Supernatural escrita por Sansa Thorne


Capítulo 2
Cry is useless.


Notas iniciais do capítulo

No enterro de Lola, duas garotas rivais e malvadas se enfrentam e isso chama a atenção de mídia. Enquanto isso, K começa suas brincadeiras com as garotas. E ele escolhe sua primeira vítima. Quem está afim de gritar?



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“— Parabéns! — gritaram todos os presentes de uma vez só.

Lola deu um salto para trás e gritou. Todos riram de sua cara de assustada e correm até ela. As luzes se ascendem. Bonnie foi a primeira a abraçá-la.

(...)Com força puxou os cabelos da garota para trás e com o machado golpeou seu corpo diversas vezes. O sangue espichou numa onda escarlate no rosto do assassino, mas ele continuou golpeando até que se satisfez e jogou o cadáver plataformas abaixo. O corpo de Lola caiu sobre o feno macio.

(...)Com um golpe forte, ele esmurrou a pessoa e retirou o capuz. Sobre ele estava um nerdzinho desgraçado. Edward Simon! Qual fora os motivos dele? O que ele queria fazendo aquilo?

(...) Elas se encararam por alguns segundos. Só podia significar algo. Eles sabiam do segredo relacionado ao caso de Lola. No dia do acidente... Mas quem? Ninguém estava observando-os. Ou estaria? As três se entreolharam. Seus olhos vermelhos e inchados. Os rostos máscaras indecifráveis. E que o sangue seja derramado!”


Era como se a cidade estivesse pintada de preto. Quando Megan morreu, não surtiu um efeito tão forte. Só os Khan e as garotas vestiam negro. Mas com a morte de Lola, a noite caiu sobre a cidade... Os rotos felizes dos moradores daquela cidade foram supridos por máscaras de tristeza e incompreensão. Lola já havia sido desde 2005 até o ano atual Miss Landevil várias vezes. Sem nenhuma derrota. Suas fotografias como Miss Landevil no desfile de 4º de Julho — também conhecido como o dia da independência dos Estados Unidos — enfeitavam as paredes da prefeitura.

Era um dia de domingo. Não se via ninguém transitando nas avenidas. O céu estava escuro. O inverno estava se manifestando sobre a cidade. O clima frio havia tomado conta das cidades contíguas como se fosse um presságio da morte de Lola.

O enterro estava marcado para 9hrs a.m. Faltavam somente trinta minutos para o enterro da garota de Landevil. Emily se encontrava de frente ao espelho do banheiro. Sua imagem ali refletida era espantosa e retratava seu estado de espírito. Sua alma e seu corpo derramavam lágrimas pesadas ensejo da morte de Lola.

Como algo tão minúsculo pode ter um peso tão grande? Pensou Emily enquanto sua lágrima refletia á luz do local, ela tentou segurá-la. Uma VanCamp nunca chora. Uma VanCamp nunca chora. Repetia para si mesma mentalmente enquanto a lágrima escorria por sua bochecha. Aquele pequeno globo de líquido parecia ter um efeito corrosivo sobre sua pele. Seu cachorro Ed arranhava a porta furiosamente enquanto gania. O cão tentava enfiar suas unhas pequenas por entre as frestas da porta de ébano. Emily apoiou-se sobre a bancada de mármore da pia do banheiro e se encarou no espelho.

Seus olhos violetas continuavam mareados. Tomando o controle da situação ela tirou de um estojo um pouco de pó passando no rosto. Para ganhar um tom corado passou um pouco de blush rosa enfeitando seu rosto em forma de coração como o de uma bonequinha de porcelana. Amarrou seu cabelo num rabo de cavalo e passou um batom escuro, uma cor semelhante ao vermelho. Antes que outra lágrima escorresse por seu rosto ela pegou um pouco de papel higiênico e a secou.

Sua roupa se resumia em um vestido Fendi soltinho, com pregas na barra e recorte na cintura, deixando um pouco mais soltinho na parte da saia. Detalhes de ilhós dourado nas costas, acompanhando uma fita no mesmo tecido do vestido para amarração. A cor do vestido era negro com detalhes dourados. Estava somente com sua pulseira de cor vermelha com o cristal pendente. Cada uma delas iria depositar algo no túmulo de Lola, assim como no de Megan. E as três escolheram, que para enterrar mais uma amiga, nada melhor seria do que o símbolo de sua amizade, uma pulseira e uma foto.

