Denise soltou um gritinho que chegou a doer nos ouvidos dele e começou a dar pulos de alegria.

- Eu ganhei um ingresso pro show do Xaveco! E vai ser no camarote VIP!!! Ai meu coração! Valeu, lindo! – ela agradeceu lhe dando um grande beijo na boca, deixando as outras garotas se contorcendo de inveja.

- De nada, Denise.

Ele estava distribuindo os ingressos entre os amigos e ninguém queria ficar de fora. Os ingressos para o show dele estavam sendo disputados à tapa e tinham esgotado nas bilheterias.

- Aqui, gente. Não deixem de comparecer. – ele falou ao entregar ingressos para Mônica, Cebola, Magali, Cascão e também para o DC que parecia (ou fingia) não dar importância ao seu show. Não havia como saber o que se passava dentro daquela cabeça virada.

- Valeu, Xaveco. – eles agradeceram tentando mostrar entusiasmo, mas Xaveco notou que eles não pareciam lá muito felizes.

“Devem estar com inveja. Paciência...”

Quando os ingressos acabaram, ele sentou-se em sua carteira lembrando-se daquele dia em que a turma ia participar de um show de bandas. Tudo estava normal, com ele trabalhando nos bastidores arrumando os equipamentos de som e os instrumentos e cuidando para que tudo saísse perfeito. O que ninguém esperava era que a banda fosse ter um tremendo azar quando Cebola machucou a mão e não pode tocar guitarra.

- Nossa, o que a gente faz? – Mônica perguntava andando de um lado para outro, muito frustrada por não poderem se apresentar naquela tarde. Então Xaveco acabou tendo uma idéia.

- Olha, se é só pra tocar guitarra, eu posso fazer isso no lugar do Cebola. Assim a banda não perde sua vez.

O riso foi geral e até DC se dobrou de tanto rir.

- O que foi, gente? Eu sei tocar guitarra, tem até uns vídeos meus no Youtube!

Cebola colocou uma mão no ombro dele e falou, tentando se mostrar agradecido sendo na verdade não estava.

- Valeu pela ajuda Xaveco, mas você nem ensaiou com a gente!

- Eu sei tocar as músicas.

(Cascão) – Ih, se você for tocar lá com a banda, o público vai acabar tacando tomate na gente!

- Vocês nem me viram tocar, por que não me dão uma chance?

Não adiantou argumentar. Eles preferiram não fazer show nenhum a lhe dar uma chance.

“E agora ficam aí remoendo de inveja. Humpt! Bem feito pra eles!” ele se sentia um tanto injustiçado por nunca ter tido uma chance naquela banda. Afinal, Xaveco tocava guitarra melhor do que o Cebola e cantava melhor do que a Mônica. Quando tudo mudou e ele se tornou um cantor de sucesso, obviamente ele não se interessou mais em voltar a atuar como contra-regra na banda dos amigos. Por que ficar nas sombras se ele podia brilhar? No fim, foram eles que saíram perdendo ao não lhe darem uma chance.

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Por todos os lados, cartazes e folhetos anunciando o show do grande astro do momento. Suas mísicas tocavam em toda parte, nos iPhones, iPods, no som dos carros e das lojas de CDs. As pessoas comentavam sobre o show, umas se vangloriando de terem conseguido um ingresso, outras lamentando por não terem tido tanta sorte.

- Hoje a noite eu vou montar acampamento para garantir meu lugar na fila!

- Ah... eu não vou poder. Minha mãe não vai deixar eu dormir na fila por cinco dias inteiros...

- Pelo menos ela te deixou ir, né...

Um homem alto, de cabelos grisalhos e fisionomia fechada caminhava segurando um jornal, com um olho nas noticias os ouvidos atentos ao que as pessoas comentavam.

- Hum... – seus olhos percorriam a reportagem da revista e logo focaram no rapaz loiro chamado Xaveco. Ele tinha se tornado muito badalado nos últimos tempos. Foi um sucesso rápido. Talvez rápido demais. Aquilo só podia significar uma coisa e o homem achou melhor dar um jeito de vigiar aquele rapaz de perto.  

Ele jogou o jornal no lixo e continuou andando pela calçada, imerso em seus pensamentos e ignorando as pessoas que olhavam de soslaio para o homem de aspecto meio sombrio que andava entre elas.

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O palco já estava montado, pronto para o que prometia ser um show de grandes proporções. Os músicos já estavam apostos com seus instrumentos, dançarinos, canhões de luzes de várias cores, e um pequeno exercito de contra-regras contratados para os efeitos especiais do show.

A música começou a tocar, junto com uma grande cortina de fumaça causada pelo gelo seco e colorida pelos canhões de luzes que piscavam freneticamente. Uma comoção geral deu início quando ele entrou no palco levando uma guitarra. Devia haver pelo menos trinta mil pessoas ali e certamente haveria mais se o local fosse maior.

