O Pacto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 6
Protegendo sua felicidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/268551/chapter/6

- Cuméquié? Pedir pro Xaveco deixar a gente fazer a abertura do próximo show dele?

- E por que não? Ele ainda é nosso amigo, não é?

Cebola coçou a cabeça várias vezes pensando nas implicações daquele simples pedido. Por um lado, tocar no show do Xaveco certamente poderia dar um bom empurrão na banda. Por outro lado, era meio humilhante pedir ajuda para alguém como ele, que até então era um simples personagem secundário. A idéia da Mônica era ao mesmo tempo boa e absurda, embora ele não soubesse dizer qual adjetivo se sobressaia mais.

- Ah, Cê! Não custa nada tentar, né? Se for o caso, eu mesma posso ir falar com ele.

- Então eu vou junto!

- Não precisa...

- Plecisa sim, pindalolas!

- Ué, tá nervoso por quê?

Ele gaguejou um pouco e acabou desconversando. No fundo, ele não gostava nem um pouco da idéia de a Mônica ficar sozinha com o Xaveco. Do jeito que as coisas andavam, ele não queria correr o risco de ela ficar com a cabeça virada por causa daquele bobalhão. 

- Então tá combinado. Quando der, a gente arruma um tempinho para falar com ele.

Arrumar um “tempinho” para falar com o Xaveco era mais fácil na teoria do que na prática. A todo instante ele estava cercado por amigos e admiradores, tornando quase impossível conseguir chegar perto dele e estabelecer trinta segundos de conversação sem ser interrompido. Até no banheiro tinha alguém atrás dele e durante as aulas não era possível conversar sobre um assunto como aquele.

Foi só no fim da aula que a Mônica, com sua sutileza de sempre, o arrancou dos braços da Denise e o levou para um lugar um pouco mais reservado para eles conversarem.

- Foi mal, Xaveco, é que não tava dando pra gente falar com você, sabe?

- Tranqüilo, Mônica. O que tá pegando? – ele perguntou dando um sorriso galanteador que fez o Cebola desejar poder quebrar os dentes dele.

- Sabe o que é? A gente tava pensando se não daria pra você arrumar uma pontinha pra nossa banda no seu próximo show, sabe...

Melina, que sempre o seguia por toda parte como se fosse uma sombra, apertou os olhos irritada com a aproximação daqueles dois. A última coisa que ela queria era ver o Xaveco andando com eles, especialmente a Mônica. Eles eram diferentes da maioria das pessoas e não foram seduzidos pelo seu encanto. Se ficassem muito tempo por perto, poderiam acabar descobrindo seu segredo e a afastando da sua presa. 

Ao ver que Xaveco estava quase dizendo sim para o pedido deles, ela se apressou em sussurrar no seu ouvido:

- Não! Diga não!

Ele mal conseguiu disfarçar a surpresa. Que problema haveria em deixá-los tocar uma música no seu show? Aquilo não ia arrancar pedaço de ninguém.

- Eu sei o que estou falando, diga não.

- Vamos fazer o seguinte, deixa eu falar com o Moreira pra perguntar se pode. É ele quem esta organizando o show, sabe. De repente, ele arruma um tempo pra vocês, beleza?

- Valeu, Xaveco! Quanto tiver a resposta, fala pra gente tá?

Os dois se despediram e Xaveco teve que correr para o carro que o esperava na porta da escola para ser conduzido ao estúdio de gravação. Devido a presença do chofer, eles não puderam conversar e ele ficou se perguntando por que Melina não queria que seus amigos tocassem em seu show. Apesar de o terem ignorado tantas vezes, eles eram seus amigos e como não era de guardar rancor, Xaveco não via nenhum problema em dividir um pouco da sua fama com eles.

__________________________________________________________

- Aí o Xaveco ficou de conversar lá com o empresário dele, não é legal?

- E você acha que ele vai deixar a gente tocar no show, Mô?

- Tomara, né? Ia ser muito bom pra nossa banda.

As duas seguiam conversando animadamente, imaginando como seria tocar num show de alguém tão famoso. Mesmo sabendo que nada estava definido, as duas iam falando como seriam as roupas, maquiagem, acessórios e Magali pretendia até escrever uma música especialmente para a ocasião. 