Na foto, todos estavam na cama de Bonnie comendo pudim. Lola e Helena se atracavam para pegar o último pedaço de pudim que estava no pote de porcelana. Bonnie ria e Emily estava comendo o seu pudim desesperadamente. Ao segurar a foto por alguns segundos riu de si mesma. Estava com um óculos sem lente negro com detalhes de cristal na lateral. Lembrava-se de que aquele fora o presente de Lola no último natal.

Seria difícil. Essa é a verdade. Esquecer de Lola. Assim como foi “esquecer” de Megan. Uma pessoa amada nunca morre. Ela está em cada presente, em cada gesto, em cada foto, em cada música, em cada noite, em cada dia, em cada tarde. Nas melhores lembranças de sua vida, Megan e Lola estariam sempre presentes. Sorridentes.

Por alguns segundos, Emily fechou seus olhos e respirou fundo. Mas aquela era a realidade. Precisava encarar. Ela era uma VanCamp. E como sua mãe Cece disse, os VanCamp são fortes.


— Δ —

As três garotas restantes do Team Delta estavam ali no enterro. Há tempos que aquele grupo não era chamado daquele jeito. Quando Megan ainda estava viva, as garotas fundaram o Team Delta, formado por quatro garotas com um único objetivo: se vingar de Lohana McFinn. E onde elas foram parar? Em frente ao túmulo da garota que odiavam tanto, chorando amargamente.

Por que odiavam Lola? Bom, essa é outra história. Esse é o seu segredo. Por que revelar o segredo delas se é isso que as mantém vivas? Exatamente o que elas pensavam.

No Cemetery Landevil, uma grande agrupação de pessoas se reunia frente a nova lápide, onde estava escrito:


“Aqui jaz Lohana McFinn,

Ótima pessoa, filha e amiga

Que descanse em paz.”

1995 – 2012

Os galhos do enorme salgueiro velho balançavam sobre o poder do vento. O silvo da ventania trespassava pelos galhos e pelas lápides cinzentas. Aquele som horripilante parecia mais o cântico de almas acabrunhadas.

— Onde está James? — quis saber Bonnie sussurrando.

— Não sei. — responde Helena.

O padre jazia frente aos familiares e amigos lendo algumas passagens da bíblia. De vez em quanto, algumas pessoas suspiravam ou então choramingavam. Mas aqueles eram moradores de Landevil. Todos se mantinham elegantes. Ashley tinha um lenço bordado enxugando elegantemente as lágrimas. Seu marido, o Mr. Jonas McFinn abraçava fortemente a mulher.

A reitora da Blanchard, Mrs. Minerva Gilbert se mantinha próxima ao padre segurando um crucifixo. Era uma mulher baixa, rechonchuda, com roupas bregas e bijuterias. Tinha um bom coração e enriquecera cedo, mas ainda mantinha os costumes que tinha antes de vir até Landevil e ganhar na loteria.

Sem que ninguém percebesse, uma figura encapuzada assistia todo o velório de longe. O sujeito ria de vez em quando, sua voz era rouca e grossa. Ajeitou suas luvas de couro e entrou em sua picape Chevrolet 1938. Um carro qualquer que ele havia roubado na estrada. K deu a ignição e marcha ré, mas antes de disparar pela avenida, deu uma olhadela para a garota Thorne. Um sorriso surgiu em seu rosto. Ela era a próxima.

— Concluí-se então, meus queridos presentes, Lohana viveu intensamente. A garota McFinn viveu uma vida de amores, amizades, decepções e vitórias. Cercada daqueles que ama. De pessoas que se sacrificariam para protegê-la. Encerrando meu relato, só quero que repitam comigo: “Descanse em paz, Lohana, que seja um anjo na vida e na morte.”

A voz dos presentes ecoou pelo cemitério.