As fãs gritavam seu nome, choravam, tiravam fotos e havia muitas faixas e cartazes. Grandes telões foram instalados no local para que quem estivesse longe, pudesse também apreciar o show. Dois helicópteros sobrevoavam o local filmando tudo e ele sabia que aquilo seria transmitido até para outros países.

- Obrigado, gente! Eu amo vocês! – mais gritaria, histeria, choro e até alguns desmaios.

O rapaz começou a cantar tocando sua guitarra e o público vibrava emocionado. Enquanto cantava, ele sentia que Melina estava atrás dele lhe dando apoio e suporte e aquilo o encorajava a ousar cada vez mais, dando solos impressionantes com sua guitarra e levando o público ao delírio. Moreira não sabia se assistia ao show ou se atendia as ligações de empresários, revistas, produtores e um monte de outras pessoas desesperadas em fazer um contrato com Xaveco.

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- Ai... – ela teria caído se as meninas não estivessem por perto para segurá-la.

(Cascuda) – Ô Maria, não vai dizer que você tá tão emocionada assim?

- Heim? É, deve ser isso...

(Magali) – Que emoção que nada! É fome mesmo. Sua doida, você não deve ter comido nada antes de vir pra cá, né?

- Eu comi sim!

- Só se foi sanduíche de vento!

Maria Melo tentou se recompor e mostrar que estava se sentindo muito bem antes que alguém cismasse de fazê-la engolir alguma coisa repleta de calorias. Qual era o problema de não ter comido nada o dia inteiro? Seu corpo estava bonito e esbelto. No fim, era só o que importava para ela.

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Xaveco continuou cantando suas melhores músicas enquanto o público acompanhava com grande empolgação. Foi com muito custo que ele conseguiu encerrar o show porque a toda hora lhe pediam para ficar e tocar mais uma música. Se dependesse da vontade da platéia, ele teria ficado ali a noite toda.

- É isso aí, pessoal! Obrigado por terem vindo, vocês são demais! Fiquem com Deus!

Ele saiu dali rapidamente apesar dos gritos e choros de todo o público, que não queria que ele fosse embora. Ao entrar nos bastidores, Moreira o recebeu pulando de empolgação.

- É o meu garoto! Você arrasou, rapaz! Toca aqui!

- Valeu, Moreira. Eu só queria ir pra casa...

- Agora não vai dar, garoto. Esqueceu daquele sorteio?

- ???

- O sorteio para escolher três fãs para visitar seu camarim!

- Ah...

- Vou mandar buscar as meninas.

Ele não estava exatamente empolgado. Depois de tanto cantar e tocar, ele se sentia exausto e ansioso por um banho. No entanto, seu cansaço foi embora ao ver as três garotas que estavam vindo com Moreira. Elas pareciam muito animadas e por pouco não tiveram um colapso ao estarem diante dele.

- Ai, você é lindo!

- Me dá um autógrafo?

- Eu quero tirar uma foto com você!

- Calma, meninas, tem pra todo mundo!

- Ahhhhhh!!!!! – elas gritavam histericamente enquanto disputavam entre si pelo direito de agarrar seu pescoço, segurá-lo pelo braço ou encher seu rosto de beijos.

Ele tirou várias fotos com elas, deu autógrafos e quando uma delas conseguiu lhe roubar um selinho, as outras duas também exigiram a mesma coisa, fazendo-o dar um beijo na boca de cada uma.

“Rapaz, ainda bem que a Denise não tá aqui, senão ia dar o maior rolo!” desde que eles começaram a namorar, a ruiva tinha se mostrado bem ciumenta e várias vezes faltou pouco sair no tapa com as outras fãs histéricas.

Cada uma também ganhou uma peça de roupa dele. Uma ficou com a jaqueta, outra com a blusa e a terceira com seu chapéu. As garotas gritavam e pulavam a toda hora, como se tivessem uma energia infinita. 

Moreira assistia satisfeito o seu “garoto de ouro” dando a devida atenção às meninas. Elas com certeza iam contar a todos sobre a grande experiência de estarem diante do Xaveco e aquilo significava mais propaganda positiva.

Enquanto as garotas olhavam seu camarim, Xaveco percebeu Melina sorrindo para ele. O rapaz sorriu de volta, sentindo-se um vitorioso.

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Mesmo o show tendo acabado a mais de uma hora, os fãs estavam reunidos perto da entrada na esperança de verem o Xaveco ao menos de relance. De onde estava, ele acompanhava toda aquela movimentação com um olhar apreensivo. Toda aquela histeria não era natural e tudo parecia apontar para um mesmo caminho.