Supernatural escrita por Sansa Thorne


Capítulo 3
Edward Simon says goodbye.


Notas iniciais do capítulo

Edward Simon está preso e aguardando por seu julgamento. Especulando sobre o que está acontecendo atrás daqueles muros que o prendem. Mas as forças malignas estão rondando-o e chegará o momento em que a vida de Simon estará correndo perigo. As consequências de seus atos serão devastadoras tanto para as mentirosas quanto para ele. Isso é um fato.



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(...)Com força puxou os cabelos da garota para trás e com o machado golpeou seu corpo diversas vezes. O sangue espichou numa onda escarlate no rosto do assassino, mas ele continuou golpeando até que se satisfez e jogou o cadáver plataformas abaixo. O corpo de Lola caiu sobre o feno macio.

(...)Com um golpe forte, ele esmurrou a pessoa e retirou o capuz. Sobre ele estava um nerdzinho desgraçado. Edward Simon! Qual fora os motivos dele? O que ele queria fazendo aquilo?

(...) — Olhe aqui, sua puta. Não venha aqui, num velório, acusar minha amiga de matar Lola. Nós estamos tão arrasadas quanto vocês. Sabemos quem foi o assassino, e ele está na prisão nesse exato momento.

— Hahaha... Edward Simon? Eu vi vocês dois. Quem não sabia que ele era apaixonado por você e vice-versa Bonnie?

— O que isso quer dizer? Está me acusando de ser cúmplice?!

(...) — Sim. Achamos que nem é Edward, e muito menos humano.

— Acham que é um bruxo?

— Sim.

— Quem?”

A cela era apertada e isso o deixara com uma sensação estranha, como se estivesse encurralado. Mesmo que estivesse preso, a sensação não ocorrera por causa do ambiente pelo qual estava cercado, a sensação vinha de dentro do seu coração. Enquanto dormia em qualquer hora de dia — principalmente de noite, — era capaz de ouvir latidos ao longe. Mas se aproximavam cada vez mais. Como se aquele mal estivesse quebrando todas as barreiras que os impedisse de chegar até Edward. Como se estivesse o vigiando.

Edward respira fundo e com seu dedo indicador cutuca o seu ferimento no rosto. Um entre vários. Mas fora aquele que mais doeu, dado pelo namorado da falecida, Lola. Não se lembrava de nada naquela noite, só lembra-se de ver um cometa correr o céu com uma velocidade paranormal e de repente desviar de curso, vindo em sua direção como um relâmpago.

Então ele correu. Correu e correu mais ainda.

As luzes do quarteirão começaram a falhar. Uma rajada de vento violenta passou por ele quase o arrastando. Sentia-se infeliz, enjoado e outro pacote de efeitos repentinos. E algo dentro dele. Um instinto mais velho que a própria civilização, quase como o espírito de seus remanescentes, sabia que aquele efeito provinha do “cometa” negro. E então, foi quando algo maluco aconteceu. Um carro que estava estacionado na calçada simplesmente ligou e cortou o seu percurso.

Edward se chocou contra automóvel e escorregou pela lataria. Depois de sua visão se ajustar ao impacto ao ponto de distinguir silhuetas ele pode ver o cometa rastejando pelo céu, como uma cobra gigante. O enorme corpo alongado e negro com fios vermelhos, como uma nuvem negra com trovões reluzindo dentro.

O corpo de Edward enrijeceu. Não podia acreditar no que vira. O sol estava se pondo no horizonte, não havia quase ninguém atravessando a Apple Street. O cometa então mergulhou em sua direção. Vozes gritavam ao ouvido de Edward. Com dificuldade ele levantou e tentou correr, estava mancando e com o braço dolorido, mas mesmo assim tentou. Passou pela casa dos VanCamp e repentinamente um dos ciprestes italianos que enfeitavam a casa da família se contorceu ao máximo possível — como se a árvore tivesse vida própria — e jogou-se contra Edward.

Os galhos pontudos da árvore feriram as costas de Edward e a força do impacto o arremessou pelo ar até se chocar contra o concreto. Os seus óculos estavam a metros dele, sua visão estava embaçada. Seu cabelo sempre impecável e cheio de gel e creme estava despenteado e seu corpo dolorido. Foi nesse momento que o ápice da loucura aconteceu.

