O Pacto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 16
Tomando consciência




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Antes que a situação fugisse do controle, um carro apareceu em disparada chiando os pneus e estacionou em frente aos três. Ivan ordenou.

- Rápido! Entra todo mundo aí!

Xaveco abriu a porta e conseguiu colocar as duas garotas dentro do carro, mas alguém tinha agarrado sua camisa puxando-o para trás.

- Xaveco! Moço, você tem que ajudar ele! – Maria gritou apavorada ao ver o amigo sendo agarrado e cercado por uma massa de gente.

A multidão começou a cercar o carro e alguém tinha dado uma paulada no capô.

- Vão embora, eu vou ficar bem! Aê, pessoal! Quem quer um pedaço de mim? – ele gritou tirando a própria camisa, levando muitas garotas ao delírio. Aquela distração foi suficiente para que Ivan arrancasse o carro a toda velocidade.

- A gente tem que voltar pra ajudar ele!

- Fica tranqüila, mocinha. Ele vai ficar bem. Ninguém ali irá machucá-lo.

- O que vai acontecer com ele?

- Vão colocá-lo para dentro de casa e vigiar a entrada. Está tudo bem, ele não corre perigo. Por enquanto.

Denise foi levada para o hospital e felizmente, seus ferimentos não eram graves. No dia seguinte, após ficar um tempo em observação, ela poderia ir para casa. Quando os pais dela chegaram, apavorados com a violência que sua filha tinha sofrido, Ivan decidiu ir embora dali e levar Maria que também estava abalada com tudo aquilo.

- Moço, o que tá acontecendo com o Xaveco? Que loucura! Quando tentava tirar a gente de lá, eu ouvi ele falando com alguém...

- Ele estava falando com a criatura. – Ivan respondeu lacônico enquanto dirigia.

- Criatura? Que criatura?

- As pessoas comuns não podem ver. É essa criatura, uma entidade que o acompanha, que está causando tudo isso.

- Sério? Que horror! A gente tem que falar com a turma!

- E acha que eu não tentei? Eles não acreditaram em mim.

- Pois vão acreditar agora. Eu vou ligar pra Mônica e pedir pra ela chamar o resto do pessoal. O Xaveco tá em perigo e a gente tem que ajudar!

Não foi difícil convencer Mônica a chamar os outros três e todos se encontraram no campinho onde devido ao pouco movimento, eles podiam conversar a vontade. Maria contou tudo o que tinha acontecido, deixando todos assombrados com aquela história.

(Mônica) – Credo! Então essa história de entidade acompanhando o Xaveco é mesmo verdade?

(Cebola) – Parece que sim. E pensando bem, parece que tudo faz sentido agora. É por isso que o Xaveco ficou tão famoso de repente.

(Ivan) – Foi o que eu disse há várias semanas atrás e ninguém acreditou.

(Magali) – Foi mal, mas essa história é tão estranha!

(Cascão) – É muito doida, isso sim! E que bicho é esse que tá atrás do Xaveco?

(Maria) – Parece que é uma mulher, garota, não sei. O Xaveco chamou ela de Melina.

Ivan tomou fôlego e voltou a falar.

- Seu nome não é Melina. Ela nem mesmo tem um nome. Na verdade, ela nem é mesmo “ela”.

(Todos) – Quê?

- A criatura é capaz de mudar a forma de acordo com sua vítima. Isso depende daquilo que mais impressiona a pessoa. No caso do seu amigo, ela tomou a forma de uma linda garota com asas de anjo porque sabia que isso iria lhe fascinar e seduzir.

(Cebola) – Então qual é a forma dessa coisa?

(Ivan) – Vai por mim, garoto. Você não ia gostar nem um pouco de ver.

(Mônica) – E o que essa criatura faz?

Ele olhou para os rostos ansiosos de cada um e decidiu contar toda a história de uma vez.