Tudo ia bem quando Mônica percebeu que elas estavam sendo seguidas e ao virar-se bruscamente, deu de cara com um homem alto e de aparência meio sinistra. Apesar de parecer beirar os trinta anos, seus cabelos eram totalmente grisalhos e óculos escuros cobriam seus olhos enigmáticos. Ele se vestia de maneira muito sóbria, usando sobretudo e chapéu, coisa meio incomum por aqueles lados e naquela época do ano, já que fazia calor.

- Tá seguindo a gente por que?

- Digamos que eu preciso conversar com vocês sobre algo.

Mônica fechou a cara e cerrou os punhos.

- Se vier com safadeza pra cima da gente, você vai ver só uma coisa, viu?

- Não é nada disso, mocinha. Abaixa esse punho porque o assunto é importante. Quero falar sobre o amigo de vocês.

- Que amigo? A gente tem um monte?

- Aquele a quem vocês chamam de Xaveco.

- O que tem ele?

- Vocês irão se encontrar com ele mais tarde, certo? Tem algo importante que eu preciso falar com ele.

Magali colocou as mãos na cintura e encarou o homem com indignação.

- Já entendi! Você deve estar de olho na fama do Xaveco, não é? Acontece que ele já tem empresário e parece muito satisfeito com o trabalho dele.

O homem balançou a cabeça negativamente.

- Não se trata disso, é outro assunto que não tem nada a ver com ser empresário dele.

- É o que então? – Mônica perguntou já perdendo a paciência.

- Vocês parecem não terem se deixado contagiar com a fama dele, então respondam: por acaso nunca pararam para perguntar como ele ficou tão famoso de repente? Nunca estranharam nada?

As duas ficaram em silêncio por um tempo e Magali respondeu.

- Agora que você falou...

- Saibam que algo muito ruim está acontecendo e que seu amigo corre grave perigo.

- O quêeee? – as duas perguntaram ao mesmo tempo.

- Exato. Seu amigo está em perigo e eu preciso falar com ele o quanto antes.

Elas deram um passo para trás, como que tentando se afastar daquele homem que parecia ser maluco e Mônica voltou a falar.

- Olha, a gente não sabe do que você tá falando e isso é esquisito demais. Melhor a gente ir...

Ao ver que elas não estavam acreditando na sua palavra, ele resolveu não insistir muito e tirou um cartão do seu bolso, estendendo-o para Mônica.

- Aqui tem meu telefone. Se mudarem de idéia ou perceberem algo estranho, não hesitem em me ligar.

Mônica pegou o cartão mais para ficar livre daquele homem e as duas saíram dali em disparada. Não havia a menor chance de elas levarem um estranho para falar com Xaveco. Além de ser perigoso, também poderia ser muito desagradável caso ele fosse apenas algum aproveitador tentando tirar vantagens.

Ele ficou olhando as duas se afastarem por um tempo e depois tomou o rumo para seu carro, frustrado por sua primeira tentativa de aproximação ter falhado.

“Paciência é uma virtude. Em algum momento terei minha chance.”

__________________________________________________________

A tarde tinha sido movimentada, como sempre. Ensaios, sessão de fotos e uma entrevista fizeram parte da programação daquele dia. Foi com grande exaustão que Xaveco entrou no seu quarto, jogando o corpo cansado em cima da cama enquanto suspirava de alívio por finalmente poder descansar um pouco.

- Cara, eu tô moidinho da silva! Ai, como dói!

Melina se fez visível e sentou-se ao lado da cama, sorrindo para ele docemente. Só a visão daquele rosto divino e angelical fez com que metade do seu cansaço se dissipasse.

- Você foi incrível hoje. Mais um pouco e o mundo estará aos seus pés.

- Eu nunca imaginei que aquela atriz famosa fosse querer fazer um filme comigo, que doideira! E vai até rolar beijo! Ih! Quando a Denise souber, vai virar uma fera! Credo, ela é ciumenta demais!

A entidade afastou com um dedo uma mecha que cobria um dos olhos dele e falou.

- Talvez estivesse na hora de você trocar de namorada, não?