A enorme cobra negra feita de fumaça estava de frente a ele. Ele pode identificar um tipo de voz vinda da fumaça, como se tivesse alguém lá dentro. Sem nenhum tipo de aviso prévio, a serpente adentrou na boca de Edward. O enorme corpo volumoso do monstro aos poucos se adaptou ao tamanho do corpo de Edward. Os raios de energia vermelha percorreram o corpo de Edward e lhe deram um choque que se aproximou de uma sensação de prazer. Aos poucos, a fumaça se moldou e se acomodou na cabeça de Edward. Os olhos do garoto aos poucos tomaram um tom escuro e brilhante com minúsculos pontos vermelhos.

Como pingos de sangue sobre um pano de seda escura. Edward se levantou lentamente. Pondo-se em pé com aparente dificuldade. Um sorriso psicótico instalado em seu rosto. Um sorriso quase mecânico. Mas aquele não era Edward.

As lembranças foram como ácido derramado sobre sua cabeça, criando um capacete de angústia em volta de si. Um zumbido fez com que tapasse os ouvidos. Sua têmpora estava destacada em sua testa. Estava suado com aquele macacão laranja. A luz da lua adentrava no cômodo por entre as barras de ferro na pequena janelinha quadrada na parede atrás de si. Sua desconfortável e irregular cama estava desarrumada. A pequena privada inutilizada e fedorenta estava no canto do cômodo.

“Aqui está sua suíte, Mr. Edward Simon... Hahaha!” pirraçara o policial que o jogara ali.

Sua mãe estava contratando o melhor advogado do país para rogar pela inocência de Edward. Mesmo que isso fosse consideravelmente impossível, já que ele confessou o crime e ainda foi visto por mais de cinqüenta pessoas na festa de aniversário. Seu único desejo era ver o cadáver de Lola, que curiosamente sumiu das ruínas do celeiro.

Outro latido. Dessa vez mais perto. Perto demais...

De frente a sua cela.

Uma nuvenzinha de fumaça dançou na luz da lua. Como se... E então ele ouviu a respiração do monstro mesclada com rosnados e latidos. Edward gritou. Um grito de puro medo e aflição.

Os cárceres riram enquanto olhavam para ele.

Então, ele realmente viu o monstro. O enorme cão saiu das sombras. Seu corpo grande e volumoso ainda se misturava com as sombras. Mas seu focinho estava visível. Seus olhos eram vermelhos como fogo e ardentes. O enorme nariz negro e úmido. Os lábios negros e retorcidos. As orelhas caídas. Os dentes amarelados sobre os lábios negros com a língua roxa caída de lado. A saliva descendo pelo queixo e caindo no chão. Cicatrizes percorriam o corpo do enorme monstro. Uma era a mais visível, na testa.

O cachorrão deu um passo à frente exibindo seu peitoral e suas pernas. As patas eram excessivamente magrelas e grandes. As garras negras e afiadas, curvas. E então finalmente o animal inteiro saiu das sombras. Se Deus realmente existia, não fora ele que criara aquela criatura.

Seu corpo era cheio de cicatrizes e em algumas partes do dorso lhe faltava pêlo. A coluna era sobressalente sobre a pele e seu corpo esquelético. O enorme rabo balançava pra lá e pra cá. O cheiro desagradável de cachorro molhado irritava as narinas de Edward.

O cachorro o encarou e rosnou.

Edward enlouqueceu. Começou a se debater e se jogar contra a parede, buscando uma escapatória. Os cárceres ficaram assustados encarando aquela cena deplorável. Edward pegou o travesseiro e pôs diante do peito. Sussurrava algo.

Assustados com aquela situação os dois cárceres saíram pelo corredor para chamar por seu superior. Os outros encarcerados procuravam saber sobre a situação, mas de nada sabiam. Assim que a porta se fechou, a tranca foi ouvida pelo silêncio do corredor. Aos poucos, todos os presos foram voltando a dormir, deitando sobre suas camas.

O cão deu um rosnado estranho, semelhante a uma gargalhada.

Finalmente o cão avançou jogando sua bocarra nas grades da prisão. Com uma mordida, arrancou mais de um metro das grades da cela. Edward gritou apavorado e pegou o crucifixo que guardara embaixo de seu travesseiro. O segurou fortemente até sentir o ferro perfura-lhe a carne e o sangue escorrer. Gritava apavoradamente.

