O Pacto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 18
Enfrentando o monstro




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Quando Ivan atirou aquele líquido avermelhado, Melina voltou a sua verdadeira forma diante de uma turma horrorizada diante da criatura mais feia que eles tinham visto.

A criatura devia ter pelo menos dois metros de altura, mas aparentava menos porque andava encurvada como se não suportasse o seu próprio peso. Sua boca era repleta com dentes pontiagudos e vivia constantemente entreaberta, deixando escapar um líquido viscoso e mal-cheiroso. Várias protuberâncias saiam da sua cabeça, como se fossem chifres apesar de serem coisas deformadas e tortas.

Aliás, aquilo era um monstro deformado, parecia em decomposição e vários ossos já estavam à mostra. Ele também exalava um cheiro horrível que quase sufocava quem estivesse por perto.

- M-Melina... isso não pode ser verdade! Você não pode ser assim, não pode! – ele gritava e chorava horrorizado para a criatura que tinha aparecido diante dos seus olhos. Aquilo só podia ter saído das profundezas dos seus piores pesadelos!

- Grrrr! Seu maldito, você me paga!

- Eu não tenho medo de você, aberração! Agora ele pode ver quem você é de verdade!

Até Mônica, tão forte, ficou chocada com a aparência daquela criatura.

- Credo, eu não pensei que esse bicho fosse tão feio assim!

- É a verdadeira forma dele. Esse monstro vive em constante decomposição e precisa sugar a energia vital das pessoas para se manter vivo, mas ainda assim nunca é suficiente para recompor a carne morta e os tecidos danificados.

Mesmo tendo sido descoberto, o monstro ainda tentou iludir o rapaz.

- Xaveco, é uma armadilha! Eu não sou assim, esse louco jogou um feitiço para te enganar! Você tem que acreditar em mim!

O rapaz deu um passo para trás, tentando ficar o mais longe possível daquela criatura. Naquele momento, ele nem sabia mais em quem acreditar. Ivan tentou chamá-lo a razão.

- Essa coisa está te matando! Ela suga toda sua energia vital e fará isso até que não sobre nada de você!

- É mentira! Eu nunca vi ela fazendo isso!

- Ela faz quando você dorme. É por isso que você sente tanta fraqueza.

(Mônica) – Xaveco, você precisa acordar! Essa coisa está te fazendo muito mal e se você deixar quieto, vai acabar morrendo! Ela tá te matando!

(Cebola) – Escuta o que a gente tá te falando e sai dessa!

- Eu... eu não quero morrer!

(Ivan) – Então tire essa moeda e entregue para mim. Eu darei um sumiço nessa coisa e ela nunca mais irá ferir ninguém!

O monstro não se deu por vencido e falou com uma voz grossa e cavernosa.

- Se você fizer isso, vai perder tudo o que eu te dei e será ignorado por todos novamente. Acha mesmo que vale a pena ter uma vida longa e medíocre? Não seria melhor uma vida curta, mas plena e cheia de realizações?

(Magali) – Não escuta esse monstro, Xaveco! Ele só quer te sugar até o caroço!

- Mas ela está certa... gente, vocês falam assim porque nunca viveram a minha vida. Eu não quero mais ser como antes, quando ninguém me dava atenção nenhuma! Não quero mais ser o invisível da turma, que ninguém nota, ninguém vê e ninguém lembra na hora de convidar pras festinhas! Eu não quero mais isso!

- Venha, Xaveco, deixe-me continuar sendo o seu anjo da felicidade! – o monstro falou tentando tornar a voz suave. – Eu realizarei todos os seus sonhos, você terá toda atenção com que sonhou e nunca mais será ignorado em sua vida!

(Ivan) – Não! Garoto, isso irá custar a sua vida!

- De repente eu não me importo mais com essa vida! – ele falou chorando. – De que adianta eu ficar livre dela e voltar a ser o Zé ninguém de antes? Não, eu não quero! Me deixem em paz, tá legal? Eu quero continuar com ela aconteça o que acontecer.