Assim que o padre finalizou o seu discurso a multidão se dispersou. Emily foi a primeira a ir até a lápide. Segurou sua rosa por alguns segundos e a jogou no túmulo. Bonnie se juntou a ela e lançou na terra outra rosa. Helena se aproximou de Emily e joga a terceira e última rosa.

De repente, Jenna Cook a interrompe.

— Você! — gritou, chamando a atenção de todos no velório. — Foi sua culpa! Se não fosse por você, Lola ainda estaria entre nós.

Emily franzi o cenho e olhou em volta.

Todos se voltavam em sua direção.

— Mas... Eu?

— Sim, você. Você e suas vadias a tiraram de nós. A tornaram uma... Uma... Inválida. Era isso que queriam? Queriam nos separar? Parabéns, conseguiram! Tiraram dela além de seu círculo de amigas, tiraram dela sua vida!

— Isso é ridículo. Como pode me acusar por matá-la se eu nem...

— Cale essa boca! Agora! Cala a boca sua vadia miserável!

Emily arregalou os olhos. Pode sentir uma onda de poder invadindo seu corpo. A sua energia se concentrou na ponta de seus dedos e sua energia começou a formigar. Os olhos de Emily arderam e seu corpo enrijeceu. Percebendo a alteração na amiga, Bonnie pegou em sua mão. Helena fez o mesmo.

— Olhe aqui, sua puta. Não venha aqui, num velório, acusar minha amiga de matar Lola. Nós estamos tão arrasadas quanto vocês. Sabemos quem foi o assassino, e ele está na prisão nesse exato momento.

— Hahaha... Edward Simon? Eu vi vocês dois, Bonnie. Quem não sabia que ele era apaixonado por você e vice-versa?

— O que isso quer dizer? Está me acusando de ser cúmplice?!

— Nunca disse isso. — alegou Jenna sorrindo.

As outras líderes de torcida se reuniram detrás de Jenna. Suas expressões ferozes e acusadoras. Os olhos mareados.

— Eu realmente só espero que você e essas suas seguidoras estúpidas parem no quinto dos infernos! — gritou Emily soltando a mão de Bonnie e Helena.

A garota se aproximou de Jenna e cuspiu em seu rosto. Por alguns segundos, Bonnie e Helena se entreolharam disfarçadamente. Emily ajeitou seu vestido divinamente e jogou seu cabelo frente ao rosto. Aproximou-se de Jenna e sussurrou ao seu ouvido.

— Eu sei o que você é. Não está na hora de sair do armário? Lola não a amava. Em todo o momento que Lola a abraçava será um lembrete para ti do quanto ela te odiava, do quanto tinha repúdio de pessoas como você. Enquanto ela sorria e beijava sua bochecha estava te atiçando. Queria somente te iludir para o último ato, ela iria dilacerar seu coração. Nós iríamos fazer esse coração cheio de rancor a que pertence a ti sangrar até a última gota. Que isso sirva de lembrete, podemos acabar com você. Ok? Então seja boazinha e saia daqui rastejando como uma cobra faz.

Emily se afastou de Jenna com um sorriso cínico estampado no rosto.

Os convidados estavam boquiabertos e curiosos. O som de um flash ecoou por todo o cemitério silencioso. Os repórteres que estavam contidos pelas grades do cemitério estavam paralisados enquanto assistiam o prélio entre as duas garotas. Jenna chorou amargamente e correu entre as lápides com as outras líderes de torcida atrás.

— Que humilhante... — sussurrou Tessa ao lado de Helena.

Helena nem tinha percebido sua presença ali devido a sua atenção concentrada entre as duas garotas. Tessa sorriu.

— Adoro discórdia. — comentou ela novamente.

Helena ficou calada. Emily se virou para suas amigas e elas perceberam que ela estava prestes a chorar. Foram até ela e a abraçaram escondendo seu rosto. Nate abria caminho por entre a multidão. Nate chega até Emily e a abraça fortemente escondendo o rosto dela em seu peitoral. Ele vestia um traje social como sempre. Delicadamente ele tirou seu terno e colocou sobre Emily. O seu carro estava estacionado a somente alguns metros. Ele liga para seu motorista e pede para que ele parasse frente ao portão de ferro no fundo do Landevil Cemetery.