— Ei, cale-se seu viado.

— Estamos tentando dormir, filho da puta.

Xingaram-no.

Ele continuou gritando e choramingando.

A bocarra do cachorrão continuava a abrir um enorme buraco nas grades da cela. Edward então amarra o crucifixo na mão e soca a cabeça do monstro. Onde a corrente de ferro tocou, a pele do animal fumegou. Edward arregalou os olhos e finalmente captou. Brandindo o crucifixo ele arremessou-o contra o cão. A corrente de ferro se chocou contra a cabeça do animal e no local onde houve o contato, a carne do monstro ficou exposta e o sangue desceu por sua testa. Aquilo só irritou ainda mais o cão. Que rosnou alto e balançou a cabeça de um lado pro outro espalhando sangue pelo seu rosto e pelo chão.

O animal se jogou contra a cela. O ferro se retorceu e formou um U invertido. As pontas do ferro se projetaram contra o peito de Edward. O animal enfiou sua cabeça por entre o buraco e bateu as mandíbulas fortes produzindo um ruído alto. Os outros prisioneiros observavam a cena e gritavam apavorados. Mas somente viam o ferro se contorcendo.

— Que tipo de porra é essa? — gritara um deles.

Os cárceres e os policiais começaram a forçar a porta. Mas uma força invisível segurava. A porta de alumínio ficou estilhaçada e aos pedaços, mas a porta não cedeu. As dobradiças se soltaram, mas a porta permaneceu no lugar. Como se uma porta sem substância física estivesse impedindo a passagem.

O cachorro empurrou seu peitoral contra o ferro e conseguiu abocanhar Edward. O cachorro mordeu o ombro de Edward cravando seus dentes longos e afiados no ombro do mesmo rasgando a carne com um movimento da cabeça. O osso do ombro de Edward ficou exposto. Edward pôs a mão no ombro. O sangue espichava a manchava as paredes. O cão recuou e se preparou para se jogar novamente contra o ferro. Edward viu-se com tempo de pegar o crucifixo que estava abaixo da envoltura de ferro. Enfiando sua mão pelas grades e rasgando seu antebraço e seu cotovelo ele pegou o crucifixo e o pendurou na grade em frente ao cão que começou a ganir.

Enquanto isso, os policiais atiravam na porta e os prisioneiros gritavam em desespero.

— Eu falei... Os maias estavam certos! — gritava outro preso.

Edward molhou seu dedo em seu próprio sangue e se ajoelhou em sua cama aproveitando a distração do cachorro. Molhando seu dedo, ele escreveu na parede de sua cela com seu próprio sangue:


Fiz um jogo azarento m...

Era uma frase sem sentido. Incompleta. Mas mesmo quando completa não teria sentido. Era somente aquilo. Os últimos segundos de sua vida que Edward tivera, e ele usava para escrever uma mensagem idiota e boba.

A dor no ombro do garoto era avassaladora. O seu sangue quente misturado com adrenalina manchava toda a sela. A perda de sangue deixou Edward tonto. As marcas de dente em seu ombro eram da largura de uma moeda. Ele colocava sua mão sobre seu ombro tentando interromper o fluxo de sangue.

O cão se jogou contra a grade. O crucifixo se chocou contra o corpo do cão e criou outra queimadura. Quando o objeto caiu no chão, o cão o pegou e destruiu na sua bocarra. O céu da boca e os lábios criaram uma casca de ferida e fumaça saiu de sua boca. O cão encarou Edward com seus olhos vermelhos antes do golpe final. Avançou ferozmente e rasgou a barriga de Edward.

As entranhas de Edward esparramaram-se pelo chão da cela. Suas tripas se estenderam além de seu corpo. O seu peito foi totalmente exposto pelo rasgão. Seu coração ainda continuava palpitando. O cão enfiou sua cabeça dentro do corpo de Edward e arrancou suas vísceras.

Os olhos de Edward perderam a cor e o brilho.

E num golpe final, o cão arrancou a alma de Edward prendendo-a em sua boca. Era somente uma linha de luz tremeluzente e fantasmagórica. O cachorro uivou e se embrenhou nas sombras abrindo um portal até o seu lar. O Inferno.