Ele estava indo embora dali quando sentiu alguém segurando seu braço. Ao olhar para trás, ele viu Maria com lágrimas nos olhos.

- Seu tosco, egoísta! Você não liga pra mais ninguém além de si mesmo, não é?

- Se eu não ligar pra mim mesmo, ninguém vai ligar!

- Mentira! Você tem amigos, família, pessoas que se importam com você! Como acha que eles ficarão quando você morrer? Você não pensa na dor que irá causar nas pessoas? Não pensa no quanto vamos sofrer com sua morte?

Xaveco estancou no meio do caminho e ficou mudo, de repente. Ele nunca tinha visto por aquele ângulo. Será mesmo que alguém iria se importar caso ele morresse? Vendo que aquilo tocou o rapaz de alguma forma, Ivan tentou apelar para o bom senso dele.

- Desde que essa coisa entrou em nossas vidas, só trouxe infelicidade! Eu perdi minha irmã, perdi meus pais e minha vida inteira tem sido apenas andar atrás desse monstro para evitar que ele destrua a vida dos outros. Acredite em mim, garoto: quando essa coisa entra na vida de alguém, só causa dor e desespero!

- Meus pais... eu não quero que meus pais sofram! Não quero que a Xabéu fique triste por minha causa...

(Mônica) – Mas todos vamos ficar se você morrer, seu tonto! E olha, quem disse que sua vida será sempre medíocre? Como essa coisa pode saber disso? Xaveco, você ainda pode realizar seus sonhos! Não pode desistir assim tão fácil!

- Pra você é fácil falar! Não viveu a vida inteira como um Zé ninguém.

(Magali) – Desculpa a gente, Xaveco, desculpa! A gente não queria ignorar você e nem te deixar de fora! Você é nosso amigo e a gente deveria ter mais consideração. Por favor, não desista da gente. A gente não desistiu de você!

(Cebola) – Claro que não! Nós estamos aqui tentando te ajudar, não estamos? Acha mesmo que a gente teria esse trabalho todo se não se importasse?

(Cascão) – Sai dessa, cara! Você não precisa dessa coisa tosca aí pra ser feliz!

- Puxa, gente...

Mônica se colocou entre ele e o monstro, segurando seus ombros e lhe dando uma sacudida.

- Xaveco, tudo o que essa coisa quer é te sugar! Ela não se importa com você, nem com sua felicidade! É um parasita, tá entendendo? Um parasita!

- Mas sem ela eu vou perder tudo! Nunca mais serei ninguém na vida!

Ao ouvir aquilo, Cebola ficou com o rosto vermelho de indignação.

- Bah, fala sério! Você só sabe reclamar que é ignorado, que ninguém te dá atenção, fica com todo esse mimimi, mas não faz nada pra mudar de vida, nunca fez!

(Mônica) – Cebola, não fala desse jeito com ele!

- Falo sim, Mô! Esse cara precisa cair na real e deixar esse vitimismo de lado porque ninguém respeita quem se faz de coitado!

- Eu não tô me fazendo de coitado!

- Tá sim! Você reclama que não tem sorte na vida, mas o que fez pra mudar as coisas? Por acaso você tentou ser diferente? Tentou fazer algo diferente?

- Tentei uma vez e vocês me deixaram de fora!

- E só porque te bateram a porta na cara uma vez você vai desistir de tudo? Alguma vez você tentou em outra banda? Tentou mostrar aos outros o seu talento?

Ele se defendeu.

- Eu postei vídeos no youtube e...

- E por acaso divulgou para alguém? Eu mesmo nunca fiquei sabendo desses vídeos!

Xaveco se calou. Não, ele nunca tinha falado a ninguém sobre aqueles vídeos.

- Você não falou pra ninguém, não é mesmo? Esperou que todo mundo adivinhasse? Cara, esse é o seu problema! Você fica aí parado esperando que as pessoas te notem, que alguém faça alguma coisa pra mudar a sua vida, só que não é assim que as coisas funcionam!