- A melhor forma de definir essa criatura é comparando-a com um vampiro. Só que ao invés de sangue, ela suga a energia vital das suas vítimas até não sobrar mais nada. Isso mata a pessoa aos poucos, tira suas forças, sua vontade de viver e ela só sossega quando a pessoa morre.

(Magali) – Que horror! Ela vai matar o Xaveco?

(Ivan) – Se não fizermos algo, vai. Isso aconteceu com várias pessoas no passado. Ela geralmente escolhe alguém frustrado com a vida e ao mesmo tempo que tenha muita energia vital. Então ela se aproxima da pessoa com a promessa de lhe dar fartura e felicidade, realizando todos os seus sonhos.

(Cascão) – Deve ser muito da hora!

(Ivan) – Mas é o início da ruína de quem aceita deixar essa criatura entrar em sua vida.

(Cebola) – Por que ela oferece tudo isso pras pessoas?

(Ivan) – Porque como um vampiro, ela só entra na vida da pessoa se for convidada. A vítima tem que aceitar de voa vontade que ela fique ao seu lado e com isso abaixar a guarda e deixar o caminho livre para que ela sugue sua energia sem encontrar resistência.

O homem fez uma pequena pausa para que os jovens tivessem tempo de digerir aquela informação e voltou a falar.

- Ao oferecer tudo o que a pessoa quer, realizando seus sonhos, ela se torna um parasita que suga toda força vital da vítima até a sua morte.

Cebola coçou a cabeça e perguntou, muito intrigado com aquela história.

- Isso tá muito estranho. Parece que ela tá fazendo a vida dele um inferno! O Xaveco não tem mais sossego, é só trabalhar e viver cercado de fãs! Na boa, ele não tá curtindo nem um pouco.

(Mônica) – É mesmo! Por que ela tá fazendo isso com ele?

(Magali) – Tá até afastando ele dos amigos!

Ivan deu um sorriso enigmático e respondeu.

- Digamos que ela gosta de brincar com a comida. É basicamente um entretenimento para ela levar as vítimas à loucura. E isso também ajuda a deixar a pessoa ainda mais vulnerável ao seu ataque.

(Mônica) – Eu ainda não entendo como você sabe tanto sobre essa coisa. Ela já te atacou?

O rosto do homem entristeceu quando sua mente foi invadida por lembranças tristes e dolorosas.

- A mim não. A minha irmã mais velha.

(Mônica) – Foi mal...

- Tudo bem. É melhor eu falar a verdade para que vocês não cometam esse mesmo erro. Essa criatura entrou na vida da minha irmã quando ela tinha quatorze anos. Ela sempre escolhe pessoas nessa faixa etária porque elas têm mais força vital.

Tudo na nossa vida então mudou. No início, minha família até gostou da mudança. Catarina, esse era o nome dela, se tornou uma aluna brilhante, a mais aplicada da escola. Tanto que até ganhou bolsas de estudo. Foi uma grande mudança porque ela era uma menina tímida, medrosa e como aluna, só tirava notas baixas. Então, de repente, a vida dela deu uma guinada de 360º. Eu fiquei feliz e nossos pais também.

(Cebola) – E o que mudou?

- Com o passar do tempo, eu reparei que ela estava ficando muito cansada, abatida, sonolenta... mas ainda assim ela continuava os estudos. Quando entrou na faculdade, tinha até conseguido um excelente emprego com um salário cinco vezes maior que o do meu pai. Uma coisa extraordinária considerando que ela era muito jovem e tinha pouca experiência.

Aos poucos, ela foi se sobrecarregando cada vez mais. As coisas iam acontecendo uma atrás da outra, vários trabalhos iam aparecendo, a faculdade lhe consumia mais e mais... Ela estava ganhando muito dinheiro, prestígio, escrevia artigos brilhantes que eram publicados até em revistas internacionais e ao mesmo tempo ela foi se tornando um fiapo humano.

(Magali) – Que triste...