— Δ —

Bonnie acordou com o cabelo desgrenhado e desarrumado. Ela levantou-se cambaleante e foi até o banheiro. Ligou a pia. De repente um relance realista dos répteis se movendo e se embrenhando por aquele banheiro a assustou. Ela lavou seu rosto duas vezes e escovou os dentes. Tentou dar um jeito em seu cabelo, mais deixou daquele jeito mesmo. Bocejou e foi até sua cama para tentar dormir mais um pouco, mas desistiu quando ouviu seu pai bater a porta.

— Está aí filha?

— Sim, pai. O que quer?

— Venha tomar café. Tenho algo sério pra lhe contar.

Bonnie arregala os olhos e abre a porta. Seu pai está descendo as escadas. Louis Thorne é um homem belo e inteligente. Veste-se sempre socialmente e quase nunca conversa com sua filha. Negro. Cabelo raspado. Musculoso e de sorriso atraente e de dentes branquinhos e amofinados.

Ele se sentou numa ponta da mesa e Bonnie em outra. Por alguns segundos intermináveis, aquele silêncio desconfortável se seguiu. Assim que Bonnie abriu a boca para começar a conversa, seu pai se pronunciou.

— Olha filha, eu sei que a morte de Megan lhe abalou muito. E que você conseguiu superar isso através de sua amizade com Lola. Agora lhe vejo chorando todas as noites em seu quarto, olhando aquelas suas fotos... E sim. Agora sei que você e suas amigas estão cada vez mais próximas e...

— Pai, por favor. Vá direito ao assunto. — pediu ela limpando algumas lágrimas invasoras.

— Ok, filha. É que... Eu não sei como dizer isso, então irei dizer na lata.

De repente, seu pai virou a cabeça bruscamente para a tevê e aumentou o volume. Uma jornalista do Breaking News estava de frente ao presídio de Landevil, onde vários furgões de outros noticiários estavam estacionados, entre eles: CNN, ABC, NBC, CBC, USA Today entre outros.

— Bom dia, Travis. Estamos aqui em Landevil, frente ao presídio de segurança máxima. Ontem à noite, um trágico acidente aconteceu. De acordo com o depoimento dos policiais que guardavam as celas enquanto faziam seu turno noturno, Edward Simon estava reclamando ouvir latidos há dias. E então, ele enlouqueceu. Alguns colegas presidiários do réu Edward Simon afirmam que ele segurava um objeto em mãos que acreditamos ser o crucifixo encontrado na cena do crime. Não foram divulgados mais detalhes sobre o incidente, mas a notícia da morte do garoto de apenas dezoito anos foi confirmada. Lembrando que o réu em questão foi acusado de matar Lohana McFinn recentemente. O tal “cachorro” que Edward Simon tanto mencionara, não fora encontrado nem no presídio nem nas redondezas da cidade. Inclusive nas gravações que estão sendo revistas. De acordo com o xerife de Landevil, o respeitável Mr. Owen Smith afirma que as câmeras de segurança sofreram uma interferência durante o incidente. Aqui é Jules McCollough diretamente do presídio de Landevil, aguardamos por mais notícias. Agora é com você meu querido...

O aparelho de tevê desligou. Não por interferência de Louis, mas por Bonnie. Ela não queria fazer aquilo, mas simplesmente aconteceu. Estava em prantos, descontrolada. Não queria chorar. Não podia. Aquele garoto havia matado sua melhor amiga, Lola. Mas... Ele era tão fofo. Passaram momentos tão bons juntos. Não podia acreditar que aquele doce garoto com quem conversava tinha matado sua melhor amiga. E agora qualquer possibilidade de explicação que ela poderia ter no julgamento de Edward se foi. Ela piscou tentando dispersar as lágrimas que deixavam sua visão embaçada.

— Filha...

— Eu vou subir pro meu quarto, ok?

— Sim. Claro.

Assim que se levantou da cadeira, ela olhou para o pai.

— Será publicado no Sight Landevil? — quis saber ela.

Louis afirmou.

— Sim, filha. Eu fui ao local mais cedo e tive acesso às fotos do corpo. Nina está arrasada, seu filho era um bom garoto. Quer que todos saibam a forma brutal de como seu filho morreu. Acredita que eu poderia “limpar” essa imagem do seu filho. Os promotores públicos estão acusando-o de suicídio e...