- O Cebola tá certo! – Mônica o apoiou. – Se quer alguma coisa na sua vida, tem que trabalhar por ela, fazer acontecer e acreditar mais em si mesmo! Você enfiou na cabeça que é um perdedor e nada te faz mudar de idéia!

(Magali) – Enquanto você se ver assim, as pessoas também verão!

(Cascão) – Escuta a galera, cara! É você que tem que mudar sua vida! Não fica contando com milagre, talismãs e nem com esses monstros podres e fedorentos!

O monstro deu outro rosnado, ameaçando atacar. Ivan se colocou na frente de todos disposto a defendê-los.

- Xaveco, só você pode dar um fim nessa criatura! Ninguém pode fazer isso por você. Se quer retomar o controle por sua vida, a hora é agora!

- Não! Se fizer isso, vai perder tudo aquilo que eu te dei! Vai ser um Zé ninguém de novo!

(Maria) - Não deixe que esse monstro determine o que você vai ou não ser! Isso depende de você, não dos outros! Xaveco, você me ajudou quando eu precisei, se importou comigo! Você é boa pessoa, tem muito valor e pode fazer muita coisa boa pelo mundo! Não jogue sua vida fora, você não merece isso!

- Maria... pessoal...

- Seu tolo! Sem mim você não é nada, não é ninguém e não vale um punhado de terra.

- Cala a boca, seu bicho podre! Eu valho muito mais do que pensa, tá legal? E quer saber? O pessoal tá certo, eu não preciso de você pra ser feliz na minha vida!

Ao ver que ele estava prestes a tirar a moeda, o monstro gritou apavorado e tentou investir contra eles.

- Vai pro inferno, coisa feia! E nunca mais aparece de novo! – ao falar aquilo, ele arrancou a moeda num puxão só, rompendo a corrente que a prendia ao seu pescoço.

Com aquilo, o monstro se contorceu, rosnou, babou e se atirou no chão.

- Agora é minha deixa! – Ivan tirou a moeda da mão do rapaz, conjurou um encantamento e aos poucos a criatura foi se tornando um vapor de aparência escura, como fumaça de pneu queimado. Esse vapor foi entrando na moeda, que depois disso mudou de forma e se transformou em uma espécie de adaga de aparência muito antiga, bem desgastada com o tempo.

O resto do pessoal, que assistia a tudo tremendo de medo, foi aproximando dele aos poucos.

(Mônica) – Acabou? Aquela coisa foi embora?

Ivan deu um longo suspiro e respondeu, aliviado.

- Sim, ele está preso no talismã agora e eu vou cuidar para que não faça mal a mais ninguém.

- Ufa! – todos exclamaram ao mesmo tempo.

Xaveco acompanhou tudo sem saber se sentia pânico ou alívio. Depois daquilo, ele certamente ia acabar voltando a sua vida de antes. Ou não? Talvez eles estivessem certos, talvez ele pudesse mudar a própria história e ser quem quisesse. Quem disse que seu destino estava traçado? Talvez ainda houvesse alguma esperança para ele.

(Mônica) – Seu Ivan, pode levar a gente embora?

(Magali) – É mesmo, minha mãe vai ficar preocupada.

Cebola pensou um pouco e falou.

- Que tal a gente chamar a rapaziada pra jogar vídeo-game lá em casa? O Xaveco ficou livre do monstro e a gente tem que comemorar!

(Cascão) – Demorô!

(Xaveco) - Caramba, vai ser legal demais!

(Cebola) – E vai mesmo! Se quiser, eu te ensino aquele truque pra passar de fase naquele jogo!

(Xaveco) – Irado!

Todos entraram no carro e Ivan os levou de volta ao bairro do limoeiro. O pior tinha passado e o alívio era geral. Seu amigo estava salvo e o monstro preso, sem o risco de ele destruir a vida de outra pessoa. Tudo estava bem novamente.


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