Ashley observava Emily com os olhos semicerrados. Bonnie e Helena foram até o portão distrair os repórteres e direcionar a atenção para os pais da vítima para que Emily pudesse escapar em paz.

— Mrs. Thorne, é verdade que ameaçou um bombeiro? — quis saber um dos repórteres.

Essa pergunta em especial lhe chamou atenção.

— Sim, sim. É verdade. E se não tirar esse microfone de cima de mim juro que vou enfiá-lo bem no seu...

— Bonnie! — gritou Helena chamando a atenção da amiga.

Os pais de Emily — Cece e Ronald — estavam junto com seu filho mais velho, Jeremy. Os três procuravam por Emily entre a multidão.

Mas Nate corria com a mesma por entre as lápides até o portão do fundo. A distração das garotas aparentemente falhou. Alguns repórteres já dobravam o beco que dava para o portão ao sul dando a volta no cemitério. Nate deu um chute nos portões enferrujados que se abriram com um forte ranger. O seu carro Rolls Royce branco estava estacionado a somente alguns metros no estreito beco. Nate guiou Emily até o carro e entrou fechando a porta com força.

— Acelera! Corre, corre! — gritava para o motorista.

O motorista, Mr. William Reynolds deu a partida fazendo o pneu do carro cantar no asfalto. Os repórteres pararam no meio do caminho com a respiração entre cortada enquanto tirava várias fotos.

— Já faço até idéia da manchete de amanhã... — reclamou Emily tirando o terno de seus ombros e ajeitando seu cabelo.

— E daí? O que importa. Eu quero saber como você está... Está bem?

Emily o encarou.

— Ok, esse realmente foi uma pergunta muito idiota.

— Ainda bem que percebeu.

Ele riu.

— Sabe... Já se completaram dois dias. E ainda parece tão irreal. — desabafa ela.

— Eu sei. Eu também sinto a mesma sensação sabe. Ele era minha amiga.

Uma lágrima desceu pela bochecha de Nate. Emily não suportou vê-lo chorar. Aproximou-se dele e beijou-lhe a bochecha sentindo o gosto salgado da lágrima dele.

— Seus olhos violetas e o tempo é a única coisa que pode curar minha ferida agora.

— Que fofo. Acho que nem o tempo é capaz de tal feito, Nate.

— Você já perdeu a Megan... E agora a Lola. Você tem certeza que o tempo não cura?

— Absoluta. O tempo é só um lembrete de que nesse momento, você poderia estar com ela. É só um lembrete do quanto à vida é cruel e curta.

Enquanto isso, Bonnie está no seu carro dirigindo em direção a sua casa. O motor do seu Jaguar XL era o único lembrete de que aquilo era real. Sua casa era na Apple Street, entre a casa de Lola e de Megan. Era o pior lembrete que alguém podia ter. Enquanto estacionava pôde ver Ashley abrindo a porta de sua casa com seu marido atrás de si. Ashley parecia ser outra mulher. Endurecida, rígida... Outra palavra lhe veio à cabeça: vingativa. Seria isso um dos resquícios dos seus poderes? Ela podia sentir a gama de sentimentos ao seu redor desde que começara a praticar, mas aos poucas essa capacidade foi desaparecendo.

Assim que estacionou ela vai até a porta. Quando chega a varanda fica paralisada. A porta de sua casa estava entreaberta. Uma ventania forte passou por ela e abriu a porta. Dentro da casa, os móveis estavam revirados e desorganizados. O sofá da mesa de estar estava bloqueando a passagem para a escadaria. O lustre estava no chão, aos pedaços. Com dificuldade, ela passa por cima do sofá e chega até a escada. Um pouco de vinho tinto escorre pelos degraus da escada. Ela vê a garrafa no alto da escada. Ao chegar até o último degrau pega a garrafa de vinho da safra 1972 — a favorita de seu pai.

De perto ela analisou o betilho da garrafa e não percebeu marcas de lábios.