— Como ele estava? Deixe-me ver as fotos!

— Filha, não.

— Mas, por que?

— Por que prezo por uma boa noite de sono. E juro por Deus, que eu não terei. E não quero que você sofra o mesmo que eu.

— É tão ruim assim?

— Você nem imagina.

Assim que Bonnie subiu, encostou sua cabeça no assoalho e esperou pacientemente até ouvir os passos de seu pai até o seu quarto e o som do chuveiro ligando. Silenciosamente ela abriu a porta e foi até o quarto de seu pai. Forçou a fechadura e não obteve sucesso. Respirou fundo e tentou novamente.

— Abra. — ordenou.

A porta continuou fechada. Relaxou e respirou fundo novamente. A última vez que conseguira fazer um feitiço, por mais fraco que fosse, ela estava num momento de puro pânico e cercada de cobras. Desde que parou de praticar seu poder se tornou inativo, mas de vez em quando faíscas podiam ser utilizadas em momentos de grande precisão.

Bonnie concentra toda sua mente e força de vontade ali.

— Abra. — repetiu alto e claro.

Sentiu um aperto em seu coração e a porta se abriu.

Ela sorriu e entrou. O quarto estava totalmente bagunçado com as roupas espalhadas pelo chão. Perfume, hidratante, desodorante e outros produtos estavam em cima da cama além do celular. O cheiro de tabaco era forte no cômodo e isso incomodou Bonnie. Ela prendeu a respiração e abriu a janela. Um ar fresco entrou no quarto.

Ela pôs-se a trabalhar. Verificou no guarda-roupa e embaixo das roupas, na maleta e em outros lugares. Por fim, decidiu procurar no senil e nada novo esconderijo. Ajoelhou-se e bateu levemente no assoalho. O som foi firme. Bateu no piso de madeira até que finalmente o som mudou. Era seco e eco. Ela tirou a madeira solta do assoalho e lá encontrou os diários de seu pai, fotos de sua mãe e por fim, á pasta de “Arquivos.”

Era abriu o classificador e procurou ansiosamente pelo pacote de notícias de Edward. Todas as notícias estavam em ordem alfabética e amarradas com um elástico amarelo. Ao chegar à letra E, Bonnie finalmente encontrou. Tirou todas as informações do elástico. De repente num momento de silêncio, percebeu que o chuveiro não estava mais ligado. Apressou-se e tirou fotos de todo o conteúdo e colocou tudo de volta. Correu até a janela e a fechou sem se preocupar com o baque do impacto. Apressadamente saiu do quarto e sussurrou.

— Feche.

Ouviu somente a chave girando e trancando a porta. Então disparou a correr até seu quarto. Ao chegar, trancou a porta e sem perder tempo pegou seu cabo USB e conectou ao seu celular e ao tablet. Desbloqueou o aparelho e confirmou a conexão e transferiu as fotos. Esperou ansiosamente vendo os números mudar de 10 % para 50 % e finalmente 100%. Comemorou com um grito de alegria.

Desconectou o celular e discou o número de Emily.

— Alô, é Bonnie. Chame Helena. Tenho más notícias.


— Δ —

A mansão dos VanCamp era uma das últimas da Apple Street e a única com uma digna vista para o mar. A varanda de Cece VanCamp era espaçosa e com sua própria adega, com sofás e cadeiras de praia espalhadas. Era ali que elas estavam, sentadas nas cadeiras de praia.

Bonnie estava entre Helena e Emily com o tablet em suas mãos.

— Estão prontas?

— Sim. Espere... Não! — gritou Helena.

— Aff, coloca logo essa merda.

— Você já viu, Bonn? — pergunta Helena. — É muito ruim?

— Não. Queria ver com vocês!

— Ok, vamos.

Então categoricamente com direito até canção de fundo pela mesma, Bonnie clicou. O slide iniciou. Não era uma foto e sim uma gravação de uma entrevista com a Mra. Nina Simon falando.

“Meu filho era uma boa pessoa. Eu queiro deixar isso bem claro. Não acredito que ele tenha matado Lohana. Mesmo que várias testemunhas oculares tenham afirmado o acontecido. Nunca percebi nenhum sinal de problemas mentais em meu filho, seja qualquer tipo de psicose aparente.”

“Mas a senhora costumava passar muito tempo com ele?” era Louis.

