ele fez ao chegar em casa foi trancar-se em seu quarto. Havia muitas perguntas sem responder e ele não queria dormir até ter as respostas que queria.

- E então, Melina? Quem é aquele sujeito e porque ele falou aquelas coisas de você?

- O nome dele é Ivan. Pelo menos é o nome que ele usa atualmente. De tempos em tempos ele muda de nome.

- O que ele queria?

- Simples: te roubar de mim. Há anos ele me persegue. Quando ele era jovem, eu aceitei segui-lo, achando que ele era digno da minha felicidade. Me enganei. Ele começou a abusar da boa sorte que eu trazia, prejudicava pessoas e até cometia crimes sem ser punido.

- Sério? Ele era tão filho da mãe assim?

Ao ver que sua presa estava acreditando, ela fez uma expressão bem triste e procurou caprichar no drama, com direito a lágrimas de tristeza e tudo.

- Poxa, Melina... eu não queria te fazer chorar!

- Tudo bem, é que lembrar de tudo isso dói tanto!

- Então não precisa falar...

- Ele me maltratava muito, abusava de mim e até me batia!

- Que horror! – para ele era inconcebível alguém ser capaz de erguer a mão para um anjo como ela, que parecia tão pura e inocente. Se aquilo era mesmo verdade, então aquele homem era um grande monstro sem caráter.

- Foi com muito custo que eu consegui me esquivar dele e desde então ele me persegue tentando me capturar novamente. Por favor, não deixe isso acontecer! Eu não quero passar por tudo aquilo de novo!

Ele segurou o queixo dela delicadamente, fazendo com que ela o olhasse.

- Pode ficar tranqüilo que aquele desgraçado não põe a mão em você nunca mais.

- Você promete? Eu tenho tanto medo!

- Claro que eu prometo, pode deixar! Você tem feito tanto por mim, o mínimo que eu posso fazer é te proteger daquele cara.

Um belo e doce sorriso surgiu no rosto dela, que enxugou as lágrimas e pousou um beijo bem suave nos lábios dele, deixando o rapaz totalmente enlevado e nas nuvens. Foi um beijo muito delicado, sem nenhuma sensualidade. Apenas um leve roçar de lábios. Ainda assim, foi melhor que todos os beijos que Denise tinha lhe dado até então.

- Obrigada, querido! Enquanto você me proteger, eu continuarei te dando tudo do melhor. Comigo, você um dia terá o mundo aos seus pés.

Sua mãe bateu na porta do quarto, chamando-o para o jantar e ele atendeu de muito boa vontade, sorrindo de orelha a orelha. Todas as suas desconfianças se dissiparam e ele teve total certeza de que ela era mesmo seu anjo da felicidade, enquanto que aquele homem era apenas um larápio querendo roubar tudo de bom que ele tinha conquistado.

Melina, por sua vez, sorria satisfeita ao ver que não havia a menor chance da sua presa escapar das suas garras. Ela precisava apenas mantê-lo afastado de qualquer um que pudesse abrir seus olhos.