Quando se lembrou de seu quarto correu até ele e encontra a porta escancarada. Quando adentra no cômodo encontra várias pilhas de fotos espalhadas pelo quarto, coladas na parede, no teto, no chão, jogadas na cama e coladas na janela. As cortinas foram arrancadas e jogadas no chão. Seu guarda-roupa estava destruído e com marcas de cortes espalhados pela madeira. Ela passou o dedo indicador pelos cortes e percebeu que o sujeito exerceu grande força para produzi-los. Eram certeiros e únicos, profundos. Suas roupas estavam espalhadas. Curiosa Bonnie se ajoelha no chão e pega uma das fotos. Era uma noite do pijama. Ela, Lola, Emily e Helena reunidas comendo pudim.

Mas havia algo diferente... O rosto de Lola estava com um X e o seu circulado.

Ao perceber o que aquilo significava ela deu um gritou e jogou a foto no chão. Pegou outra foto, nessa era ela e Lola, o rosto da mesma estava com um X e o dela circulado. Bonnie entrou em pânico jogando as fotos no chão. Preocupada ela colocou a mão na testa e recuou.

O que isso significa? Pensou consigo mesma. Eu sou a próxima?

De repente um som foi produzido ao lado de Bonnie. Vinha da porta banheiro. Estava fechada. Outro som foi ouvindo dentro do mesmo. Bonnie se aproxima relutante e percebe que um pouco de água vazava pelas frestas da porta. Ela tira seu salto e coloca em suas mãos e joga a bolsa na cama. Assim que abre a porta, a água escorre pelo chão e leva as fotos que estavam espalhadas pelo quarto. A água continua escorrendo até encher o quarto inteiro molhando os tornozelos de Bonnie. A água fria a arrepiou. Com um movimento rápido ela suspende seu vestido e entra no banheiro. Sua banheira estava cheia de água e espuma e a água escorria pelos degraus de mármore. Bonnie xinga e desliga a torrente de água que vinha da torneira.

Silêncio.

De repente, ela capta uma ondulação sobre a camada de espuma que cobria a água da banheira. Bonnie franzi o cenho. Um instinto dentro dela pede para que ela não faça o que pretendia. Mas ela ignora esse sentimento e afasta a espuma da água. Sobre a água cristalina ela vê uma linha acobreada paralisada na superfície. Bonnie estica seu dedo indicador até a linha.

Repentinamente a linha se movimenta e revela-se como sendo uma víbora. O réptil levanta sua cabeça triangular e vira em direção á Bonnie. A cobra rasteja movendo seu corpo pra lá e pra cá indo até a borda da banheira e escorregando pelo mármore da escada. Bonnie grita desesperadamente. Tenta se mover, mas está paralisada. Seus olhos estão arregalados. A cobra vira sua cabeça para ela e sua língua bifurcada tremula dentro de sua boca. De repente um siri passa por entre as pernas de Bonnie. Ela olha em volta e vê várias cobras espalhadas pelo banheiro. Vários siris estavam na privada. Havia ainda alguns caranguejos na pia. Bonnie dá descarga na privada.

Bonnie grita ainda mais alto e se vira para ir até a porta. Mas de repente a porta se fecha. Não antes de ela ver uma figura encapuzada parada frente a ela. Bonnie esmurra a porta e grita apavoradamente.

— Socorro! Alguém me ajuda!

Uma das cobras avança sobre um peixe que estava na banheira. Já a víbora encolhe seu enorme corpo alongado e escamoso e avança sobre o tornozelo de Bonnie. A garota pula e grita. A cobra então recua e ataca várias e várias vezes. Bonnie procura algo próximo para jogar na cobra. Num movimento involuntário tenta acertar a cobra com um chute. O réptil se joga contra seu pé e morde sua panturrilha. Bonnie grita de dor e agarra o enorme corpo escamoso da serpente puxando-a se sua panturrilha. A cobra sibila e abre a enorme boca. Bonnie arremessa-a no chão e com o salto golpeia a cabeça da cobra até seus miolos explodirem e o salto cravar em sua cabeça. O corpo do réptil continua a se debater.

Outras cobras saem da banheira sibilando. Bonnie se vira para a porta e continua socando-a. Ela respira fundo e encara a porta.