“Sim. Na verdade, o tanto que o tempo me permitia.”

“Qual sua relação com Ashley e Jonas McFinn?”

“Há algum tempo. Amigas. Agora, ela age como se não me conhecesse.”

“A senhora realmente está muito chocada com o acontecido, eu me pergunto: Você realmente acha que foi suicídio?”

“Não irei me pronunciar sobre isso. A autopsia está sendo feita. Mas tenho certeza me mandaram matar meu filho. Assim como [sic] Owen afirmou, as câmeras de todo o prédio tiveram uma interferência no momento do incidente.”

“Tem alguma mensagem para o povo de Landevil?”

“Sim. Eu tenho. Eu peço que todas as mãos dessa nossa pequena cidade portuária se coloque em meu lugar. Meu filho está sofrendo. Sei que vocês podem pensar nele como um assassino, mas quem o conhecia sabia que ele não era assim. Ele era um bom rapaz... (Choro) Ele... (Choramingo) Meu Edward não merece estar nesse inferno... [sic]...”

— Ei, tem algo aí! — afirmou Helena.

— Como assim? — pergunta Bonnie parando a gravação e enxugando das lágrimas.

— Uma voz. Nessa última frase. “(...) Meu Edward não merece estar nesse inferno...” tem algo aí.

— Como você sabe? — quis saber Emily.

— Eu simplesmente sei, cala a boca e me dá essa porra!

Helena pega o aparelho e baixa um programa da internet usando o WiFi.

A garota se endireita na cadeira de praia e abre o programa. Ela então seleciona a gravação e começa o processo de redução de ruídos clicando em “limiar”, e aumentando o grave. Por fim ela reduz os ruídos de alta e baixa freqüência obtendo um ótimo resultado. Ela salva e clica para reproduzir.

Infernus est locus puer tuus nunc, ferreo canis exprimamus.Elas ouvem.

A frase fora falada por uma voz grossa e a grave. Em tom risonho e provocativo. Autoritário.

Helena ficou paralisada. Bonnie sabia que ela tinha entendido a frase.

— O que significa? — quis saber.

— Inferno é o lugar do teu filho agora, vadia.

As três garotas se entreolham com os olhos arregalados.

— Como é possível que K estivesse aí na entrevista? Eles não teriam visto? — indaga Bonnie.

— Ele é um bruxo. Dãa... — contrapõe Emily.

— Isso quer dizer que K está mais próximo de meu pai do que eu possa imaginar.

— Temos que deter essa pessoa. — afirma Helena.

— Nem sabemos quem é.

— E nosso único suspeito acaba de morrer. — observa Emily.

Silêncio.

— Que tal Jenna Cook? Ela sempre nos odiou.

— Não... Acho que não. Ela está instável e se quisesse fazer algo, ela não faria as escondidas. — comenta Helena.

— Além disso, nunca mataria Lola e sabemos o porquê disso.

Silêncio.

— Que tal Ashley?

— Qual seria o motivo dela?

— Sei lá. Ela nunca gostou que andássemos com sua filha.

— Ela nunca mataria Lohana!

— Ok, verdade.

Silêncio novamente.

— Nós nem pensamos se Edward era realmente K.

— Ele estava preso, como colocaria uma cobra na minha casa?

— Quem disse que não são Ks.

— Ks? Isso foi ridículo.

Elas riram.

Risos secos. Curtos.

— Temos que ver as fotos ainda!

— É mesmo.

Helena devolve o tablet para Bonnie.

— Quem sabe não encontremos detalhes nas fotos? Evidências? — fala Bonnie esperançosa.

— Algo que nem os policiais e nem os jornais encontraram? Meio que impossível. — esclarece Helena.

— Sabe, querida... Ninguém sabe de uma irritante sabe tudo.

— Eu amo Helena nos momentos dos meus exames de matemática.

Elas riem. Helena esboça um sorriso, mas logo trata de direcioná-las para o que estava sendo tratado.

— Gente, eu acho legal nos distrairmos um pouco. Mas o que eu mais quero é ver logo essas fotos e pegar K.

— Sei lá, não somos assassinas.

— Acho que deveríamos ir à polícia, Emily está certa. Não somos assassinas. Mesmo que soubermos quem é, o que poderíamos fazer?