- Quê? Terminar com a Denise? Nem! Eu tive o maior trabalhão pra conseguir namorar com ela!

- Existem garotas muito mais bonitas e a sua altura.

- Tá certo que ela é difícil, espalhafatosa, cheia de maluquices, mas eu gosto dela de verdade...

- Seja como você quiser. Com o tempo, irá perceber que ela não é mais adequada e então tomará a decisão por si só. No entanto, outra coisa me preocupa muito.

O semblante dela anuviou-se um pouco, deixando-o preocupado.

- O quê?

- Seus amigos, aqueles que pediram para tocar no seu show.

- Ah, tá falando da Mônica e do Cebola? O que tem eles?

- Você devia ter negado o pedido deles.

- Rapaz, e não é que eu esqueci de falar com o Moreira? Eu vou ligar pra ele agora mesmo e...

Melina levantou um pouco a voz, assustando-o um pouco.

- Não!

- ???

Para não deixá-lo ainda mais assustado, ela recobrou a serenidade e procurou se explicar.

- Xaveco, tudo que eu quero é te proteger, você me entende?

- Proteger do quê? Eles são meus amigos, tem perigo não!

- Não, eles não são seus amigos. Por acaso esqueceu-se de que eles sempre fizeram pouco de você? Esqueceu que eles sempre te deixaram de lado e nunca te deram a menor oportunidade para tocar na banda? Ou então quando eles se reuniam para irem ao cinema e nunca te chamavam?

- Peraí, na última vez eles me levaram sim!

- Só porque um deles não pode ir e com isso um ingresso acabou sobrando. Do contrário, quem teria sobrado seria você.

- Isso é...

- Eles sempre te excluíram. Quando você não era famoso, ninguém te dava atenção. Agora que você está no topo, eles querem se aproveitar da sua fama para conseguirem vantagens!

O rapaz deu um salto.

- Ô, peraí! Também não é assim não, né? A Mônica nunca foi interesseira.

- Então por que só agora ela se interessa em dividir o palco com você? Porque é conveniente, certo?

- ... – daquela vez ele ficou sem saber o que responder. Não dava para negar que Melina estava certa.

- E tem mais um problema.

- É?

Ela apontou a moeda em seu pescoço.

- Sempre haverá pessoas querendo roubar sua felicidade. Eles perceberam que você ficou famoso muito depressa e pretendem descobrir seu segredo. Você não pode deixar isso acontecer de jeito nenhum!

- Por que não?

- Porque se alguém lhe tirar essa moeda, eu não terei outra escolha a não ser seguir meu novo senhor. Eu não posso escolher quem irá usar essa moeda. A mim cabe apenas servir quem a estiver usando.

Ele apertou a moera com a mão de forma protetora.

- Acha mesmo que eles estão querendo descobrir meu segredo?

- Tenho certeza. eu sou capaz de enxergar além das aparências e intenções das pessoas. Eles querem apenas se aproveitar de você e roubar sua felicidade, por isso você não pode deixá-los se aproximarem de jeito nenhum! Eles não são seus amigos.

- Ainda não sei...

Uma mão suave acariciou seus cabelos, fazendo com que ele se desarmasse na hora. ela aproximou o rosto do dele e fitou seus olhos de maneira hipnótica.

- Meu querido, você é de longe o melhor amo que já tive e não quero ter que me afastar de você. Mais do que ninguém, você merece todos os presentes que estou lhe dando e acho que seria um desperdício todas essas bênçãos irem para outra pessoa.

- Quer dizer que se você for embora...

- Isso mesmo, Xaveco. Se eu for embora, você irá perder tudo aquilo que conquistou até agora.

Xaveco engoliu em seco, sentindo calafrios só de imaginar em voltar a ser o anônimo que era antes, sendo um zero a esquerda ignorado por todos. Por fim ele decidiu.

- Então tá. Amanhã eu vou falar para eles que o Moreira não deixou eles participarem do show. E também vou dar um jeito de me afastar deles aos poucos.

Melina sorriu, triunfante. Cada vez mais sua presa estava caindo em sua armadilha e dentro de algum tempo, não haveria mais como escapar da sua teia. Tudo o que ela precisava fazer era esperar e apreciar o espetáculo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Pacto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.