— Abra. — fala alto e claro. O feitiço não funcionou.

Ela respira fundo. Não havia como ficar calma nessa situação. Choraminga e tenta se acalmar novamente.

— Abra! — grita — Mas que porra... A-b-r-a!

De repente a porta se abre. Bonnie corre até sua cama e com um movimento de sua mão fecha a porta. Numa explosão de raiva e num modo de autodefesa, seus poderes se manifestaram.

Ela se envolve com lençóis e começa a chorar. De repente, seu celular apita em sua bolsa. Ela se acalma e vê a mensagem. Era anônima. Repentinamente ela prende a respiração e olha em volta. Levanta-se e vai até a janela observando o jardim. Não havia ninguém. Ela abre a mensagem.

Temos uma campeã! Você é o motivo do meu sorriso dessa vez. Nem o Jim Carrey conseguiria ser tão hilário como você. XOXO!

— K

Bonnie encara a tela com ódio transbordando de todos os seus poros. Com um golpe arremessa o celular contra a parede. Quando se acalma, vai até o espelho e limpa as lágrimas. Pigarreia e liga para a polícia.

— Alô, aqui é do departamento de polícia de Landevil.

— Aqui é Bonnie Thorne. Eu quero fazer uma denúncia...

— Δ —

Helena estaciona perto do píer e desce de seu carro. Ela anda calmamente até o píer, sentindo a madeira ranger abaixo de seus pés descalços. O sol estava nascendo no horizonte. Emergindo da enorme imensidão do mar. O brilho dourado iluminava toda cidade portuária de Landevil. Dando um toque de ouro nos prédios e construções.

Finalmente Helena se senta na ponta do píer com os pés balançando. Amarra seu cabelo em um coque para sentir o vento passado por seu pescoço. Olha em volta e abre um pouco o zíper de seu vestido. Desistindo de parecer forte para a sociedade mesquinha de Landevil, Helena desaba. As lágrimas correm por seu rosto. Era como se estivesse entorpecida esse tempo todo, longe da realidade.

Lembranças daquele dia vieram a sua mente.


Há dois anos.

Sábado. Entardecer.


O carro de Lola seguia na estrada. Megan estava no banco de trás junto com Helena e Bonnie. Emily dirigia.

“Eu não consigo.” Revela Emily.

“Mas que merda... Se concentre.”reclama Megan “Só precisamos parar o carro e criar as ilusões. Isso é fácil!”

“Mas... Eu não sei. Isso é errado!” repudia Helena.

“E o que elas fazem conosco é certo? Por que somos inferiores a elas?” questiona Bonnie tomando uma posição.

“Finalmente alguém com personalidade!” parabeniza Megan.

O fisker karma continuava na estrada em alta velocidade. O pneu cantava no asfalto em toda curva brusca.

“Um... Dois... Três... E já!” ordena Megan.

“Pare. Pare. Pare...” as garotas repetiram várias vezes. Alto e claro.

Ao chegarem a Bridge of Native Walkers o automóvel simplesmente desviou de curso. O carro foi bruscamente jogado para a direita pela soma de energia exercida pelas as bruxas. A lateral direita do automóvel foi amassada por causa da quantidade de poder usada para jogar o carro da ponte. As garotas gritaram quando viram o carro ser arremessado a ponte. Era uma caída de cinco metros até a água. Quando o carro atingiu a água surgiu um enorme jato de água.

“Dê a ré... Corre!”

“Liguem para polícia!”

“Meu Deus! Matamos ela!”

“O que iremos fazer agora?”

Gritavam as garotas. Emily largou o volante e começou a chorar.

Megan segurou as lágrimas e tentou acalmar as garotas.

“Emily, largue o volante e venha aqui.”

Emily fez o que ela pediu e foi até o banco traseiro. Megan foi até o banco da frente e tomou o controle do volante atravessando o que restava da ponte. Ela virou a esquerda descendo um barranco até a margem do rio abaixo da ponte.

“Ei, o que você está fazendo?”disse Bonnie entre lágrimas.

“Temos que salvá-la.”lembrou Megan.

“Eu sabia que era uma má idéia...” choramingava Emily.