— Ele sabe todos os nossos segredos. — ressalta Bonnie nervosa.

— E?

— Quer mesmo que saibam que foi responsável pela morte de Megan?

— Não fomos nós. Ela se afogou!

— Nós não a ajudamos. Venho pensado sobre isso. Temos quase 100% de culpa. Ou mais, se é que isso é possível. Poderíamos ser menos individualistas e termos ajudado ela. — lembra Emily.

— Olha, vamos logo ver isso.

Então, elas clicam e acionam slide.

A primeira foto ficou para sempre na cabeça delas.

O corpo de Edward estava inteiramente aberto. Parte dos seus órgãos foi arrancada do seu corpo. Seu intestino delgado estava espalhado pelo chão e esticado. Seu coração e seus pulmões tinham marcam de mordidas e de arranhões. Algum órgão em formado de pêra estava ao lado do corpo. O rosto de Edward estava desfigurado como se seu rosto tivesse sido mastigado diversas vezes. Os globos oculares permaneciam intactos, já o rosto foi arrancado parcialmente deixando uma parte do crânio visível.

As garotas choraram amargamente olhando aquela imagem. Por alguns segundos, Emily pensou se aquilo era real e olhou a foto novamente. Isso só serviu para abastecer suas lágrimas. Bonnie finalmente tomou coragem depois de minutos que pareceram horas e perguntou:

— O que é isso? — e apontou para o órgão em formato de pêra.

— A vesicular biliar. — informa Helena.

Emily toma coragem e se pronuncia.

— Quem faria isso?

— Um monstro. Disso eu tenho certeza! — afirma Bonnie, a voz linfática.

Elas ficaram ali. Incrédulas.

Bonnie reuniu coragem e passou para a próxima foto. Não era Edward. Era a parede de sua cela. Havia algo escrito com sangue. Provavelmente o do garoto. Era sinistra e quase ilegível.

— O que isso quer dizer?

— Olhem: “Eu fiz um jogo azarento m...” Isso significa... Porra de nada. — observou Helena.

— Mas... Pra quem é essa mensagem? — quis saber Emily. — Isso só reforça minha teoria que são duas ou mais pessoas. Como eu disse, Ks.

— Vamos analisar... Quem teria motivos?

— Não Bonnie, acho melhor nos concentrarmos em decifrar essa mensagem. Nós já pensamos demais sobre “quem é K.”

— Mas Helena, se descobrirmos quem é K, tudo isso acaba.

— Sabe, estou inclinada em concordar com Emily. Tem mais alguém nisso!

— Isso é ridículo.

— Não, não é. Ele sempre está em todo lugar.

— Acho que temos que desambiguar a palavra bruxo agora, é? Poupe-me. Existem mais de cinco tipos de feitiço e encantamentos que proporcionam esse feitio para um bruxo. Voltar no tempo. Clones... E não vamos esquecer... Câmeras.

— Esperem, repita.

— Eu já esqueci o que eu falei.

Helena tinha tido uma idéia, isso era claro.

Desambiguar. — repete Helena, pensativa. — Pode significar exemplificar, dividir e etc. Olhem essa frase...

Pede Helena apontando para o tablet.

— Agora façam isso, peguem as iniciais e formem uma palavra: F. Esse era o código de Lola, lembra? Isso só pode ser para o Team Delta, ou seja... Para nós.

— U. — pronuncia Helena.

— J. — fala Emily.

— A.

— M. — falam de vez.

Silêncio.

— Fujam? Sim, é isso! É um aviso — deduz Helena inteligentemente.

— Por que fugiríamos?

— Não fugimos de uma batalha.

— E que isso sirva de aviso para K. Não somos Edward Simon. Iremos lutar até o fim nessa batalha.


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Notas finais do capítulo

Sim. Me apedrejem. Eu demorei. Eu mereço u-u
Mas que tal parar de drama? Todos os escritores sabem o que é bloqueio mental e principalmente a pior vilã ever... Escola. Que fim né gente? Mas aqui vai um capítulo novinho em folha! Espero que tenham gostado e conseguido imaginar tudo com detalhes. O nome do próximo capítulo é:
"Well, well, well. The VanCamp are a happy family! Or not. "
E observação, eu planejo postar amanhã para compensar meu atraso *-* Beijooooooooooos, leitores lindos!