- Nossos pais tentaram falar com ela, pedir para que reduzisse o ritmo, mas ela não ouvia ninguém e foi se afundando cada vez mais. Catarina passou a fumar e beber e acho até que usava outras drogas também. Foi quando um dia eu a ouvir conversar com alguém que a princípio eu não pude enxergar. Ela o chamava de Miguel e reclamava com ele por estar exausta e cansada.

Tentei confrontá-la várias vezes e por fim ela acabou falando a verdade. Um dia ela tinha encontrado um anel de onde saiu uma espécie de gênio que realizava todos os seus sonhos.

(Cebola) – Ué, eu não vi nenhum anel no dedo do Xaveco.

(Cascão) – Só aquela moeda no pescoço que ele não tira de jeito nenhum.

- Para cada pessoa, o talismã muda de forma. Ao aceitar o talismã, a pessoa estará aceitando a presença dela também. Continuando, quando eu soube da verdade, tentei fazer com que ela jogasse aquele anel fora, mas ela não quis.

Se fizesse aquilo, ela ia perder tudo o que tinha conquistado e minha irmã não queria voltar a vida medíocre de antes. Ela não tinha coragem de se desfazer do talismã e mesmo sabendo o quanto aquilo lhe fazia mal, continuou aceitando a presença daquela coisa. Eu tentei tirá-lo a força e levei um grande choque que me atirou para longe.

Maria, que ouvia tudo em silencio, perguntou.

- E o que aconteceu com ela?

- Minha irmã acabou definhando até morrer. Aquela coisa sugou suas energias até a última gota e só deixou para trás um trapo humano. Ela morreu com 20 anos, mas parecia uma mulher de 50.

(Mônica) – Nossa, que coisa mais triste!

- Triste mesmo. E depois que minha irmã morreu, a entidade desapareceu. Nossa vida tinha sido destruída. Minha mãe morreu de depressão e meu pai acabou se matando com um tiro na cabeça. Eu pesquisei em vários lugares, fontes, livros de esoterismo até aprender mais sobre essa criatura. Com o tempo, ganhei até a habilidade de vê-la. Desde então eu tenho perseguido essa coisa para acabar com o rastro de dor e sofrimento que ela está deixando.

(Cascão) – E você está conseguindo?

Ivan abaixou a cabeça.

- Algumas vezes eu consegui alertar as pessoas e elas abriram mão do talismã. Mas na maioria das vezes, ela acaba vencendo e consumindo a vítima até o final.

(Cebola) – Por que eles não enxergam o que está acontecendo?

- Imagine a si mesmo tendo todos os seus sonhos realizados, rapaz.

Cebola parou um pouco e ficou imaginando a si mesmo como um grande líder mundial, admirado por todos e finalmente conquistando o respeito da Mônica. Ele deu um leve sorriso com sua visão.

- Se você conseguisse realizar esses sonhos, de repente, seria capaz de abrir mão deles?

- Humpt! Eu não quero nada sem esforço! Senão, que valor tem? Eu tenho muitos sonhos sim, mas quero batalhar por cada um deles! O Xaveco é que tá muito preguiçoso. Quis tudo de graça e agora tá quebrando a cara!

(Mônica) – Também não precisa falar assim, né?

- Ué, e eu falei mentira?

- Cada um sabe o que passa dentro de si. – Ivan falou interrompendo a pequena discussão deles. – Não cabe a nós julgar porque não sabemos o que realmente levou a pessoa a percorrer determinado caminho.

(Mônica) – Ele tá certo. Agora a gente tem que ajudar o Xaveco.

(Ivan) – O problema é conseguir aproximar dele. Por onde ele for, sempre haverá uma multidão o protegendo de nós.

(Mônica) – Então temos que pegar ele sozinho.

(Cebola) – Sozinho, heim? Peraí, deixa só eu pensar em alguma coisa!

(Cascão) – Ih, lá vem plano! (pedala) Ai!

(Mônica) – Fica quieto e deixa ele pensar!

(Cebola) – Tranqüilo, Mô! Eu já tenho um plano. Seu Ivan, chega mais que o negócio vai ser o seguinte:


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