Megan estacionou o carro a margem do rio. As garotas saíram do carro e observam o automóvel sucumbir na água. A lateral estava ainda pouco visível.

“Alguém tem que ir buscá-la.” Notou Helena.

“Eu não vou.” Esclareceu Emily antes de tudo. “Nem sei nadar.”

“Nem eu.”

“Nem eu.”

Responderam as outras garotas.

“Ok! Eu vou.”

Megan tira seu tênis e vai até a margem do rio. A água está fria, mas ela continua avançando até a água chegar a sua cintura. A água é negra e reflete sua imagem. Megan mergulha na água e quando abre os olhos só enxerga trevas. Com um feitiço cria um pequeno globo de luz resplandecente na palma de sua mão. Ela direciona a luz para o fundo do rio e lá vê o carro afundando na lama escuro do rio. O ar que ela guardava em seu pulmão parecia insuficiente.

Megan abre a porta do carro e tira o cinto de segurança de Lola. O corpo flutua do banco e se choca contra o teto do automóvel. Megan olha em volta e continua somente enxergando trevas. Ela fecha sua mão apagando o globo de luz. Com dificuldade abraça o corpo de Lola e o emparelha com o seu. Segurando o corpo firmemente ela tenta nadar até a superfície. Mas o peso do corpo é demais. Ela está sucumbindo às trevas. Num movimento involuntário Megan solta o ar que armazenava.

Megan tentou respirar, mas só engoliu água. Continuou tentando encontrar ar, mas era uma busca falha. A água doce e gélida queimava o seu pulmão como se fosse fogo. Megan tentou nadar movendo inutilmente seus braços procurando algo para se apoiar. O corpo de Lola continuou subindo até a superfície. Ao longe, ela pode ver outros corpos mergulhando no rio.

Ela contou... Um.

Dois.

Três.

As garotas mergulharam. O corpo de Lola foi agarrado por uma das garotas. Outra delas agarrou Lola. Mas esqueceram de Megan. Como podiam abandoná-la? Ela continuou a afundar. A terceira voltou à margem. O corpo de Lola foi arrastado.

Emily e Bonnie trouxeram o corpo de Lola até a margem do rio e o jogaram no cascalho. Lola estava pálida e imóvel. Seus lábios antes rosados estavam embranquecidos. Emily se ajoelhou até ela e verificou seus batimentos cardíacos.

“Ela não está respirando...” informou.

Helena correu até elas e abriu a boca de Lola. Helena respira fundo e joga uma lufada de ar na boca da garota. Sem resultado Helena começa a fazer respiração boca e boca e pressionar o pulmão dela.

“Onde está Megan?” pergunta Bonnie.

Emily se levanta e olha em volta.

“Megan?” pergunta esperando por resposta “Megan? Meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeegan?!”

Sem resposta.

Emily começa a chorar e pensa em mergulhar novamente no rio. Mas algo a impede. Medo. Medo de ter que trazer o cadáver de Megan até a superfície. Elas ficaram ali, esperando por Megan e por sinais de Lola.

Bonnie afirmara que a pulsação estava voltando aos poucos e ela recuperara um pouco da cor.

“Não podemos mais ficar aqui.” Declarou Bonnie.

“O que?” disse Emily.

“Lola ainda está viva! Temos que levá-la ao hospital.”

“E quanto a Megan?” interrogou Helena.

“Se ela estivesse viva estaria aqui... Então...”

“Mas...”

“Ela está certa.” Declara Emily.

As garotas se olham por alguns segundos e finalmente agem. Helena e Bonnie levam o corpo de Lola até o carro e a colocam nos assentos traseiros. O cabelo loiro de Lola se esparramou pelo banco. Quando Bonnie conferiu o celular pela última vez, havia vinte e sete chamadas perdidas e várias mensagens. De Jenna Cook e de outras amigas. Provavelmente os pais não foram avisados.

Quando Bonnie e Helena estão prestes a entrar no carro, são chamadas por Emily.

“Hey, não podemos deixar Megan aqui.”

“Como iremos encontrar o corpo? Já está de noite.” Contesta Bonnie.

“Então não iremos. Nem ninguém.” Opta Helena.

Elas se entreolham. Helena pega o grimório e abre em uma página.

Sigillanda of abscondito.” Lê Helena.

“O que significa?” pergunta Bonnie.

“Selar um Segredo... Vedar um Segredo... Existem várias traduções.”

“E...”

“Ele serve para criar um cadeado em um determinado local que esconde um segredo. Como um baú, uma porta... Mas nesse caso, iremos selar o rio. E assim, o corpo nunca será encontrado.”

“Tem certeza?” questiona Bonnie.

“Absoluta.”

Emily e Bonnie se encaram por algum tempo.

“Vamos começar.” Declaram em uníssono.

As três andam até a margem do rio e começam a recitar o feitiço.

Nunc stant coram te signa huic site creando impenetrabilis cincinno contra advena copiis. Omnia saecula huic site servabit sanctuarii ubi mei abscondito, mea mendacia et erroribus meis. Igitur ad sepulcrum ostendi et hoc signum conteretur. Animus facienda portaverunt. Dicitur et suus fecit. Clauditur sera et clave perdita*.

Recitam por várias e várias vezes. Na quinta vez, uma luz emanou de sua mão. A luz fantasmagórica envolveu o rio como se fosse névoa e assumiu um tom branco. Um som estranho como um estalar ecoou pelo bosque e pela noite. A névoa então formou um círculo sólido. Feito de pedras de cascalho brancas caindo em volta da margem do rio.

“Tchau, amiga.” Fala Bonnie.

“Descanse em paz, Megan.” Fala Helena.

“Nossos segredos morrem com você.”Fala Emily enxugando as lágrimas.

Atualmente.

Tarde.

O celular de Helena toca despertando-a de seu devaneio.

— Precisamos conversar. — diz Bonnie.

E o tom de urgência presente na voz dela deu a Helena uma sensação ruim. Ela enxuga suas lágrimas e se levanta indo até seu carro. Ela dirige até a casa dos Thorne. Quando dobra a esquina vê dois carros da viatura policial saindo da casa de Bonnie. O coração de Helena erra uma batida. Ela acelera e antes de parar já está abrindo a porta.

Ela encontra Bonnie e Emily abraçadas.

— O que houve? — quis saber.

Bonnie olha em volta.

— Entre.

Não era um convite, era uma ordem.

As três entram. A casa estava em perfeita ordem. Emily e Bonnie fecham todas as cortinas e portas. Helena as encara assustada.

— O que houve!?

— K me atacou.

— Como assim? — quis saber.

— Ele... — Bonnie pigarreou e levantou a cabeça — Criou... Ilusões.

— E...

— Mas que droga. Olhe... Bonnie veio aqui em casa e encontrou tudo bagunçado. Tudo revirado. Em seu quarto, encontrou cobras, siris, peixes, caranguejos... Mas na verdade, foi tudo armação de K.

Bonnie se manifestou.

— Ele me mandou uma mensagem.

— Deixe-me ver. — pede Helena.

Bonnie lhe estende o celular. Helena lê a mensagem e fica boquiaberta.

— Como assim? Ele...

— Sim. Achamos que nem é Edward, e muito menos humano.

— Acham que é um bruxo?

— Sim.

— Quem?

Emily e Bonnie se entreolham.

— Você conhece mais alguma bruxa na cidade?

— Sim... A... — começa Helena, mas para quando percebe o que estava prestes a dizer.

— Isso mesmo... Megan.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem até o final o/
Estou muito contente comigo mesma por ter terminado o capítulo e entregado no dia prometido. Mesmo com o dedo quebrado u-u Espero realmente que gostem. Espero sinceramente que tenham gostado!
* Nesse momento diante de vocês eu selo este local criando um cadeado impenetravél contra forças alheias. Para sempre esse local será o santuário onde guardarei meu segredo, minhas mentiras e meus erros. Assim que eu ir pro túmulo, o selo será quebrado e a verdade será revelada. Minha alma não irá arcar com as consequencias dos meus atos. Está declarado, está feito. Que o cadeado esteja trancado e a chave perdida.
No próximo sábado um novo capítulo...
"Edward Simon says goodbye."